A Contrição

“Queres reconciliar-te com Deus? Repara como procedes contigo, para que Deus te seja propício. Presta atenção ao Salmo, onde lemos: Porque se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente; não te causam prazer os holocaustos. Então ficarás sem sacrifício para oferecer? Nada oferecerás? Com nenhuma oblação tornarás Deus propício? Que dissestes? Se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente; não te causam prazer holocaustos. Continua, escuta e dize: Sacrifíco para Deus é o espírito contrito; o coração contrito e humilhado Deus não o despreza. Rejeitado aquilo que oferecias, encontraste o que oferecer. Como os antepassados, oferecias vítimas de animais, ditos sacrifício: Se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente Não te queres este gênero de sacrifícios, no entanto procuras um sacrifíco. Não te causam prazer os holocaustos. Se não tens prazer com os holocaustos, ficarás sem sacrifício? De modo algum. Sacrifício para Deus é um espírito contrito e humilhado Deus não o despreza. Tens o que oferecer. Não examine o rebanho, não aprestes navios e não atravesses as mais longíquas regiões em busca de perfumes. Procura em teu coração aquilo que Deus gosta. O coração deve ser esmagado. Por que temes que o esmagado pareça? Lê-se aqui: Cria em mim, ó Deus um coração puro. Para que seja criado o coração puro, esmague-se o impuro”. (Santo Agostinho Bispo de Hipona e Doutor da Igreja in AQUINO, Felipe: Alimento Sólido. Editora Canção Nova, Cachoeira Paulista: 2005. 1ª Ed. p. 92)

“Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato”(I Jo 3,1). Para sermos felizes fomos criados e não para uma felicidade qualquer, porque fomos chamados à intimidade divina, a conhecer e amar a Deus Pai, a Deus Filho e a Deus Espírito Santo e, na Trindade e na Unidade de Deus, a todos os Anjos Santos, a Virgem Rainha dos Céus e a todos os homens. Esta grande bondade de Deus para conosco, foi manisfestada na excelência da vida sobrenatural que nos mereceu, fazendo-nos participantes realmente de Sua natureza e de Sua vida: diviniae consortes naturae. Esta vida vem de um pensamento afetuoso de Deus, que nos amou desde a eternidade e quis nos unir a Si mesmo na mais doce intimidade. ”Com amor eterno Eu te amei; por isso, compadecido de ti, te atraí a Mim ”(Jr 30). Para nossa ruína o pecado entrou no mundo e com ele a morte. O homem, agora sem a graça, se reduziu a mera criatura, doente, frágil, susceptível a enganos, maldades, dependente de suas debilidades e concupiscências. Se achou auto-suficiente e por sua iniciativa e resolução afastou-se de Deus que é fonte de vida plena, tendo como consequência a perda do céu. Mas Deus impulsionado pelo grande amor com que nos amou, vendo a triste condição do homem caído, cujo coração se endureceu, tornou-se arrogante, envia o Filho pra redimi-lo, regenera-lo, a preço de Seu Sangue. Ele, Jesus, nos tirou das trevas e nos trouxe para Sua luz admirável, por uma morte dolorosa e terrível. E desde então nos tem chamado a conversão, para que voltemos nosso olhar e sobretudo nosso coração para Ele, de onde nunca deveríamos ter nos afastado. O homem é convidado a cada instante e situação a se render, se deixar quebrar, talhar e lapidar, para que o Senhor, com sua graça bendita, faça de carne seu coração de pedra. Deus quer dar este coração novo e o homem precisa dele para viver, mas para isso precisa se converter, deixar o homem velho enraizado no pecado para se tornar nova criatura em Cristo, restaurado a Sua imagem santíssima. A conversão é antes de tudo uma obra da graça de Deus que reconduz o homem a Si : “Converte-nos a ti, Senhor, e nos converteremos” (Lm 5,21). Deus nos dá a força de começar de novo, e é descobrindo a grandeza de Seu amor, sua bondade e fidelidade, que nosso coração experimenta o horror e o peso do pecado e começa a ter medo de ofende-lo, de ser separado d ‘Ele. Nos diz São Tomás em sua Suma Teológica: ”Pois, o mais importante dos dons é o que Deus exige, principalmente, do homem. Ora, o que dele Deus exige sobretudo é o temor, conforme a Escritura (Dt 10, 12): Agora, pois, ó Israel, que é o que o Senhor teu Deus pede de ti, senão que temas o Senhor teu Deus; e ainda (Ml 1, 6): se Eu Sou Vosso Senhor onde está o temor que se Me deve?”(Santo Tomás de Aquino: Suma Teológica II, q. LXVIII, VII, a I, II, III, IV).

