Tomás de Aquino: o doutor “communis”!

Hoje, caríssimos, mais do que nunca, existe a falsa pretensão de separar a filosofia da teologia. Em vários seminários são dados apenas dois anos para os estudos filosóficos. Tudo se encaminha para uma teologia, pretensamente, mais “pura”.

Estudam-se autores heréticos em filosofia, pensando que nada tem a haver ser “kantiano” e teólogo católico. Terrível engano, já denunciado por Santo Tomás de Aquino! Assim como a filosofia pode corroborar para a fé, pode também destruí-la ou, pelo menos, pervertê-la. O conhecimento filosófico não é, de certo modo, indiferente as questões de fé.  Quem conhece mal as realidades naturais, está mui bem preparado para crer de forma equivocada ou simplesmente  não crer.

Exemplo: acredito que todos os meus professores de Filosofia – salvo raras exceções – foram seminaristas; a maioria entrou no seminário com fé e saiu descrente. O mais interessante é que nem precisaram entrar na teologia para tanto, muitos se perderam – ou melhor, foram perdidos – na filosofia mesmo.  

Isso porque – imaginam nossos ilustres formadores católicos – que nada tem a ver ser heideggeriano e cristão; imaginam que não existe problema algum  em ser Kantiano e Católico. Pensando assim, acabam criando excelentes hereges. Veja a maioria dos hereges e apóstatas do nosso tempo: saem de nossos seminários.

Quem filósofa mal, crê de forma errada! Este é um ensinamento salutar, dentre outros tantos, que o Angélico nos legou. Se for para ensinar uma filosofia corrompida, é melhor nem filosofar. A ignorância é preferível ao erro…

Transcrevo abaixo algumas das muitas passagens em que Frei Tomás de Aquino atesta que o erro a respeito das criaturas conduz a erros nefastos acerca de Deus. A mente humana é afastada de Deus, para o qual é conduzida pela fé, quando tem uma ciência errônea no que toca as criaturas:

“porque os que ignoram a natureza das criaturas às vezes se pervertem ao constituírem, como causa primeira e como Deus, aquilo que não pode vir senão de outrem e pensam que nenhuma coisa há alem das criaturas que vêem (…) “.

“porque atribuíram a algumas criaturas o que é próprio só de Deus, o que provém também de erros a respeito das criaturas. Caem neste erro os que atribuem a criação das coisas, ou o conhecimento futuro, ou a criação das coisas, ou o conhecimento futuro, ou a realização de milagres a outras coisas que não Deus “.

“porque se tira algo da virtude divina que opera nas criaturas, quando se ignora a natureza da criatura. Tal se vê naqueles que constituem dois princípios das coisas, e nos que afirmam que elas procedem de Deus, não por ato de vontade divina, mas por necessidade da natureza; ou também naqueles que subtraem da Divina Providência algumas ou mesmo todas as coisas, ou que negam que ela possa agir no curso habitual do universo “.

“o homem que pela fé é conduzido para Deus como seu último fim, ignorando a natureza das coisas e, conseqüentemente, o grau da sua ordem no universo, julga-se sujeito a certas criaturas, às quais é superior, como se verifica nos que se submetem aos astros (…) “.

Portanto: “O erro acerca das criaturas redunda em falsa idéia de Deus e, ao submeter às mentes humanas a quaisquer outras coisas, afasta-as de Deus, para quem a fé as quer encaminha “. (Suma Contra os Gentios. II, III)

Enquanto vários membros da Igreja se esquecem e rejeitam os teólogos escolásticos, os estudiosos profanos estão redescobrindo a Idade Média nas universidades.

Enquanto em alguns dos nossos seminários é cada vez mais difícil encontrar um tomasiano verdadeiro, torna-se cada vez mais comum se encontrarem estudiosos de Tomás de Aquino no Brasil em universidades Laicas.

Chega-se a hora- tomara que ela não chegue nunca – em que teremos que sair dos seminários se quisermos tomar contato com a filosofia na Idade Média.

É notável perceber como  as principais pesquisas sobre o período estão migrando do ambiente dos mosteiros e centros de estudos verdadeiramente católicos (que não é o caso das PUCS, diga-se de passagem) para as universidades seculares.

