Sudário de Turim: a controvérsia

O «JP» já publicou artigos sobre o Sudário de Turim nas edições nº 12 e 20. Após alguns anos e depois da célebre datação pelo carbono 14(1) a controvérsia recruscedeu. Muitas pessoas ainda o olham como uma falsificação do séc. XIV. Mas felizmente que os estudos continuam e a editora Albin Michel publicou o ano passado (1997) um interessante livro escrito por ANDRÉ MARION e ANNE-LAURE COURAGE intitulado NOVAS DESCOBERTAS SOBRE O SUDÁRIO DE
TURIM (Nouvelles decouvertes sur Le Suaire de Turin). Os autores são professores da ESCOLA SUPERIOR DE ÓPTICA, em Paris. Foi-lhes pedido em Maio de 1994, pelo CIELT (Centro Internacional de Estudos sobre o Lençol de Turim) uma opinião sobre umas letras ou sinais que aparecem no rosto do Homem do Sudário. Só nesta Escola seria possível fazer  ressaltar, por tratamento de imagem, os caracteres que apareciam um pouco imperceptíveis no lençol.

O estudo do lençol de Turim exige interdisciplinariedade: exegese(2), história, arqueologia, iconografia(3), numismática, química, espectografia, antropologia, anatomia, radiodatação, óptica, tratamento de imagens, paleografia(4)… Cada um destes domínios traz os seus elementos de estudo, mas cada um reconhece os seus limites diante de um objecto tão espantoso. Todos reconhecem que a pergunta é só uma: será verdadeiramente este o lençol que envolveu o corpo de Jesus de Nazaré depois da crucifixão? A fim de tentar responder a esta questão é importante recolher todos os dados históricos, iconográficos ou científicos, tanto os que vão no mesmo
sentido como os que se contradizem.

Natureza da imagem

A nossa primeira certeza é a seguinte: A imagem do lençol não é uma obra pictural. Não foram encontrados sinais de tinta no tecido e a imagem em negativo e em dupla silhueta é dificilmente concebida ter sido feita em época medieval ou em época anterior, pois não foi encontrado qualquer produto químico; tem caracter indelével e o seu planeamento é perfeito como se tratasse de uma projecção óptica num ecrã. Foi igualmente estudada a sua tridimensionalidade, de acordo com a lei das distâncias, realização impossível em tempos antigos e ainda hoje de difícil compreensão.

Estudos mostraram que a imagem não foi feita a partir de pigmentos ou colorantes. Foram encontrados uns traços ínfimos de pigmentos não suficientes para fazer toda a imagem. A impressão está marcada com líquidos fisiológicos e corresponde perfeitamente à anatomia e ao sistema circulatório humano tal como o conhecemos hoje, desconhecido na Idade Média.

Destas observações tiramos o nossa segunda certeza: o lençol de Turim foi um dia posto em contato com um verdadeiro cadáver de um crucificado. Dois pontos são quase os únicos em que a comunidade científica parece estar de acordo. Mas se o lençol não é uma obra pictural, poderia ser um falso lençol fabricado por outro processo qualquer? Vamos ver as condições que teriam de ser reunidas para a realização de uma falsidade.

A hipótese do falsário

O falsário teria que escolher um belo tecido de linho que não oferecesse ambigüidade sobre a época da sua fabricação. É que a matéria do lençol e a técnica de fabricação era usada no tempo de Cristo: tipo de ponto, torção do fio, técnica de tecelagem, tudo indica que a sua origem é anterior à Idade Média européia ou oriental. A análise dos pólens encontrados no lençol mostraram que foi fabricado numa região mediterrânica e que aí permaneceu algum tempo.

