Uma só é a Igreja de Cristo: “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18), assim como um só é o sacramento do altar: “O pão que partimos não é a comunhão com o corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão…” (1Cor 10,16-17).
O objetivo deste pequeno artigo é provar apenas pela Bíblia (método “Sola Scriptura” dos protestantes) a presença real e verdadeira do corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus na Eucaristia, uma vez que tal verdade é negada, justamente por eles.
O objetivo secundário – como se verá – é demonstrar que o protestantismo, mesmo quando usa seus métodos da Sola Scriptura e livre exame da Bíblia, escorrega grosseiramente em temas doutrinais vitais que a Escritura apresenta com clareza tropical.
Todos os argumentos aqui aduzidos serão exarados unicamente da Sagrada Escritura.
Como introdução, podemos dizer que alma de nossa santa religião é a Eucaristia, ou seja, que Nosso Senhor Jesus Cristo está presente total e verdadeiramente sob as aparências eucarísticas do pão e vinho. Portanto o Cristo Eucarístico guardado nos santos tabernáculos deve ser por nós adorado, amado e consolado.
Pois bem, os protestantes ensinam que na Eucaristia (“Ceia do Senhor”) não se encontra verdadeiramente Jesus Cristo. Mas, segundo eles, a Eucaristia seria apenas um “símbolo”, uma “imagem figurada”, uma “lembrança” do corpo de Cristo. Portanto Jesus não pode ser adorado na hóstia santa porque ele ali não estaria presente verdadeiramente. Por isso consideram a adoração eucarística tributada pelos católicos uma verdadeira idolatria.
Muitas pessoas, por não conhecerem a Bíblia, são levados a aceitar este tipo de opinião. Para esclarecer dúvidas, neste pequeno trabalho apresentaremos – se Deus nos consentir – de forma simples, os trechos bíblicos e alguns comentários sobre a presença real de Jesus Cristo na Sagrada Eucaristia, conforme nos ensinaram o próprio Senhor Jesus e seus Apóstolos:
No Evangelho Jesus ensina às multidões: “Quem come minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6, 56 ). Ensina claramente que para permanecermos Nele (e Ele em nós), devemos nos alimentar literalmente de sua carne e de seu sangue. Como pode, porém, o cristão se alimentar da carne e do sangue de Jesus Cristo? Ele estaria falando de forma simbólica ou literal? “Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue verdadeiramente uma bebida” (Jo 6,55). Aí está. A sua carne é verdadeiramente uma comida, logo, não pode ser “simbolicamente” uma comida. Os Judeus, que naquele momento estavam ouvindo o ensinamento de Jesus entenderam muito bem que Jesus estava falando literalmente de seu corpo e sangue físico, pois exclamaram admirados: “Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?” (Jo 6,52). Os seus próprios Apóstolos também entenderam que Cristo não estava falando em linguagem figurada, pois comentaram entre si: “Essa palavra é dura! Quem pode escutá-la?” (Jo 6,60).
A declaração de que nos daria em alimento seu próprio corpo e sangue causou muita admiração e assustou muito os seguidores de Cristo, por este motivo “muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele” (Jo 6,66). Quem afirmar que Jesus nestes trechos do evangelho estava falando apenas de maneira figurada, está indelicadamente afirmando que Jesus não sabia se expressar direito, pois todos os seus ouvintes, pelas suas reações, entenderam que ele estava falando de maneira literal.
Para que ninguém ainda tivesse dúvidas a respeito deste ensinamento, Jesus também declarou: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu hei de dar é a minha carne para a salvação do mundo” (Jo 6,51). Ele é o pão da vida que desceu dos céus, como outrora o maná no deserto (Ex 16,15). Afirma que este pão descido dos céus é a sua carne. Afirma que esta carne, será dada (instituída mais tarde) em alimento para a salvação do mundo (para todos os homens e para todos os tempos).
A respeito da Santa Eucaristia, Jesus Cristo também ensinou: “É necessário que vos empenheis não para obter esse alimento perecível (o pão comum), mas o alimento que permanece para a vida eterna (a Eucaristia), o qual o filho do homem vos dará (instituirá mais tarde)” (Jo 6,27). Ou seja, é importante trabalhar para obter o pão de cada dia. Mas é mais necessário dar importância ao pão eucarístico, porque este produz fruto “para a vida eterna”.