Hoje em dia é possível se encontrar com ateus e agnósticos que conhecem mais Tomás de Aquino do que os seminaristas e clérigos. Torna-se cada vez mais comum encontrar latinistas em universidades não católicas do que nos seminários. Isto já está começando a ser uma triste realidade.

Convivendo com pessoas e estudantes ligados diretamente com o clero podemos encontrar: Kantianos, Hegelianos, Sartrianos, Heideggerianos, Nietzschianos; entretanto, cada vez mais raro é encontrar, no meio desta multidão, um tomasiano. Quando se pergunta de Tomás, lá vem respostas falando de um Tomás personalista, intimista, romântico, existencialista, etc (nao sou contra a tentativa de aproximações – eu mesmo as faço – mas é preciso que seja feita com critérios).

Estamos perdendo a nossa cultura e logo para quem?. Para aqueles mesmos modernistas que  haviam outrora expulsado, de suas salas de aula, os autores escolásticos! Hoje eles descobrem que estavam errados, enquanto nós católicos insistimos em continuarmos alheios ao que nos pertence de direito: A Escolástica!

Se até os modernistas se rendem a pertinência da filosofia medieval, porque nós – ou melhor, o clero e alguns setores da Igreja -, insistimos em continuar dizendo que a Idade Média é ultrapassada?

Se até os que outrora nos criticavam hoje dão mão a palmatória para reconhecer o valor do medievalismo, que loucura a nossa em continuarmos ignorando a Idade Média na formação de nossos sacerdotes!?

Deus se vinga de nós pela história! Caros irmãos, Ele nos mostra como alguns filhos da Igreja se equivocaram ao ceder aos apelos dos modernistas para uma suposta renovação! Quando são os próprios modernos que reconhecerem o contributo enorme que a cultura medieval deu ao mundo. Eles descobrem, a cada dia mais, que muitas idéias que pensávamos nascer na modernidade já estavam todas lá, embutidas nos filósofos escolásticos.

Repito: A História se vinga de nós. Existe, no entanto, um fato ainda mais cruel em todo este movimento. A Fortuna – ou melhor, A Providência Divina – se encarrega de nos pregar peças.

Nestas Universidades laicas onde hoje se redescobre o tomismo, vemos os textos de Tomás nas mãos de seus próprios inimigos: Existem “tomistas ateus”. Valoriza-se a filosofia tomista e ignora-se a teologia tomista.

O Tomás de Aquino de hoje é um filósofo, revolucionário.  Alguns dizem ser ele até precursor de Lutero (Espantem-se, mas  é verdade!). O Tomás das universidades laicas não têm nada a ver com o Tomás da Igreja. Com efeito, muitos professores até colocam Tomás contra a Igreja! Melhor seria dizer que: é a Igreja de hoje  que não é mais a Igreja de Tomás. Deus ri-se de nós. Abandonamos a Verdadeira Filosofia tomista. Pois sim, agora são os gentios e pagãos que nos apontam isso, pois eles mesmos são mais autênticos que nós! É claro que eles separam Tomás da Igreja, mas só o fazem depois de perceberem que parte da  Igreja se separou de Tomás. Quem diria… Como no plano da salvação, os pagãos entraram porque o judeus se recusam.

A nós que ainda resistimos a este horripilante momento da História da Igreja, a nós que estamos aqui para estudar o Tomás Filósofo e Teólogo Católico, devemos aclarar qual seja o verdadeiro pensamento católico – em consonância com a Tradição e com o Magistério infalível da Igreja  – e assim mostrar para todos quantos querem ver que, de fato e de direito,  os princípios tomistas se coadunam com os princípios católicos. Que Santo Tomás foi e continua sendo o Doutor Communis.

Vamos fazer um “ecumenismo” sim, um “diálogo  inter-religioso”, começando por reconciliar Tomás de Aquino com a Igreja (entenda, com a parte da Igreja que o rejeita) e a Igreja com Santo Tomás. Fazendo isso, não faremos senão reconciliar a Igreja com Ela mesma. Nossa Igreja, diria metaforicamente, passa por uma crise existencial.  

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