7 descobertas arqueológicas do século XX

O cristão sabe que tanto a fé quanto a razão são dons de Deus e que ambas lhe foram dadas para o conhecimento da verdade; sabe também que a fé e a razão não podem se contradizer pois a verdade não tem como contradizer a verdade. Por isso, não teme os avanços da ciência; tais avanços não têm como prejudicar a verdade da doutrina cristã. Esta proposição de ordem geral é aplicável também ao caso particular das pesquisas arqueológicas relacionadas ao Novo Testamento. Estas, longe de prejudicar a fé cristã, não fazem outra coisa senão reforçar com argumentos racionais sua credibilidade. Provaremos esta afirmação apresentando brevemente sete das muitas descobertas arqueológicas do século XX que confirmam a historicidade de diversos aspectos dos escritos neotestamentários. Para isso, utilizaremos como fonte principal o livro “Hipóteses sobre Jesus”, de Vittorio Messori (Edições Mensajero, Bilbao, 1978), complementando-o com alguns dados extraídos de diversos sites da Internet.

– Ano 1920, deserto do Médio Egito

Bernard Grenfell descobre um papiro, que é redescoberto em 1934 por C. H. Roberts na Biblioteca John Rylands de Manchester (Inglaterra). Um ano depois, Roberts publica sua conclusão: o papiro em questão é o fragmento do manuscrito mais antigo conhecido do Novo Testamento até então. É denominado papiro P52 ou papiro Rylands grego. Contém um texto do Evangelho de João (18,31-33.37-38) e é datado do período de 100 a 125.

Unanimemente se reconhece que o Evangelho de João foi o último Evangelho a ser redigido. Muitos dos estudiosos não-cristãos do Novo Testamento (“críticos” ou “mitólogos”, segundo a terminologia de Messori) sustentavam que este Evangelho tinha sido composto entre os anos 150 e 200 ou ainda depois, pois somente assim teria havido tempo suficiente para a formação do “mito cristão” expresso pela teologia de João, claramente mais desenvolvida que a dos três Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). A descoberta do papiro P52 desfez com um só golpe todo o acúmulo de teorias contrárias à fé cristã (cf. V. Messori, obra citada, p. 127).

– Ano 1927, Jerusalém

O arqueólogo Francês L. H. Vincent descobre o “Litóstrotos” ou “Gábata” (=Pavimento), isto é, o pátio calçado com pedras pertencente à Torre Antônia, com aproximadamente 2.500 metros quadrados, onde Pôncio Pilatos pronunciou a condenação de Jesus:

  • “Ouvindo tais palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora, fê-lo sentar no tribunal, no lugar chamado Litóstrotos, em hebraico Gábata” (João 19,13).

“Litóstrotos” é uma palavra grega que significa “calçado com pedras”; “Gábata” é uma palavra aramaixa que significa “pavimento”… Para os inimigos da historicidade dos Evangelhos, tratava-se apenas de símbolos mitológicos sobre os quais se teceram muitas especulações… até que se comprovou que se tratava de um verdadeiro pátio, calçado com pedras ao estilo romano (cf. Ibidem, pp. 167-168).

– Ano 1939, Herculano

É descoberta a marca de uma cruz na parede da parte reservada aos escravos em uma casa nobre existente nesta cidade, destruída pela erupção do vulcão Vesúvio no ano 79. Em volta da cruz encontravam-se também os pregos que serviam para fixar o nicho e a cortina que ocultava o símbolo do culto cristão. Esta descoberta mostra que o Cristianismo chegou à Itália muito rapidamente e torna historicamente crível o texto de Atos 28,14, que supõe a existência de cristãos em Pozzuoli (próximo de Nápoles), já no ano 61 (cf. Ibidem, p. 128).

– Cerca do ano 1960, Jerusalém

É descoberta a piscina de cinco pórticos chamada Betesda. Trata-se de um quadrilátero irregular de cerca de 180 metros de largura por uns 62 a 80 metros de comprimento, rodeado por arcos em seus quatro lados e, dividido ao meio, um quinto arco.

  • “Existe em Jerusalém, junto à Porta das Ovelhas, uma piscina que em hebraico se chama Betesda, com cinco pórticos” (João 5,2).
  • “É impossível enumerar as interpretações mitológicos que foram dadas a estas poucas palavras. Estava fora de dúvida (…) que para os desmistificadores ‘a piscina dos cinco pórticos’ não tinha valor histórico mas simbólico. As cinco tribos de Israel; os primeiros cinco livros da Bíblia (o Pentateuco); um símbolo cabalístico hebreu, em que o número 5 representa as faculdades da alma humana; os cinco dedos da mão de Javé; as cinco portas da Cidade Celestial… São estas algumas das infinitas hipóteses levantadas pelos mitólogos, que trataram também de estabelecer ousados paralelos com religiões e cultos orientais. Qualquer explicação era boa (…) somente eram excluídas as hipóteses que entendiam tratar-se da simples recordação de um lugar real”, até que “dos pesados volumes dos mitólogos alemães, a piscina veio figurar no roteiro turístico de Jerusalém” (Ibidem, p. 167).

