“Sola Scriptura”?

Autor: Daniel Iglesias Grèzes

Os princípios fundamentais sobre os quais a Reforma Protestante se baseou são dois: “Sola Fide” (Somente a Fé) e “Sola Scriptura” (Somente a Bíblia):

– O princípio protestante da “Sola Fide” afirma que o homem não é justificado pela fé e pelas obras (como ensina a Igreja Católica), mas apenas pela fé;

– O princípio protestante da “Sola Scriptura” afirma que a Revelação Divina não é transmitida pela Sagrada Escritura e pela Sagrada Tradição (como ensina a Igreja Católica), mas apenas pela Sagrada Escritura.

Com exemplos e argumentos extraídos do maravilhoso livro “Roma, Doce Lugar: nosso caminho ao Catolicismo”, de Scott e Kimberly Hahn (Madri: Edições Rialp, 2001), veremos que muitas doutrinas protestantes contradizem o princípio protestante da “Sola Scriptura”. Abordaremos 7 destas doutrinas na ordem em que aparecem nessa narração do dramático caminho de conversão ao Catolicismo do pastor e teólogo presbiteriano Scott Hahn e de sua esposa Kimberly.

1. O BATISMO INFANTIL

Dentro do Protestantismo há uma forte corrente (cuja origem histórica se encontra no Movimento Anabatista do séc. XVI) que nega a validade do batismo infantil.

A título introdutório, diremos que Scott Hahn nasceu e foi criado num lar presbiteriano, mas essa religião significou pouco para ele até que, durante a sua juventude, se converteu graças ao testemunho da organização protestante Young Life. A seguir, estudou teologia numa universidade protestante, a Grove City College, onde conheceu Kimberly, com quem posteriormente se casou. Ouçamos agora como Scott Hahn descobriu que a doutrina da invalidade do batismo infantil não é bíblica:

– “Na residência, alguns de meus amigos começaram a falar em ser ‘rebatizados’. Estávamos todos crescendo juntos na fé e frequentávamos a congregação local. O ministro – orador fantástico – estava ensinando que aqueles batizados enquanto crianças nunca teriam sido realmente batizados; e meus amigos pareciam segui-lo em tudo o que dizia. No dia seguinte, nos reunimos para marcar a data em que ‘mergulharíamos de verdade’, mas antes eu lhes dei a minha opinião:

– Vocês não acham que deveríamos, nós mesmos, estudar a Bíblia para nos assegurarmos de que ele está certo?

Parecia que não me ouviam.

– Qual o problema do ministro dizer isso, Scott? Além do mais, você se lembra do seu Batismo? O que vale o Batismo para os bebês se eles ainda não podem crer?

Eu não tinha certeza, mas sabia que a resposta não era ‘seguir o líder’ e basear crenças somente em sentimentos, como eles pareciam fazer, de modo que respondi:

– Não sei o que vocês irão fazer, mas eu vou estudar a Bíblia cuidadosamente antes de me batizar novamente.

Na semana seguinte eles se ‘rebatizaram’. Enquanto isso, eu fui procurar um dos meus professores de Bíblia e lhe expliquei o que estava acontecendo. Ele, porém, não quis me dar a sua opinião; ao contrário, me incentivou a estudar o tema mais a fundo:

– Scott, por que você não aborda o tema do batismo infantil em seu trabalho de pesquisa por escrito?

Me senti em apuros. Para ser honesto, não queria estudar o tema tão a fundo assim, mas suponho que o Senhor sabia que eu precisava de um empurrãozinho. Dessa forma, durante os meses seguintes, li tudo o que pude encontrar a respeito.

Até então, eu já tinha lido a Bíblia umas três ou quatro vezes e estava convencido de que a chave para compreendê-la era o conceito de Aliança. Está em toda página e Deus estabelece uma em cada época. Estudar a Aliança me deixou clara uma questão: durante 2.000 anos, desde o tempo de Abraão até a vinda de Cristo, Deus tinha mostrado ao seu Povo que queria que as crianças estivessem em aliança com Ele. O modo era simples: bastava dar-lhes o sinal da Aliança.

No Antigo Testamento, o sinal de entrada na Aliança com Deus era a circuncisão. No Novo Testamento, Cristo tinha substituído esse sinal pelo Batismo. Porém, não li em nenhum lugar que Cristo havia dito que as crianças deviam ser excluídas da Aliança. Na verdade, o encontrei falando justamente o contrário: ‘Deixai que as crianças se aproximem de mim e não as impeçais, por que o Reino dos Céus é [dos que são como] elas’ (Mateus 19,14).

