Recentemente, recebi um e-mail de um irmão protestante me questionando sobre vários assuntos: purgatório, invocação dos mortos, etc. Pela abrangência das questões e considerando-se o fato de que demorarei ainda um bom tempo para produzir artigos completos sobre cada um dos temas citados (já que o meu tempo é um pouco escasso), disponibilizo a seguir os argumentos do nosso caro irmão separado (na cor azul) juntamente com as respostas – objetivas, mas claras – que enviei (na cor preta).
* * *
[…] Porém, nas suas muitas afirmações existem erros básicos frente à Palavra de Deus. Vejo Católicos beijando imagens e clamando a elas por cura, salvação, etc. Quando isto só é possivel através de Cristo.
Ainda ontem respondi um e-mail – que já se encontra em nossa área de Apologética – tratando a respeito das imagens sagradas. Fora isso, também num artigo recente, chamado “A Bíblia condena a confecção de imagens?”, provei que, embora os protestantes condenem as imagens sacras, a Bíblia não as condena desde que sejam usadas da maneira correta, isto é, que não venham a substituir Deus. Aliás, nesses artigos também falo do abuso que algumas pessoas mal-informadas em sua fé (na verdade, “católicos de verniz”) tributam às imagens e que são expressamente condenadas pela Igreja Católica. As imagens, como qualquer outro objeto sagrado – inclusive a Bíblia -, devem ser usadas da forma correta, isto é, de acordo com a orientação da Igreja, e com moderação. Também quanto a cura vir de Deus, isso a Igreja Católica sempre afirmou em seus 2000 anos de existência; parece-me que você está confundindo poder de cura (devido somente a Deus) com intercessão (devido ao auxílio da criatura)…
Criticas o espiritismo, quando ao rezar para os “santos”, estás invocando mortos que é abominavel aos olhos de Deus.
Aqui você confunde as palavras “evocação” (que é realmente abominável aos olhos do Senhor segundo a Bíblia) e “invocação” (que não é condenada pela Bíblia). A evocação visa a comunicação com os mortos e necessita de um médium para incorporar o espírito do finado. A invocação é o pedido de auxílio feito através da comunhão dos santos e não uma comunicação com os mortos, tanto é verdade que não necessita de médium algum.
Afirmas que só Jesus é Deus, porém mediante os fatos apresentados colocas Maria e outros santos como onipresentes, pois só assim poderiam estar ouvindo orações de várias pessoas pelo mundo. A Bíblia diz que só Deus é onipresente.
Tratemos agora da comunhão dos santos. Entretanto, antes de abordar esse assunto, adianto que futuramente disponibilizarei um artigo exaustivo sobre isso, de forma que não descerei em detalhes agora, satisfazendo-me em somente tratar sobre a relação entre os vivos e os “mortos”. Bem, quando passamos por dificuldades, é comum pedirmos aos nossos irmãos de fé que orem por nós (cansei de ver isto principalmente dentro das igrejas evangélicas)… Aliás, orações intercessórias sempre são bem-vindas, não é mesmo? Também sabemos que o nosso Deus não é o Deus dos mortos, mas o Deus dos vivos pois até mesmo aqueles que partiram em seu amor lhe são caros (cf. Mt 22,32) e estão em sua presença (cf. Ap 19,1). E, sendo assim, não é admissível que a morte interrompa o vínculo entre os que ainda estão sobre a terra e aqueles que já partiram. O Antigo Testamento, no segundo livro dos Macabeus (que, infelizmente, as correntes protestantes resolveram retirar de suas Bíblias no séc. XVII), em 2Mc 15,12-14, exprime essa verdade quando Judas Macabeu tem a visão do sumo-sacerdote Onias e do profeta Jeremias, ambos falecidos, orando em favor dos judeus que se encontravam lutando contra os sírios. Na verdade, aqueles que comungam com Cristo, comungam entre si, pouco importando seu estado biológico (vivo ou morto); somos todos membros da mesma Igreja, pois professamos a mesma fé. De fato, para o verdadeiro cristão, encontra-se a verdadeira vida após a sua morte. E mais: se posso acreditar que um pecador igual ou pior do que eu consegue interceder por mim junto a Deus, apenas pelo fato de poder vê-lo enquanto falo com ele, o que dizer da oração daqueles que já se encontram face a face (pois já não podem mais pecar) com o Deus todo-poderoso??
