Textos sobre gustavo corção

 

Depois que Gustavo Corção morreu, começaram a aparecer murmurantes que procuram aparentar desdém pelo escritor ou por sua obra. Ora são pessoas insignificantes que se valem dos restos de prestígio da instituição a que pertencem; ora ?intelectuais? fabricados mediante fraude da inteligência, que conseguem, não obstante, impressionar pessoas destituídas de meios para discernir o verdadeiro do falso, nessa matéria. Qualquer que seja a hipótese, são detratores que têm contra si a agravante de uma certa falta de brio quanto à escolha do momento para atacar um escritor que teve em vida a merecida reputação de polemista temível.

Publicamos aqui, como testemunho que se registra para a história da verdadeira inteligência brasileira, os depoimentos abaixo, dos mais notáveis nomes da cultura e da literatura do Brasil, assim como de alguns da França que, nos últimos anos da vida do escritor, tiveram a oportunidade de descobrir, admirar e amar seu pensamento e até sua expressão literária na própria língua francesa.

 

OSWALDO DE ANDRADE escreve sobre Gustavo Corção

?Não me lembro de em toda a minha vida ter conhecido, entre artistas e literatos, uma figura tão impressionante como a de Gustavo Corção. Privei com Inglês de Souza, que era meu tio, conheci de perto João Ribeiro, Alberto de Oliveira e o nobre Emílio de Menezes. Fui íntimo de Villa-Lobos e Mário de Andrade. Na Europa me liguei a Picasso e Leger, Cocteau e Cendras, a esse original e magnífico Valéry Larbaud, a Supervielle e Romains, enfim, a toda uma geração revolucionária do começo do século. E apenas, com outro tom, mas a mesma doçura sarcástica, alguém me lembra o autor excelso de Lições de Abismo. Era um velho de 70 anos e tinha sido cruelmente abandonado por todos os seus amigos, quando o encontrei, no Quartier Latin. Chamou-se Eric Satie. E talvez venha a ser um dia considerado o maior gênio musical do século XX.
O que caracteriza essas naturezas que vão do doce ao amargo sem contraste é o que nelas há de inquebrável. Gustavo Corção é um inquebrável ? faca de dois gumes. E isso muito se liga às virtudes intelectuais que o fazem, sem dúvida, o nosso maior romancista vivo. Nas Lições de Abismo como também na Descoberta do Outro não vejo concessões.
O que vejo é uma extraordinária e lúcida natureza de criador, ou melhor, de restituidor, pois que arte é restituição. Depois de Machado de Assis aparece agora um mestre do romance brasileiro.?

Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 5-4-1952

 

Carta de Manuel Bandeira a Gustavo Corção

Rio, 25 de março de 1965.

Prezado Amigo Corção

Você escreveu em O Desconcêrto do Mundo um dos livros mais belos e mais fortes de nossas letras. Ele precisa ser traduzido para todas as línguas, a fim de mostrar lá fora que nós também somos dignos do Prêmio Nobel.

Um dia destes o procurarei para levar-lhe um livro. Então conversaremos: quero explicações suas sobre… o Juízo Final, nada menos! Quero saber se, quando morrer, vou logo para o Inferno, ou tenho que esperar, com toda a inumerável população já "morrida", o fim dos tempos.

Por agora devo dizer-lhe que você tem a prioridade absoluta na afirmação de que Rembrandt é o Bach da pintura. Pois o que eu disse numa crônica que está na edição Aguilar de minhas Obras Completas foi isto: "Agora sei o que é Rembrandt. Sei que além de sua pintura há em suas abras uma qualidade que eu descobria pela primeira vez – a sua incomparável musicalidade. Sempre fui mais sensível à música do que à pintura. Sempre preferi ser autor – se Deus me desse a escolher – da obra de um gênio da música do que da obra de um gênio da pintura. Hoje, porém, posso dizer que não trocaria a obra de Rembrandt pela de nenhum gênio da música, salvo, bem entendido Bach."

Terei dito algum dia a frase a algum amigo? Não me lembro.

