O Catecismo da Igreja Católica, logo no seu início mostra como Deus ao criar o homem colocou dentro dele um desejo de encontra-Lo e O encontrando, teria satisfeito todos os desejos de seu coração, porque nasceria nele uma esperança de algo futuro, uma esperança de estar na posse deste amor lindo e perfeito. Como bem compreendeu Santo Agostinho: «Quando eu estiver todo em Ti, não mais haverá tristeza nem angústia; inteiramente repleta de Ti, a minha vida será vida plena” (Santo Agostinho, Confissões X, 28, 39: CCL 27, 175 (PL 32. 795).

Portanto, o homem tem dentro de si o desejo de saber de Deus, de conhece-LO, tem sede do eterno. Deus o chama a conhece-Lo atraves da criação e por fim através de Seu Filho amado, que enviou ao mundo para remir os homens.

Em seu n.32 diz assim: A partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo, pode chegar-se ao conhecimento de Deus como origem e fim do universo. São Paulo afirma a respeito dos pagãos: «O que se pode conhecer de Deus manifesto para eles, porque Deus lho manifestou. Desde a criação do mundo, a perfeições invisíveis de Deus, o seu poder eterno e a sua divindade tornam-se pelas suas obras, visíveis à inteligência» (Rm 1, 19-20).

Ao ler este capítulo do Catecismo, fiquei a imaginar como em lugares tão distantes e em condições tão sofridas, pessoas são tocadas e descobrem a Deus, aderindo ao Seu chamado, apesar de toda dificuldade de comunicação. Me lembrei então de santa Josephina Bakhita, uma africana nascida no Darfur, Sudão, por volta de 1869 – apesar de ter sofrido horrores, por ter sido escrava e maltratada em demasia, olhava ao redor e suspirava por algo que estava acima de sua compreeensão. Santa Josephina Bakhita expressou tão singelamente o que via seus olhos e que fazia ansiar seu coração: “Vendo o sol, a lua e as estrelas, dizia comigo mesma: Quem é o Patrão dessas coisas tão bonitas? E sentia uma vontade imensa de vê-Lo, conhecê-Lo e prestar-lhe homenagem”

Era a porta aberta para que o Senhor lhe enviasse uma graça maravilhosa que faria esta menina chegar ao conhecimento dEle e saciar a sede de paz, alegria e esperança em seu coração sofrido. Ou melhor, foi uma graça maravilhosa que fez Santa Bakhita olhar para as coisas criadas e suspirar pelo Seu criador. Deus se revela, atrai e depois de aceito mostra o caminho para todos que O reconheceram, para que possam receber Suas graças santíssimas em Sua Igreja. Santa Bakita nos faz ver, de forma muito clara, os caminhos claros que nos leva Deus Pai, para que neste mundo possamos ve-LO, conhece-LO, ama-LO e servi-lo, para com ajuda de suas graças santas, perseverarmos até o fim na fidelidade a Sua santa Vontade.

Nosso Papa Bento XVI em sua Encíclica Spe salvi nos mostra quem era Santa Bakhita e todo bem que Deus colocou em seu coração sofrido, mostrando a todos nós, que Ele quer que todos cheguem ao conhecimento do seu amor incondicional e se faça filho, independente de quem seja, de onde mora e de sua condição, afinal, Ele ama a todos e chama a todos para viver na santidade pondo nos corações uma esperança – que não engana – e que convida à perseverança e fidelidade. Vejamos:

“Aos nove anos de idade foi raptada pelos traficantes de escravos, espancada barbaramente e vendida cinco vezes nos mercados do Sudão. Por último, acabou escrava ao serviço da mãe e da esposa de um general, onde era diariamente seviciada até ao sangue; resultado disso mesmo foram as 144 cicatrizes que lhe ficaram para toda a vida. Finalmente, em 1882, foi comprada por um comerciante italiano para o cônsul Callisto Legnani que, ante a avançada dos mahdistas, voltou para a Itália. Aqui, depois de « patrões » tão terríveis que a tiveram como sua propriedade até agora, Bakhita acabou por conhecer um « patrão » totalmente diferente – no dialecto veneziano que agora tinha aprendido, chamava « paron » ao Deus vivo, ao Deus de Jesus Cristo. Até então só tinha conhecido patrões que a desprezavam e maltratavam ou, na melhor das hipóteses, a consideravam uma escrava útil. Mas agora ouvia dizer que existe um « paron » acima de todos os patrões, o Senhor de todos os senhores, e que este Senhor é bom, a bondade em pessoa. Soube que este Senhor também a conhecia, tinha-a criado; mais ainda, amava-a. Também ela era amada, e precisamente pelo « Paron » supremo, diante do qual todos os outros patrões não passam de miseráveis servos. Ela era conhecida, amada e esperada; mais ainda, este Patrão tinha enfrentado pessoalmente o destino de ser flagelado e agora estava à espera dela « à direita de Deus Pai ». Agora ela tinha « esperança »; já não aquela pequena esperança de achar patrões menos cruéis, mas a grande esperança: eu sou definitivamente amada e aconteça o que acontecer, eu sou esperada por este Amor. Assim a minha vida é boa. Mediante o conhecimento desta esperança, ela estava « redimida », já não se sentia escrava, mas uma livre filha de Deus. Entendia aquilo que Paulo queria dizer quando lembrava aos Efésios que, antes, estavam sem esperança e sem Deus no mundo: sem esperança porque sem Deus. Por isso, quando quiseram levá-la de novo para o Sudão, Bakhita negou-se; não estava disposta a deixar-se separar novamente do seu « Paron ». A 9 de Janeiro de 1890, foi baptizada e crismada e recebeu a Sagrada Comunhão das mãos do Patriarca de Veneza. A 8 de Dezembro de 1896, em Verona, pronunciou os votos na Congregação das Irmãs Canossianas e desde então, a par dos serviços na sacristia e na portaria do convento, em várias viagens pela Itália procurou sobretudo incitar à missão: a libertação recebida através do encontro com o Deus de Jesus Cristo, sentia que devia estendê-la, tinha de ser dada também a outros, ao maior número possível de pessoas. A esperança, que nascera para ela e a « redimira », não podia guardá-la para si; esta esperança devia chegar a muitos, chegar a todos”