Como a impressão teria de se formar a partir do corpo de um verdadeiro crucificado, era preciso que o falsário dispusesse de um tal tipo de cadáver. Depois teria de encontrar um homem que tivesse semelhança física com as representações iconográficas de Cristo. Que o seu martírio tivesse sido inspirado nos textos do Evangelho: Flagelação com um chicote semelhante ao flagrum(5) romano, imposição de um capacete de espinhos e não de uma coroa como mostra a iconografia; carregamento da cruz, quedas sucessivas e pancadas; crucifixão com os cravos colocados nos punhos e não nas palmas, em oposição a toda a iconografia, mas de acordo com as práticas dos carrascos; golpe de lança do lado direito depois da morte.

Admitindo que o falsário fosse de origem medieval, do séc. XIV, como sugeriram os resultados da datação do carbono 14, parece muito improvável que já tivesse este tipo de conhecimentos. Na Idade Média ignoravam-se estes detalhes e os costumes históricos da antigüidade e dos primeiros séculos da nossa era. O falsário teria depois de envolver o corpo do supliciado no lençol e assim
se explicariam as marcas de coágulos de sangue e os traços de serosidade. Para obter marcas semelhantes às do lençol, sem traços de decomposição, ele teria que ter deixado o corpo permanecer entre 36 a 40 horas no lençol. Depois teria que o retirar sem marcas de ter sido arrancado (por causas das crostas que entretanto se teriam formado), fenômeno incompreensível no
momento atual aos olhos dos médicos.

A duplicação da imagem

Resta o problema crucial da imagem da dupla silhueta: ela teria que ter sido fabricada depois das marcas de sangue e colocada com muita precisão a fim de fazer coincidir exatamente com as marcas dos líquidos fisiológicos na frente e nas costas.

Ainda hoje o mecanismo da formação da marca da imagem corporal é inexplicável. Mas poderia ser um fenômeno natural que o falsário não tivesse previsto e que tivesse acontecido por mero e oportuno acaso. A coincidência seria fantástica… E porque não se conhece mais nenhum lençol com uma imagem deste tipo?

A hipótese mais vulgarmente admitida pela tese de falsário, é que a imagem pode ter sido criada intencionalmente, portanto um lençol simplesmente sujo de sangue seria suficiente para convencer as multidões. Lembremo-nos que durante os séculos precedentes o fervor religioso perante o lençol
concentrou-se sobretudo no “sangue de Cristo” enquanto a imagem passava quase para segundo plano. Um falsário de gênio teria na sua época de imaginar e concretizar um procedimento que seria uma espantosa proeza técnica: mesmo neste final do séc. XX, quando dispomos de muitos meios tecnológicos sofisticados da ciência moderna ninguém foi capaz de reproduzir uma imagem que apresentasse exatamente as mesmas características da imagem de Turim. E ainda por cima, este falsário só teria realizado a experiência uma vez, pois esta imagem é única no mundo. Enfim, ele não teria transmitido o seu segredo a mais ninguém, teria morrido levando-o com ele. Uma tal acumulação de hipóteses, parece difícil de ser concebida. Em termos matemáticos poderíamos dizer que a probabilidade que todos os pontos precedentes pudessem ter sido realizados é ínfima…

Definitivamente parece extremamente improvável que o Sudário de Turim possa ser obra de um falsário, sobretudo numa época tão tardia como a Idade Média teria que ter sido um gênio, e um gênio não deixa uma obra só.

Historial dum suplício

Se não é obra nem de um artista nem de um falsário o que poderá ser este objeto senão o autêntico lençol de um verdadeiro crucificado? Imediatamente se põe nova pergunta: de que época poderia ser a crucifixão do Homem do Sudário?

