“Sola Scriptura” ou Igreja?

Por Jaime Francisco de Moura

O pilar fundamental do Protestantismo está edificado na doutrina da Sola Scriptura, que quer dizer “somente as Escrituras”, ou “somente a Bíblia basta”. Para eles, Cristo não fundou nenhuma Igreja e o Catolicismo se desviou cometendo vários erros doutrinários durante o decorrer da história.

Vejamos como isso é falso!

A própria Bíblia mostra a fundação da Igreja em Mateus 16,18-19 e este acontecimento trata-se também de um fato histórico que nenhum estudioso ou pesquisador consegue provar o contrário. A Igreja possui milhares de documentos que mostram exatamente como a Igreja se formou e como se desenvolveu, tornando-se a Igreja que é hoje. Todas essas questões e milhares de outras são respondidas por documentos bem primitivos da Igreja. Eusébio de Cesaréia escreveu um livro sobre a História da Igreja, desde sua origem, após ter sido fundada por Jesus Cristo, até cerca do ano 300 dC.

A Igreja é o próprio Corpo do Senhor e também “coluna e sustentáculo da verdade” (1Tim 3,15). Ele a quis como o seu corpo Místico, constituído como o “Sacramento universal da salvação da humanidade” (LG 48) isto é, o meio escolhido por Deus para salvar a todos. Perguntar “Porque a Igreja?” é então, o mesmo que perguntar: “Porque Cristo?”. Cristo veio do Pai e deixou aqui a Igreja. O Pai enviou Jesus para a salvação do mundo e Cristo enviou a Igreja.

Então fica a pergunta: O que veio primeiro, a Bíblia ou a Igreja?

Antes do Antigo Testamento ser escrito já existia uma Igreja alicerçada no povo de Israel e quando o Novo Testamento foi escrito, a Igreja já tinha sido entregue a Pedro e aos Apóstolos pelo próprio Cristo (Mateus 16,18-19). O povo de Israel era a posteridade das Doze Tribos de Jacó, que Deus chamou “Israel”.

O livro do Apocalipse (Ap 21,10-14) revela a Igreja como a “Jerusalém celeste” construída sobre doze pedras fundamentais, nas quais “estão escritos os nomes dos Doze Apóstolos do Cordeiro”. Com a vinda de Cristo a Igreja cresceu e caminhou na “Doutrina dos Apóstolos” (At 2,42). Depois, estes Apóstolos ordenaram Bispos, seus sucessores, para que a Igreja cumprisse até o fim dos tempos a missão que Jesus lhe confiou: “Ide pelo mundo inteiro, pregai o Evangelho a toda criatura…” (Mc 16,15). Assim, os Apóstolos cumpriram a ordem e puseram à frente das Igrejas, bispos, presbíteros e diáconos como auxiliares, tendo regulamentado a sua sucessão com normas claras para que, com a comunidade, fossem escolhidos sempre os melhores. Os Bispos – os Apóstolos de hoje – continuam a mesma missão de Jesus. Eles estabeleceram os princípios básicos para toda a vida da Igreja: o Credo e a Tradição Apostólica.

Clemente (88-97), Bispo de Roma, quarto Papa da Igreja, colaborador de São Paulo (cf. Fl 4,3), na importante carta aos Coríntios, já no século I mostra que Jesus Cristo recebeu todo o poder do Pai e incumbiu os Apóstolos de estabelecerem a hierarquia. Santo Ireneu (+202) Mártir do século II, nos relata a lista dos primeiros Papas da Igreja, até o décimo segundo, Eleutério, já no seu tempo. Veja o que ele diz: “Depois de ter fundado e edificado a Igreja, os bem-aventurados Apóstolos transmitiram a Lino o cargo do Episcopado… Anacleto o sucedeu. Depois, em terceiro lugar a partir dos Apóstolos, é Clemente a quem cabe o episcopado. Ele tinha visto os próprios Apóstolos, estivera em relação com eles; sua pregação ressoava-lhe aos ouvidos.; sua Tradição estava presente ainda aos seus olhos.. Aliás ele não estava só, havia em sua época muitos homens instruídos pelos Apóstolos… A Clemente sucede Evaristo… Alexandre; em seguida… Sixto, depois Telésforo, também glorioso por seu martírio; depois Higino, Pio, Aníceto, Sotero… e Eleutério em 12º lugar a partir dos Apóstolos.”