Aceite os agradecimentos e um abraço de admiração e afeto do velho bardo

BANDEIRA  

 

Tudo em Corção é Amor

Nelson Rodrigues

Outra figura brasileira consagrada pelos palavrões: – Gustavo Corção. Ninguém diria, de maneira sucinta e inapelável: "É uma besta!" Bem que as esquerdas gostariam que o fosse. Mas os seus piores inimigos sabem, e não teriam o cinismo de negar, que Gustavo Corção é uma das inteligências mais sérias do Brasil. Certa vez aconteceu-me uma passagem extraordinária com o grande pensador católico.

Era domingo. Voltava eu, não sei se de um clássico ou de uma pelada. Na saída do Estádio Mário Filho, alguém me chama. Volto-me e dou de cara com um amigo, uma flor das esquerdas, um doce radical como o Antônio Calado ou como o Hélio Pelegrino. Eu e o amigo caminhamos no meio da torcida. Acontecera um empate e ninguém gritava. A multidão tinha algo de tristeza fluvial no seu lerdo escoamento. Então, o meu companheiro falou: – "Estou besta! Com a minha cara no chão!" Pensei que ele, Fluminense como eu, estivesse desiludido com o Tricolor (realmente, o meu clube não compra ninguém). Mas ele continuou: – "Nunca pensei que o Corção…" Fez uma pausa e repetiu: – "Estou besta! besta!"

Entre parênteses, esse meu amigo tem, pelo Corção, um ódio comovente. Não lhe diz o nome sem acrescentar… Acrescentar não. Não lhe diz o nome sem lhe antecipar um palavrão. Chega ao nome pelo palavrão. E, súbito, falava do inimigo com uma impostação diferente e, mesmo, inédita. Perguntei-lhe: – "Mas estás besta por quê?"

Esquecia-me de dizer que o meu amigo levava um radinho de pilha. Abriu uma pausa na conversa para ouvir os comentários do João Saldanha e as gravações dos "goals". Só depois do Saldanha é que voltamos ao Corção. Rádio desligado, e o outro me perguntou, na sua impressão profunda: – "Leste o artigo que ele escreveu? Que escreveu sobre o filho? Ó rapaz! O artigo do Corção sobre o filho?"

Não era um artigo do dia ou da véspera. Da sua publicação, transcorrera toda uma semana. E, através dos sete longos dias, o artigo do Corção ficara badalando dentro do meu amigo, como um sino inexorável. Membro da "festiva", freguês do "Antonio's", havaiano de praia, relera o inimigo umas quinze vezes. E a cada leitura a sua perplexidade era cada vez mais amarga. Súbito, via um novo Corção, um Corção jamais suspeitado, um anti-Corção.

Vejam vocês: – o grande prosador escrevera uma página sobre o filho, Rogério. Foi um artigo de funda e dilacerada ternura. O nosso Rogério estava no Vietnam, como um dos representantes do Brasil. Lá, as balas não escolhem, não discriminam, e tanto estouram a cara de americano, como de brasileiro. E havia no artigo todo um amor insuportável, e uma solidão desesperadora.

O assombro do meu amigo tinha a sua lógica. Durante anos, criara, e recriara, dia após dia, uma imagem hedionda do "reacionário". Ele imaginava que, se o Corção passasse a mão pela face, havia de sentir a própria hediondez. Nunca lhe ocorrera que aquela besta-fera pudesse ter costumes, usos, gestos, como outro qualquer. Impossível um Corção tomando cafezinho ali na esquina; inadmissível uma gargalhada do Corção, ou um assovio do Corção. E aquele Corção pai, simplesmente pai, e simplesmente terno, e simplesmente infeliz, e simplesmente órfão do próprio filho, contrariava toda uma imagem feita de palavrões de insultos, de baba.

Mas, vejam toda a operação psicológica do meu amigo. A princípio não entendera uma palavra, tão desconhecido, tão estrangeiro, tão alienado parecia aquele Corção vergado, sofrido, perdidamente solitário. Só depois é que, limpando a figura dos palavrões, dos ultrajes, das calúnias, é que o freguês do "Antonio's" pode chegar à luz última e verdadeira do inimigo.