Alega que a igreja católica romana é a igreja de Cristo, porém não tem certeza da salvação. Cremos que estamos salvos, pois aquele que crê no Senhor Jesus, e O aceita como salvador, não entra em juízo, mas é salvo. Não está nas tradições, mas na Bíblia.
E reafirmo o que escrevi! Ao contrário do que você diz, a Bíblia rejeita a “garantia absoluta” da salvação, pois veja o que São Paulo afirmou em 2Tm 2,11-12: “Se morremos em Cristo [pelo Batismo (cf. Rm 6,3-4)], também viveremos com Ele. Se perseveramos, também reinaremos com Ele”. Observe que ele coloca uma condição: “se perseveramos””! Ora, se não perseveramos, jamais reinaremos com Ele, logo também os cristãos podem perder o Paraíso! Você não pode confundir a “segurança moral da salvação” com a “certeza absoluta da salvação”! Sabemos que Deus honrará a sua Palavra salvando aqueles que crêem em Cristo e são obedientes a Ele (cf. 1Jo 3,19-24). São Paulo, escrevendo aos Coríntios (ou seja, para cristãos) adverte: “Assim, pois, o que acredita estar em pé cuide para que não caia” (1Cor 10,11-12). Ainda, outra vez, se dirigindo aos romanos, escreveu: “Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para os caídos, a severidade; para contigo, a bondade, se permanecerdes na bondade. De outro modo, também tu serás cortado” (Rm 11,22-23. V.tb.: Mt 18,21-35; 1Cor 15,1-2; Fl 2,12; 2Pd 2,20-21). Portanto, caro amigo e irmão, não basta apenas aceitar Jesus no coração e proclamá-lo como Senhor e Salvador pessoal aos “quatro ventos”, pois não há garantia absoluta de salvação mas, como disse, uma segurança moral da parte de Deus, como ensinam a Bíblia e a Igreja Católica.
Disse que o Espirito Santo não se encontra entre os crentes, porém a Bíblia diz que o Senhor não habita onde há mentira, idolatria e heresias.
Eu estaria errado se afirmasse categoricamente que o Espírito Santo não opera misteriosamente nas outras igrejas, pois até mesmo a Igreja Católica reconhece que existem “sementes de verdade” nas demais igrejas. De fato, todas as igrejas cristãs – umas mais, outras menos – guardam certas verdades que herdaram, em suas divisões, do Catolicismo; vasculhe a História da Humanidade e as doutrinas de cada igreja em particular e verá que todas essas novas igrejas podem ser dispostas graficamente como os ramos de uma árvore, cujo tronco – não há como negar! – é a Igreja Católica e a raiz, o próprio Cristo Jesus. Por outro lado, o que eu não posso afirmar – porque estaria pecando contra o mesmo Espírito Santo e jogando fora de uma vez por todas a minha própria salvação – é que o Espírito Santo promove a discórdia e a divisão entre os cristãos. Portanto, se ele age em outras igrejas, pode estar certo que assim o faz para buscar a unidade tão desejada por Cristo e não as desavenças.
Ou existe algum lugar na Bíblia que se fala de purgatório, orar pelos mortos, que alguém além de Deus pode perdoar pecados?
