• Autor: Anônimo
  • Fonte: A Catholic Response Inc. (http://users.binary.net/polycarp)
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto

– “Assim, a fé, por si só, se não tem obras, é morta (…) Vedes assim que um homem é justificado pelas obras e não apenas pela fé” (Tiago 2,17.24).

* * *

Alguns cristãos afirmam que precisamos apenas acreditar ou confiar em Cristo para sermos salvos, ou seja, tornarmo-nos adequados para o Céu. Eles afirmam que a obediência aos Mandamentos de Deus é uma coisa boa, mas não necessária para a nossa salvação. O nosso pecado, isto é, a desobediência a Deus, não afetaria a nossa salvação. Como Lutero escreveu para Melanchton: “Peca bastante, mas crê ainda mais!” Embora Lutero estivesse exagerando, esta é [de fato] a crença de alguns cristãos hoje.

Para apoiar esta afirmação, eles podem citar as palavras de São João Batista, conforme encontradas na Bíblia [protestante] do Rei Tiago (KJV):

  • “Quem crê no Filho tem a vida eterna; aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele” (João 3,36).

Nenhuma ligação entre salvação e obediência é feita. Parece até ser um bom fundamento para a afirmação deles, enquanto outras traduções precisas da Bíblia não sejam consultadas. De acordo com [outras traduções mais precisas]:

  • “Quem crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não obedece ao Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele” (João 3,36).

Esta versão das palavras sagradas de São João lança uma luz diferente sobre a questão da Salvação. Em um outro versículo da Bíblia, está escrito:

  • “E, uma vez aperfeiçoado, Ele (Jesus) tornou-se a fonte de salvação eterna para todos quantos Lhe obedecem” (Hebreus 5,9).

Neste versículo, nenhuma ligação explícita entre Salvação e crença é feita, mas apenas entre Salvação e obediência.

Pois bem: outros cristãos podem citar São Paulo:

  • “Se, com tua boca, confessares que Jesus é Senhor, e creres em teu coração que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás salvo!” (Romanos 10,9).

De acordo com este versículo – afirmam eles -, se invocarmos o Senhor com sincera confiança na Sua ressurreição, seremos salvos. Sim, há muita verdade neste ponto de vista, no entanto, deve ser adequadamente temperado com as próprias palavras de nosso Senhor:

  • “Nem todo aquele que diz a mim: ‘Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos céus, mas somente aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 7,21; v.tb.: 1Tessalonicenses 4,3-8).

Se confiamos verdadeira e sinceramente que Jesus é o Senhor, certamente obedeceremos a Deus.

Outros cristãos podem citar ainda o próprio Jesus:

  • “Em verdade, em verdade vos asseguro: quem ouve a minha Palavra e crê Naquele que Me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (João 5,24; KJV).

No entanto, apenas cinco versículos depois, Jesus também diz de acordo com a Bíblia [protestante] KJV:

  • “E sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida, e aqueles que tiverem praticado o mal, para a ressurreição da condenação” (João 5,29; KJV).

Estes dois versículos apresentam dois aspectos diferentes da Salvação que não devem ser ignorados. Para entender melhor os ensinamentos de Cristo sobre a salvação, precisamos ler melhor João 5,24!

Várias vezes São Paulo, em suas Epístolas, ensina que somos justificados (ou seja, reconciliados com Deus e, portanto, adequados para o Céu) pela fé (Romanos 3,28 etc.); no entanto, ele também escreve sobre a “obediência da fé” (Romanos 1,5; 16,26) e “fé operando através do amor” (Gálatas 5,6). O conceito de fé de São Paulo não inclui apenas crença e confiança, mas também obediência a Deus. Esta é a razão pela qual ele pode escrever, sem contradição, para os filipenses: “Colocai em prática a vossa salvação, com temor e tremor” (Filipenses 2,12). Por fim, Tiago escreve na Bíblia que “a fé sem boas obras é morta” (Tiago 2,17.24; v. epígrafe).

Na Epístola aos Romanos, São Paulo elegantemente resume o seu ensinamento sobre a Salvação:

  • “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 6,23).

Da mesma forma, o Concílio de Quiersy, em 853 d.C, proclamou:

  • “O fato de que alguns são salvos é um presente Daquele que salva; o fato de que alguns são réprobos, é mérito daqueles que se perderam” (citado por W. G. Most, “Catholic Apologetics Today”. TAN, 1986, p. 114).

Deve-se entender, com razão, que a salvação – a vida eterna em Cristo Jesus – é um dom gratuito de Deus. No entanto, o salário do pecado ainda é a condenação – morte espiritual -, uma vez que o pecado se opõe a Deus, que é a Fonte da Vida. Mesmo que o Céu seja um presente, ainda assim podemos “ganhar” o Inferno.

Expressando em termos um pouco diferentes: a Salvação é um dom gratuito que pode ser rejeitado ou perdido através dos nossos pecados. Já que a Salvação é um dom gratuito, nós NÃO podemos conquistá-lo [por nós mesmos, sem Cristo] através da obediência, oração, boas obras, amor ou até mesmo fé. No entanto, como qualquer presente, possuímos o livre arbítrio para rejeitá-lo. Podemos rejeitar esse presente através de um pecado grave, uma desobediência voluntária a Deus (cf. 2Tessalonicenses 1,8-9; 1Coríntios 6,9-10; Gálatas 5,19-21; 2Coríntios 5,10). Como está escrito no Novo Testamento:

  • “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, mas uma horrível expectativa de juízo…” (Hebreus 10,26-27).

Estas palavras são preocupantes! Como uma [analogia] final: a minha liberdade civil é um presente conquistado pelos meus antepassados; no entanto, se eu cometer um crime grave, posso perdê-la e ser preso.

Como cristãos fiéis e batizados, podemos esperar com confiança a redenção realizada por Jesus Cristo, desde que não a rejeitemos através de um pecado mortal (cf. 1João 5,16-17; Marcos 16,16; 1Pedro 3,21 ; 2Pedro 2,20-22). Como resultado do ato redentor de Cristo, Deus concede a cada um de nós graça suficiente para termos fé, fazermos boas obras e resistirmos à desobediência pecaminosa; no entanto, ainda assim podemos rejeitar voluntariamente essa graça (cf. 1Coríntios 10,12-13; 2Coríntios 12,9; Efésios 2,8-10). Felizmente, para os cristãos católicos, temos o dom do Sacramento da Reconciliação (Confissão), pelo qual podemos nos arrepender, confessar [nossos pecados] e pedir perdão a Deus e mais graça, se cairmos [novamente] no pecado (cf. João 20,23; 2Coríntios 5,18-21; Números 5,7; Levítico 5,5; Atos 19,18; Tiago 5,16). Jesus nos chama a perdoar uns ao outros sem limites (cf. Mateus 18,21-22) e também promete nos perdoar assim como nós perdoamos aos outros (cf. Mateus 6,12; Lucas 11,4). Nosso Senhor é um Deus justo, mas misericordioso (cf. Isaías 45,21; Jeremias 3,12). Como cristãos, devemos parar de rejeitar a Deus através dos nossos pecados e deixarmos que Ele nos salve pela Sua graça até que finalmente alcancemos o Céu.

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