Testemunho de Paul Claudel (1868-1955)

Famoso poeta francês, Claudel aos dezoito anos de idade aderia à incredulidade e à devassidão. Ao terminar seus estudos no Liceu Louis-le-Grand, já havia lido os filósofos alemães ateus, admirava Ernest Renan (sarcástico em relação ao Evangelho) e professava o culto da ciência como resposta aos seus anseios naturais. Ele mesmo descreveu posteriormente o seu estado de alma:

“Evoquem-se esses tristes anos da década de 1880, a época do pleno desabrochar da literatura naturalista. Nunca pareceu mais firme o domínio da matéria. Os grandes nomes nas artes, na ciência, na literatura eram todos irreligiosos… Renan imperava. Foi ele quem presidiu à última distribuição de prêmios do Liceu Louis-le-Grand, à qual eu assisti, e creio que fui coroado por suas mãos… Vivia então na imoralidade e pouco a pouco caí em estado de desespero… Esquecera completamente a religião; a seu respeito a minha ignorância era de selvagem” (ver J. Calvet, Le Renouveau Catholique dans la Littérature Contemporaine, Paris 1927, p. 139).[1]

Aos vinte anos de idade, por ocasião do Natal, entrou na basílica de Notre-Dame em Paris e ouviu o canto do Magnificat, que muito o impressionou, como ele mesmo relata:

“Foi então que se deu o acontecimento que ia mudar a minha vida. Num instante foi sacudido o meu coração e passei a acreditar. Acreditei com forte adesão, com o bem-estar de todo o meu ser, com perfeita convicção, com certeza isenta de qualquer dúvida: todos os livros, todos os arrazoados, todos os percalços da minha vida agitada não conseguiram abalar a minha fé, nem mesmo tocá-la… Quão felizes são aqueles que têm fé! Ó, se tudo isso fosse verdade! Mas é verdade! Deus existe! Está aí! É alguém, um ser pessoal, tão pessoal como eu! E Ele me ama, Ele me chama!… E eu estive diante de Vós como um lutador, que zombeteia. Vós me chamastes por meu nome. E, como alguém que conhece, Vós me escolhestes dentre todos os meus companheiros”.

Apesar de tão explícitas declarações, Claudel ainda lutou dez anos contra Deus. Prendia-o o medo dos companheiros ou o respeito humano, que por muito tempo lhe paralisou os passos e a última decisão:

“Farei esta confissão? No íntimo, o sentimento mais forte que me impedia de declarar as minhas convicções era o respeito humano. A idéia de anunciar a todos as minhas convicções e a conversão, de dizer aos meus pais que não comeria carne às sextas-feiras, de me proclamar um desses católicos tão ridicularizados, fazia-me suar frio” (Les Témoins du Renouveau Catholíque, p. 68).

Em seus embates íntimos, Claudel pensou em fazer-se monge beneditino, mas verificou que sua vocação era outra. Passou por outra crise, que finalmente chegou a um equilíbrio tranqüilo. Em suma, teve uma conversão que durou a vida inteira, o que bem revela quanto a graça encontra resistência no recôndito de muitas pessoas dilaceradas entre o Bem Infinito e os bens finitos.

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