Por Dom Fernando Arêas Rifan *
Já nos referimos em artigo passado ao Dr. Jérôme Lejeune, médico e cientista francês, que, por causa das suas descobertas, atingiu notoriedade internacional, aclamado em todos os centros de pesquisas do mundo e que está em processo de beatificação.
Acontece que, paralelamente às suas pesquisas, começavam fortes campanhas pro-abortistas na Europa e nos Estados Unidos. Conta Clara, a filha de Lejeune, em seu livro Life is a blessing: a biography of Jérôme Lejeune, que o cientista declarou-se abertamente contra e, a partir disso, fecharam-se repentinamente todas as portas da mídia, ao ponto de mais ninguém chamá-lo para entrevistas sobre seus notáveis descobrimentos.
Podemos dizer dele: o homem que perdeu o Premio Nobel para ganhar o Céu! Gostaria de hoje transmitir algumas de suas sábias e lapidares palavras, que contêm argumentos valiosos de um cientista a favor da vida:
Penso pessoalmente que diante de um feto que corre um risco, não há outra solução senão deixá-lo correr esse risco. Porque, se se mata, transforma-se o risco de 50% em 100% e não se poderá salvar em caso nenhum. Um feto é um paciente e a medicina é feita para curar… Toda a discussão técnica, moral ou jurídica é supérflua: é preciso simplesmente escolher entre a medicina que cura e a medicina que mata.
Se um óvulo fecundado não é por si só um ser humano ele não poderia tornar-se um, pois nada é acrescentado a ele.
Logo que os 23 cromossomos paternos trazidos pelo espermatozoide e os 23 cromossomos maternos trazidos pelo óvulo se unem, toda informação necessária e suficiente para a constituição genética do novo ser humano se encontra reunida. O fato de que a criança se desenvolve em seguida durante 9 meses no seio de sua mãe, em nada modifica sua condição humana.
Assim que é concebido, um homem é um homem. Não quero repetir o óbvio, mas na verdade, a vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomos masculinos se encontram com os 23 cromossomos femininos, todos os dados genéticos que definem o novo ser humanos já estão presentes. A fecundação é o marco da vida.
… Se logo no início, justamente depois da concepção, dias antes da implantação, retirássemos uma só célula do pequeno ser individual, ainda com aspecto de amora poderíamos cultivá-la e examinar os seus cromossomos. E se um estudante, olhando-a ao microscópio não pudesse reconhecer o número, a forma e o padrão das bandas desses cromossomos, e não pudesse dizer, sem vacilações, se procede de um chimpanzé ou de um ser humano, seria reprovado. Aceitar o fato de que, depois da fertilização, um novo ser humano começou a existir não é uma questão de gosto ou de opinião. A natureza humana do ser humano, desde a sua concepção até sua velhice não é uma disputa metafísica. É uma simples evidência experimental. No princípio do ser há uma mensagem, essa mensagem contém a vida e essa mensagem é uma vida humana.
A sociedade não tem que lutar contra doença, suprimindo o doente. Um único critério mede a qualidade de uma civilização: o respeito que ela prodigaliza aos mais fracos de seus membros. Uma sociedade que se esquece disso está ameaçada de destruição. A civilização está, muito exatamente, no fornecer aos homens o que a natureza não lhes deu. Quando uma sociedade não admite os deserdados, ela dá as costas à civilização.
O Prof. Dr. Lejeune já esteve aqui no Brasil e proferiu em 27/8/1991, no Auditório Petrônio Portella do Senado Federal, uma brilhante conferência sobre Genética, mostrando que desde a fecundação do óvulo pelo espermatozoide existe um ser humano, que merece o respeito devido a qualquer pessoa; o óvulo fecundado se torna a célula mais especializada sobre a Terra; nenhuma outra célula tem a mesma riqueza de instruções para desenvolver a vida. O conferencista terminou, proferindo esse magnífico epilogo:
Desejo resumir meu pensamento relativo à contracepção, ao aborto, a tudo o que disse até aqui. Desejo lembrar-lhes que o homem é o único ser neste planeta que sabe existir uma relação natural entre o ato sexual e a procriação. O mais astuto chimpanzé nunca saberá que existe uma relação entre o fato de cruzar com sua mona e a aparição, nove meses depois, de um macaquinho parecido com ele. Ele não é capaz de compreender essa relação. O ser humano sempre entendeu isso. Tanto isso é verdade que os antigos, para traduzir a paixão amorosa e o prazer do sexo, representavam-nos por um menino o Cupido. E todos entendiam o seu significado. Disto se pode concluir que o comportamento sexual do homem é certamente o que mais o distingue dos demais seres vivos, porque só ele sabe que as crianças são o fruto do amor. Portanto, no comportamento sexual separar o prazer e o amor da reprodução e, por consequência, do filho, é um erro de método. Isto pode ser assim resumido: a pílula significa fazer amor sem fazer filho, a fecundação extracorpórea significa fazer filho sem fazer amor, o aborto significa desfazer o filho, a pornografia e a promiscuidade significam desfazer o amor. Nada disso é compatível com a dignidade humana.
* O autor é Bisbo Titular de Cedamusa e Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney.