Olá, gostaria de entender o por que do Senhor ter dito: “quanto ao dia e àquela hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas só o Pai”.
Mas oras, Ele é Deus, por que ele disse que não sabe o dia e a hora do retorno dEle? Paz e Bem
Olá caríssimo Rafael. Obrigado pelo contato e pela confiança em nosso Apostolado. Desde já pedimos vossas orações por nosso trabalho e desejamos sinceros votos de graças e bençãos para a vossa vida.
Sua pergunta é ótima. Muitos possuem a mesma dúvida mas poucos efetivamente se atrevem a buscar instrução sobre ela.
Se Jesus é Deus, e como Deus é onisciente, por que diz que não sabe nem o dia e nem a hora em que Ele mesmo voltará ao mundo? Parece uma contradição, não é mesmo?
Eis mais uma passagem em que Jesus coloca em evidência a sua natureza humana, sem deixar de ter em conta sua natureza divina. Com efeito, Jesus Cristo é verdadeiro Deus, mas também, verdadeiro Homem. Ao mesmo tempo que se proclama a segunda pessoa da Santíssima Trindade, Deus mesmo, mostra vivamente sua condição humildemente humana para nós, afirmando que só o Pai tem pleno conhecimento sobre tal decisão.
Estamos na verdade diante de um ponto de muito significado teológico, que não pretendemos esgotar aqui. Mas para efeito de esclarecimento podemos afirmar que através dessa passagem, Jesus Cristo quer demonstrar como até uma possível “ignorância de Deus” possui mais sabedoria do que todo o conhecimento humano no mundo.
Jesus, em sua natureza humana, ressalva aqui que pode ignorar muito bem pontos específicos dos planos divinos que não são estritamente necessárias a sua missão terrena. E de fato, o exato momento de sua segunda vinda não foi o ponto chave de sua obra e seu legado. Desejou antes pregar a chegada da plenitude da lei e do Reino de Deus, a salvação universal, a destruição do pecado, a instituição da Igreja e a primazia do amor.
Contudo, longe de o diminuir, esse mero “desconhecimento” de Jesus acaba providencialmente concorrendo a favor da sua doutrina e de seus ensinamentos, plenificando mais uma vez seus seguidores. Veja que no decorrer da passagem em que Cristo declara não saber o dia e a hora de seu retorno, faz justamente uma de suas mais ricas exortações à sobriedade espiritual, à vigilância constante e ao zelo pela perseverância apostólica. Veja como o “desconhecimento” humano de Jesus age em conformidade com os desígnios de Deus quando pede para que os seus não afrouxem na fé, não durmam na virtude e nem vacilem na esperança. E não é verdade que sua exortação vem justamente mantendo de pé a cristandade nesses dois mil anos na eminência de sua volta?
Veja que grandioso mistério é a pessoa de Jesus Cristo em sua natureza humana e divina, e como uma concorre para o bem da outra para a salvação das almas! Com essa breve reflexão já podemos concluir que a própria providência divina fez com que Cristo em sua natureza humana desconhecesse o momento de seu retorno para uma melhor eficácia de sua missão salvífica na terra. Não é espetácular esse mistério!?
Deus conhecendo bem a miséria humana, nosso natural talento para “nivelar para baixo”, para calcular o menor esforço e gozar a preguiça, sabia muito bem que se conhecessemos o dia e a hora do retorno de Cristo, estacionaríamos na fé, no amor, na prática das virtudes. Imagina como seria terrível a tentação de largar a fé para retornar ao rumo da salvação somente nos “45 minutos do segundo tempo”? Na minha opinião pessoal, Deus nos poupou de uma tentação maior do que nossas forças poderiam suportar.
Por isso, como nos afirma o Senhor, não podemos jamais ter a presunção de termos já alcançado nossa salvação e cochilar na fé, na evangelização e na instauração do seu reino na Terra. Não podemos nunca deslizar na esperança e na prática das virtudes, pois não sabemos ao certo quando Ele voltará e nos pedirá contas de nossas obras. Pode ser daqui 100 anos, pode ser daqui 100 minutos. Fiquemos vigilantes portanto à sua espera, atentos e sóbrios ao seu chamado, pois certamente Ele virá.
Esperamos ter sido úteis na sua formação da fé.