Sem cérebro, mas com alma

A respeito da recente liminar do STF, em sede de argüição de descumprimento de preceito fundamental, que autorizou o aborto de fetos com anencefalia – a ser julgada em definitivo agora em agosto -, há quem a considere uma conquista, uma vitória, um direito finalmente reconhecido. Diante disso, algumas considerações precisam ser feitas!

Alega-se que, se a criança anencéfala irá morrer mesmo, não há mal em antecipar-lhe tal destino. Ora, a aberrante desculpa é absurda: se fosse válida, estariam autorizadas quaisquer mortes, uma vez que todos um dia iremos morrer. Ou uma vida de 90 anos tem mais valor intrínseco do que uma de dois dias? Tal pensamento parece-me um tanto utilitarista, e diria até coerente com a doutrina hitlerista!

De outra sorte, argumenta-se que o fim da medida é poupar o sofrimento da mãe. É essa a resposta mais corajosa, humana, adequada frente ao sofrimento? Surge o problema, resolvamo-lo com o assassinato? Fosse dado ao feto (estranho título para definir o ser humano…) condições de se manifestar, preferiria este ser abortado? Já que a morte natural se avizinha, acabemos logo com isso, numa ação covarde e egoísta? Mais: e a virtude que se adquire com o sofrimento, onde está? Não seria mais racional e cristão uma mãe sofrer pela perda natural do seu filho do que matá-lo friamente? E essa morte – ou "antecipação terapêutica", como está na moda politicamente correta que as esquerdas feministas tentam nos fazer engolir – resolverá, por sinal, o problema da mãe? Matando o filho, acaba o sofrimento? Parece que a aquela disposição óbvia da maternidade em escolher sofrer por sua prole está sendo trocada pelo hedonismo.

Enfim, ainda que não tenha o cérebro plenamente desenvolvido, o que a condena à morte natural, a criança anencéfala é uma pessoa, e tem uma alma. Mesmo no mais grotesco materialismo, ceifar uma vida humana indefesa é dos crimes o mais bárbaro. Que dirá quando sabemos que o ser humano é criatura de Deus, por Ele amada! O aborto não é pecado simplesmente porque assim diz a Igreja… Há uma razão grave, que antes de estar no terreno da fé está no da razão: matar um inocente clama aos céus por vingança, quanto mais se é feito em nome de uma estranha compaixão que tem por objeto a mãe mas não seu filho, cruelmente morte sem chance alguma de opinar ou reagir!

Para que a mãe não sofra, mate-se o filho! Eis o lema de uma sociedade sem Deus, que começou a expulsá-Lo na Renascença antropocêntrica e no liberalismo da Revolução Francesa. Não se pensa na criança, tampouco em seu destino eterno. Ainda que anencéfalo, é um ser humano destinado à salvação pelo Batismo!

Viverá o bebê poucos minutos? Que tais não lhes sejam tirados por essas que se dizem mães, as quais, entretanto, não hesitam em se acovardar, deixando que o sofrimento as domine – quando, ao contrário, é ocasião de santificação.

Mesmo sem cérebro o feto tem uma alma, e, pela lei natural, também direitos. Dentre eles, o mais importante e fundamental, do qual decorrem todos os outros: viver – anos, dias, minutos, segundos.

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