Chega a ser engraçado como a leitura fundamentalista da Bíblia leva a encobrir algumas verdades tão sólidas… Iniciemos pelo Purgatório:
– Purgatório: em 1Cor 3,12-17 lemos: “12 E, se alguém sobre este fundamento [Cristo] levantar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, 13 a obra de cada um se manifestará, porque o dia a demonstrará. Pelo fogo será revelada, e o fogo provará qual seja a obra de cada um. 14 Se a obra que alguém edificou sobre ele permanecer, esse receberá galardão. 15 Se a obra de alguém se queimar, sofrerá perda; o tal será salvo, todavia como pelo fogo. 16 Não sabeis que vós sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? 17 Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; pois o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado”. Vemos, aqui, que o Apóstolo distingue 3 tipos de obras: uma boa (v. 14), uma regular (v. 15) e uma má (v.17), que resultam em dois tipos distintos de destino final: salvação (vv. 14 e 15) ou condenação (v.17). Por outro lado, o próprio Jesus ensinou: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus” (Mt 5,8), de maneira que percebemos claramente que o Senhor não tratará aqueles que se enquadram no v. 15 de 1Cor 3 da mesma maneira que aqueles que se enquadram no v. 14 do mesmo trecho, afinal o Senhor é o Justo Juiz (cf. Dt 32,4; Sl 50,6; etc…), tão rígido que nos adverte que seu reino tem porta estreita (Mt 7,13-14) mas, ao mesmo tempo, tão misericordioso que considera até um copo d’água dado em caridade (Mt 10,42). Assim sendo, o Purgatório, ao contrário do que você possa estar pensando, não é um terceiro lugar (além do Céu e do Inferno), mas um estado necessário para aqueles justos que morrem amando e servindo ao Senhor, embora possuam ainda algumas manchas de pecado. Portanto, o fato da Bíblia não citar explicitamente a palavra “Purgatório” não pode ser usado para negar a sua realidade, uma vez que a Bíblia cita-o implícitamente. A Bíblia também não cita explicitamente a palavra “Trindade”, mas todos que se dizem cristãos – sem exceção – crêem em sua realidade, uma vez que a Bíblia implicitamente o faça deduzir. Você pode, ainda, encontrar outras referências ao Purgatório em Mt 5,25-26; 12,32; Lc 12,48; 2Cor 5,10.
– Oração pelos Falecidos: é óbvio que, com a nossa morte, também as nossas obras – boas ou más – também param. Logo, se alguém morre no amor de Deus, não terá como ser condenado ao Inferno depois; o inverso também é verdadeiro: o Inferno é eterno e ninguém de lá sairá para adentrar ao Paraiso! Mas… e se essa pessoa que morreu tinha algum resquício de pecado, ainda que seja salva (1Cor 3,15), não poderá contemplar Deus face a face por causa de sua impureza (Mt 5,8), pois entraria em sério contraste com a santidade e pureza de Deus. Tampouco Deus a condenaria por causa de alguns pecados leves resultantes de sua frágil condição humana (Mt 10,42)… Ora, sabemos que Deus concede-nos graças (o Sangue de Cristo!), mas cabe a nós aceitá-las – voluntária e conscientemente – e tentar extinguir completamente a raiz do pecado (cf. 1Jo 3,2-3)… Jesus vai mais longe: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Portanto, o homem não fica parado perante o pecado, achando e esperando que Cristo o cobrirá com seu manto para fazê-lo passar como justo diante do Pai; será, então, purificada do seu pecado já que, na vida eterna, a alma sedenta de Deus terá a oportunidade de repudiar e vencer o pecado com mais ardor do que neste mundo com suas armadilhas e sujeito à ação do inimigo. Assim sendo, a oração pelos mortos, além de ser um grande ato de caridade (pois o que podemos esperar de um falecido, materialmente falando?) visa interceder, perante o Senhor, em favor daqueles que partiram – e estão salvos, já que se encontram num estado de purificação – para que o amor que estas nutrem por Deus penetre no fundo de seu ser e elimine todo o resquício do pecado. Concluindo: a oração pelos mortos não objetiva, ao contrário do que vocês, evangélicos, costumam a afirmar, converter aqueles que foram condenados ao Inferno, afinal, a sorte de cada finado se dá no momento de sua morte, como já afirmamos!
– Perdão dos Pecados: Jesus possui duas naturezas: é Deus e, ao mesmo tempo, homem. Se assim não fosse, não teria como nos resgatar com o seu precioso Sangue, não é mesmo? Pois bem, os escribas também acusaram Jesus de não poder perdoar os pecados porque era um simples homem e até disseram: “Quem pode perdoar os pecados senão só Deus?” (Mc 2,7). Então Jesus respondeu: “Para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados…” (Mc 2,10), perdoou os pecados do paralítico e o curou na frente deles. Mais tarde, após sua ressurreição, Cristo apareceu aos seus apóstolos e lhes disse: “‘Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu vos envio’. Dizendo isto, soprou sobre eles, e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. Aqueles aos quais perdoardes os pecados, ser-lhe-ão perdoados; aqueles aos quais não perdoardes, ser-lhe-ão retidos’.” Observe que esse dom não foi dado a todos, mas somente aos seus discípulos, os Apóstolos, e – obviamente – aos seus sucessores. Tenha-se em mente, também, que não receberam esse dom extraordinário do Espírito Santo por causa de sua santidade ou impecabilidade (aliás, São João já dizia: “aquele que disser que não tem pecados é um mentiroso” – cf. 1Jo 1,8), mas por um dom merecido por Cristo e que lhes foi entregue para o bem das almas e da Igreja. Então, porque esse orgulho todo? Até o papa e os bispos inclinam humildemente suas cabeças e se confessam para um simples sacerdote!! Temos mais é que deixar o nosso orgulho de lado e lembrar as palavras de Cristo: “Aquele que se humilha será exaltado; e quem se exalta será humilhado” (Lc 18,14).
