Roteiro do Santo Sudário: de Jerusalém a Turim (Parte 1/3)

Retomando à descrição de S. João, quando os Apóstolos entraram no sepulcro e o encontraram vazio, ainda sem compreenderem o que se passava, certamente ficaram em uma grande dúvida: destruir aquele pano que, conforme a tradição judaica, eram impuros, pois estivera em contato com um morto, ou então, guardá-lo, como uma lembrança de alguém que fora extremamente querido por eles e que morrera.

 

Nada nos impede de acreditar que, já naquele momento, estava gravada no Sudário a imagem do Cristo morto. E isto seria mais uma razão para que eles o guardassem. Ainda que não fosse feita qualquer referência do fato, nos Evangelhos que foram escritos depois. Acontece que a mensagem básica deixada por Jesus, era naquele tempo muito mais importante do que uma imagem que, para aqueles homens simples, não teria um significado maior diante de tantas outras coisas muito mais significativas.

 

De qualquer forma o Sudário foi guardado e certamente muito bem escondido, pois se qualquer judeu soubesse que eles guardavam uma mortalha, teriam fatalmente procurado destruí-la. Esta talvez seja mais outra razão para que os Evangelistas não se referissem em seus textos àquela relíquia que guardavam. A partir daí, o roteiro do Sudário se torna bastante difícil de se seguir. Entretanto alguns registros históricos, algumas gravuras dos primeiros séculos vão permitindo ao pesquisador perseverante encontrar um possível caminho para o Sudário.

 

Para entender este caminho este caminho. É preciso que se refira à teoria do ?Mandylion?. Mandylion é o nome dado a uma espécie de quadro que várias vezes é citado na história e que representaria uma face de Cristo, em tonalidades bem difusas. Se nos lembrar-mos da dificuldade dos Apóstolos em esconder uma enorme mortalha dos outros judeus, podemos compreender melhor a formação do Mandylion.

 

Pois, certamente para facilitar o transporte do Sudário, ao mesmo tempo que desfazia o seu aspecto de mortalha, o pano teria sido dobrado de tal forma que somente a parte do rosto, visto de frente, ficasse à vista.

Em seguida, teria sido colocado em uma espécie de prancha e recoberto com uma tela, a qual tinha um vasado em forma arredondada pelo qual aparecia o rosto de Cristo. Assim montado, o Sudário podia ser facilmente transportado sem maiores riscos, pois era como se fosse um simples quadro.

 

Logo depois da morte de Cristo, um dos seus 71 discípulos (Lucas 10,1) chamado Addai, ou Tadeu, foi até a cidade de Edessa (hoje a cidade de Urfa, na Turquia) atendendo a um chamado de seu rei, Abgar V, que estava muito doente. Tadeu levava consigo um ?misterioso retrato? que, tão logo foi visto pelo rei, causou a sua cura. Abgar V converteu-se então ao Cristianismo e toda a sua comunidade, tornando-se Edessa a primeira cidade Cristã, do mundo.

 

Entretanto, o sucessor de Abgar, seu filho, volta ao paganismo e persegue duramente os Cristãos. ?O misterioso retrato?, que não seria outra coisa que o Mandylion, ou seja, o Sudário dobrado, foi imediatamente escondido pelos Cristãos, que o colocaram num nicho sobre a porta ocidental da cidade.

 

Durante séculos ficou o Mandylion escondido neste nicho e só no ano 525, durante uma reconstrução das muralhas de Edessa, destruídas por uma grande inundação, o Mandylion voltou a ser visto.

 

Este fato, registrado por Evagrius, escritor do século VI, na ?História Eclesiástica?, se refere ao encontro de uma imagem de Cristo ?acheiropoietos?, isto é, ?Não feito por mãos humanas?. O Mandylion é reconhecido como o ?misterioso retrato? que fora mostrado a Abgar V e é guardado carinhosamente em Edessa. A partir desta época, começam a aparecer pinturas de Cristo, visto de frente, baseadas na imagem impressa no Mandylion.

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