Também encontrei os Apóstolos imitando-o. Por exemplo: em Pentecostes, quando Pedro terminou o seu primeiro sermão, chamou todos a aceitar Cristo, ingressando na Nova Aliança: ‘Arrependei-vos e batizai-vos no nome de Jesus Cristo, para a remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo; porque esta promessa é para vós e para os vossos filhos…’ (Atos 2,38-39).

Em outras palavras: Deus queria que as crianças estivessem em Aliança com Ele e, visto que no Novo Testamento apenas o Batismo figura como sinal para ingresso na Nova Aliança, por que as crianças, filhas dos fiéis, não deveriam ser batizadas? Não era, pois, de se estranhar – como descobri em minha pesquisa – que a Igreja praticasse o batismo infantil desde que foi instituída.

Apresentei aos meus amigos os resultados da minha investigação bíblica, mas não quiseram me ouvir e muito menos discutir. De fato, percebi que o simples fato de ter estudado o tema não os agradou em nada.

Nesse dia, fiz duas descobertas: por um lado, comprovei que muitos dos chamados ‘cristãos bíblicos’ preferem basear as suas crenças em sentimentos, sem orar nem ler com cuidado a Bíblia; por outro lado, descobri também que a Aliança era verdadeiramente a chave para se compreender toda a Bíblia” (pp.30-32).

2. A ANTICONCEPÇÃO

Atualmente, todas as denominações protestantes admitem a anticoncepção.

Ouçamos o testemunho de Kimberly Hahn a respeito:

“Como protestante, eu não conhecia ninguém que não praticasse o controle da natalidade. Tinha sido orientada e induzida a praticá-lo como parte de um comportamento cristão razoável e responsável. Nos cursos de orientação pré-matrimonial não nos perguntavam se iríamos empregá-lo ou não; perguntavam apenas qual método pensávamos empregar” (pp. 49-50).

Quando Kimberly estudou o tema a fundo, descobriu que a doutrina moral protestante sobre a anticoncepção não tem qualquer fundamento válido na Bíblia. Vejamos o que aconteceu quando Scott se interessou por esse trabalho acadêmico da sua esposa:

– “Perguntei-lhe o que era isso tão interessante que ela havia descoberto sobre a anticoncepção. Disse-me que até 1930 a posição de todas as igrejas [protestantes] acerca desse tema tinha sido unânime: a anticoncepção era moralmente má em qualquer circunstância.

O meu argumento foi:

– Talvez tenha levado esse tempo todo para se desprender dos últimos vestígios do Catolicismo.

Kimberly avançou um pouco mais:

– Mas você sabe quais razões eles (os católicos) dão para se opor ao controle da natalidade? Eles têm mais argumentos de peso do que você pode imaginar.

Tive que admitir que eu não conhecia as razões deles. Kimberly me perguntou se eu estava disposto a ler um livro sobre o tema e me deu ‘O Controle da Natalidade e a Aliança Matrimonial’, de John Kippley (…) Minha especialidade era Teologia da Aliança e eu acreditava ter todos os livros em que figurava, na capa, a palavra ‘aliança’; assim, o fato de descobrir um livro que eu não conhecia aguçou a minha curiosidade.

Vi o livro e pensei: ‘Editorial Litúrgica? Este autor é católico! Um papista! O que ele faz, plagiando a noção protestante de Aliança?’ Senti ainda mais curiosidade para saber o que ele dizia. Sentei-me para ler o livro e, pouco depois, comecei a pensar: ‘Tem algo errado aqui. Não pode ser… O que este homem diz é bastante sensato!’ Ele demonstrava como o matrimônio não é um simples contrato que implica um intercâmbio de bens e serviços. O matrimônio é uma aliança que carrega consigo uma interrelação de pessoas. A tese principal de Kippley era que toda aliança tem um ato pelo qual se consuma e se renova; e que o ato sexual dos cônjuges é um ato de aliança. Quando a aliança se renova, Deus a utiliza para dar vida. Renovar a aliança matrimonial e usar contraceptivos equivaleria a receber a Eucaristia para cuspí-la ao chão logo em seguida (…)

Comecei a compreender que cada vez que Kimberley e eu realizávamos o ato conjugal, realizávamos algo sagrado; e que cada vez que frustrávamos com os anticoncepcionais o poder de conceber a vida do amor, cometíamos uma profanação (…)

A Igreja Católica romana era a única Igreja cristã em todo o mundo que tinha o valor e a integridade para ensinar esta verdade tão impopular. Eu não sabia o que pensar e, assim, recorrí a um velho ditado da família: ‘Até um porco cego pode encontrar uma bolota’, isto é, depois de 2.000 anos, até a Igreja Católica martelava algo.