A morte por crucifixão não foi praticada em todas as épocas da História. Era usada em todas as civilizações da antigüidade e o mais antigo documento que lhe faz alusão é de origem suméria. Entre os romanos começou a ser usada cerca de 200 A.C. e os métodos eram diferentes segundo as regiões, a natureza do crime e o estatuto social. A cruz era um pelourinho vergonhoso, um sinal de desprezo, um patíbulo escandaloso.  Na cruz eram pregados os mais desprezíveis, que morriam desonrados e de maneira tão cruel e vergonhosa que os romanos proibiam crucificar um cidadão romano. O supliciado podia ser pregado à cruz ou amarrado por cordas. Nos dois casos o
condenado estava suspenso, posição que impedia a respiração.  No pelourinho da cruz eram asfixiados os escravos, os rejeitados, os fora da sociedade, que se contorciam em convulsões pavorosas, no cheiro fétido das próprias e no gargarejar de seus pulmões inundados do próprio sangue.  “Como um verme”, diz a Bíblia com toda a crueza…  De fato, para não asfixiar, o
crucificado tinha de puxar o corpo para cima com os braços pregados no madeiro, e assim soltar o ar dos pulmões.  Mas a dor desse movimento era tão grande que impulsivamente deixava o corpo cair de novo.  Aí então os pulmões enchiam-se de ar, e não era possível expulsá-lo.  Para o expelir, tornava a puxar o corpo para cima com a força dos braços e das pernas presas. E assim repetidamente, até ficar esgotado e morrer asfixiado.

O fim do suplício

Foram encontrados na Judéia corpos de crucificados do séc. I e o suplício foi abolido no Ocidente cerca do ano 320 d.C., por ordem do Imperador Constantino. Desapareceu dos tribunais públicos, mas foi usado ainda algum tempo para as condenações em tribunais particulares. Os historiadores
consideram que a crucifixão desapareceu totalmente nos países cristãos no fim do séc. IV, especialmente depois do Imperador Teodósio ter proibido as execuções privadas. No entanto continuou a ser praticada noutros países especialmente no Próximo Oriente, até cerca do séc. VII ou VIII.

Parece improvável que o Homem do Sudário tenha sido crucificado na Idade Média no Ocidente visto que este suplício tinha desaparecido alguns séculos antes. Todos os detalhes presentes no Sudário coincidem com uma crucifixão à romana segundo técnica empregue no séc. I. Lembramos que os cravos estavam colocados nos punhos e não nas palmas, para evitar que as mãos se rasgassem. Se esta técnica era bem conhecida dos carrascos que praticavam freqüentemente a crucifixão, a iconografia testemunha que ela não fazia parte dos usos correntes no Oriente e no Ocidente pelo menos depois do séc. IV.

A única possibilidade de ser falso depois do séc. IV seria a utilização dum lençol que tivesse embrulhado o corpo dum crucificado no Médio Oriente, num país onde a crucifixão estivesse ainda a ser usada, e recuperado para ser apresentado como o Sudário de Cristo. Lembramos que os monges bizantinos eram conhecidos pelo seu gosto pronunciado pelas falsas relíquias e pela
qualidade das suas realizações. Neste caso o lençol poderia ser do séc.V. Mas assim é curioso que não se encontre na iconografia oriental nenhuma representação da crucifixão colocando os cravos nos punhos. Seja qual for a conclusão juntando os dados históricos da crucifixão com os da palinologia(6) e da palinografia, concluímos que o lençol de Turim é originário da bacia mediterrânea, ou ao menos aí permaneceu algum tempo, o suficiente para apresentar os pólens da zona.

Pergunta inevitável

E encontramo-nos de novo confrontados com a inevitável pergunta: de que época data o lençol?…

Historicamente está estabelecida que a datação do Sudário de Turim remonta pelo menos a 1357, época da sua aparição em França, em Lirey. Se admitirmos os resultados do carbono 14 a data não é 1260/1390 mas 1260/1256. Entretanto ela é incompatível com a que poderíamos deduzir do exame do Codex(7) Pray. O Codex Pray é um manuscrito medieval húngaro, conservado na Biblioteca Nacional de Budapeste. Deve o seu nome a um erudito historiador jesuíta: GEORGIUS PRAY, que o descobriu no séc. XVIII na Biblioteca do Capítulo da antiga capital da Hungria medieval, Poszoni actual Bratislava. Foi datado pelos musicólogos(8) entre 1192 e 1195, graças aos critérios paleográficos e musicológicos. Na realidade ele contém folhas de épocas diversas. Tem algumas miniaturas datadas anteriormente a 1150. Muitas destas miniaturas representam cenas da Paixão. A iconografia da época situava habitualmente os cravos nas palmas do crucificado, e mostrava muitas vezes os dois pés cravados separadamente. Ao contrário das tradições iconográficas o Codex Pray mostra detalhes mais de acordo com a imagem de Turim. Na miniatura da unção, o Cristo morto é mostrado nu, com as mãos cruzadas e os polegares retraídos para o interior da mão.

