Somente Jesus é norma absoluta para seus discípulos. “Não existe discípulos superior ao mestre:” Quem toma por modelo Jesus Cristo não é um cego que guia outro cego. Termina por Cair no abismo.
No século que passou não foram poucos os cristãos que preferiam à mensagem do Evangelho as ideologias destruidoras da pessoa humana. Preferiam as trevas à luz. Deveriam ter uma posição critica diante das ideologias, no entanto, se deixarem envolver cegamente por elas. Chegaram até a ler o Evangelho à luz de visões parciais e deformadoras do homem, da sociedade e do mundo.
No deserto, durante quarenta dias, Jesus se deixa tentar pelo demônio. Prelúdio de sua paixão, quando será vítima não só de judeus hostis, mas do próprio príncipe das trevas.
A primeira tentação: “Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão”. Um desafio ao poder miraculoso de Jesus. Um desafio Àquele que no batismo por João é proclamado o Filho de Deus. Jesus replica ao Tentador com as palavras do Deuteronômio: “Não só de pão vive o homem”
Tentação sempre presente na vida da Igreja e dos cristãos, ao quererem fundar a fé no fato extraordinário e não na obediência à palavra de Deus em seu Filho Jesus Cristo. Mas, crer não é ver através do maravilhoso. É, sim, aceitar, sem ver, a revelação divina.
A segunda tentação: “Eu te darei todo este poder com a glória destes reinos, porque ela me foi entregue e eu a dou a quem quiser”. Trata-se de um poder de natureza política, o qual para Lucas provém do príncipe deste mundo. Jesus responde, no entanto, baseado também no livro do Deuteronômio: “Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a Ele prestarás culto”.
A tentação do poder chega ao extremo de a ele tudo sacrificar-se: a dignidade da pessoa, o bem comum de um povo, os direitos dos outros. É tão cega quanto a paixão sensual.
Ao repelir esta tentação, Jesus nos convida a usar o poder como serviço e não como domínio ou um lugar de privilégios e vantagens.
A terceira tentação se deu, ao ser transportado para o cimo do Templo. “Se és o Filho de Deus, atira-te para baixo”. É ainda um apelo ao milagre, o qual seria utilizado para um fim terreno e pessoal: salvar fisicamente a vida de Jesus. Mas, este responde ao demônio com as palavras do Deuteronômio: “Não tentarás ao Senhor teu Deus”.
A tentação de provar a divindade de Jesus, a autenticidade divina de sua mensagem, desafiando o poder de Deus. É sempre a recusa da fé, que não é evidenciada, mas aceitação da palavra de Deus.
Jesus recusa as tentações do demônio, porque procuram desviá-lo de sua missão: salvar o homem pecador, não por meios ricos e poderosos, mas por meios pobres e o caminho da cruz.
As três tentações são as três paixões humanas: ter, poder e valer. Paixões que levam à avareza, à tirania e à vanglória. Ao passo que o homem novo do Evangelho, ao qual nos convida o tempo da quaresma, é desprendimento, serviço e humildade.
Dom José Freire Falcão
Comentários VS :
O objetivo de Satanás é o de impedir que o Cristo inicie sua missão salvífica, mantendo – assim – a humanidade sob seu domínio – morta no pecado original, apartada da graça de Deus e da vida eterna.
As tentações sofridas pelo Cristo no deserto prefiguram as tentações que Jesus Cristo sofrerá ao longo de missão, até o momento derradeiro da morte redentora na Cruz.(ENJ)