Católica ou não, aquilo era verdade. Assim, Kimberly e eu nos desfizemos dos anticoncepcionais que vínhamos usando e começamos a confiar no Senhor de um modo novo quanto ao que concernia o nosso projeto familiar” (pp.42-44).

3. “SOLA FIDE”

Algum tempo depois, Scott Hahn fez outra descoberta importante:

“Descobri que em nenhum lugar São Paulo ensinou que nos salvamos apenas pela fé. O ‘somente pela fé’ (Sola Fide) não se encontrava na Bíblia (…)

Para muitos, este fato não seria capaz de provocar uma grande crise, mas para alguém mergulhado no Protestantismo e convencido de que o Cristianismo dependia da doutrina do ‘somente pela fé’ (Sola Fide), isto significava a queda do mundo.

Recordei o que um dos meus teólogos favoritos, o dr. Gerstner, havia dito certa vez em sala de aula: que se os protestantes estavam errados no que diz respeito à Sola Fide e a Igreja Católica tinha razão em sustentar que nos salvamos pela fé e pelas obras, ‘eu amanhã mesmo estarei de joelhos diante do Vaticano para fazer penitência’ (…)

Com efeito, toda a Reforma Protestante nascia dessa diferença. Lutero e Calvino tinham afirmado frequentemente que este era o artigo sobre o qual a Igreja de Roma se erguia ou se demolia; e, para eles, esse era o motivo pelo qual a Igreja Católica tinha ruído e o Protestantismo tinha se erguido das suas cinzas. A Sola Fide foi o princípio fundamental da Reforma e eu estava agora me convencendo de que São Paulo nunca o tinha ensinado.

Na Epístola de Tiago 2,24, a Bíblia ensina que ‘o homem se justifica pelas obras e não somente pela fé’. Ademais, São Paulo diz em 1Coríntios 13,2: ‘Ainda que eu tenha uma fé capaz de mover montanhas, se eu não tenho caridade, nada sou’.

Para mim foi uma transformação traumática ter que reconhecer que neste ponto Lutero estava essencialmente equivocado” (pp.46-48).

Sobre este ponto, Kimberley acrescenta o seguinte:

“Pouco a pouco nos convencemos de que Martinho Lutero tinha deixado que suas convicções teológicas pessoais contradissessem a própria Bíblia, à qual supostamente tinha decidido obedecer no lugar da Igreja Católica. Ele tinha declarado que a pessoa não se justifica pela fé agindo no amor, mas somente pela fé. Chegou inclusive a acrescentar a palavra ‘somente’ depois da palavra ‘justificado’ em sua tradução alemã de Romanos 3,28, chamando a Epístola de Tiago de ‘epístola falsa’ porque Tiago afirma explicitamente: ‘Vês que pelas obras se justifica o homem e não somente pela fé’.

Novamente, e por muito que isso nos soasse estranho, a Igreja Católica tinha razão em um ponto essencial da doutrina” (p.57).

4. A EUCARISTIA

Sobre o Sacramento da Eucaristia, Martinho Lutero rejeitou o dogma católico da transubstanciação e ensinou a doutrina da consubstanciação. Não obstante, a maioria dos protestantes atuais nega a presença real de Cristo na Eucaristia, contradizendo o ensinamento explícito da Bíblia.