Por fim, quem estava infeliz, na volta do Estádio Mário Filho, era o membro da festiva. A partir daquele momento, os seus palavrões soariam falsos aos próprios ouvidos. O meu amigo estava comovido e, pior, furioso com a própria comoção.

E, então, chegou a minha vez. Não me lembro de tudo o que disse de Gustavo e de Rogério. O esquerdista ouvia só, numa desesperada impotência para negar a imagem que eu ia elaborando de Corçâo. Expliquei-lhe que tudo em Corção é amor; poucas pessoas conheço com tanta vocação, tanto destino, para o amor. O que parece ódio, nos seus escritos, é ainda amor. Amor que assume a forma das grandes e generosas procelas.

Bate forte, muitas vezes. Mas sempre por amor. Está fatalmente ao lado da pessoa e contra a antipessoa. É a luta que o apaixona. Todos os dias, lá vai ele atirar o seu dardo contra as hordas da antipessoa. Eis o que eu repeti para o meu amigo das esquerdas: – o Corção tem um coração atormentado e puro de menino.

Quem o sabe ler, percebe em todos os seus escritos o pai de Rogério, sempre o pai de Rogério, querendo salvar milhões de filhos, eternamente.

(0 Óbvio Ululante, Livraria Eldorado Editora, 1968, pp. 164-166)

 

 

UM BRASILEIRO QUE USA BOINA

 

Editorial de O GLOBO, 14 de Janeiro de 1969

 

Vivemos num mundo que rasga tratados, que ignora juramentos, que despreza compromissos. Em nome de uma ?civilização futura? ? cujos contornos não se pode prever ? procura-se desmoralizar a civilização passada, como se no passado não se contivesse o germe do futuro.

Civilizar é obra de gerações. Destruir tudo para começar tudo de novo é correr o risco de uma queda no primitivismo, na barbárie.

Esses conceitos óbvios ora sofrem contestação inconseqüente num século em que a ?promotion?, o jogo de aparências como que pretendem esmagar as essências.

Reina a moda em todos os setores ? não apenas no da indumentária. As idéias converteram-se em tributárias da ?onda?. Variam como as coleções dos costureiros parisienses. A busca sôfrega do que se apelida de novo é uma fábrica de doidos estereotipados.

Fácil é avaliar como tal clima favorece a ascensão dos moedeiros falsos. As artes, as letras e mesmo as ciências foram invadidas por esses travestis que se fazem passar por algo que jamais poderão encarnar com naturalidade.

Se em qualquer época homens fiéis são a base de tudo, hoje, com a raridade, esses espécimes tornam-se ainda mais preciosos diante da legião dos inimigos dos valores eternos, que se infiltram, por todas as brechas.

?O juramento é aquilo que nos diferencia, já não digo dos selvagens, mas das bestas e dos répteis?. A frase é de Chesterton, que Gustavo Corção assim comenta: ?Aí está a idéia a que me refiro. Diz respeito à promessa, ao juramento, ao voto, ao pacto, à aliança, à palavra dada. Trata-se, em suma, da fidelidade, desse elemento dual e primeiro, que é a própria base do direito, e sem o qual o homem, com todas as suas maravilhosas e orgulhosas conquistas ? seus navios aéreos, seu radar e sua bomba atômica ? se tornará um bárbaro?.

A batalha da fidelidade confunde-se com a luta contra a barbárie, combate esse prioritário para a civilização. Mas a infidelidade como que vai arrombando todas as portas ? até mesmo, paradoxalmente, as da fé.

Por isso, a presença na liça de homens como Gustavo Corção é duplamente preciosa: pelo valor real que o sábio católico armazena consigo e que ninguém isentamente lhe poderá negar, e pela necessidade premente de cruzadas como a sua.

Num período em que membros da Igreja Católica não conseguem estabelecer uma distinção clara entre a indispensável atualização e a execrável traição, a palavra de Corção cresce em importância.