Os artistas, quase universalmente, desde os bizantinos aos modernos, imaginavam a colocação dos cravos dos membros superiores, no metacarpo (palma da mão). A experimentação feita pelo médico cirurgião Barbet demonstrou que cravando um braço na palma da mão (metacarpo) e submetendo-o a um peso de 40 kg, depois de 10 minutos a mão não resiste e é rasgada pelo cravo. Os romanos, ao usarem este género de tortura, sabiam bem que se queriam dar uma segurança estática ao crucificado, deviam pregar o braço na zona do carpo, ou no espaço entre o rádio e o cúbito (região “distal”). No Homem do sudário, o cravo foi certamente pregado no carpo: aqui se encontra o chamado “espaço de Destot” e é aqui que o cravo vai encontrar o nervo médio, o qual é sensorial (quer dizer, se é lesado, causa uma dor lancinante até ao delírio) e também é motório já que, através dos feixes musculares do tenar ( músculo da mão), preside ao movimento do dedo polegar. As experiências do Dr. Barbet revelaram que assim que o cravo é pregado no carpo, o dedo polegar retrai-se imediatamente para o interior da palma da mão. A impressão da mão esquerda do sudário mostra só quatro dedos, faltando o polegar.

Jerómé Le Jane, membro da Academia de Ciências Morais e Políticas e Yvonne Bongert, professora emérita da Universidade de Paris II, afirmam que os desenhos e pormenores que aparecem no Codex Pray não se poderiam explicar se o autor não tivesse conhecimento do sudário de Turim.

Ora, como todos sabemos, a crucifixão tinha desaparecido havia alguns séculos. O raciocínio presente conduz-nos assim a pôr em causa da datação pelo carbono 14. Lembremos entretanto que muitos fatores podem falsear estes fatos e que é pouco sensato dar-lhes uma confiança absoluta. Se o lençol é verdadeiramente o de um crucificado, como é provavelmente o caso, seria espantoso que datasse da Idade Média. Podemos legitimamente concluir pelo conjunto de dados históricos e paleográficos, que se o lençol é de origem ocidental, é muito provavelmente anterior ao fim do séc.IV, século que viu desaparecer o suplício da crucifixão no ocidente.

Quem é o Homem do sudário?

Que homem então, poderia ter sido crucificado antes do séc. IV e envolvido num lençol de tecido precioso?… Como não é possível responder a esta pergunta apoiando-nos em testemunhos históricos irrefutáveis ? Pois tais testemunhos não existem ou ao menos não chegaram até nós ? Não é possível ter senão presunções, apoiadas por dados de que dispomos e fundamentados em
hipóteses. Em lógica matemática, vamos raciocinar em termos de probabilidades.

A hipótese  mais provável, que parece a mais credível, e que nos vem imediatamente ao espírito, é que o crucificado é muito provavelmente Jesus de Nazaré. Tudo no lençol, corresponde perfeitamente aos conhecimentos universalmente admitidos sobre o personagem histórico, bem como aos relatos dos Evangelhos. A fasquia de coincidências é tal que, para qualquer outra
personagem, o debate não tinha mais razão de ser.

