- Autor/Fonte: A Catholic Response Inc. (http://users.binary.net/polycarp)
- Tradução: Carlos Martins Nabeto
– “Jesus olhou intensamente para Pedro por um momento e depois disse-lhe: ‘Tu és Simão, filho de Jonas, mas serás chamado Pedro, a pedra'” (João 1,42).
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Alguns cristãos negam que o Papa, como sucessor de São Pedro, tenha qualquer papel de especial autoridade na Igreja fundada por Cristo. Alguns afirmam que, segundo a Bíblia, São Pedro nunca serviu como líder da Igreja. Outros até reconhecem sua especial autoridade, mas negam a Sucessão Apostólica, a transmissão deste ofício na Igreja.
Este desafio para um cristão católico deve começar com os seguintes versículos do Evangelho:
- “E eu te digo que tu és Pedro (Petros) e sobre esta pedra (petra) edificarei a minha Igreja, e os poderes da morte não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu” (Mateus 16,18-19).
No decorrer dos séculos, muitas coisas foram escritas sobre esses dois versículos; no entanto, apenas alguns pontos serão considerados aqui.
Primeiro: Jesus promete que o destrutivo “poder da morte não prevalecerá contra” a Sua Igreja. Este versículo, especialmente à luz de Mateus 28,19-20 e 2Timóteo 2,2, sugere a Sucessão Apostólica – a transmissão do discipulado a homens fiéis através dos séculos -, uma vez que os discípulos originais de Cristo eram homens mortais.
Segundo: no versículo 19, São Pedro é a única pessoa a quem Jesus promete entregar as chaves do Seu Reino. Na Bíblia, as chaves são um sinal de autoridade (cf. Isaías 22,22; Apocalipse 1,18; 3,7). Se você, acidentalmente, já ficou trancado fora de casa ou do carro, provavelmente experimentou o poder das chaves!
Terceiro: no versículo 18, Cristo dá a Simão o nome de “Pedro”, que significa “pedra”, e promete que a Sua Igreja será edificada “sobre esta pedra”. No texto grego original, “petra” é usada para “pedra”, enquanto “Petros” é usado para “Pedro”. Em grego, os substantivos possuem gênero: “petra”, sendo o substantivo grego comum para “pedra”, possui gênero feminino e, portanto, não é apropriado para o nome de um homem. Assim, para torná-lo adequado a Simão, “petra” recebe um final masculino, resultando em “Petros” (“Pedro” em grego).
Em outros lugares da Bíblia, Simão Pedro também é chamado de Cephas (ou Cefas). “Cefas” significa “pedra” em aramaico, a língua que Jesus e os Apóstolos costumavam falar. Em João 1,42, Jesus renomeia Simão como Cefas:
- “‘Tu és Simão, filho de Jonas. Serás chamado Cefas’ (que significa Pedro)” (João 1,42).
A nota de rodapé deste versículo na Bíblia RSV declara: “Da palavra ‘pedra’ em aramaico e grego, respectivamente”. A Bíblia Viva, uma edição parafraseada protestante, apresenta esse versículo como: “Mas serás chamado Pedro, a pedra!” (v. epígrafe). Se Jesus não estabeleceu São Pedro como a pedra fundamental da Igreja, é bem estranho que Jesus o tenha renomeado como “pedra” em dois idiomas diferentes [=aramaico e grego]!
Jesus e Seus apóstolos eram fluentes na Escritura. Em Mateus 16,19, Jesus está fazendo referência ao rito de sucessão encontrado no Livro de Isaías:
- “E será naquele dia que Eu (=Deus) chamarei a meu servo Eliaquim, filho de Hilquias; e (…) entregarei nas suas mãos a tua autoridade (=de Shebna), e será como pai para os moradores de Jerusalém e para a casa de Judá. E porei a chave da casa de Davi sobre o seu ombro; e abrirá, e ninguém fechará; e fechará, e ninguém abrirá” (Isaías 22,20-22).
Nos versículos 15-25, Eliaquim está sucedendo Shebna no ofício de primeiro-ministro. Eliaquim não é o rei, mas o primeiro-ministro do rei Ezequias (cf. Isaías 36,1-3, 22). O rei da dinastia davídica tinha ministros que o ajudavam no governo (cf. 2Samuel 8,15-18; 20,23-26). Da mesma forma, Jesus, sendo o rei da casa de Davi (cf. Lucas 1,32-33), nomeia São Pedro como seu primeiro-ministro, dando-lhe “as chaves do Reino”.