?Vivemos hoje num mundo que tenta afirmar a soberania do homem, e até a sua divinização já que sem deuses não sabemos viver. E é tão insolente essa idolatria que já se pode falar em perseguição do cristianismo. A Igreja está intimada a adorar o mundo?. (Corção, ?Dois Amores, Duas Cidades?).

Num mundo em que os profetas do marxismo procuram implantar a destruição de todos os valores em nome de um sistema totalitário escravizador, o apostolado de Corção converte-se numa fortaleza da desmistificação.

Gustavo Corção, o brasileiro que no inverno usa boina, é um homem-farol. Sua lâmpada mostra os caminhos com espantosa clareza.

 

RÁPIDAS LEMBRANÇAS, MARCAS PERMANENTES

Helena Ferraz Rodriguez

 

? Era preciso arranjar trabalho, de qualquer maneira; sobravam dificuldades, faltavam diplomas; o recurso era tentar um exame na Alliance Française. Sem tempo para estudo, para rever programas, reli atentamente os artigos de Dr. Corção no Suplemento Literário do ?Diário de Notícias?. Apresentei-me à banca examinadora levando na memória e o coração o sabor, entre outros, de ?Técnica e Poesia?. O resultado? Bem, o resultado, o Dr. Corção foi o primeiro a conhecê-lo com meu grande ?merci?.

? Só de ler tal escritor, tanto enriquecimento. Por que não escreveu mais livros de ficção depois do antológico ?Lições de Abismo?, traduzido em tantas línguas! Não sabem, ou não se lembram? Porque, dizia ele, tenho um ?noivado no Céu?; foi mais fiel a este noivado que muitos a um casamento. Era ?Dieu premier servi?, como gostava de dizer seguindo Joana d?Arc, era o ?Sangue de Jesus? que não podia ser derramado em vão. Este Sangue selou o fim de sua vida, seu último artigo dele tratava. ?Vou ao Sangue?, dizia Catarina de Sena quando ia confessar-se; tantas e tantas vezes disto nos entreteve Dr. Corção! Pois foi, dia 6 de julho, ao encontro do Cordeiro, o Cordeiro do Sangue derramado, e celebraram-se as bodas depois de longo, fiel, doloroso ?noivado?.

? Segundas-feiras, ano após ano, no Centro Dom Vital, Cenáculo, Imaculada Conceição, PERMANÊNCIA enfim, nos falava, ardentemente empenhado na formação das almas e das inteligências, incansavelmente ensinando a pensar. Sem ser filósofo, sem jamais dizer-se teólogo, nos fornecia os subsídios necessários para que crescêssemos numa exigência intelectual, e sobretudo, sim, sobretudo no amor de Deus, no amor do próximo e na entranhada, intransigente defesa da Esposa de Cristo, a sua Igreja.

?Dr. Corção, queria sofrer como o Senhor pelos sofrimentos de Nossa Mãe igreja! Choro porque não choro bastante!? ? ?Helena, não peça isso a Deus, você tem muitos encargos ainda, é quase impossível viver com essa dor na alma…?

? E os mergulhos nas cavernas do ?eu?, quem nos ajudará agora a fazer? Quem nos falará ? quem fala ainda do amor-próprio, da ferida do pecado original, do ?vivere secundum seipsum?? quem nos poderá dar o fio de Ariadne nos permitindo enfrentar o nosso submundo sem nos perdermos em seus meandros?

Tenho diante de mim cópia de seu inacabado ?Petit Traité de l?Amour propre?, com letras mal traçadas por cima de listras grossas, vermelhas, última instância para seus olhos quase velados.

?Cette étude, si je ne réussis pas à la faire, doit être recommencée à tout prix?. Sim, Dr. Corção, tem que ser retomado o assunto vital, mas por quem?

? Quem tornará a nos dar lições de abismo?

(Revista Permanência, no. 116 a 119, 1978, Ano XI)

 

Escritores e artistas falam sobre Gustavo Corção

?A batalha da fidelidade confunde-se com a luta contra a barbárie, combate esse prioritário para a civilização. Mas a infidelidade como que vai arrombando todas as portas ? até mesmo, paradoxalmente, as da fé.
Por isso, a presença na liça de homens como Gustavo Corção é duplamente preciosa: pelo valor real que o sábio católico armazena consigo e que ninguém isentamente lhe poderá negar, e pela necessidade premente de cruzadas como a sua.?
(MOACYR PADILHA, Editorial de O GLOBO, de 14-1-1969, intitulado: ?Um brasileiro que usa boina?.)

