Próprio dos Santos: 2 de abril

Sugestão de leitura: Mateus 5, 13-19 – Sois a Luz do Mundo: Brilhe a vossa luz; vim completar a lei

A extraordinária vida desse Santo comprova que a prática heróica da virtude pode, em certos casos, suprir uma ciência humana defectiva. Isso explica o aparente paradoxo da biografia de São Francisco de Paula: um analfabeto dotado de alta sabedoria, que o tornou conselheiro de Papas e monarcas. Fez grandes milagres e ressuscitou mortos.

Nascido em Paula, na Calábria, em 1416, ainda menino vestiu o hábito franciscano em razão de um voto dos pais, que eram modestos agricultores, muito tementes, cumpridores de sua funções e que se santificavam na oração, jejum, penitências e boas obras. Mas não tinham filhos. E para obtê-los, faziam violência ao Céu, sobretudo ao seráfico São Francisco, de quem eram devotos. Prometeram o nome de Francisco ao primeiro filho. O Porverello de Assis deixou-se comover, e nasceu o filho tão esperado, sendo este, então, consagrado a São Francisco de Assis.

Apareceu-lhes um frade franciscano, lembrando que chegara a hora de seus pais cumprirem a promessa feita. Os pais aquiesceram e levaram o menino, com seu pequeno hábito, para o convento franciscano de São Marcos, no qual todo o rigor da regra era observado. Francisco, embora não fosse obrigado a isso, começou a observar a regra com tanta exatidão, que se tornou modelo até para os frades mais experimentados nas práticas religiosas.

Alguns milagres marcaram a vida do frade-menino no convento. Certo dia o sacristão mandou-o precipitadamente buscar brasas para o turíbulo, mas sem indicar-lhe como. Ele, com toda simplicidade, trouxe-as em seu hábito, sem que este se queimasse. De outra feita, encarregado da cozinha, colocou os alimentos na panela e esta sobre o carvão, esquecendo-se contudo de acendê-lo. Foi depois para a igreja rezar e entrou em êxtase, olvidando-se da hora. Quando alguém, que passara pela cozinha e vira o fogo apagado, chamou-o perguntando se a refeição estava pronta, Francisco, sem titubear, respondeu que sim. E chegando à cozinha, encontrou o fogo aceso e os alimentos devidamente cozidos.

Os frades de São Marcos queriam conservar consigo aquele adolescente que dava tantas provas de santidade, o que não aconteceu. Ao sair, acompanhou os pais em peregrinações a Roma e logo aos 15 anos se tornou um eremita, perto de sua própria casa, mas Francisco queria mais solidão, por isso, um dia desapareceu e subiu uma montanha rochosa, onde encontrou uma pequena gruta que transformou, durante seis anos, em sua morada, vivendo exclusivamente para Deus, na contemplação e duras penitências, oração sem cessar e alimentando-se de raízes, frutas e ervas silvestres.

Este seu rigor ascético, não foi uma barreira para que alguns discípulos se juntassem a ele para formarem em 1452, A Ordem dos Eremitas de São Francisco de Paula, chamados também Mínimos, cujo lema era: “Caridade” e grande ardor para o apostolado. Dela participavam os habitantes da cidade, ricos e pobres, nobres e plebeus. E foram testemunhas de inúmeros milagres. Enormes pedras saíam do lugar à sua simples voz, pesadas árvores e pedras tornavam-se leves para serem removidas ou transportadas, alimentos que mal davam para um trabalhador alimentavam muitos… Com isso, mesmo pessoas doentes iam participar das construções e se viam curadas.

Não havia espécie de doenças que ele não tenha curado, de sentidos e membros do corpo humano sobre os quais não tenha exercido a graça e o poder que Deus lhe havia dado. Ele restituiu a vista a cegos, a audição a surdos, a palavra aos mudos, o uso dos pés e mãos a estropiados, a vida a agonizantes e mortos; e, o que é mais considerável, a razão a insensatos e frenéticos. Não houve jamais mal, por maior e mais incurável que parecesse, que pudesse resistir à sua voz ou ao seu toque. Acorria-se a ele de todas as partes, não só um a um, mas em grandes grupos e às centenas, como se ele fosse o Anjo Rafael e um médico descido do Céu; e, segundo o testemunho daqueles que o acompanhavam ordinariamente, ninguém jamais retornou descontente, mas cada um bendizia a Deus de ter recebido o cumprimento do que desejava.

Dentre os muitos mortos que ele ressuscitou, destaca-se seu sobrinho Nicolas. Desejava ele ardentemente fazer-se monge na Ordem que seu tio acabava de fundar. Mas sua mãe, por apego humano, a isso se opôs tenazmente. O rapaz adoeceu e morreu. O corpo foi levado à igreja do convento, e Francisco pediu que o conduzissem à sua cela. Passou a noite em lágrimas e orações, obtendo assim a ressurreição do rapaz. No dia seguinte, de manhã, quando sua irmã foi assistir ao sepultamento do filho, Francisco perguntou-lhe se ela ainda se opunha a que ele se fizesse religioso. “Ah!” – disse ela em lágrimas – “se eu não me tivesse oposto, talvez ele ainda vivesse”. – “Quer dizer que você está arrependida?” – insistiu o Santo. – “Ah, sim!”. Francisco trouxe-lhe então o filho são e salvo, que a mãe abraçou em prantos, concedendo a licença que antes recusara.

