Vocês não gostam de nós, mas seus paroquianos gostam…

– A lógica “libertadora”: quando a juventude está a meu favor, viva a juventude; quando está contra, ela é reacionária

Certo frei franciscano Carlos foi à CNBB recentemente falar aos bispos sobre o cinquentenário do Vaticano II. Além de suas fontes e seu tom demasiado revolucionário (citou Gramsci com tom positivo e o termo “Papa” em tom negativo), o frei Carlos bem que poderia atualizar-se sobre Aquecimento Global e Efeito Estufa. Para quem está habituado com essas discussões científicas, o frei sabe tanto sobre o assunto quanto uma analfabeto em monoteísmo sabe ler e interpretar a Bíblia. Ora, se não sabe nada sobre ciência, o que torna seu discurso confiável em outros assuntos, que ele igualmente pretende saber? Sugiro, caridosamente, ao frei Carlos que leia os seguintes artigos aqui, aqui e aqui, a fim de, primeiro, educar-se sobre assunto tão importante e; depois, diminuir a vergonha que suas palavras possam produzir no futuro, caso deseje retornar de novo à seara que lhe é estranha. Por hora, porém, nada posso fazer para amenizar sua evidente ignorância sobre o assunto.

Mas o motivo desta reflexão é pôr às claras a incoerência de parte do texto do frei Carlos. Com o que disse acima sobre o Aquecimento Global, fica evidenciado que o frei tem muitas lacunas a completar. Não pretendo analisar todas aqui – embora a vontade seja grande… Entretanto, uma questão que parece ser necessária e urgente aprofundar é sobre a natureza da obediência. O frei Carlos parece exitar entre dois pontos curiosos: uma disposição clara ao enfrentamento ou uma subserviência quase escravocrata. Ora, o frei precisa decidir-se sobre que tipo de obediência é mais própria do cristianismo e o porquê.

1. Paúra de Roma

O frei Carlos, citando sem dar as fontes, reproduz um grupo de fiéis canadense de Quebec (que parece ser composto majoritariamente de leigos), o qual aconselha os bispos do país a não temerem Roma. Disse o senhor frei a Suas Excelências Reverendíssimas em Aparecida (SP) que o conselho dado aos canadenses bem pode ser adotado no Brasil: colegialidade com diálogo, não como subserviência cega. Obediência com diálogo, nunca com submissão. Esse é o conselho que o frei Carlos dá aos bispos do Brasil, em relação a Roma. Não está claro, mas parece que, segundo o frei, qualquer tipo de obediência à autoridade de Roma por parte dos bispos se reveste sempre de subserviência irracional e cega, se não passa por um diálogo esclarecido e exaustivo. Ter medo de Roma é sintoma de infantilidade na fé, parece dizer o frei. Nada mais tolo…

Eu sei, o frei não tem filhos. Se tivesse, ele saberia que não há espaço real para diálogo exaustivo e esclarecido sempre. Quem educa os filhos que possui sabe que não dá para argumentar ad infinitum sobre a necessidade de escovar os dentes, tomar banho ou arrumar a cama. Mas o fato de não ter filhos não livra o frei Carlos do dever de saber educar e de saber que a obediência não se constitui abdicando de seu caráter mais próprio: a autoridade. O diálogo é um caráter importante, mas nunca essencial para o ato de obedecer. O essencial na obediência é a autoridade que garante confiabilidade ao ato e o sujeito do ato de obedecer. Antes que o frei Carlos diga que autoridade e tradição são conceitos velhos, antiquados, sugiro urgentemente a leitura de Wahrheit und Methode, de Hans Georg Gadamer (há uns textos do e sobre Gadamer aqui). Antes que mais vergonha aconteça… Mas como seria se os princípios do frei Carlos estivessem corretos? Como seria se toda autoridade fosse contestada ad infinitum? E aí vem o ponto crucial da reflexão: o frei é contraditório. Ele pretende que os bispos não temam o Papa, mas quer que os jovens temam os freis.