?A maioria dos brasileiros conhecem duas faces de Gustavo Corção. Uma, a do escritor exímio, a usar como ninguém a língua portuguesa, o autor que, vivo ainda, graças a Deus, é um indiscutível clássico da literatura nacional.
A segunda face é a do anjo combatente, de gládio na mão, a castigar os impostores que vivem a gritar o nome de Deus e da sua Igreja, não para os louvar, antes para os apregoar na feira inocente-útil do 'progressismo'.
Mas há uma terceira face de Gustavo Corção, e essa só a conhecem aqueles que receberam a graça do seu convívio e da sua afeição: é a ternura do amigo, a extrema solicitude na amizade, aquela caridade do coração que é a coroa de todos os afetos.?
(RACHEL DE QUEIRÓS, da Academia Brasileira de Letras.)

?Um grande escritor, quando dele divergimos, sempre deixa espaço na sua obra para que o admiremos.?
(JOSUÉ MONTELLO, da Academia Brasileira de Letras.)

?Quem, neste breve comentário à figura extraordinária de Gustavo Corção, procura compreender e destacar em suas idéias e em sua ação o essencial de uma personalidade superior a contingências estandardizáveis de homens em sub-homens, não o faz como católico porque não é católico; nem como sociólogo, porque talvez não seja estritamente sociólogo. São palavras, estas, inspiradas pelo autêntico escritor que é Gustavo Corção a um possível escritor, como ele, mais pessoal que caudatário em suas atitudes. Inclusive em suas atitudes para com o que é apenas imediato ou somente quantitativo no tempo que um homem vive.
Pois esta é uma das mais belas afirmações de personalidade que em Gustavo Corção transborda do homem no escritor: a de uma alma para quem o tempo imediato, o próprio tempo histórico, quase não conta, tantos são os seus compromissos com o trans-tempo.?
(GILBERTO FREYRE, sociólogo, escritor, do Conselho Federal  de Cultura.)

?O equilíbrio no julgamento dos problemas humanos, aquilo que os ingleses chamam de sound judgement, é um dos dotes da personalidade de Corção. Decorre do caráter quase universal de sua cultura. Cultura literária, cultura humanística, cultura matemática e física, conhecimento da técnica, capacidade de meditar, tudo isso, ajudado por esse dom precioso que se chama de 'bom senso' ou equilíbrio mental, faz com que, ao se defrontar com qualquer problema, seja ele humano, técnico, ou político, ele possa apreciá-lo por vários ângulos, sem nunca 'desgarrar' por incapacidade de compreender ou de sentir qualquer de seus aspectos. Esse é um dom muito raro.?
(EUGÊNIO GUDIN, economista, escritor e jornalista.)

?Sempre cordial no trato e original no que diz ou escreve ? eis o Corção que mais admiro.
Mas há ainda o Corção poeta, o que entremeou de alguns trechos genuinamente poemáticos o Lições de Abismo.
É o Corção com quem mais me identifico.?
(CASSIANO RICARDO, poeta.)

?A intransigência em que se mantém não é a intransigência dos que não querem ver ou dos que desejam tornar-se diferentes. Ao contrário, é, não esqueçamos, a fidelidade a uma concepção que temos de admitir e de louvar como expressão da dignidade de quem nela se mantém firme e não anda a mudar de posição a todo momento.
Mas Gustavo Corção não é só o homem que fere as coisas e os homens indo direto aos pontos de discordância. É o homem de espírito, com a palavra fácil, objetiva, o jornalista que se lê sentindo a segurança de sua afirmação, o escritor-crítico-ensaísta que escreve com rigor de linguagem, profundo conhecimento da matéria que versa.?
(ARTHUR CÉSAR FERREIRA REIS, historiador, do Conselho Federal de Cultura.)