Você fala de uma igreja de 2000 anos, tanto tempo de existência, e tão longe de Nosso Senhor. Por isso existem outras Igrejas, preocupadas com a Palavra e não histórias de homens, pois a Bíblia também diz: “maldito o homem que acredita no homem…” São Igrejas novas, que aprenderam com o erro, e que buscam santidade, porém não se dizem infalíveis, pois são formadas por homens, que erram, como o papa, padres e qualquer ser humano.
Até nisto a Igreja Católica se distingue de todas as demais pois é a única que se reconhece santa (por ser a única divinamente fundada) e pecadora (por ser composta de homens que, pela própria natureza humana, são pecadores). As demais igrejas querem (e orgulhosamente se dizem) ser santas, mas o que vemos é uma verdadeira balbúrdia. Homens orgulhosos que, por se desentenderem politicamente, resolvem se afastar da única Igreja de Cristo (aquela mesma que Ele chamou de “a minha Igreja”, cf. Mt 16,18; note-se o emprego do artigo definido feminino singular “a” e não o artigo definido feminino plural “as” e, muito menos, o artigo indefinido feminino “uma”!) e fundarem sua própria igreja, baseados na falsa doutrina de que “a Bíblia é a única fonte de fé”. Ora pois, se esta doutrina é verdadeira, então a própria Bíblia teria que dizer isso explicitamente! E onde ela diz isso??? Em parte alguma! Tal doutrina somente serviu para “justificar” a criação de novas denominações cristãs, já que foi a única forma encontrada para retirar a autoridade que somente a única Igreja fundada por Cristo tem, uma vez que acaba por desprezar toda a Tradição cristã e o Magistério. O resultado aí está: são mais de 20.000 denominações cristãs, das mais liberais às mais radicais, todas elas se auto-proclamando a verdadeira igreja e melhor “intérprete” da Bíblia. Então, pra que serviu a oração de Jesus em seu momento mais doloroso: “Pai Santo, guarda em teu nome os que me deste, para que sejam um como nós somos um” (Jo 17,11)??? De que valeu a advertência de Paulo aos Coríntios: “Guardai a concórdia uns com os outros, de sorte que não hajam divisões entre vós; sede estreitamente unidos no mesmo Espírito e no mesmo modo de falar” (1Cor 1,10)???? Para absolutamente nada??? Porém, acho desnecessário mencionar o que a Bíblia fala sobre o destino daqueles que promovem a divisão no Corpo Místico de Cristo…
Conheço a doutrina católica, pois o fui por muitos anos. Não um católico por condição, mas praticante, participativo, ativo. Porém, conheci um Deus vivo, maravilhoso, sem igual, que abriu meus olhos, e pode ter certeza que a partir de hoje estarei orando por você e sua família, para que Ele abra também os de vocês, e que nós possamos viver juntos lá no céu.
Caro irmão, me perdoe, por favor, pelo que vou falar agora. Não quero, de forma alguma, te ofender, mas por tudo aquilo que você me escreveu em seu e-mail, percebi que você realmente não conhecia e não conhece a doutrina professada pela Igreja Católica. Acredito até que você tenha participado de sua comunidade com certa ativez, mas infelizmente não buscou conhecer a doutrina da Igreja, de forma que se convenceu de uma “nova fé” – talvez porque sua doutrina fosse mais próxima ao que você realmente pensava, talvez por falta de tempo para se aprofundar na fé católica e pelo fato da nova doutrina ser mais simples, talvez pelo culto da sua nova igreja ser mais animado do que a missa dominical… Porém, e infelizmente, não basta ser ativo, tem que ansear conhecer cada vez mais. Eu, antes de ser evangélico, frequentei muito a Igreja Católica, mas realmente não conhecia a sua doutrina; num momento de fraqueza, fiz o que muitos fazem: busquei uma nova fé, mas essa fé estava “tão preocupada” com os católicos e ensinava tanta coisa simples e, ao mesmo tempo, contraditória, que resolvi fazer uma comparação: e me surpreendeu a descoberta de uma “moeda enferrujada” que, depois de ser bem limpa, mostrou-se valiosa, a mais importante de todas… Sou feliz porque sou católico e glorifico a Deus por encontrá-lo ali, onde certa vez duvidei – e como dói lembrar! – que lá estava… Fico, desta forma, pedindo a Deus para que o ajude a encontrá-Lo onde eu encontrei. E, como disse e volto a repetir, se o Espírito Santo age nas outras igrejas, pode estar certo que Ele busca a unidade e não a divisão! Louvado seja o nome do Senhor Jesus!
