XIV. A SANTA MISSA É O SACRIFÍCIO MAIS EFICAZ DE IMPETRAÇÃO
Na lei de Moisés, Deus não somente prescreveu ao povo de Israel sacrifícios em testemunho de sua soberania e poder divino, mas também sacrifícios de paz e de impetração. E estes eram de uma eficácia maravilhosa, porque faziam descer sobre Israel graças e bênçãos de preservação.
Lê-se, na Sagrada Escritura (I Reis 7,7), que os israelitas, ameaçados pelos filisteus, pediram a Samuel que orasse por eles. Samuel imolou um cordeiro, implorou ao Senhor, e, de repente, um pânico apoderou-se dos inimigos, que fugiram em desordem.
Mais tarde, quando Deus castigou seu povo com a peste, o rei David ofereceu igualmente o sacrifício de paz, e o flagelo desapareceu. Exemplos semelhantes encontram-se, freqüentemente, no antigo Testamento.
Se Deus prodigalizou ao povo hebreu um tal meio de apaziguá-los, os cristãos receberam outro incomparavelmente mais eficaz. Com efeito, que não obterá o Cordeiro divino, imolado sobre o altar, quando os cordeiros dos judeus aclamaram tão favoravelmente o Altíssimo! Os sacrifícios da sinagoga só podiam ser oferecidos em uma intenção e com um rito particular: a santa Igreja, bem que tenha um sacrifício, pode oferece-lo em diversas intenções e obtém muito mais graças do que os múltiplos sacrifícios dos judeus.
Assim posso assistir à santa Missa ou celebrá-la para maior glória de Deus e alegria de Maria Santíssima, em honra dos Anjos e dos Santos, para minha salvação, para conservar ou recobrar minha saúde, para ser preservado de males temporais, obter a remissão de meus pecados, a emenda de minha vida, a graça duma boa morte. Tudo isto posso pedi-lo para meus parentes e amigos e para todos os fiéis.
Os doutores da santa Igreja são unânimes em proclamar o poder da santa Missa como sacrifício impetratório. “Ela é soberanamente eficaz, diz assim deles, por causa do preço da Vítima e da dignidade do grande Sacerdote sacrificador. Não há graças nem dons que, por seu intermédio, não se possam obter. O número de suplicantes não influi, todos receberão segundo seu pedido, porque, sendo Jesus Cristo o principal sacrificador, sua oferta é, infinitamente, agradável a Deus Pai; seus méritos apresentados, neste momento, são inesgotáveis, suas chagas têm um valor ilimitado”.
São Lourenço Justiniano fala no mesmo sentido: “Nenhum sacrifício é maior, mais agradável à divina Majestade, que o Sacrifício da Missa, onde as chagas de nosso divino Salvador, sua flagelação e todos os suplícios e opróbrios que sofreu por nós, são de novo oferecidos a seu Pai, e este, vendo de novo imolar-se aquele que enviou ao mundo, concede o perdão aos pecadores, socorro, aos fracos, a vida eterna, aos justos” (Sermo de Corp. Christi).
Pela oblação do santo Sacrifício, damos mais do que podemos pedir. Por quê, pois, temer que nossa prece seja rejeitada? Para obter qualquer coisa finita, oferecemos uma Vítima de preço infinito. Como o Deus liberalíssimo, que prometeu uma recompensa por um copo dágua dado em seu nome, deixaria nossas súplicas sem resposta, quando lhe apresentamos o cálice cheio do Sangue de seu Filho, deste Sangue que implora graças e misericórdia por nós?
Depois da última Ceia, nosso bom Mestre disse: “Em verdade, em verdade vos digo, tudo o que pedirdes a meu Pai, em meu nome, Ele vo-lo dará”. Que momento mais próprio para pedir em nome do Filho senão aquele em que Jesus, morrendo novamente por nós, é apresentado aos olhos de seu Pai?