O coração humano converte-se olhando para Aquele que foi transpassado, e sabemos que o foi de uma forma brutal; o Justo pelos injustos, o Santo pelos pecadores. Como católicos e filhos de Deus pelo Batismo, temos que diante d’ Ele pedir perdão de nossas faltas caso queiramos viver em Sua presença fazendo Sua santa vontade, pela obediência as suas leis; e para que este perdão seja verdadeiro e frutuoso é preciso um espírito contrito e bom propósito, que dele é consequência. Precisamos pedir a graça de chorar nossos pecados e excercitar-nos nela, para podermos crescer em virtude e santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor.

Sendo o Sacramento da Penitência junto com o Batismo o Sacramento mais importante para nós católicos, já que restitui a graça perdida essencial para nossa salvação, é justo que nos preparemos com toda sinceridade para obter os frutos que dele emana. Para isso, a contrição, que é a dor por termos cometido pecados que nos fazem perder a vida de Deus, deve ser totalmente verdadeira.

Contrição é voltar-se a Deus conscientemente e com liberdade. A moção da vontade, estimulada e sustentada pela graça, é o fundamento que afasta todo pecado e conduz a Deus. Para tanto é preciso que tenhamos consciência que é o Sangue derramado por Cristo que lava nossos pecados, e que é n’Ele e somente por Ele que temos o perdão, e que para nos dá-lo foi preciso derramar Seu Sangue Precioso através da humilhação, do quebrantamento de Seu Ser; Ele que não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus mas Se fez escravo, nos convida agora a aceitar Seu amor e buscar a pureza e santidade, para qual fomos criados. Baseado nisso, o homem tem que entender que para ter o céu, precisa primeiro se reconhecer pecador, dependente e imperfeito para que os méritos do Senhor venha regenerá-lo recuperando sua primeira condição, de Filho criado a imagem do Pai para viver sua vida gloriosa juntamente com Ele.

A contrição verdadeira exige de nós a tristeza de chorar os pecados, como nos ensina São Paulo, é a tristeza segundo Deus e é esta que é frutuosa já que nos leva a uma dor na alma pela detestação do pecado cometido com um grande propósito de não pecar – leva ao arrependimento sincero e à penitência, e o maravilhoso de nos deixarmos enraizar por ela, é que ela é esperançada, porque confia no perdão, por isso dela, podemos dizer que tras consigo a alegria. A tristeza segundo o mundo leva ao desespero, reconhece-se o pecado cometido, mas – por soberba – parece impossível alcançar o perdão. ”A tristeza que causa um arrependimento salutar – comenta Cassiano – é própria do homem obediente, afável, humilde, doce, suave e paciente, enquanto deriva do amor de Deus. Sofre infatigável a dor física e a contrição do espírito, graças ao vivo desejo de perfeição que o anima. É também alegre e em certo modo sente-se como robustecido pela esperança do seu aproveitamento(…). A tristeza diabólica é diametralmente aposta. É áspera, impaciente, dura, cheia de amargura e de desgosto, e caracteriza-a também uma espécie de desespero penoso” (Institutiones. Lib. IX, cap XI – Bíblia de Navarra – II Cor 7,9-11 – p. 1022-1023)

E que frutos nos trás esta tristeza e esta dor! Nos tornamos além de mais santos, mais atentos, com mais temor, zelo e solicitude para com as coisas do alto, onde nossa vida está escondida com Cristo em Deus, e sabemos que quando Cristo nossa vida aparecer, então apareceremos com Ele na glória. (Col 3, 1-4), está é nossa esperança gloriosa.

“Chora e geme por estares ainda tão carnal e mundano, tão pouco mortificado nas paixões, tão cheio de movimentos de concupiscência; tão pouco diligente na guarda dos sentidos exteriores, tão envolto muitas vezes em vãs imaginações; tão inchado às coisas exteriores, tão negligente nas interiores, tão fácil ao riso e à dissipação, tão duro para as lágrimas e compunção; tão disposto à relaxação e regalos da carne, tão lento para seguir vida austera e fervorosa; tão curioso para ouvir novidades e ver coisas formosas, tão remisso em abraçar as humildes e desprezadas; tão cobiçoso de ter muito, tão apertado em dar, tão avarento em reter; tão inconsiderado em falar, tão pouco acautelado no calar; tão pouco regulado nos costumes, tão indiscreto nas ações; tão intemperante no comer e beber, tão surdo às vozes de Deus; tão pronto para o descanso, tão preguiçoso para o trabalho; tão desperto para ouvir contos e fábulas, tão sonolento para velar na oração; tão impaciente por chegar ao fim, e tão vago na atenção, tão negligente em rezar o ofício divino, tão tíbio em celebrar a missa, tão indevoto na comunhão; tão fácil em te distraíres, tão difícil em te recolheres, tão ligeiro em irar-te, tão fácil em admoestar os outros; tão precipitado em julgar, tão rigoroso em repreender; tão alegre na prosperidade, tão abatido na desgraça; tão fecundo em bons propósitos e tão estéril em boas obras…”(KEMPIS, T. A. Imitação de Cristo. Rio de Janeiro: Ediouro, 1968. Livro 4, Cap. VI)