O coroamento de todas as suas virtudes consistia numa admirável simplicidade. Ele era bom, franco, cândido, serviçal, sempre disposto a fazer o bem a qualquer um. Foi esse espírito que ele comunicou a seus filhos espirituais. Ele era dotado do dom da profecia. Segundo um de seus biógrafos, dele se pode dizer, como do Profeta Samuel, que nenhuma de suas predições deixou de se cumprir. Assim, profetizou que os turcos invadiriam a Itália, como já havia predito que tomariam Constantinopla. Os demônios não podiam resistir-lhe, e foram inúmeros os casos de possessos que ele livrou do jugo diabólico. Embora analfabeto, pregava com tanta sabedoria que pasmava a quem o ouvia. E como tinha em grau heróico a virtude da sabedoria e as virtudes cardeais – prudência, justiça, temperança e fortaleza –, brilhavam elas em seu modo de ser e agir, como também em suas palavras. Por isso, sem o menor constrangimento podia conversar e dar conselhos a Papas, reis e grandes deste mundo.

Por ordem do Papa Sisto IV, que mandara averiguar a verdade dos milagres e dos dons extraordinários que Deus lhe concedia, Francisco deixou a Itália e foi para a França, a fim de assistir o rei Luis XI e prepara-lo para a morte (1483). Depois da morte do rei assumiu a direção espiritual de seu filho, Carlos VIII, continuando seus serviços também com Luis XII. Aí ficou 25 anos fundando numerosos conventos. Francisco foi o confessor da Princesa Joana, que depois de repudiada por seu marido, o futuro Luís XII, fez-se religiosa e mereceu a honra dos altares. Foi por conselho de Francisco que o Rei Carlos VIII casou-se com Ana de Bretanha, herdeira única daquele ducado, que veio assim unir-se ao Reino da França.

São Francisco, entre outros grandes carismas, era dotado de uma graça especial para obter de Deus o favor da maternidade para mulheres estéreis. Muitos milagres desse gênero, alguns em casas reais ou principescas, foram relatados no processo de canonização do Santo em Tours. Suas devoções particulares consistiam em cultuar o mistério da Santíssima Trindade, da Anunciação da Virgem, da Paixão de Nosso Senhor, bem como os santíssimos nomes de Jesus e Maria.

A “segunda morte” de São Francisco de Paula

O Santo faleceu na Sexta-feira Santa do ano de 1507, aos 91 anos de idade, em Plessis-lés-Tours. Foi canonizado em 1519. No calendário atual sua memória é facultativa. Seu corpo permaneceu incorrupto até 1562. Nesse ano, durante as Guerras de Religião, os protestantes calvinistas – como o Santo havia predito – invadiram o convento de Plessis, onde estava enterrado, tiraram seu corpo do sepulcro e, sem se comover de vê-lo em tão bom estado, queimaram-no com a madeira de um grande crucifixo da igreja. Assim, foi o Santo praticamente martirizado depois de sua morte. Entretanto, apesar do ódio dos inimigos da fé, sua glória permanece para sempre.

Mensagem e Atualidade:

A vida deste taumaturgo e austero eremita, que introduziu o “voto da vida quaresmal”, isto é, do jejum quaresmal durante ao ano todo, é um fato extraordinário no contexto da sociedade pré-renacentista de seu tempo, tão refratária a austeridade. Mas é sempre atual para nós, à luz do mote paulino (2Cor.5,4) que é segredo de sua espiritualidade, ainda mais agora no tempo pascal: “A caridade de Cristo nos compele” (Caritas Christi urget nos). A austeridade (cf. o jejum permanente defendido por ele) deve ser sustentado pela contemplação da paixão do Senhor, como se vê de sua carta dirigida de Tours aos procuradores do eremitário de Spezzano (Cosenza) e lida no ofício de leitura.

A raiz dessa austeridade só pode ser a humildade radical, que entreteceu toda a sua vida. É uma virtude difícil também hoje, mas a nossa grandeza diante de Deus e dos dos homens consiste em reconhecermos nossa pequenez, sentindo-nos mínimos como esse santo, tão exaltado pelo Senhor durante a vida e depois da morte, também com milagres. Podemos fazer nossa sua oração pronunciada na hora da morte: “Amável Jesus, conservai os justos, justificai os pecadores, tende compaixão de todos os fiéis vivos e defuntos e sede-me propício, se bem que eu seja um indigníssimo pecador”

Frases de São Francisco:

– Todas as virtudes estão unidas em uma só: a caridade.

– Todas a perfeição cristã está baseada sobre a caridade.

– Um ato de caridade perfeita é um ato de amor à Igreja, porque a caridade tende ao amor de Deus e do próximo.

– O homem, amando a Deus e a seu próximo, faz-se um só corpo com a Igreja.

– Deus é o príncipe da paz e não habita senão em corações unidos pelo amor.

– Maria é a imagem da Igreja, gravada pelo dedo de próprio Deus.

– Orar devidamente é obrigar a onipotência de Deus a escutar o que queremos.

São Francisco de Paula, rogai por nós!

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