Devemos notar que Jesus, em Mateus 16,18-19, fala no tempo futuro, como que prometendo. Neste [exato] momento Jesus não está conferindo autoridade a São Pedro, de modo que quando este nega posteriormente a Cristo, tal promessa não é tornada sem efeito. Na verdade, Cristo orou por São Pedro antes da sua negação:
- “[Disse também o Senhor:] Simão, Simão, eis que Satanás pediu para vos peneirar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, quando te converteres, confirma os teus irmãos” (Lucas 22,31-32).
Somente após esse julgamento é que Cristo confere autoridade a São Pedro em João 21.
As imagens em João 21 são diferentes: Jesus não é referenciado como Rei, mas como o Bom Pastor. Em João 10,16, Jesus fala de “um só rebanho e um só Pastor”. Pelo texto, resta óbvio que o rebanho é a Igreja, enquanto que o Pastor é Jesus. Pois bem: em João 21,15-19, Jesus concede Sua autoridade terrestre a São Pedro, dizendo-lhe: “Simão, filho de Jonas (…) Apascenta os meus cordeiros (…) Apascenta as minhas ovelhas … Apascenta as minhas ovelhas”. Jesus não está dizendo a São Pedro para literalmente apascentar um mero rebanho de ovelhas, mas para conduzir e cuidar da Sua Igreja na terra.
Uma objeção comum contra a primazia de Pedro é baseada em Gálatas 2,11-14, onde São Paulo repreende São Pedro (Cefas) por este agir sem sinceridade. Essa repreensão de São Paulo não prejudica a autoridade de ensino de São Pedro, uma vez que São Paulo não o repreendeu por falso ensino, mas por mau exemplo (convém aqui observar que São Paulo também deu um péssimo exemplo em Atos 16,3). Devemos recordar que São Pedro era pecador como todos nós somos (cf. Lucas 5,8.10). Da mesma forma, a condenação de Natã ao rei Davi, em 2Samuel 12, não retirou a autoridade reinante de Davi, mas o levou ao arrependimento. Por fim, se São Paulo não reconhecia a autoridade de ensino de São Pedro, por que ele quis passar 15 dias com Pedro (Cefas), no seu ministério de seu ministério (cf. Gálatas 1,18)?
Ha exemplos de Pedro exercendo a sua liderança nos Atos dos Apóstolos (cf. 1,15-26; 5,1-11; 11,1-18); no entanto, a melhor testemunha da Sucessão Apostólica e do Papado pode ser encontrada nos primeiros escritos cristãos. Uma testemunha precoce da autoridade papal é a Epístola de Clemente aos Coríntios. Esta carta foi escrita em 96 d.C., em Roma, pelo Papa Clemente, para restaurar a ordem da Igreja em Corinto. Clemente não apenas interfere nesta Igreja [local], como também pede escusas por não ter agido antes. Em 190 d.C., Santo Irineu de Lião lista os Bispos de Roma (Papas) em seu livro “Contra as Heresias”:
- “Os bem-aventurados Apóstolos, após fundarem e construírem a Igreja (em Roma), entregaram nas mãos de Lino o ofício do episcopado (…) A este, sucedeu Anacleto; e depois deste, em terceiro lugar a partir dos apóstolos, Clemente recebeu o bispado (…) Na época deste Clemente, uma pequena dissensão ocorreu entre os irmãos de Corinto e a Igreja em Roma remeteu, com autoridade, uma carta aos coríntios. (…) A este Clemente, sucedeu Evaristo. Alexandre seguiu Evaristo; depois, (…) Sixto… (e a lista continua) … Nesta ordem e nessa sucessão, a Tradição Eclesiástica dos Apóstolos e a pregação da verdade chegaram até nós” (Contra as Heresias 3,3,3).
Em 325 d.C., Eusébio de Cesareia, escreve a “História Eclesiástica” e cita a lista de Santo Irineu (cf. 5,6). Eusébio também cita 1Pedro 5,13 como prova de que São Pedro esteve em Roma, também conhecida como “Babilônia” (cf. 2,15).
A primazia de Pedro é evidente a partir da Bíblia: seu nome é sempre o primeiro nas listas dos apóstolos (cf. Mateus 10,1-4; Marcos 3,16-19; Lucas 6,14-16; Atos 1,13). A Sucessão Apostólica era um fato na vida da Igreja primitiva, como testemunhado pelos primeiros escritos cristãos. A primazia do atual Papa baseia-se na fé na promessa de Cristo, de que a Sua Igreja edificada sobre Pedro não será vencida pelo poder da morte (cf. Mateus 16,18; 7,25).