A contrição nada mais é que o pesar pelo mal moral ou pecado cometido, com um propósito de não mais comete-lo. Se o motivo deste pesar nasce de um perfeito ato de amor a Deus, – que vem de um desejo sincero e absoluto de não fazer nem querer nada que seja contrário aos desejos de Deus -, temos perdoados além das faltas veniais as mortais, se unido a firme resolução de recorrer, logo que possível a confissão sacramental. Esta se chama, perfeita. (Cfr. Catecismo da Igreja Católica n. 1452)

Se o motivo, embora de ordem sobrenatural (da fé), é a vergonha do pecado ou o medo do castigo merecido, a contrição se chama Imperfeita ou atrição, mas contudo é suficiente para se ter os pecados perdoados mediante a confissão sacramental. “A contrição faz parte da matéria do Sacramento da Penitência, pelo que ele seria inválido se ao penitente de todo ela faltasse . São meios de excitar a contrição ou compuslsão do coração: a oração, a consideracão dos sofrimentos de Cristo e a prática voluntária da penitência. (FALCÃO, Manoel Franco – Enciclopédia Católica)

A contrição ou a dor autêntica passa por requisitos necessários que são em número de quatro: deve ser Interna, Sobrenatural, Suma e Universal. E ela deve estar no coração e na vontade, não somente em palavras. Devemos pois com toda sinceridade e muito coerentemente evitar tudo o que possa ofender a Deus, com ajuda de Sua Graça. A dor deve ser interna, porque a vontade, que se afastou de Deus com o pecado, deve voltar para Deus, detestando o pecado cometido e deve ser excitada em nós pela graça do Senhor, e a devemos conceber levados por motivos que procedem da fé.

”A penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para Deus de todo nosso coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal e repugnância as obras que cometemos. Ao mesmo tempo, é o desejo e a resolução de mudar de vida com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda de sua graça. Esta conversão do coração vem acompanhada de uma dor e uma tristeza salutares, chamadas pelos Padres de “animi cruciatus (aflição do espírito)”, “compunctio cordis (arrependimento do coração)” ( Catecismo da Igreja Católica n. 1431)

A dor deve ser sobrenatural, porque é sobrenatural o fim a que se dirige. Ela se eleva acima das considerações e motivos naturais, e se baseia na fé em algumas verdades que Deus ensinou como: o perdão de Deus, a aquisição da graça santificante e o direito à glória eterna. Quem se arrepende por ter ofendido a Deus infinitamente bom e digno por Si mesmo de ser amado, por ter perdido o Paraíso e merecido o inferno, ou então pela malícia intrínseca do pecado, tem dor sobrenatural, porque estes são os motivos fornecidos pela fé. Quem, ao contrário, se arrependesse só pela desonra ou castigo que lhe vem dos homens, ou por algum prejuízo puramente temporal, teria dor natural, porque se arrependeria só por motivos humanos.

A dor deve ser suma ou suprema, porque devemos considerar e odiar o pecado como o maior de todos os males, visto ser ofensa a Deus, sumo Bem; e não é necessário que materialmente se chore pela dor dos pecados; mas basta que no íntimo do coração se deplore mais ter ofendido a Deus, do que qualquer outra desgraça. Isto quer dizer que quando dizemos que arrependemos de nossos pecados estamos dispostos a fazer tudo, a sofrer qualquer coisa antes que ofende-lo outra vez, e sem se esquecer que nada se faz sozinho, mas sempre com a ajuda de Sua Graça. Tememos pecar outra vez e com toda certeza devemos desconfiar de nós mesmos e de nossa auto suficiência, o que requer uma humildade em reconhecer que somos fracos e podemos cair, se nos esquecermos de contar com a augusta graça de Deus. Temos portanto, que fazer tudo que esteja a nosso alcance e por isso devemos a todo custo evitar as tentações e seduções do pecado, do demônio e do mundo.

