Veneração, relíquias, imagens e Purgatório na Igreja Primitiva

1) O protestante Justo L. Gonzalez escreveu:

– “Pelo menos desde o século II os cristãos tinham acostumado a comemorar o aniversário da morte de um mártir celebrando a ceia no lugar onde estava enterrado. Então foram construídas igrejas em muitos desses lugares. Não demorou para que as pessoas pensassem que o culto teria significado especial se celebrado em uma dessas igrejas, por causa da presença das relíquias do mártir. Em consequência começaram a desenterrar os mártires para colocar seu corpo – ou parte dele – sob o altar de várias das muitas igrejas que estavam sendo construídas” (GONZALEZ, Justo L., A era dos Mártires, Sociedade Religiosa, Editora Vida Nova, SP, 1984, pp.37-38).

Veja que essa forma de veneração dos santos já era antiga, remontando ao tempo da chamada Igreja Primitiva. Ademais, o texto de Gonzalez apresenta-nos, de maneira confirmatória, aquilo que [em uma outra oportunidade, no tópico “Eucaristia”] eu salientava: que não foi na Idade Média que surgiu o sacrifício da Missa (Quando, o fato é que: a verdadeira e única Igreja de Cristo sempre teve altar!).

2) O mesmo autor ainda chegou a escrever:

– “Em certos casos houve quem recebesse uma revelação que indicava onde estava enterrado o mártir em questão – como no caso de São Ambrósio e dos mártires Gervásio e Protássio” (GONZALEZ, Justo L., A era dos Mártires, Sociedade Religiosa, Editora Vida Nova, SP, 1984, p. 38).

Os cristãos sempre tiveram o cuidado e zelo pelos seus irmãos que partiram deste mundo. Aliás, a prática de ter cuidado devido com os que faleceram também subsiste entre os próprios judeus – claro que, com certa nuance própria do Judaísmo. Prova disso é a famosa oração do “kadish”, que é, propriamente, um louvor e agradecimento a Deus:

– “O Cadish é uma oração de louvor a D’us que enaltece Seu nome e é recitado no lugar da pessoa falecida que não pode mais louvar a D’us. No Talmud esta prece é considerada de grande valor. Quando recitada – dizem nossos sábios – D’us meneia Sua cabeça com satisfação (…) Consta no Talmud que certa vez o grande sábio Rabi Akivá viu a alma de uma pessoa que estava sofrendo muito. Esta lhe contou que em vida fora muito perversa e cometera vários delitos. Sua sentença foi sofrer muito naquele mundo. Esta alma pediu que Rabi Akivá procurasse seu filho e o ensinasse a rezar, pois somente desta forma teria penitência, principalmente se falasse o Cadish. Rabi Akivá tratou de encontrar o filho e o ensinou a rezar. Quando o menino recitou pela primeira vez o Cadish, a alma voltou a Rabi Akivá dizendo que este Cadish conseguiu tirá-la de seus sofrimentos. Daqui aprenderam os sábios que a recitação do Cadish pelo filho salva a alma dos pais de todo e qualquer sofrimento. Por isso foi instituído o Cadish durante o luto” (http:// www.chabad.org.br/ novidades/ outubro/ 2000_10_19-001.html.)

Curioso é constar que, mesmo no Talmud, registra-se a “comunicação” de uma alma pedindo a intervenção de quem ainda peregrina pelo mundo, alcançando para a alma o alívio dos sofrimentos (e isso, de uma alma sofredora e carente de refrigério. Não se parece justamente com a idéia do Purgatório?) E, obviamente, tal registro talmúdico não deixa ser também o testemunho da possibilidade da “aparição” de quem já morreu.

3) Lembrando que:

– “Os judeus ortodoxos recitam o ‘kadish’ diariamente durante um ano, quando da morte de um de seus pais. Observam o aniversário da morte acendendo uma vela durante 24 horas, e recitando as preces ‘izkor’ (em memória) nos dias santificados” (ENCICLOPEDIA DELTA UNIVERSAL, Editora Delta SA, RJ, 1982, vol. 9, p. 4631).

Tertuliano (cristão que morreu no ano 220 d.C.) escreveu:

– “A esposa roga pela alma de seu esposo e pede para ele refrigério, e que volte a reunir-se com ele na ressurreição; oferece sufrágio todos os aniversários de sua morte” (De Monogamia, 10; cf. AQUINO, Prof. Felipe, Escola da Fé I – Sagrada Tradição, Editora Cléofas, Lorena-SP, 2000, p.114).

Como bem o disse Santo Agostinho (356-430 d.C):

– “Não pode existir nenhuma dúvida que os mortos são ajudados pelas orações da Igreja Santa, pelo salvifico sacrifício, e pela esmola que são dadas por seus espíritos, (…) pois a Igreja inteira observa esta prática que foi transmitida pelos Pais (…) Se, então, cultos de clemência são celebrados por causa daqueles dos quais lembramos, quem hesitaria em os recomendar, cujas orações ao lado de Deus não são oferecidas em vão? Não se deve duvidar que tais orações sejam lucrativas para os mortos (…) Não se pode negar que os espíritos dos mortos encontram alívio através da piedade de seus amigos e parentes que ainda vivem, quando o Sacrifício do Mediador é oferecido por eles, ou quando esmolas são dadas na Igreja” (http:// www.veritatis.com.br/ conteudo.asp?pubid=2635).

4) “Em Dura-Europo, bastava os batizandos olharem para a decoração do batistério para se lembrarem do significado do sacramento que iam receber (…) Havia afrescos com cenas de Cristo andando sobre a água; uma imagem do Bom Pastor lembra os candidatos que, através do batismo, davam entrada no rebanho de Cristo; e o tema da ressurreição batismal era simbolizado pela cena das mulheres no túmulo de Cristo” (READER’S DIGEST, Depois de Jesus: o triunfo do cristianismo, 1ª edição, Reader’s Digest do Brasil Ltda, RJ, 1999, p. 147). Isso tudo numa residência cristã, tornada Santuário no ano de 242 d.C (cf. READER’S DIGEST, Idem, p. 145).

– “Próxima à casa-igreja de Dura ficava uma sinagoga magnificamente decorada. O mural dessa sinagoga ilustra uma tradição oral que desenvolve o Livro de Ester e segundo a qual o herói judaico Mardoque fez do adversário persa que vencera um criado para servi-lo” (READER’S DIGEST, Depois de Jesus: o triunfo do cristianismo, 1ª edição, Reader’s Digest do Brasil Ltda, RJ, 1999, p. 146]; mural onde se vê, conforme estampado no livro da Reader’s Digest, um série de figuras humanas, uma delas a cavalo.

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BIBLIOGRAFIA

– AQUINO, Prof. Felipe, Escola da Fé I (Sagrada Tradição), Editora Cléofas, Lorena-SP, 2000.
– ENCICLOPÉDIA DELTA UNIVERSAL, Editora Delta SA., RJ, 1982, Vol. 9. GONZALEZ, Justo L., A era dos Mártires, Sociedade Religiosa, Editora Vida Nova, SP, 1984.
– READER’S DIGEST, Depois de Jesus: o triunfo do cristianismo, 1ª edição, Reader’s Digest do Brasil Ltda, RJ, 1999.
– http://www.chabad.org.br/novidades/outubro/2000_10_19-001.html
– https://www.veritatis.com.br/conteudo.asp?pubid=2635.

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