Na Quinta Feira Santa, segundo São Mateus, disse o Senhor Jesus: “Tomai e comei isto é o meu corpo (…) isto é o meu sangue” (Mt 26,26-28); Marcos narra em seu evangelho: “Isto é o meu corpo (…) isto é o meu sangue” (Mc 14,22-24); Lucas, não destoa dos outros: “Isto é o meu corpo (…) este cálice é a nova aliança em meu sangue” (Lc 22,19-20); Em nenhum lugar Jesus diz que aquele “pão” e aquele “vinho” são um símbolo, ou uma representação figurada do seu corpo e sangue. Mas afirma repetidamente: “isto é o meu corpo…isto é o meu sangue”. O apóstolo São Paulo escrevendo aos católicos de Corínto ensina a mesmíssima coisa. Escreve ele que o Senhor Jesus na última ceia disse: “Isto é o meu corpo (…) este cálice é a nova aliança no meu sangue” (1Cor 11,24-25). Pode-se ler estas palavras em qualquer Bíblia, em qualquer língua, em qualquer lugar. O mesmo apóstolo, na mesma epístola, confirma o que todos os cristãos já naquele tempo acreditavam. Escreve ele: “O cálice que tomamos não é a comunhão com o sangue de Cristo? O pão (…) não é a comunhão com o corpo de Cristo?” (1Cor 10,16). Ele não diz: “O cálice que tomamos não é uma “lembrança” do sangue de Cristo?”. Mas sim: o cálice que tomamos “É” a comunhão com o sangue de Cristo. E mais adiante exorta os fiéis que com pouca fé na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia, tomavam-na sem se prepararem adequadamente: “Cada um, portanto, se examine antes de comer desse pão e beber deste cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir (sem reconhecer) o corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação. Eis porque há entre vós tantos doentes e aleijados, e vários morreram” (1Cor 11,28-30). Ensina claramente nestes versículos, que aquele que não discerne (não reconhece) a presença real de Jesus Cristo sob as espécies de pão e vinho, acaba por comer indignamente da Eucaristia. E afirma que, como conseqüência do pecado de não reconhecer (não discernir) o Corpo de Cristo na Eucaristia e comungar indignamente, muitos estão doentes e até mesmo morreram na comunidade de Corinto. Não se entenderia esta veemência e santo temor do apóstolo São Paulo sobre a dignidade da Eucaristia, se a mesma fosse apenas uma “lembrança”, um “símbolo”, uma “representação figurada” do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. Porque, cargas d’àgua, o Senhor Deus fulminaria com doenças e paralisias e mesmo com a morte, um pobre e distraído fiel que despreparadamente consumia um pedaço de pão, se este fosse apenas uma “lembrança” do corpo de Cristo?
Mas, a esta altura, talvez um curioso leitor esteja se perguntando: em meio à tantas declarações claras das Escrituras a respeito da presença real, porque os protestantes que propagandeiam tão ruidosamente o princípio da Sola Scriptura insistem em descrer que Cristo esteja presente literalmente na Sagrada Eucaristia? Mas isto tem uma explicação psicológica interessantíssima: a Eucaristia e o Sacerdócio tem uma interdependência verdadeiramente admirável. Celebra a Eucaristia o Sacerdote legitimamente ungido para isto. O Sacerdócio por sua vez não tem razão de ser, se não se celebra o Sacrifício Eucarístico. Portanto, os protestantes ao se desligarem do sacerdócio católico, inconscientemente sentem que não tem autoridade para celebrar eficazmente a Eucaristia. O sacerdócio católico está diretamente ligado à Eucaristia. Portanto, quem nega a eficácia do sacerdócio, também se vê obrigado a negar a existência da presença real.
Fato admirável: em nenhum versículo de toda a Sagrada Escritura a Eucaristia nos é apresentada como um “símbolo”. Fato mais admirável ainda: todos os documentos que nos chegaram da antigüidade cristã, bem como os escritos dos Santos Padres atestam a perenidade da doutrina que afirma a presença real de Cristo na Eucaristia. Esta é a verdadeira doutrina ensinada por Jesus e pelos apóstolos e acolhida pela Igreja Católica há vinte séculos.
A advertência é seríssima: “Se não comerdes a carne do filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53).
Agora finalizando… um convite para todos os católicos: aprendam sobre a sua Igreja, nunca se cansem de conhecê-la. Pois só se ama o que se conhece. E conhecendo-a, verás como teu amor por ela se inflama indefinidamente. Não se deixem levar por qualquer palrador. Pesquisem a fé dos antigos cristãos, e vejam se esta não é a fé da Igreja de hoje.
Descubram admirados, o que descobriu o célebre historiador inglês (não católico) GIBBON: “Foi-me impossível resistir ao peso da evidência histórica que mostra como em todo o período dos quatro primeiros séculos da Igreja, já eram admitidos, em teoria e em prática, os pontos principais das doutrinas do Papado” ( cf.: E. GIBBON, “Memoirs of my life and writings” na “Miscellaneous Works of E. Gibbon”, Londres, 1837, pp 28-29).
Contemple também, caro irmão, a babel que se tornou o protestantismo: 20.000 seitas só nas Américas! Todo dia proliferam, qual cogumelos após às chuvas, por todos os lados. Lutero, Calvino & cia., ao advogar o livre exame (ou seja cada crente é suficiente e “iluminado” para interpretar livremente a Bíblia, e daí retirar a doutrina que achar mais plausível) e o princípio da Sola Scriptura (somente a Bíblia é suficiente para ditar normas doutrinárias e morais), desmoronaram toda certeza a respeito da Eucaristia e outras certezas doutrinárias. Vivemos para testemunhar o cumprimento da profecia: “Haverá entre vós falsos doutores, que introduzirão disfarçadamente seitas perniciosas” (2Ped 2,1).
O próprio Lutero, muitos anos após iniciar sua heresia, reconhecia num momento de lucidez: “Devemos confessar a verdade: no papismo encontra-se a palavra de Deus, a missão apostólica, o verdadeiro batismo, o verdadeiro sacramento do altar, as verdadeiras chaves para a remissão dos pecados, o verdadeiro catecismo… E quanto à Sagrada Escritura e ao púlpito, é dos papistas que as tomamos; sem o papismo que saberíamos nós?” (cf.: Tomo IV, p. 227, b.ed. De Wittemb, 1551).