Se se admitir que o sudário de Turim é o lençol de Jesus, os traços que se encontram são tão claros e tão concordantes que se pode praticamente fazer ali uma leitura da paixão de Cristo, tal como nos é descrita pela tradição e pelos relatos evangélicos. O desenho 1 esquematiza a racionalidade lógica que nos conduz a esta conclusão.

As experiências que tiverem lugar durante o corrente ano, por ocasião da exposição do sudário permitirão talvez desfazer a dúvida. Novos estudos das poeiras e dos pólens poderão ser efetuados. Poderão ser feitas novas fotografias já adaptadas ao tratamento de imagem, o que será uma vantagem. Os cientistas desejam particularmente voltar a estudar a região dos olhos a
fim de estudar as moedas que teriam sido lá postas, e que parecem ser leptons cunhados por Pôncio Pilatos.

Em 1978, os americanos JUMPER, JAKSON e STEVENSON (cientistas da NASA) analisando a imagem tridimensional do rosto obtida num aparelho VP8, repararam a presença de dois objetos circulares na região das pálpebras. Pareciam duas moedas pousadas nos olhos costume de acordo com os ritos funerários da época.

Já IAN WILSON tinha ficado intrigado com a forma circular dos olhos. E tinha chamado a atenção para a semelhança do círculo com uma moeda antiga, um lepton cunhada por Pôncio Pilatos no ano 30 ou 31. Estas moedas eram de uma má qualidade técnica, com letras mal impressas e mal centradas. Todos estes pormenores aparecem nos olhos do Homem do sudário.
Feitas ampliações e consultado um especialista de renome em Chicago, MICHAEL MARX, este procurando em obras do museu britânico confirmou que aquelas moedas foram cunhadas por Pilatos em honra de Júlia mãe do imperador Tibério. Mais um dado que o suposto falsário precisaria ter…

Uma comparação das marcas das feridas impressas no lençol com as da túnica de Argenteuil(9) assim como dos grupos de sangue das duas relíquias, poderia trazer novos elementos. Também seria desejável que fossem feitas novas datações de bocados espalhados por toda a face do lençol e utilizando técnicas diferentes.

O mistério persiste

De momento mantêm-se múltiplos mistérios, e será muito difícil de explicar, por exemplo a formação da imagem em dupla silhueta. Supomos que devem ser feitas novas fotos numéricas, em condições variadas: ângulos de iluminação diferentes, tomadas de vista por reflexão e por transparência, bandas expectrais que devem ir do infravermelho ao ultra violeta, etc. Estas experiências, ligadas a outras, podem talvez fazer avançar os conhecimentos e trazer de novo elementos de resposta às perguntas seguintes: existem marcas de letras noutras regiões do lençol? Em que época poderão ter sido feitas as inscrições e com que finalidade?… Como pode ser o lençol
separado do corpo do supliciado sem que haja a mínima marca de ter sido arrancado? Qual é a natureza exacta da imagem corporal, e como pode ser impressa no lençol?…

Por si só, o mistério da formação da imagem parece tocar os limites da ciência atual. Poderá explicar-se um dia, amanhã, daqui a dez anos, daqui a um século, o processo que criou esta imagem?

Entre aqueles que não se agarram à tese da falsidade mas se interrogam, encontram-se tanto racionalistas, materialistas, como ateus e cristãos fervorosos. Os primeiros não podem senão responder afirmativamente a esta questão e esperar pelos futuros progressos da ciência. Quanto aos cristãos, sabem que seguramente uma explicação racional nunca poderá ser encontrada,
pela simples razão que atinge o domínio do sobrenatural, do miraculoso, do ato divino. A imagem seria devida ao fenômeno da ressurreição; o corpo de Jesus Cristo teria sido, não sabemos como “desmaterializado” para atravessar o tecido antes de se “rematerializar”(*). Esta hipótese que está de acordo com a do Pe. Rinaudo(10) poderia explicar ausência de marcas de arrancamento e a formação desta imagem maravilhosa e cheia de mistério.