Ela também deve ser Universal, o que nos indica que temos que nos arrepender de todos os pecados mortais cometidos, sem exceção, porque um só dele nos afastaria de Deus definitivamente, já que nos fez perder a graça santificante, condição necessária para ser ver a Deus.

Para ter dor dos nossos pecados, devemos pedi-la, so Senhor, de todo o coração e excitá-la com a consideração do grande mal que fizemos, pecando. Para me excitar a detestar os pecados tenho que considerar o rigor da infinita justiça de Deus e a deformidade do pecado que enfeiou a minha alma, e me tornou merecedor das penas eternas do inferno; que perdi a graça, a amizade e a qualidade de filho de Deus, e a herança do Paraíso; que ofendi o meu Redentor que morreu por mim, que os meus pecados foram a causa da sua morte; e que desprezei o meu Criador, o meu Deus; que Lhe voltei as costas, a Ele, meu sumo Bem, digno de ser amado sobre todas as coisas, e servido fielmente. Com razão a bem-aventurança de ver a Deus é prometida aos corações puros. Pois os olhos imundos não podem ver o esplendor da verdadeira luz, será alegria das almas límpidas aquilo mesmo que será castigo dos corações impuros. Para longe então a fuligem das vaidades terrenas. Limpemos de toda a iniquidade suja os olhos interiores, e o olhar sereno se sacie de tão maravilhosa visão de Deus”. (São Leão Magno – Papa e Doutor da Igreja – Séc. V – AQUINO, Felipe – Alimento Sólido –Editora Canção Nova – Cachoeira Paulista, 2005 – 1@ Edição)

Jesus veio pra instaurar o Reino de Deus neste mundo, um Reino onde haverá espaço para aquele que luta para ser um bem aventurado; este chamado foi feito a todos aqueles que alcancem as disposições necessárias à voz de Cristo, que exige do homem uma mudança completa dos critérios humanos habituais e o chama a colocar acima de tudo os bens espirituais, sobrepondo os materiais, que se for apegado, só faz perder a vida. A honestidade para com Deus e consigo mesmo, unido a oração constante, vida regrada, santificada, com os sacramentos, são fundamentos para que nós nos aliemos à graça do Senhor, nos tornando este homem bem aventurado para o qual nós fomos chamados, e não somente a isso, mas o Senhor nos chamou a sermos perfeitos tal qual é perfeito nosso Pai criador e Senhor.

Vejamos o exemplo do rei Davi: ” Reconheço meu pecado! porque reconheço meu crime e meu pecado está sempre diante de mim. David não estava atento aos pecados alheios. Caía em si, não se desculpava, mas em si mesmo penetrava e descia cada vez mais profundamente. Não se poupava, e por isso podia confiadamente pedir o perdão. Assim devemos ser, cada um olhando para si mesmo e buscando o perdão de Deus através de um verdadeiro arrependimento. O Santo Concílio de Trento nos exorta a considerar aqueles clamores dos santos: “Sempre pequei contra Ti, e em Tua presença cometi minhas culpas, estive oprimido no meio de meus gemidos, regarei com minhas lágrimas, todas as noites, o meu leito. Repassarei em Tua presença com a amargura de minha alma todo o transcurso de minha vida”, e outros clamores da mesma espécie, compreenderá facilmente que emanaram todos estes de um ódio veemente da vida passada e de uma abominação muito grande dos pecados. O bem aventurado há de ser humilde e totalmente verdadeiro, reconhecendo sua indigência diante de Deus Santíssimo, porque sabe que não pode confiar nos méritos próprios e confia só na misericórdia de Deus e há de ser também um homem que chora pelos seus pecados e arrependido busca a fonte da graça que está no Sacramento da Igreja.

A humilde contrição é amiga dos santos e para aqueles que a cultivam o mundo inteiro se torna um grande fardo; grande e amargo. Ver a Deus, ser de Deus e fazer Sua vontade, é tudo que lhe agrada. Com ela e por ela, chegamos ao coração do Pai, que não resiste a docilidade de seus filhos, Ele que quer lhes dar nada mais que o céu. E quanto nos ajuda os irmãos que nos amam, quando por algum motivo nos repreende, para nosso bem e nos a levam a contrição, isto não poderá nunca rejeitar aquele que quer de fato ser filho de Deus em palavras e em atos. É certo que de início, doi a alma pela repreensão recebida, mas quanto mais queremos ser santos, tanto mais aprenderemos a aceita-la, para nosso bem e nossa salvação. Nos diz Santo Agostinho, Santo e doutor da Igreja: “Costuma acontecer e acontece com frequência, que o irmão se entristece de momento quando o repreendem, e resiste e discute. Mas logo reflete em silêncio, sem outra testemunha que não seja Deus e a sua consciência, e não teme desgostar os homens por ter sido corrigido, mas teme desagradar a Deus por não emendar. E então, já não volta a fazer aquilo pelo que o corrigiram, e quando mais odeia o seu pecado, mais ama o irmão, por ter sido inimigo do seu pecado” (Epístola .210,2 – Bíblia de Navarra – II Cor 7, 5-15 – p. 1021)

