38: a moralidade do ato humano

Fonte: Livro “Curso de Catequesis” do Editorial Palavra, España

Traduzido por Pe. Antônio Carlos Rossi Keller

INTRODUÇÃO:

A categoria singular do ser humano ? que lhe distingue e eleva acima dos outros seres da criação visível – está radicada no fato de que está dotado de inteligência e de vontade ? criado à imagem e semelhança de Deus ? com liberdade para tomar decisões. Mas, sendo criatura, sua liberdade deve estar harmonizada com a a de Deus e a de seus semelhantes. Isto é o que fazem os mandamentos, que são caminhos de liberdade, colocando ordem no exercício da liberdade da criatura, de modo que seja verdadeira liberdade, harmonizada e concertada com a liberdade dos demais.

Conseqüentemente, se existe um mandamento legítimo, o ser humano tem a obrigação de cumpri-lo e não é moralmente livre, mesmo que seja possuidor de liberdade psicológica e física; se não existe mandamento, é muito livre de tomar a decisão que desejar. Assim, o ser humano tem que educar sua liberdade para utiliza-la corretamente; quer dizer, tem que agir como ser humano, exercitando a inteligência e a vontade, mas referidas a uma norma objetiva e transcendente que dirige e regula sua conduta.

A moralidade, pois, é uma qualidade do ato humano livremente exercido; e será positiva ? boa ? se puder ajustar-se à norma que o ordena como ser racional; será negativa ? má ? se atua irracionalmente contra a norma.

IDÉIAS PRINCIPAIS:

1. Fontes da moralidade

Na experiência mais elementar do ser humano se produz um fenômeno que convém

assinalar: sabe que faz o bem ou que age mal, que suas ações são boas ou más. Como é capaz de saber isso? É sua consciência quem o diz, essa voz interior que avisa: é preciso fazer o bem e evitar o mal. Mas a consciência não faz mais que traduzir a convicção prévia de uma lei que temos gravada profundamente, à qual devemos nos submeter; de modo que, se agimos de acordo com ela, agimos bem; e se a contradizemos, agimos mal.

Com a finalidade de ter em mãos um critério claro e simples, os autores consideram que a moralidade depende do objeto, o fim e as circunstâncias:

a) O objeto escolhido, que é o bem para o qual tende a vontade, podendo dizer-se que é a matéria do ato humano. É que há coisas que são boas por si mesmas e coisas que são más por si mesmas, ou seja, sempre. Por exemplo, tirar a vida a um inocente sempre será um crime, mesmo quando se queira dissimular com eufemismos hipócritas; pelo contrário, adorar a Deus é um ato humano bom em si mesmo.

b) O fim ou a intenção do ato pode modificar a moralidade, porque a ação boa em si, mas realizada com má intenção perverte aquela ação e a converte em má, como sentencia o princípio que diz "o fim justifica os meios".

c) As circunstâncias, por último, também influem na moralidade agravando ou diminuindo a qualidade boa ou má de um ato; e afirmando com claridade que o que é mau não pode voltar a ser bom, sejam quais forem as circunstâncias.

Portanto, para que um ato seja moralmente bom é preciso que seja bom o objeto, o fim e as circunstâncias; se é má alguma destas três coisas, o ato é mau. Erraria, pois, quem julgasse da moralidade dos atos humanos considerando tão somente a intenção que os inspira, ou as circunstâncias (ambiente, pressão social, coação ou necessidade de agir, etc..). Há atos que ? por si e em si, independentemente das circunstâncias e da intenção ? são gravemente ilícitos por razão de seu objeto; por isso a moral afirma rotundamente que nunca está permitido fazer o mal para se obter um bem.

2. Moralidade das paixões

No ser humano existe ainda uma série de impulsos, tendências, afetos e sentimentos, que

são conhecidos pelo termo "paixões", reconhecidas como forças que Deus colocou na natureza humana e que nos movem a agir. Como conseqüência do pecado original, estas forças estão desordenadas e provocam tensão no ser humano, mas é indubitável sua utilidade quando se consegue controla-las. São como a água: represada e dirigida é fonte de vida e de energia; se rompe a represa, provoca a catástrofe.

O amor e o ódio, o desejo e o temor, a alegria, a tristeza e a ira, são as paixões principais. As paixões de per si não são boas nem más, mas o são na medida em que dependem da razão e da vontade e impulsionam a agir bem ou mal. Assim, as paixões são moralmente boas quando contribuem a uma ação boa, e são moralmente más se puxam a agir mal. As paixões podem ser assumidas nas virtudes e pervertidas nos vícios.

3. Atuar sempre de frente a Deus

Não é fácil dominar as paixões, submetendo-as à razão com uma liberdade forte e

ordenada, mas é necessário faze-lo se queremos viver com a dignidade que comporta a condição humana e sobretudo a dignidade de cristãos, que se sabem filhos de Deus. Faz falta querer e lutar, e é necessário, antes de tudo, a graça de Deus, que o Espírito Santo proporciona em abundância aos que a pedem. Assim, é possível conseguir que nosso comportamento ? todos os atos ? seja bom porque o objeto, o fim e as circunstâncias sejam bons, apesar das paixões, ou melhor, dominando as paixões e não deixando-nos arrastar por elas.

Uma recomendação de Santo Agostinho ? recolhida no Concílio de Trento ? pode nos animar na luta contra as paixões para aproveita-las na direção da Providência: "Deus não manda coisas impossíveis, mas, quando manda algo, te adverte que faças o que possas, que peças o que não possas, e te ajudará para que possas".

Então, o Espírito Santo ajuda para que todo o nosso ser ? incluídos os temores, as dores e tristezas, como aparece na agonia e paixão de Cristo ? sejam para Deus. Quando se vive em Cristo, os sentimentos humanos podem alcançar sua consumação na caridade.

4. PROPÓSITOS DE VIDA CRISTÃ:

· Na dúvida de que se esteja ou não agindo bem, perguntar-se se o objeto, o fim e as circunstâncias são bons.

· Em certas ocasiões, é necessário ser heróis para agir bem, sem nos deixar levar pelas circunstâncias e o ambiente, que nunca justificam uma conduta imoral.

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