Vamos agora para a “Sola Scriptura”!

A “Sola Scriptura” diz que todos os ensinamentos cristãos estão presentes na Bíblia, com clareza tal que todos podem compreendê-la, sem que seja necessário levar em consideração a Tradição Cristã e os Concílios. Esta ideologia implantada pelos protestantes no século XVI é tão falsa que a própria leitura da Bíblia, já a derruba. Confira em João 20,30 e João 21,25. E fica mais claro quando comparamos com outras passagens como a promessa do Paráclito (João 14,16-26; João 15,26; João 16, 7-13) e seu efetivo derramamento (Atos 2). Além disso, a Bíblia não caiu pronta do Céu. Se não fosse a Igreja Católica, com seus monges a copiarem manualmente as Escrituras durante 1500 anos, onde estaria hoje a Bíblia?

Um dos argumentos protestantes sobre a “Sola Scriptura” está em 2Tim 3,16, onde Paulo diz: “Toda Escritura é inspirada por Deus”. Mas que Escritura havia no tempo de Paulo? Paulo morreu em aproximadamente 67 d.C., de forma que a segunda epístola a Timóteo (2Tim) foi escrita antes desse ano. Existia o Novo Testamento na época de (2Tim)? Não, não existia! Também sabemos que não existiu um Novo Testamento por centenas de anos após a redação de 2Tim. A única Escritura disponível para Paulo era o Antigo Testamento. Portanto, os protestantes não podem usar este versículo para justificar a Sola Scriptura, a não ser rejeitando todo o Novo Testamento (cf. Bob Stanley in “Defenders of Catholic Faith”; tradução: Carlos Martins Nabeto)

Para encerrar, ficam aqui algumas perguntas sobre a Sola Scritura:

– Se a Sola Scriptura fosse 100% verdadeira para que precisaríamos do Espírito Santo se tudo está na Bíblia? O que o Espírito Santo viria ensinar se tudo já foi escrito?

– Se a Sola Scriptura fosse suficiente, como conheceríamos a lista dos livros canônicos, se ela não traz a relação deles? Qualquer pessoa de bom senso perceberá que os livros canônicos só chegou até nós graças à Igreja Católica, através do Magistério e da Tradição.

– Onde Jesus ordena a seus Apóstolos a escreverem a Bíblia? O que está escrito lá é: “Ide e pregai” e não “ide e escrevei”. E assim, os Apóstolos não escreveram nada, somente ouviram e pregaram!

– Em qual livro do Novo Testamento os Apóstolos falam às gerações futuras que a fé cristã se baseará apenas na Bíblia?

– Onde a Bíblia afirma ser a única autoridade para o cristão em matérias de fé e moral?

– Por que existem mais de 40.000 denominações protestantes, com centenas e centenas de interpretações diferentes umas das outras, se todas estão com a mesma Bíblia na mão?

– Se o Cristianismo é uma “religião do Livro”, como ele floresceu durante os primeiros 1500 anos de História da Igreja, se a Imprensa não tinha ainda sido inventada?

– E quando a Imprensa foi inventada (sistema mecanizado de impressão) no século XVI, 90% da população era analfabeta. Será que esta maioria foi para o inferno?

– Se a Sola Scriptura é tão sólida e biblicamente fundada, por que não existe um tratado de verdade, escrito para defendê-la, desde a época em que a expressão foi cunhada pela Reforma?

– Se a Igreja primitiva acreditava na Sola Scriptura, por que os credos primitivos sempre dizem: “Creio na Santa Igreja Católica” e não simplesmente “Creio nas Santas Escrituras”?

No mais, a segunda vinda de Jesus ocorrerá para resgatar a Igreja e não a Bíblia.

E assim como Cristo não ordenou aos Apóstolos: “Ide e imprimi e distribuí Bíblias”, assim também não disse: “Quem vos lê, a Mim lê”. Pelo contrário, Cristo disse: “Quem vos ouve, a Mim ouve” (Lc 10, 16).

Conclusão: a Igreja é a mãe; e a Bíblia, sua filha. A doutrina da “Sola Scriptura” é antibíblica, não é histórica antes da Reforma e é impraticável pelo verdadeiro Cristianismo.

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