Vejamos o que ocorreu quando o pastor Scott Hahn estudou a fundo o discurso de Jesus na sinagoga de Cafaranum sobre o pão da vida:

“Fui contratado como formador a tempo parcial no seminário presbiteriano local. O tema da minha primeira aula era o Evangelho de São João, sobre o qual eu também estava pregando uma série de sermões na igreja (…) Quando, na minha preparação, cheguei ao capítulo 6, tive que dedicar semanas de cuidadosa pesquisa aos seguintes versículos: João 6,52-58 (…)

Imediatamente comecei a questionar o que os meus professores tinham me ensinado e o que eu mesmo estava pregando para a minha congregação, sobre a Eucaristia como um mero símbolo – um símbolo profundo, é verdade, mas apenas um símbolo. Depois de muita oração e muito estudo, percebi que Jesus não podia estar falando simbolicamente quando nos convidou a comer a sua carne e a beber o seu sangue; os judeus que o ouviam não teriam se ofendido ou escandalizado por um simples símbolo. Ademais, se eles tivessem interpretado mal a Jesus, tomando suas palavras literalmente – enquanto Ele apenas falava em sentido metafórico – teria sido fácil para o Senhor esclarecer esse ponto. De fato, já que muitos discípulos deixaram de segui-lo por causa deste ensinamento (versículo 60), Jesus estaria moralmente obrigado a explicar que estava apenas falando simbolicamente.

Mas Ele não o fez. E nenhum cristão, ao longo de mais de 2000 anos, negou a presença real de Cristo na Eucaristia. Isto era bem claro.

Assim, fiz o que qualquer pastor ou professor de seminario faria se quisesse conservar o seu emprego: encerrei o quanto antes os meus sermões sobre o Evangelho de São João, no final do capítulo 5, e praticamente pulei o capítulo 6 em minhas aulas” (pp.65-66).

5. “SOLA SCRIPTURA”

Tempos depois, um aluno fez uma pergunta embaraçosa ao professor Scott Hahn, que ele nunca tinha ouvido: onde a Bíblia ensina que ela é a nossa única autoridade em matéria de fé? Scott deu uma resposta que não satisfez o aluno e, a seguir, mudou de assunto. Vejamos o que ocorreu logo depois:

“Enquanto eu voltava pra casa naquela noite, olhei para as estrelas e murmurei: ‘Senhor, o que está acontecendo? Onde a Bíblia ensina a Sola Scriptura?’

Duas eram as colunas sobre as quais os protestantes baseavam a sua revolução contra Roma: uma já tinha ruído e a outra estava ruindo. Senti medo.

Estudei durante a semana inteira sem chegar a conclusão alguma. Inclusive, chamei vários amigos, mas não fiz nenhum progresso. Finalmente, falei com dois dos melhores teólogos da América e ainda com alguns dos meus ex-professores. Todos aqueles a quem consultava se surpreendiam de que lhes fizesse esta pergunta e se sentiam ainda mais transtornados quando eu não ficava satisfeito com as suas respostas. Eu disse a um dos professores:

– Talvez eu sofra de amnésia, mas me esqueci das razões simples pelas quais nós, protestantes, cremos que a Bíblia é a nossa única autoridade.

– Scott, que pergunta besta!

– Então me dê uma resposta besta!

Ele respondeu:

– Scott, na verdade você não pode demonstrar a doutrina da Sola Scriptura com a Bíblia. A Bíblia não ensina explicitamente que ela seja a única autoridade para os cristãos. Em outras palavras, Scott, a Sola Scriptura é essencialmente a crença histórica dos reformadores, diante da pretensão católica de que a autoridade está na Bíblia e também na Igreja e na Tradição. Para nós, portanto, a Sola Scriptura é apenas uma pressuposição teológica, o nosso ponto de partida, mais do que uma conclusão demonstrada (…) Veja, Scott, o que ensina a Igreja Católica: é óbvio que a Tradição está errada.

– Certamente está errada – concordei – mas onde o conceito de Tradição é condenado? E, por outro lado, o que Paulo quis dizer quando pediu aos Tessalonicenses para aceitarem a Tradição tanto escrita quanto oral – prossegui pressionando. Não é irônico? Nós insistimos que os cristãos só podem crer no que a Bíblia ensina; mas a própria Bíblia não ensina que ela seja a nossa única autoridade” (pp.69-70).

6. O CÂNON DA BÍBLIA

Durante sua investigação sobre o princípio da Sola Scriptura, Scott Hahn percebeu outras duas gravíssimas fragilidades da doutrina protestante: trata-se do problema do cânon bíblico e do problema da interpretação autêntica da Bíblia. Os consideraremos nesta ordem.

O princípio protestante da Sola Scriptura não se encontra na Bíblia, mas poderia se encontrar se Deus assim o quisesse. O problema do cânon bíblico, ao contrário, é metafisicamente insolúvel a partir do ponto de vista protestante.