“Boas obras não fazem um bom cristão, mas um bom cristão faz boas obras”. Não entenda isto apenas como mais uma crítica, mas um alerta com amor. Na paz e graça de Jesus. (Roberto)
Caríssimo, espero que também você não entenda este e-mail como uma crítica, pois percebi a sua sinceridade, e desejo, do fundo do meu coração, que você possa compreender melhor a Igreja Católica e, assim, fazer como o filho pródigo, que abandonou a sua família, mas após um ato de reflexão e humildade, retornou para casa onde foi recebido com muito amor… Que a vontade de unidade expressa por Cristo se faça presente e que, por Seu amor, derrame muitos dons e graças sobre você! É o que realmente desejo… Um grande abraço, deste teu irmão.
* * * Posteriormente, recebi um outro e-mail do mesmo irmão fazendo algumas considerações (em azul) às quais respondi (em preto):
Caro Carlos,
Fico agradecido pela resposta e o tempo que destinou a mim.
Não é necessário agradecer. Faço isso pelo amor à Palavra de Deus e aos irmãos. Além do mais, é bom recebermos tais questionamentos pois é um momento em que aproveitamos para aprofundar mais a nossa fé e acabamos por ajudar outros irmãos que têm as mesmas dúvidas, uma vez que publicamos nas nossas áreas as perguntas de nossos visitantes e as respostas que damos. Pode estar certo que a abrangência da sua pergunta será de muito proveito para todos os nossos visitantes.
Não vou me alongar muito, pois só quero colocar algo. Devemos buscar unidade sempre, mas não errar em nome da unidade.
Concordo. São Paulo pediu para que todos estivessem no mesmo Espírito e falassem exatamente a mesma coisa (Fl 2,2). Em outra passagem, pede para que mantenham a tradição que dele receberam, seja por escrito ou por palavra oral (2Ts 2,15). E, realmente, durante 10 séculos houve unidade entre os cristãos e toda e qualquer heresia que surgia dentro da Igreja foi vigorosamente combatida e a fé mantida em sua pureza. No séc. XI, por problemas políticos, ocorreu uma cisão entre a Igreja Ocidental (Igreja Católica Romana) e a Igreja Oriental (Igreja Católica Ortodoxa), mas seja como for, os sacramentos de uma são válidos na outra e vice-versa, ou seja, embora não exista comunhão plena (pois os ortodoxos não aceitam a primazia do papa), existe comunhão parcial (já que a doutrina é basicamente a mesma). No séc. XVI ocorreu a segunda grande cisão do cristianismo com o surgimento do protestantismo e, dentro deste, o total esfacelamento da doutrina cristã (ora, se existem hoje mais de 20.000 denominações cristãs, e nenhuma delas concorda plenamente com a outra, mesmo que supostamente considerássemos que uma delas conhece a verdade plena, certamente outras 19.999 estariam erradas em algum ponto doutrinário, ou seja, 19.999 estariam pregando heresias…) A Igreja Católica, caro irmão, é a única que existe desde a época de Cristo e é a única que prega e defende exatamente a mesma coisa nestes 2000 anos de Cristianismo: logo não é a que prega e defende heresias…
E outra coisa, a Bíblia é algo simples, escrito para os simples. Deus não a escreveu somente para os letrados, mas também aos humildes. Não se empenhe tanto em descobrir o que está nas entre linhas, o que o Senhor quer de voce está escrito ali diretamente. Ele disse: “aquele que me ama, ouve e pratica as minhas palavras…”. É só o que Ele espera de nós.