O filósofo e exegeta Claude Tresmontant chamou a atenção para um detalhe importante do versículo citado aqui. O autor do Quarto Evangelho utiliza o tempo presente para dizer que em Jerusalém “existe” uma piscina chamada Betesda. Isto é um claro indício de que o tal Evangelho foi escrito antes da destruição de Jerusalém no ano 70, ou seja, muito antes do que aponta a grande maioria dos especialistas, que situam a data de composição desta obra por volta do ano 95.

– Ano 1961, Cesaréia Marítima

Uma expedição italiana descobre uma lápide calcárea de 80 cm de altura por 60 cm de comprimento, contendo uma inscrição que confirma que Pôncio Pilatos foi prefeito da Judéia nos tempos de Jesus, sob o imperador Tibério.

  • “No secular debate sobre as origens do Cristianismo não faltou sequer quem pusesse em dúvida a existência de Pilatos como real administrador da Palestina no momento em que Jesus foi condenado à morte. E quanto aos escritores não-cristãos que se referiam a esse funcionário? ‘Interpolações de copistas cristãos’, respondia prontamente certa parte da crítica” (Ibidem, p. 169).

– Ano 1962, Cesaréia Marítima

O arqueólogo Avi Jonah descobre uma lápide de mármore negro pertencente ao século III a.C. contendo uma inscrição que menciona a localidade de Nazaré.

  • “Também sobre Nazaré e o qualificativo de Nazareno aplicado a Jesus se desencadeou toda uma tempestade de interpretações. Um mito seguramente: um nome simbólico de uma cidade imaginária” até que “na cova dos escavadores israelitas foram enterradas as inumeráveis teorias elaboradas para explicar as razões pelas quais os evangelistas teriam inventado uma localidade chamada Nazaré” (Ibidem, pp. 168-169).

– Ano 1968, Cafarnaum

É descoberta a casa de São Pedro sob o pavimento de uma igreja do século V dedicada ao Apóstolo.

  • “Trata-se de uma residência simples, semelhante a todas aquelas que a rodeiam, exceto em um detalhe: as paredes encontram-se cobertas de afrescos e grafitos (em grego, siríaco, aramaico e latim), com invocações a São Pedro em que se pede sua proteção. Constatou-se que a casa foi transformada em lugar de culto desde o século I, de forma que é a igreja cristã mais antiga que se conhece. E testemunha que, já antes do ano 100 (…), não apenas prosperava o culto de Jesus, mas também se amadurecia a ‘canonização’ de seus discípulos, invocados já como ‘santos’ protetores” (Ibidem, p. 128).

Conclusões

  • “Confessava o pe. Lagrange, aos seus oitenta anos, após cinqüenta anos de estudo na Palestina com a única preocupação de confrontar os detalhes apresentados nos Evangelhos com a realidade dos costumes, história e arqueologia do próprio terreno: ‘O balanço final de meu trabalho é que não existem objeções ‘técnicas’ contra a veracidade dos Evangelhos. Tudo o que é referido nos Evangelhos, até o último dos detalhes, encontra confirmação precisa e científica'”.

Não são meras palavras de apologética. As centenas de fascículos da rigorosíssima Revue Biblique, dirigida pelo própio pe. Lagrange, o confirmam.

Como observou o célebre orientalista inglês, sir Rawlinson:

  • “O Cristianismo se distingue das demais religiões mundiais precisamente por seu caráter histórico. As religiões da Grécia e Roma, Egito, Índia, Pérsia, do Oriente em geral, foram sistemas especulativos que não tinham preocupação em se firmar sobre uma base histórica. [Eram] exatamente o contrário do Cristianismo” (Ibidem, pp. 158-159).

Concluímos que a ciência brinda um sólido apoio à doutrina católica sobre o caráter histórico dos Evangelhos:

  • “A santa mãe Igreja defendeu sempre e em todas as partes, com firmeza e máxima constância, que os quatro Evangelhos mencionados, cuja historicidade afirma sem duvidar, narram fielmente o que Jesus, o Filho de Deus, vivendo entre os homens, fez e ensinou realmente para a eterna salvação dos mesmos até o dia da ascensão” (Concílio Vaticano II, constituição dogmática sobre a Divina Revelação, Dei Verbum, 19).
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