Decidir entre estas duas teses opostas é impossível, porque aqui deixamos o domínio da razão pura para entrarmos na fé, o que ultrapassa o quadro e a finalidade deste artigo…

Glossário:

(1)Carbono 14: o carbono é um dos elementos químicos presentes em toda a matéria orgânica e existe em diversas variedades. O átomo de carbono tem um núcleo composto de seis prótons e de um numero variado de nêutrons: este número permite determinar a variedade carbono à qual aquele átomo pertence. Estas espécies são denominadas isótopos. Chama-se carbono 14 por exemplo, a
um átomo de carbono cujo núcleo tem seis prótons e oito nêutrons, ou seja 14 componentes. O princípio da datação baseia-se na instabilidade do carbono, que se desintegra a pouco e pouco. Durante esta reação, emite um elétron chamado partícula beta e uma partícula neutra chamada neutrino. Enquanto um organismo está vivo, a perda do carbono é compensada por exemplo pela
alimentação. Assim que um organismo morre, a taxa de carbono diminui inexoravelmente. Sabendo a velocidade à qual a taxa diminui e conseguindo-se medir a quantidade de carbono existente no tecido no momento presente, é possível calcular o tempo decorrido desde a morte do tecido. Por exemplo, no lençol de Turim, poderia saber-se a data da recolha do linho que serviu para o fabricar.

O sudário de Turim esteve submetido a muitos tipos de poluição ao longo da sua história, especialmente no pedaço donde foram retirados os fios para análise, local constantemente manipulado e portanto, sujeito a contaminações.

Os nêutrons teriam dado origem ao enriquecimento em C14. Isto foi verificado bombardeando um tecido com nêutrons num reator do Centro de Estudos Nucleares de Saclay (França) e depois foi submetido à datação pelo C14 e o resultado foi que o tecido feito nos nossos dias, apresentou uma datação de 46.000 anos D.C.

Segundo GABRIEL VIAL, do museu de Tecidos de Lyon, as datações de tecidos pelo carbono 14, mostram freqüentemente uma imprecisão que pode ir até 400 anos.

Só que a taxa de C14 sofre variações durante os séculos e nem todos os seres vivos fixam os diferente isótopos de carbono nas mesmas proporções. O fracionamento isotópico, varia segundo as espécies.

Também a taxa de carbono 14 na atmosfera se foi modificando com o decorrer dos tempos, por  alteração de variações da intensidade de radiações cósmicas. Estas variações estão ligadas aos ciclos solares e a diversos fatores terrestres, como o geomagnetismo e as proporções de gás carbônico e de vapor de água na atmosfera. A taxa de carbono aumenta quando há erupções
vulcânicas, grandes incêndios e sob o efeito da poluição. Há ainda outros fatores menos conhecidos que podem falsear a datação, como por exemplo, no caso do sudário, o incêndio acontecido em Chambéry, em 1532.

(2)Exegese: ciência que consiste a estabelecer, segundo normas de crítica científica, o sentido dum texto ou duma obra literária. Este termo é aplicado sobretudo à interpretação dos textos bíblicos.

(3)Iconografia: estudo descritivo das diferentes representações figuradas de um mesmo sujeito.

(4)Paleografia: ciência que estuda as Antigas Escrituras.

(5) Flagrum: chicote usados pelos romanos, com as correias ornadas de bolas de chumbo ou osso.

(6) Palinologia: estudo dos pólens e dos fósseis

(7)Codex: da Antigüidade ou da Idade Média: conjunto de folhas escritas costuradas juntas, como tabletes endurecidas por cera e ligadas entre si (por oposição a volumem: enrolado).

(8)Musicologia: ciência da história da música e da teoria musical.

(9)Túnica de Argenteuil: nesta cidade francesa, está uma túnica inconsútil (sem costuras) que se acredita pertenceu a Jesus. Não se têm feito muitos estudos sobre esta túnica, como seria importante.

