Por Alessandro Lima
“Nenhum atleta será coroado, se não tiver lutado segundo as regras” (2 Tm 2,5).
No meu mais recente livro “Justificado Somente Pela Fé?” abordo o principal pilar de toda fé protestante, conhecido pela expressão latina “Sola Fide” ou “Somente pela Fé”. Este princípio protestante cunhado originalmente por Martinho Lutero, ensina em linhas gerais que a Salvação do justo (Justificação) se dá unicamente pela sua fé em Cristo, pois aí Deus imputa ao fiel os méritos de Cristo Nosso Senhor. Esta visão não está errada, mas sim incompleta, portanto, segue que toda meia verdade acaba se tornando um erro.
Com o pecado original nossa natureza ficou decaída, defeituosa. É como um carro que após um acidente começou a apresentar mal funcionamento. As placas indicavam um caminho e o motorista resolveu pegar um outro caminho, e então um acidente ocorreu. Segundo Lutero, a Graça de Deus é dada ao homem para que tenha fé (o que está correto), porém não é capaz de recuperar o homem do seu estado de pecado (o que está errado). Assim, utilizando a nossa alegoria, Deus decreta que o carro está em bom funcionamento, mas não o conserta. E segundo a doutrina católica, a Graça é sim capaz de fazer o carro funcionar perfeitamente como era originalmente.
Ainda utilizando nossa alegoria, alguém já colocou um carro na revisão? E quando tem que trocar mangueiras, velas, correias e retificar o motor? É algo feito do dia para a noite? Sabemos que não! Se com máquinas a “justificação” não é simples, o que dirá de nós seremos humanos dotados de uma alma imortal?
Assim como uma fila de dominós, a falso princípio luterano levou a um outro erro: a segurança na salvação. Ora, segundo Lutero já que a salvação é uma simples imputação da Justiça que Nosso Senhor Jesus Cristo ganhou com o seu sacrifício na cruz, nenhuma obra humana pode completar ou ser necessária para a salvação do fiel. Com efeito, a salvação do justo não se dá por seu esforço ou por suas obras. Nisto católicos e protestantes estão em acordo, embora estes não saibam disto. Os protestantes erram feio ao pensar que os católicos creem que por seu próprio esforço o fiel pode salvar-se. Aliás, a Igreja Católica condenou tal proposição conhecida como heresia pelagiana (condenada nos Concílios Regionais de Cartago e Milevo em 416 D.C).
Faz algum sentido pensar que o pecado pode entrar no céu? A Sagrada Escritura demonstra em muitos lugares que somente os santos entrarão no céu, isto é, somente aqueles que conformam a sua vontade à Vontade de Deus. Um dos exemplos é este:
“Bem-aventurados todos os que lavam as suas roupas no sangue do Cordeiro, e assim ganham o direito à árvore da vida, e podem adentrar na Cidade através de seus portais.” (Ap 22,14).
As vestes brancas aqui é um sinal de santidade de alma. Ora, ninguém pode ser santo se esta santificação não se der através de uma regeneração na Graça de Deus. Porém, Deus sempre respeita a nossa escolha, logo a Graça só pode nos regenerar se nós colaborarmos com ela. Nos Evangelhos Jesus curou as pessoas que queriam ser curadas. Jesus perdoou os pecados aqueles que queriam mudar de vida. Ora, tudo isso mostra a colaboração do fiel com a graça, ou seja, a conformidade da sua vontade com a Vontade Divina. Pois a Justificação embora seja oriunda da Graça, necessita do nosso querer.
Voltemos ao livro do Apocalipse. Lembram-se daqueles que estão com vestes brancas no céu? Quem são eles? Vejamos:
“Então, um dos Anciãos falou comigo e perguntou-me: ‘Esses, que estão revestidos de vestes brancas, quem são e de onde vêm?’. Respondi-lhe: ‘Meu Senhor, tu o sabes’. E ele me disse: ‘Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro.’” (Ap 7,13-14).
A Escritura diz que os santos que estão com as vestes brancas são aqueles que passaram pela grande tribulação, portanto, tiveram suas vestes lavadas no sangue do cordeiro. Mas que tribulação seria esta? São Paulo nos ensina que é o bom combate:
“Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda.” (2 Tm 4,7-8).
Em toda a carta, o Apóstolo ensina a seu discípulo Timóteo a perseverar na fé. Ora, o único motivo para isto é o fato de que a salvação não é uma certeza, mas uma esperança. Uma esperança de que devem ter todos aqueles que perseveraram em obras de justiça, ou seja, nas obras resultantes da colaboração com a Graça.
A necessidade das obras de justiça é o assunto do segundo capítulo da mesma carta:
“Suporta comigo os trabalhos, como bom soldado de Jesus Cristo. Nenhum soldado pode implicar-se em negócios da vida civil, se quer agradar ao que o alistou. Nenhum atleta será coroado, se não tiver lutado segundo as regras. É preciso que o lavrador trabalhe antes com afinco, se quer boa colheita.” (2 Tm 2,2-6). “Eis uma verdade absolutamente certa: Se morrermos com ele, com ele viveremos. 12.Se soubermos perseverar, com ele reinaremos.” (2 Tm 2,11-12).
O texto sagrado é claríssimo: “Nenhum atleta será coroado, se não tiver lutado segundo as regras”. Logo, só receberá a coroa da justiça, ou seja, só será justificado aquele que perseverar nas obras da justiça. Não obras humanas, mas aquelas obras que são realizadas segundo o influxo da Graça de Deus, que especialmente recebemos através dos Santos Sacramentos da Santa Igreja Católica.
Para saber mais:
LIMA, Alessandro. Justificado Somente pela Fé? Brasília: Edições Veritatis Splendor, 2021. 2ª Edição.
RIBEIRO, Rondinelly. Justificado Somente pela fé? Disponível em https://www.veritatis.com.br/justificacao-somente-pela-fe/
RIBEIRO, Rondinelly. Salvação: Segurança ou Esperança? Disponível em https://www.veritatis.com.br/salvacao-seguranca-ou-esperanca/