São Boaventura dá uma outra razão da eficácia do santo Sacrifício: “Quando um soberano está prisioneiro, dá-se-lhe a liberdade somente pelo preço dum forte resgate. Não deixeis, pois, sair Jesus do altar, onde é nosso cativo, sem que vos tenha concedido o perdão de vossos pecados e a entrada no céu” (Tom. 4 in Expositione Missae). Quando o sacerdote eleva a sagrada Hóstia, parece dizer ao povo: “Vede, aquele que o mundo não pode conter, está em nossas mãos: não o deixemos retirar-se sem ter-nos concedido o que pedimos”. Sim, repitamos com Jacó, dirigindo-se ao Anjo: “Não vos deixarei ir sem que me abençoeis”.
Pela rica e agradável oblação da santa Missa, podemos obter de Deus tudo o que é necessário à nossa salvação.
Por quê é então que Deus nem sempre atende aos que oferecem a santa Missa? A esta pergunta de Santa Gertrudes, Nosso Senhor respondeu: “Se nem sempre atendo a tuas orações e a teus votos, é para preparar-te qualquer coisa mais útil, porque não és capaz, por causa da fragilidade humana, de conhecer o que te é mais vantajoso”. Outra vez a mesma Santa queixava-se humildemente, dizendo: “De que servem minhas orações para aqueles em cujo favor as ofereço? Não vejo frutos”. – “Não te admires, disse-lhe o divino Salvador, de não veres o efeito de tuas orações, visto que disponho das graças segundo minha sabedoria impenetrável; entretanto, podes estar certa de que, quanto mais se rezar por uma pessoa, mais feliz será, porque nenhuma oração sincera fica sem efeito, ainda que esse efeito possa conservar-se oculto”.
Se, conforme a palavra de Jesus Cristo, cada oração sincera produz frutos, qual não será o fruto de uma Missa?
Lê-se na vida de São Severino, que uma nuvem de gafanhotos caiu nos arredores do castelo Corul. Os frutos, as árvores, toda a vegetação foi devastada. O povo dirigiu-se ao abade Severino, implorando-lhe a intercessão junto a Deus para afastar o flagelo.
Cheio de compaixão, o santo religioso convidou o povo a entrar na igreja e aí pregou sobre a penitência e a oração, terminando com as seguintes palavras: “Não conhecendo oração mais eficaz do que a santa Missa, vou oferecê-la em vossa intenção; oferecei-a comigo, e ponde nela toda a vossa confiança”.
Todos se apressavam em obedecer, à exceção de um só que dizia: “Vã é a vossa confiança. Embora ouçais todas as Missas que se celebram no mundo inteiro e fiqueis o dia todo em oração, não afastareis um só gafanhoto”. Dito isto, dirigiu-se para a sua tenda de trabalho. O povo, porém, piedosamente unido ao sacerdote celebrante, suplicou a Deus que o livrasse do terrível flagelo.
Terminada a santa Missa, saíram todos para seus campos e pastos e verificaram, com surpresa e reconhecimento, que os gafanhotos, apesar de serem tantos que formavam uma nuvem espessa, se retiraram: a alegria reinava, por isso, em todos os corações. Também o leviano que, pouco antes, zombava da santa Missa, associou-se aos outros fiéis, admirado pelo que viu. Grande, porém, foi a sua surpresa, quando a nuvem de gafanhotos, já bastante longe, de repente, como em castigo, voltou para o seu campo e só se afastou, depois de haver destruído completamente a sua colheita.
Este caso histórico mostra-nos, mais uma vez, a eficácia da oração durante a santa Missa, e o castigo reservado àqueles que a desprezam.
Tenhamos, pois, à semelhança daquele povo, grande confiança no santo Sacrifício. O Apóstolo São Paulo anima-nos a isso, dizendo: “Marchemos cheios de confiança para o trono de graça, a fim de obtermos misericórdia e merecermos o socorro oportuno”.
Este trono de graças não é o céu, pois não podemos ir até lá, mas, sim, o altar, sobre o qual é imolado, todo dia, o Cordeiro, a fim de obter para nós graça e misericórdia.
Vamos cada manhã a este trono de graças, procurar os socorros necessários; vamos com alegria e confiança, porque é o trono da graça e não da vingança, da misericórdia e não da justiça.