Citaremos a seguir uma parte do diálogo de Scott Hahn com um dos teólogos protestantes que consultou em sua tentativa de eliminar as dúvidas:

“Certo dia, me convidou a ir com ele num encontro com um dos nossos mais brilhantes mestres, o dr. John Gerstner, um teólogo calvinista formado em Harvard e de fortes convicções anticatólicas (…)

– Como podemos estar seguros de que os 27 livros do Novo Testamento são, em si mesmos, a Palavra infalível de Deus se os Papas e os Concílios que nos entregaram a lista eram falíveis?

Nunca esquecerei a sua resposta:

– Scott, isso simplesmente significa que tudo o que podemos ter é uma coleção falível de documentos infalíveis.

– Isso é, realmente, o melhor que o Cristianismo Protestante histórico pode contribuir?

– Sim, Scott! Tudo o que podemos fazer são juízos prováveis baseados na evidência histórica. Não temos nenhuma outra autoridade infalível além da Bíblia.

– Mas, dr. Gerstner, como posso saber que é realmente a Palavra de Deus infalível o que eu estou lendo quando abro Mateus, Romanos ou Gálatas?

– Como eu já disse, Scott, tudo o que temos é uma coleção falível de documentos infalíveis.

Senti-me novamente insatisfeito com as suas respostas, apesar de saber que ele estava apresentando com toda honestidade as teses protestantes. A minha única resposta foi:

– Então, se as coisas são assim, dr. Gerstner, creio que devemos ter a Bíblia e a Igreja. Ou as duas, ou nenhuma!” (pp.86 e 92).

A mera evidência histórica é incapaz, por si mesma, de garantir a verdade de uma doutrina de fé sobrenatural: que determinados escritos transmitem sem erro a Palavra de Deus revelada por Cristo.

7. O “LIVRE EXAME” DA BÍBLIA

Conforme a doutrina católica, o cristão deve interpretar a Bíblia em sintonia com a Tradição da Igreja e sob a condução do seu Magistério.

Segundo a doutrina protestante, cada cristão deve interpretar a Bíblia contando para isso com a assistência do Espírito Santo. Esta é a doutrina conhecida como “livre exame”.

Vejamos agora uma outra parte do diálogo de Scott Hahn com o dr. John Gerstner, a quem Scott consultava, como último recurso, em busca de auxílio para resolver suas sérias dúvidas teológicas:

“- Scott, se você está de acordo que agora possuímos a inspirada e inerrante Palavra de Deus na Bíblia, o que mais precisamos então?

Respondi:

– Desde a época da Reforma, surgiram mais de 25.000 denominações protestantes diferentes e os especialistas afirmam que atualmente surgem 5 novas denominações por semana. Cada uma delas garante estar seguindo o Espírito Santo e possui o sentido pleno da Bíblia. Deus sabe que precisamos muito mais do que isso. O que eu quero dizer, dr. Gerstner, é que quando os fundadores da nossa nação nos entregaram a Constituição, não se contentaram apenas com isso. Imagine o que teríamos hoje se a única coisa que tivessem nos deixado fosse um documento, por melhor que fosse, junto com a recomendação: ‘que o espírito de George Washington guie cada cidadão’? Teríamos uma anarquia, que é precisamente o que os protestantes têm no que se refere à unidade da Igreja (…) Ao invés disso, nossos pais fundadores nos entregaram algo mais que a Constituição: nos entregaram um governo composto por um presidente, um congresso e uma suprema côrte, todos necessários para aplicar e interpretar a Constituição. E se isso é necessário para se governar um país como o nosso, o que será necessário para se governar uma Igreja que abrange o mundo inteiro? Por isso, dr. Gerstner, eu estou começando a crer que Cristo não nos deixou apenas com o seu Espírito e um Livro. E mais: em nenhuma parte do Evangelho se ordena aos Apóstolos escrever, de modo que apenas a metade deles escreveu livros que foram incluídos no Novo Testamento. O que Cristo disse a Pedro foi: ‘Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e as portas do inferno não prevalecerão contra ela’. Então, me parece mais lógico que Jesus nos deixou a sua Igreja, constituída pelo Papa, pelos Bispos e pelos Concílios; todos eles necessários para aplicar e interpretar a Bíblia” (pp.89-90).

Scott Hahn foi recebido na Igreja Católica na Vigília Pascal de 1986. Sua esposa Kimberly Hahn foi recebida na Igreja Católica na Vigília Pascal de 1990.

  • Fonte: Revista Fe y Razón nº 8 – set/2006
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto

 

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