Seitas, igreja particulares e empresas da fé

Seitas, Igreja Particulares e Empresas da Fé.

 

Pastor Themudo Lessa.

 

As Igrejas oriundas da Reforma do século 16 têm, em comum, a crença de que a Bíblia, com seus 66 livros (39 do Velho e 27 de Novo Testamento) é a regra única de fé e prática, não aceitando a tradição oral como fonte de referência para suas doutrinas. Entre essas denominações eu listava as sete principais que têm Igrejas no Brasil já há bem tempo: Luterana, Presbiteriana ou Reformada, Batista, Metodista, Congregacional, Pentecostal e Anglicana ou Episcopal. Excluía, então, dessa lista de evangélicas, três agremiações religiosas frequentemente inseridas como se evangélicas fossem, a saber, os mórmons, as Testemunhas de Jeová e os adventistas do sétimo dia. Estes últimos, por sinal, gente muito respeitada pela sua conduta moral e pela longevidade dos seus integrantes, fruto de uma alimentação adequada e extremamente sadia. Igrejas ditas Evangélicas nada têm de Evangélicas – Os sete grupos mencionados eram, até há pouco tempo, designados como protestantes, evangélicos ou crentes, sendo essas palavras rigorosamente sinônimas.
Ultimamente, entretanto, com a proliferação inusitada de seitas, igrejas particulares e empresas disfarçadas de igreja, é mister redefinir as coisas, pois palavras que tinham um significado mudaram sua conotação, passando a definir coisas diferentes. As últimas estatísticas do IBGE informaram em grandes manchetes que os evangélicos tiveram extraordinário crescimento e representaram quantidade bem maior entre as religiões, fazendo diminuir o percentual de católicos romanos. Contudo, incluíram na denominação de evangélicos empresas como a chamada “igreja” Universal do Reino de Deus e outras com caráter nitidamente empresarial e sem qualquer preocupação de ordem moral, como por exemplo a “Renascer em Cristo”, recentemente objeto de denúncias da revista “Época”, escandalosas e não respondidas.

Há pouco tempo, perguntando à mãe de um jovem evangélico, cujo casamento celebrei, sobre como ele estava, ela me contou: “Ele agora é pastor e abriu uma igreja para ele na nossa rua”. Martinho Lutero revirou- se no túmulo. Abre-se uma Igreja como se fora uma quitanda sob a liderança de alguém que nunca estudou teologia! E não se argumente que os discípulos de Cristo não tinham curso superior, eis que frequentaram o melhor seminário do mundo, com aulas diárias do próprio Filho de Deus. Religião está virando “picaretagem” – A Igreja foi fundada por Jesus Cristo e se alguma Igreja foi fundada por alguém mais não é Igreja. É grave erro amontoar na mesma pilha Igrejas sérias e íntegras como essa autêntica “picaretagem” religiosa. Além de grave, ofensivo e prejudicial à imagem de quem leva religião a sério. Essas chamadas igrejas evangélicas novas, muitas vezes fundadas por pessoas de conduta moral questionável, cujo deus é o dinheiro, têm sido bem sucedidas financeiramente mas não têm nenhum futuro como igrejas. Poderão eleger deputados, adquirindo poder político e, quem sabe, serão empresas de sucesso. Como religiões em breve deixarão de existir. Alguns exemplos: há algum tempo, eu disse em entrevista à antiga revista “Visão” que o pseudo- pastor Rex Humbard não duraria dez anos. Errei longe: não durou nem cinco. Dizia-se que Jimmy Swaggart era um grande tele-evangelista. Um escândalo sexual o tirou de cena. E muitos outros. Essas adeptas da teologia da prosperidade, a qual inventaram, não serão longevas. Ficarão pelo caminho, para desilusão de milhares, que, em boa fé, nelas acreditaram. O fenômeno Padre Marcelo é diferente – Observe-se, por interessante, o fenômeno padre Marcelo. Fez extraordinário sucesso de público e nos meios de comunicação por seu carisma, mas isso não é necessariamente mau nem condenável. Gerou muito dinheiro. Mas ao que sabemos, essas quantias são administradas pela Arquidiocese de Santo Amaro e criteriosamente aplicadas pela Igreja Católica Romana. Não se trata, como nessas pseudo-igrejas evangélicas de administração individual ou por um “petit comité” que não dá satisfação ao contribuinte. E, além disso, o padre Marcelo permanece inteiramente dentro da doutrina católica, não inventou outra religião.

Evangélica queria posar nua na “playboy” – Importa, pois, um esclarecimento. As palavras mudam de significado com o tempo. Bicha, há não muitos anos, era a fêmea do bicho. Pianista era quem tocava piano, hoje é também o canalha do congresso que vota duas vezes. E evangélico, há trinta anos, era uma pessoa de nobre caráter que cria somente na Bíblia como a Palavra de Deus. Hoje, evangélico é quem faz barulho e pouco se lhe dá se os vizinhos têm direito de não ser incomodados. É quem se degladia por televisões e rádios, quem monta uma indústria de música gospel com cacófato e tudo, aliás, o da música sacra. É quem vende votos, cobra para dar testemunho de conversão, até quem sonha em posar nua na “Playboy”! É o prolongamento do fim da picada! Enfim, evangélico é uma pessoa sem a menor credibilidade de vida moral. Lamentável. Dinheiro, Sucesso e poder são falsos valores – Portanto, se evangélico se associa à corrupção, a mediocridade e a heresia, os protestantes se recusam a ser chamados evangélicos. Querem passar a ser somente protestantes. E não fazem a menor questão de ser maioria. Os protestantes pregam o cristianismo, cujos valores não são nem o dinheiro, nem o sucesso nem o poder. Esses são os valores deste mundo, aos quais o Cristo de Deus veio trazer a espada, como está no Evangelho de S. Mateus 10,34. Igrejas que pregam que esses valores são falsos nunca podem fazer sucesso num mundo para o qual eles valem tudo.


* Themudo Lessa é pastor da Igreja Presbiteriana Independente em São Paulo há 37 anos, e autor de diversos livros.

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