Desculpa, mas sou obrigado a discordar com você. Se realmente a Bíblia fosse um livro simples de se compreender certamente ela seria direta e hoje não existiriam todas essas 20.000 denominações (ao contrário, todo dia aparece algum “iluminado” descobrindo uma “nova interpretação” para Bíblia!). Se a Bíblia fosse simples, até os judeus teriam aceitado Jesus há 2000 anos atrás… Se a Bíblia fosse simples, as palavras de 2Pd 3,16 seriam vãs: “É verdade que em suas cartas [=cartas de São Paulo] se encontram alguns pontos difíceis de entender, que os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras, para a sua própria perdição”; e assim tais palavras não seriam inspiradas e a própria Bíblia deixaria de ser um livro santo. Vê-se, então, que a Bíblia não é um livro “simples”, porque se o fosse não teria como ser “torcido”. De fato, somente a única Igreja de Cristo, herdeira de Sua autoridade (“Eu te darei as chaves do reino…” (Mt 16,16-18), “Ide pelo mundo e pregai o exangelho a toda criatura” (Mt 28,16-20; v.tb.: Mc 16,14-16; Lc 10,16; 2Cor 10,4-5; 1Tm 3,14-15)), é a legítima intérprete da Bíblia, pois nada na Bíblia é de particular interpretação (2Pd 1,20) como infelizmente pregou Lutero e foi seguido por todos os demais protestantes. Quanto às palavras de Jesus, “quem me ama, ouve e pratica as minhas palavras”, simplesmente demonstra como os cristãos, que tanto dizem estarem “salvos” porque o aceitaram, na verdade estão muito longe dele, porque não ouvem e muito menos seguem as suas palavras: “…a fim de que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”. Por causa desses desentendimentos, Maomé fundou o Islamismo e hoje a Palavra de Cristo é duramente perseguida nos países islâmicos; por causa desses desentendimentos, Gandhi – embora muito se identificasse com a causa cristã – não aceitou Jesus e, consequentemente, vemos nossos semelhantes hindus adorarem milhares e milhares de deuses. Isso é lamentável! Por causa do orgulho do homem (que diz amar a Deus sobre todas as coisas e aos irmãos), milhares e milhares de almas são perdidas ou deixadas à infinita misericórdia de Deus! A Igreja Católica, já há um bom tempo está aberta ao diálogo com outras igrejas cristãs e tem conseguido grandes avanços principalmente entre os ortodoxos gregos, os nestorianos (é! aqueles mesmos que negavam o título de Mãe de Deus à Virgem Maria!), os anglicanos, os luteranos, os presbiterianos e os metodistas, tenham-se em vista as várias declarações conjuntas de fé publicadas recentemente por essas igrejas cristãs e a Igreja Católica. E quanto às outras milhares de denominações??? Continuam sendo unidas para “malhar” a Igreja Católica, mas também não se entendem entre elas… Estariam elas, então, seguindo as palavras de Cristo?? Será que O conhecem verdadeiramente??? Jesus foi bem claro ao dizer: “Haja um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,16).
A verdadeira igreja de Deus, “única”, não tem nome é formada pelos homens que aceitaram seu sacrifício, o amam e consequentemente seguem sua Palavra. Continuarei orando por voces, e um dia o Senhor pessoalmente tirará as nossas dúvidas.
Concordo com você que a Igreja única de Jesus não tem nome. E se você pesquisar a História, que graças a Deus é bem documentada a esse respeito, perceberá que “Igreja Católica” não é um nome, mas carcaterística da verdadeira Igreja de Cristo: “católica” significa “universal”, isto é, estar presente em toda a “Terra Conhecida”. E qual foi a Igreja que se preocupou estar presente em toda a terra conhecida desde o princípio?? Aquela que os protestantes hoje chamam de “Católicos Romanos”… esse “nome”, portanto, surgiu entre os protestantes no séc. XVI; só que a “Igreja Católica” é explicitamente mencionada desde o período Patrístico [pós-apostólico] (como ainda terei a oportunidade de comprovar na área de Patrística). Assim sendo, pode estar certo que também permanecerei orando por você…
Um abraço, na paz e graça de Jesus.
Um grande abraço e que o Senhor te abençoe.
- Fonte: Veritatis Splendor