Transformaram o essencial em supérfluo

O relativismo religioso criou em muitos católicos a mentalidade reducionista e indiferentista de que basta ter uma fé particular em Cristo para haver salvação. Claro que é Nosso Senhor que nos concede a pátria celeste, mas erram quando fazem da vivência do cristianismo um mercado de opções e escolhas. Foi o próprio Deus encarnado que instituiu a Eucaristia, que deu Sua Mãe como mãe dos homens, que edificou Sua Igreja. Quando repudiam ou renegam esses conteúdos não estão se opondo a questões supérfluas, mas na contramão de ensinamentos emanados do próprio Cristo.

João Paulo II, através da Congregação para a doutrina da Fé, no documento Dominus Iesus, lembrou e denunciou “a idéia de que todas as religiões sejam para os seus seguidores caminhos igualmente válidos de salvação Para piorar, além desse pensamento que ‘tanto vale uma religião como outra’ (Encíclica Redemptoris missio, 36, Papa João Paulo II)”, o que já contraria abertamente o Magistério, há um sério agravante. A afirmação de que a salvação fora do catolicismo é certa, reflete de forma agressiva em pontos fundamentais. Essa discurso coloca em segundo plano, com um papel de irrelevância, a Eucaristia, a devoção aos santos, a Virgem Maria, o primado petrino. Essas questões não foram criações humanas, mas instituídas pelo próprio Cristo, portanto intrínsecas na vivência da fé, como então creditar a uma religião que renega tais pontos a salvação certa? Esse pensamento traz consigo a conclusão que todo o conteúdo deficitário em certas seitas (e presente no catolicismo) é supérfluo, não modifica a integralidade da fé cristã.

Essa linha de pensamento deságua num problema mais sério e complexo; a má formação dos católicos. Apenas fiéis sem conhecimento da doutrina, com uma espiritualidade rasa e pobre, tratam com tamanho desrespeito riquezas que fazem parte da essência cristã. É até preocupante, como alguém que experimentou o amor de Maria, a entrega de Cristo na Eucaristia, a santidade do Vigário de Cristo, pode falar que esses pontos são supérfluos? O catecismo diz que “a dimensão marial da Igreja antecede sua dimensão petrina ” (§ 773), “Ela é também verdadeiramente ‘Mãe dos membros [de Cristo] (…), porque cooperou pela caridade para que na Igreja nascessem os fiéis que são os membros desta Cabeça’ .” (…) Maria, Mãe de Cristo, Mãe da Igreja” (§963), “O papel de Maria para com a Igreja é inseparável de sua união com Cristo” (§964). A respeito do primado é pertinente essa passagem “O Papa, Bispo de Roma e sucessor de São Pedro, “é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos, quer da multidão dos fiéis” “Com efeito, o Pontífice Romano, em virtude de seu múnus de Vigário de Cristo e de Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e universal. E ele pode exercer sempre livremente este seu poder.” (§882). Seria extremamente fácil a citação de milhares de documentos da Igreja mostrando a importância da Virgem Santa, do Vigário de Cristo, dos Santos, da Eucaristia.

O que deve ficar claro é que tais conteúdos não são acidentes históricos, criações humanas, banais, como pontos meramente a mais. A Virgem Maria foi nos dada como Mãe por Cristo, “Mulher eis aí o teu filho, filho eis aí tua mãe” (Jo 19, 26-27), o primado edificado na promessa de Nosso Senhor, “tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha igreja ” (Mt.16,16), a Eucaristia instituída pelo próprio Jesus, “Tomai e comei isto é o meu corpo (…) isto é o meu sangue” (Mt 26, 26-28); “Isto é o meu corpo (…) isto é o meu sangue” (Mc 14,22-24). Como católicos, sabemos que nem tudo é explanado na Sagrada Escritura, mas também elucidado na Sagrada Tradição, o que faz com que tenha o mesmo peso a devoção aos santos, e outras questões mais tratadas na herança apostólica.

A nossa pretensão é mostrar que esses conteúdos provêm de Deus, foram revelados e mostrados por Cristo. É conseqüência imediata que renegando esses pontos estamos nos rebelando contra ensinamentos de Nosso Senhor. A conclusão lógica é que, justamente, se torna difícil a vivência de uma fé cristã genuína quando há oposição a emanações doutrinais do Senhor.

Pensar “como se fosse [d]a vontade de Deus (…) [que] existisse diferentes religiões como meios de salvação” (Entrevista à Rádio Vaticana de Dom Tarcício Bertone, então secretário da CPDF), é concluir que não há uma devida constância do Senhor em Sua Revelação. A Igreja, Esposa de Cristo, incumbida misticamente desse poder, ensinou e ensina infalivelmente que “Extra Ecclesiam nulla salus”. Essa afirmação, necessária ser seguida por todos os católicos, não é dita com presunção ou triunfalismo, mas com a consciência que apenas a Igreja Católica tem a totalidade do conteúdo da Revelação; Sagrada Escritura, Sagrada Tradição e Sagrado Magistério, o que reflete na sua capacidade exclusiva de fazer uma adoração perfeita a Deus, desaguando na veneração a Virgem Maria, a Renovação do Sacrifício do Calvário, a devoção aos santos, o vicariato de Cristo na figura do Papa etc.

É bastante pertinente as palavras do Cardeal Walter Kasper, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. O purpurado lembrou que os verdadeiros princípios ecumênicos da Igreja são “opostos a um irenismo e a um relativismo que tendem a banalizar tudo.”, e que “Semelhantes teorias de pluralismo eclesiológico contradizem a compreensão da própria identidade que a Igreja Católica (…)A Igreja Católica reivindica para si mesma, tanto no presente como no passado, o direito de ser a verdadeira Igreja de Jesus Cristo, em que se encontra toda a plenitude dos instrumentos de salvação.”

 

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