Cuidemos de não esmorecer na busca de um coração contrito, pois os dias são maus e o pecado continua seduzindo os homens. Saiba que nos últimos tempos, como alertou São Paulo a Timóteo (II Tim 3,1-5) e agora também a nós, que haveria um periodo difícil, porque os homens se tornariam egoístas, avarentos, fanfarrões, soberbos, rebeldes aos pais, ingratos, malvados, desalmados, desleais, caluniadores, devassos, cruéis, inimigos dos bons, traidores, insolentes, cegos de orgulho, amigos dos prazeres e não de Deus, ostentarão a aparência de piedade, mas desdenharào a realidade. Desta gente afasta-se! Por isso, ninguém deliberadamente para sua ruína, rejeite a graça que tão amorosamente o Senhor nos tem dado, e para quem ache isso difícil de acontecer este esmorecer no meio do caminho, também nos ensina São Tomás de Aquino, mestre e doutor da Igreja de Cristo: “Devemos notar que, embora um homem seja incapaz de, pelo movimento do seu livre-arbítrio, merecer ou adquirir a graça divina, ele pode no entanto impedir-se de a receber. Porque está escrito de alguns que disseram (Job 21, 14) “Afasta-te de nós, não desejamos o conhecimento dos Teus caminhos” e (Job 24, 13) “Eles aborrecem a luz”. E como está no poder da vontade livre impedir ou não impedir a recepção da graça divina, aquele que coloca um obstáculo no caminho da recepção da graça é merecedor de censura. Porque Deus, pelo seu lado, está preparado para dar a graça a todos, porque Ele quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (1Tim 2, 4). Mas só são privados da graça aqueles que colocam a si mesmos obstáculos à graça. Assim também, aquele que fecha os olhos quando o sol brilha é censurado se ocorre um acidente, embora ele só seja capaz de ver porque a luz do sol lho permite (Suma Contra os Gentios de Santo Tomás de Aquino – Graça, Liberdade e Mérito: III, 159) – Da Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino – Liberdade e Lei Divina.

Cuidemos que ninguém perca esta eleição de filhos que somos, busquemos a Deus enquanto Ele tem se deixado encontrar, O procuremos enquanto está perto e que seja nossa meta tudo que nos pediu o Apóstolo São Paulo: “Tudo que é verdadeiro, tudo que é honesto, tudo que é justo, tudo que é puro, tudo que é amável, tudo que é de boa fama, tudo que é virtuoso e louvável, é o que deveis ter em mente”(Fil. 4,8). Por fim, olhai para Cristo, o Cordeiro que nos diz: “Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em Mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem, Eu venci o mundo!” (Jo 16,33). Saibamos com toda certeza, que o Espírito de Deus consolará com paz e alegria, mesmo neste mundo, os que choram os pecados, e depois participarão da plenitude da felicidade e da glória do céu: esses são os bem aventurados, da qual nós somos chamados. Apaixonemo-nos pelo que Deus ama e desprezemos o que Deus despreza.

Ato de Contrição (Segundo Catecismo de São Pio X)

Meu Senhor Jesus Cristo,

Deus e homem verdadeiro,

Criador, Pai e Redentor meu,

Por ser Vós quem sois e

porque Vos amo sobre todas as coisas,

pesa-me de todo o meu coração de Vos ter ofendido,

proponho firmemente a emenda de minha vida

para nunca mais pecar,

apartar-me de todas ocasiões de ofender-Vos,

confessar-me e cumprir a penitência que me foi imposta.

Vos ofereço, Senhor minha vida,

obras, e trabalhos em satisfação de todos os meus pecados

e assim como Vos suplico,

assim confio em Vossa bondade e misericórdia infinitas

que Mos perdoareis pelos méritos de Vosso preciosíssimo sangue,

paixão e morte e me dareis graça para emendar-me e perseverar

em Vosso santo serviço até o fim de minha vida.

Amém.

”Fui Eu quem fez o universo, e tudo Me pertence, declara o Senhor E o angustiado que atrai Meus olhares, o coração contrito que teme Minha palavra”(Isaías 66,2)

Fonte: Sociedade Católica.

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