Foi canonizada em 2000 pelo papa João Paulo II, após o reconhecimento, pelo Vaticano, de um milagre de cura ocorrido em Santos, Brasil em 1992. Eva Tobias da Costa, que tinha diabetes, solicitou a intercessão de Josephina Bakhita para sanar suas feridas incuráveis. Após invocar a santa e esfregar a imagem nas feridas que tinha nas pernas, elas voltaram ao normal, curadas.

O episódio aconteceu em 27 de maio de 1992. As zonas das chagas permaneceram pigmentadas, como que para comprovar tal milagre. “A santa é tão querida que merecia uma igreja em sua homenagem aqui em Santos e é a primeira igreja para ela no Estado. Já são três anos de luta para construirmos”, declarou o padre José Paulo, da Catedral.

Cerca de mil fiéis estiveram presentes na inauguração da primeira igreja do Estado de São Paulo em louvor a Santa Josefina Bakhita, no dia 04/02/2006. Na entrega do templo, à Rua República Portuguesa, 18 (Vila Mathias), foi celebrada Missa ao ar livre pelo Bispo Diocesano Don Jacyr Francisco Braido, auxiliado pelo Pe. José Paulo, pároco da nova capela.

Sua festa é celebrada no dia 8 de fevereiro.

Sua vida foi toda vivida na humildade e no serviço e quando já não era mais jovem, ainda achou forças para servir. Sua história dramática, às vezes trágica, impressionava. Mas os anos pesam e ela sofre de bronquite asmática, artrite e arteriosclerose. Sofre muito. As pernas enfraquecem e precisa de cadeira de rodas. Pede para ir diante de El Paron e reza, dizendo a Deus: “Eu não tenho nada para Lhe dar…”Olha a imagem de Jesus e diz:”Obrigada por tudo que me destes, eu vou indo devagarzinho rumo à eternidade”…

Santa Bakhita transformou todo sofrimento que passou, em atos de amor Àquele que a chamou desde sempre. Serviu-O nos irmãos e na Sua Igreja, quando fez tudo muito bem feito e com toda humildade. Por se considerar tão pequena pode conviver sem medo com o Senhor, numa total reverência e entrega de si mesma – segredo que faz santos. Se fez escrava por livre e expontânea vontade, porque sabia que este “patrão” era digno de ser adorado e servido.

São Tomás comenta sobre a esperiência com Deus, que podemos ter quando escutamos e aderimos ao Seu chamado: “O Senhor fala de um modo elevado e místico, porque o que Deus é na Sua glória ou na Sua graça não se pode saber senão por experiência, pois as palavras não se conseguem explica-Lo. A este conhecimento chega pelas boas obras, pelo recolhimento e aplicação da mente à contemplação das coisas divinas, pelo querer saborear a doçura de Deus, pela assiduidade na oração.”(Evang. São João – Bíblia de Navarra – pag 1139 – Quadrante – SP). Assim fez santa Bakhita e chegou ao Céu!

O testemunho desta santa é um exemplo das graças especiais que Deus outorga para atrair os Seus. As vezes dirige um chamamento direto e pessoal que move interiormente as almas e as convida ao Seu seguimento, outras serve-se de pessoas com suas palavras e testemunhos e as vezes apenas ao olhar Sua maravilhosa criação, admirando-a já toca para o reconhece- Lo e busca-Lo. E a tragetória para quem o aceita e é fiel é magnífica, porque de alguma forma Ele faz com que se encontrem com Ele, se utilizando dos meios da graça que Ele próprio deu e a Igreja administra: frequência aos sacramentos e prática da piedade cristã. Assim foi com Santa Bakhita e nós só podemos louva-LO por esta santa fiel e pela comunhão dos santos, clamar sua interecessào para nossas almas, que se tornem dóceis, humildes, confiantes, como foi a desta santa maravilhosa.

Oração à Santa Josefina Bakhita:

Ó Santa Josefina Bakhita, que, desde menina, foste enriquecida por Deus com tantos dons e a Ele correspondeste com todo o amor, olha por nós. Intercede junto ao Senhor para que cresçamos no Seu amor e no amor a todas as criaturas humanas, sem distinção de idade, de raça, de cor ou de situação social. Que pratiquemos sempre, como tu, as virtudes da fé, da esperança, da caridade, da humildade, da castidade e da obediência. Pede, agora, ao Pai do Céu, oh Bakhita, as graças que mais preciso, especialmente. Amém.

Facebook Comments