2. Paúra dos Jovens e dos Blogs

O curioso, no discurso do frei que não tem filhos, é que o frei Carlos é bicéfalo. Quero dizer: tem dois critérios sobre o mesmo assunto. Quando se trata de obedecer a Roma, ele se alia aos canadenses e sugere não ter medo e exigir o diálogo; mas quando o assunto é a Tradição Eclesial pré-Conciliar ou os blogs ou os jovens que desejam experimentar uma liturgia que não viveram, aí é preciso suspender o diálogo. Para uns, é necessário garantir-lhes o “direito” de não temer; para outros, importa demover-lhes de equívocos históricos. De outro modo: os bispos não devem ter medo de Roma, mas os jovens devem temer os freis. Eis a lógica “libertadora” do frei Carlos: quando os leigos estão a meu favor (como em Quebec), viva os leigos e o diálogo; quando estão contra (caso dos blogs e jovens citados pelo frei), aí os leigos precisam ser educados sobre sua “afirmação equivocada” de “ordem histórica” e o diálogo é simples informação dos que sabem – o frei – para os que não sabem. E o diálogo? Aqui é obediência cega ao frei!

3. Notícia ruim aos “freis Carlos”

Então, senhores “freis Carlos” (pois há muitos freis Carlos com outros nomes por aí), tenho notícias ruins para os senhores. Os sites e blogs que aceitaram o conselho de vocês têm aumentado muito. Sites e Blogs como o Non Nise Te!, como o Deus lo vult!, como o Fratres in Unum, como o Oblatvs, como o Ecclesia Una, como o O Possível e o Extraordinário, como o O Catequista (só para ficar nos nacionais) aceitaram o convite de jamais obedecer sem diálogo, senão à autoridade constituída. Não aceitamos mais o autoritarismo, senhores “freis”! Queremos o Evangelho vivo, sem intermediários que desejam se passar por seus verdadeiros intérpretes. Contudo, sabemos que só a um foram dadas as Chaves (Mt 16, 16ss) e somos fiéis a este, e só a este. Então, não venham para cá com blá, blá, blá…

Ah, outra notícia ruim, “freis”: se me permitem parafrasear Chico Buarque (que ironia, né?), vocês não gostam de nós, mas seus paroquianos gostam. Alguns dos sites e blogs acima citados chegam a ter – individualmente – a visita mensal de 30 mil pessoas. Façam as contas, “freis”. Para piorar, embora vocês tenham acesso a um grupo grande, com um acesso privilegiado, aos quais tentam impor seu modo de ver a Igreja e o mundo por homilias e conselhos, há um outro grupo, mais antenado, mais informado, mais crítico, que é leitor e colaborador dos blogs e sites em questão. Esse grupo, justamente os jovens, não se deixam enganar por discursos moles. Eles farejam mentira, “freis”! A partir de agora, “freis”, e já há algum tempo, em cada homilia que os senhores plantarem suas mentiras, haverá um jovem a olhá-los com desconfiança, com desdém, pois eles sabem: ou há Uma Igreja ou não há nenhuma. E se há Uma Igreja, há um Chefe. Em cada confissão, em que seu conselho destoar do Evangelho de Nosso Senhor e da doutrina do Magistério, a resposta do jovem será um retumbante “não” entre dentes ou explícito, como já houve. Em cada texto ideológico em seus jornais haverá um risinho irônico e triste em casa, diante da fraqueza e da distância do Evangelho e da Igreja de Cristo. “Freis Carlos”, vocês estão em maus lençóis…

Mas, “freis”, segundo seu próprio critério de verificação pela “quantidade”, quem é a vanguarda do atraso nessa relação? Os poucos como vocês, que tentam impor pelo poder sua opinião, ou a “maioria” dos jovens e blogueiros, que resistem à opinião com outras opiniões melhores? Vamos votar?

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