Alguém, percorrendo o catálogo dos Santos, colheu a impressão de que nele só existem padres e freiras e que a santidade não é possível senão nos conventos ou nas fileiras clericais. Enganar-se-ia quem assim pensasse.
Antes do mais, convém citar o Catecismo da Igreja Católica, que em seu n. 2.360, diz o seguinte:
“No casamento a intimidade corporal dos esposos se torna um sinal e um penhor da comunhão espiritual. Entre os batizados os vínculos do matrimônio são santificados pelo sacramento”.
Donde se vê que o matrimônio abençoado por Deus é um estado de vida que santifica os cônjuges. Deus concede aos esposos a graça necessária para que, atendendo aos afazeres e compromissos respectivos, mais e mais se unam ao Senhor e cheguem à perfeição cristã.
A própria história atesta que houve Santos e Santas, de grande vulto, também entre as pessoas casadas. Um exame atento do catálogo dos Santos dissipa a impressão contrária. Eis alguns nomes dentre os vários que poderiam ser citados:
Maridos Santos: Gregório de Nissa (? 394), Paulino de Nola (? 431), Estêvão, rei da Hungria (? 1038), Omobono de Cremona (? 1197), Luís IX, rei da França (? 1272), Nicolau de Flüe, patrono da Suíça (? 1487),Tomás Moro, ministro do rei Henrique VIII da Inglaterra (? 1535), isto sem contar os Apóstolos, dos quais alguns devem ter sido casados, como foi São Pedro, cuja sogra é mencionada no Evangelho (cf. Mc 1,29s.).
Viúvos Santos: Raimundo Zanfogni (? 1200), Henrique de Bolzano (? 1315), o Bem-aventurado Bartolo Longo (? 1926).
Esposas Santas: Perpétua de Cartago (? 202), Margarida da Escócia (? 1093), Gentil Giusti (? 1530), Anna Maria Taigi (? 1837).
Viúvas Santas: Mônica, mãe de S. Agostinho (? 387), Elisabete, rainha da Hungria (?1231), Edviges da Silésia (? 1234), Ângela de Foligno (? 1309), Elisabete, rainha de Portugal (? 1336), Brígida da Suécia (? 1373), Francisca Romana (? 1440), Rita de Cascia (? 1456), Catarina Fieschi Adorno (? 1510), Joana Francisca Frémyot de Chantal (? 1641), Luísa de Marillac (? 1660), Elisabete Bayley Seton (? 1821).
Casais Santos: Henrique Imperador da Alemanha (? 1024) e Cunegundes, Isidoro (? 1130) e Maria Toribia, Lucchese (século XIII) e Buonadonna, os genitores de Teresa de Lisieux (ainda não canonizados).
O Concílio do Vaticano II, ainda uma vez, há poucos decênios (1965), lembrava a vocação de todos os cristãos à santidade, removendo a impressão de que somente em alguns estados de vida se pode chegar à perfeição cristã:
“É evidente que todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (Lumen Gentium nº 40).
“Todos os fiéis cristãos, nas condições, tarefas ou circunstâncias de sua vida, e através disso tudo, dia a dia mais se santificarão, se com fé tudo aceitarem da mão do Pai celeste e cooperarem com a vontade divina, manifestando a todos, no próprio serviço temporal, a caridade com que Deus amou o mundo” (ib. nº 41).
“Todos os fiéis cristãos são convidados e obrigados a procurar a santidade e a perfeição do próprio estado” (ib. nº 42)