(10)A tese do Pe. Rinaudo: Professor na Faculdade de Medicina de Montpellier, afirma que o lençol foi submetido a um duplo bombardeamento de prótons e nêutrons, provenientes da desintegração do núcleo de deutérium. Mas donde poderiam vir estes núcleos e sobretudo, a energia necessária à sua desintegração?… Segundo o Pe. Rinaudo, seriam núcleos cheios de água e
outros elementos que constituíam o corpo de Jesus e a energia precisa para o fenômeno, teria vindo precisamente da imensa energia libertada no momento da “desmaterialização” do corpo, numa palavra, do instante da ressurreição. Na literatura científica há casos conhecidos de datações falsas: o laboratório de Tucson datou um capacete viking de 2.006 D.C.; uma pele de mamute, com 26.000 anos, foi datada como tendo 5.600, etc.

O Pe. Rinaudo, calculou  a quantidade de prótons necessários para provocar uma oxidação comparável à do lençol de Turim (na ordem dos 40 microns), bem como a quantidade de nêutrons que pudessem induzir a um erro na datação de treze séculos. Encontrou dois números praticamente iguais e assim viu confirmada a sua hipótese de desintegração do núcleo de deutérium.

(*) Para se dar esta ocorrência, potencialmente sugerida pelas marcas deixadas no lençol, supõe-se haver antes uma suspensão do corpo, levitação, para a manutenção da equidade da radiação, ao longo do corpo numa constância que nos é mostrada pelo lençol, por, encontrando-se no ar, não haveria obstáculos que pudessem ricochetear as partículas, como seria realmente se estivesse encimado na laje. No entanto, se assim não fosse, i. e. se a ocorrência da desintegração infinitesimal e instantânea do corpo e dos demais resíduos de líquidos fisiológicos e sangue solidifica o, que produziria uma luz esplendorosa, aquando deste na laje, poderia tal contribuir para a duplicação da referida imagem com o efeito tridimensional?

(Nota de Fernando Matos, colaborador do CLAP-Portugal, extra edição do Jornal de Parapsicologia.)

Referências:

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Loyola

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BONGERT, Yvonne: L’inconographie du Christ et le Linceul de Turin, art. Cit.

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BONNET-EYMARD, Bruno: Le Saint Sudaire, preuve de la morte et de la résurrection du Christ, CRC, 1986

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FILAS, S.J., Francis L.: The Dating of the Shroud of Turin from Coins of Pontius Pilate, Gogan Productions, 1980

GILBERT, Roger Jr. e M. Gilbert, Marion: Ultraviolet-Visible Reflectance and Fluorescence Spectra of the Shroud of Turin, em Applied Optics, 19, nº 12, 15 JUN. 1980

JACKSON, J. e JUMPER, J.: The Shroud of Turin, Proceedings of the 1977 United States Conference Albuquerque Holy Shroud Guild, New York, 1977

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MARION, André e COURAGE, Anne-Laure: Nouvelles Decouvertes sur le Suaire de Turin, Paris 1997, Albin Michel

PETROSILLO, Orazio e MARINELLI Emanuela: Le Suadire, une énigme à l´épreuve de la science, op. Cit. Barbet, Dr. Pierre: La Passion de Notre Seigneur Jésus Christ selon le chirurgien, Paris, ed. Paulines, 1982

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RINAUDO, Jean-Baptiste: Noveau mécanisme de formation de l´image sur le linceul de Turin, ayant pu entraîner une fausse radiodatation médiévale, Actes du symposium scientifique international du CIELT em Roma em 1993, op. Cit.

STEVENSON, Kenneth E. e HABERMAS, Gary R.: A verdade sobre o Sudário, 1986 São Paulo, Ed. Paulinas

WILSON, Ian: O Santo Sudário, trad. Inglês por Nestor e Ayako Deola, São Paulo 1979, Ed. Melhoramentos
 
*O presente artigo foi publicado no exemplar nº 50 do «Jornal de Parapsicologia», em julho de 1998.

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