?Agora, ali, além disso, eu descobria que aquela idéia que eu tinha formado de Gustavo Corção, através de pessoas hostis a ele, era inteiramente falsa. Ele era um homem boníssimo, talvez impulsivo e arrebatado nos seus impulsos, mas de uma bondade que transparece à primeira aproximação, nos seus olhos pequenos, azuis, vivos, risonhos, inteligentes e que ? por mais estranho que isso possa parecer a quem não o conhece ou não gosta dele, de longe ? são olhos de menino. Ele não tem nada de intratável: apenas é um homem de princípios, corajoso e inflexível quando sustenta os princípios que julga certos. Mas com as pessoas, não. Se ele descobre que temos outras idéias mas, ao mesmo tempo, descobre que sustentamos essas idéias não por má-fé ou covardia, e sim por convicções ? que podem estar erradas, mas são leais e firmes como as dele ? discorda, mas respeita-nos e não nos nega a sua amizade.?
(ARIANO SUASSUNA, escritor, teatrólogo, do Conselho Federal de Cultura.)

?Outra figura brasileira consagrada pelos palavrões: Gustavo Corção. Ninguém diria, de maneira sucinta e inapelável: 'É uma besta!' Bem que as esquerdas gostariam que o fosse. Mas os seus piores inimigos sabem, e não teriam o cinismo de negar, que Gustavo Corção é uma das inteligências mais sérias do Brasil.?
(NELSON RODRIGUES, jornalista, escritor, teatrólogo.)

?A revista filosófica e teológica francesa Itinéraires, de grande prestígio e larga divulgação, publicava, há alguns anos, artigos de Gustavo Corção, uns traduzidos por Hugues Keraly, mas outros redigidos diretamente em francês. Os conhecedores da boa língua constataram imediatamente que ele trazia algo de novo em nossa língua, uma construção de frase surpreendente, um calor todo brasileiro e um humor muito pessoal. Na conversação em francês ele escolhia suas palavras, mas percebia-se rapidamente que sua brilhante inteligência adivinhava todas as finesses da língua, o que não é dizer pouco. Escrevendo, ele procurava também suas palavras, trabalhava seu texto, mas o esforço não aparecia, e sua arte de colocar os termos segundo um certo ritmo fazia de suas frases e de artigos inteiros verdadeiros poemas a serviço de um pensamento ao mesmo tempo muito claro e muito profundo, fácil de compreender. Era, em suma, um grande escritor, isso é que é.?
(BERNARD BOUTS, escritor e pintor francês, O GLOBO, 11-7-1978.)

 

Escritores franceses falam sobre Gustavo Corção

?Escritor brasileiro de dimensões e renome internacionais, Gustavo Corção só na França não é conhecido. Mas isso vai mudar: ele nos concede a honra, nos dá a alegria, nos traz o vigoroso reforço de sua colaboração regular…?
(JEAN MADIRAN, escritor, ensaísta, professor de filosofia, diretor da revista Itinéraires, de Paris [transcrição parcial do nº 181 de Itinéraires].)

?Desde novembro de 1973, suas (de Gustavo Corção) 'Conversations Brésiliennes' e suas 'Lettres du Brésil' fizeram compreender e sentir aos nossos leitores, porque falávamos então de honra, porque falávamos de alegria e porque falávamos em reforço.?
(JEAN MADIRAN, n° 198 da mesma revista.)

?Com toda a minha simpatia e pedindo-lhe dizer ao Sr. Corção que eu não apenas li seus artigos de Itinéraires mas eu os bebi como um elixir revigorante.?
(MARCEL DE CORTE, filósofo, escritor, professor de filosofia na Universidade de Liège. Dedicatória em livro oferecido a colaboradora de Gustavo Corção.)

?O Senhor Gustavo Corção é um jovem velho possuído pelo amor da verdade, do belo e do bem. Falou-me de coisas interessantíssimas com muito calor, e eu o ouvia com muita atenção para não perder nada.?
(JACQUES PERRET, notável escritor francês, em Itinéraires, nº 179.)

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