Biografia de S. Teófilo de Antioquia

Vida

Estamos diante do ao último apologista de renome do século II e o único, dentre eles, elevado ao episcopado.

Eusébio de Cesaréia nos informa que “da Igreja de Antioquia, Teófilo é conhecido como o sexto bispo depois dos apóstolos” (HE, IV,20).

Seus dados biográficos são pouco conhecidos. É em sua obra “A Autólico” que podemos respigar algumas informações. Originário da Síria ou Assíria, sua terra natal situa-se entre os rios Tigre e Eufrates. Falando dos rios que nasciam ou passavam pelo Éden, diz: “Quanto aos outros dois rios, os chamados Tigre e Eufrates, são bem conhecidos entre nós, pois correm perto de nossas regiões” (A Aut. 2,24). Sua cultura revela que recebera excelente educação grega. Sua família era pagã. Converteu-se ao cristianis mo já adulto, através da leitura dos profetas, especialmente. Exortando seu interlocutor Autólico a crer, revela Teófilo o processo de sua conversão: “Eu também não acreditava que isso existisse, mas agora, depois de refletir muito, eu creio; ao mesmo tempo, li as Sagradas Escrituras dos santos profetas, os quais inspirados pelo Espírito de Deus, predisseram o passado como aconteceu, o presente tal como acontece e o futuro tal como se cumprirá. Por isso, tendo a prova das coisas acontecidas depois de terem sido preditas não sou incrédulo, mas creio e obedeço a Deus” (1,4). Nada sabemos de sua morte ou de outras circunstâncias de sua vida. Sabemos apenas que por volta de 169-170, já era bispo de Antioquia.

Obra

Temos de Teófilo apenas os três livros A Aut6lico. Mas, sua produção literária parece ter sido bem mais vasta a dar crédito aos testemunhos da antiguidade. Eusébio de Cesaréia, por exemplo, afirma que “De Teófilo que citamos como bispo de Antioquia, possuímos três livros elementares A Autólico e outro intitulado Contra a heresia de Hermógenes, no qual utiliza testemunhos tira- das do Apocalipse de João. Possuímos ainda outros livros catequéticos. Como também naquele tempo, os hereges corrompiam não menos que em outros tempos, como a zizânia, a semente pura do ensinamento apostólico, os pastores da Igreja procuravam afastá-los, por toda parte, das ovelhas de Cristo, como feras selvagens, afastando-as tanto por meio de advertências e de exortações dirigidas aos irmãos, como lutando abertamente contra eles por meio de questões e de refutações orais, face a face, ou então refutando suas opiniões por provas bem precisas por meio de memórias escritas. Teófilo combateu, ao mesmo tempo que os outros, contra os heréticos, como demonstra um trabalho de grande valor composto por ele Contra Marcião. Esta obra foi conservada até o presente com os outros livros dos quais falamos” (HE, IV,24).

Os historiadores desse período costumam invocar, entre outros, também o testemunho de S. Jerônimo. De fato, no seu De viris illustribus 25, acrescenta algumas informações além das de Eusébio que merecem ser explicitadas aqui: “Teófilo, sexto bispo da Igreja de Antioquia, compôs sob o imperador Marco Aurélio Vero um livro Contra Marcião, que até hoje existe. Correm, também seus três volumes A Autólico e um livro Contra a heresia de Hermógenes, e outros breves e elegantes tratados que edificam a Igreja. Li de sua autoria uns comentários ao Evangelho e aos Provérbios de Salomão, que não me parecem afinados com a elegância e estilo dos volumes anteriores”. Além disso parece ter escrito uma obra apologética Sobre as origens da humanidade segundo a Bíblia e a mitologia.

Escritor de cultura variada, de estilo elegante, ordeiro e claro, não parece, contudo, ser original. Os analisadores de sua obra têm, de fato, avaliações contraditórias. A. Puech, por exemplo, tem sobre ele um juízo severo:” A obra de Teófilo não tem senão um valor medíocre, e se julgou quase sempre, quando se tratava de seus antecessores, que os juízos de Geffeken precisavam de uma contra-partida, não sinto tentação alguma de defender contra ele este charlatão superficial em quem o estilo e o vocabulário rivalizam em pobreza com o pensamento”!. G. Bardy faz- lhe alguns elogios enquanto bispo que tenta defender seu rebanho, não é menos severo quanto ao escritor. Depois de mencionar sua educação um tanto refinada, de levantar os nomes de poetas, trágicos e filósofos citados por Teófilo, diz: “Todavia, esta amostragem de erudição não deve nos impressionar além da medida. O bispo de Antioquia não leu a maioria dos autores dos quais fala e não os conhece senão por intermédio dos florilégios. Quando ele multiplica, segundo o costume de seu tempo, as citações dos poetas, os textos que retoma são daqueles que se encontravam em toda parte; não foi ele quem os reuniu e seu papel não ultrapassa, em semelhante caso, àquele de um humilde copista. Foi, é verdade, acusado de não ter nem mesmo sido capaz de copiar sempre bem suas fontes (…). De qualquer maneira, Teófilo está longe de ter a curiosidade simpática e inteligência de Justino ou de Atenágoras, por exemplo, pelas ciências e pela filosofia profana. (…)

Ele não conhece os sobressaltos da indignação, os elãs do entusiasmo, e vigor lúcido que inspira por vezes o amor da verdade”(2).

Cabe, todavia, ao leitor moderno retomar esta apologia e tentar compreendê-la em seu contexto e fazer seu próprio julgamento. Entre outros pontos, o leitor encontrará, pela primeira vez, o emprego do termo trías para designar Deus. J. Lebreton, estudando na apologia de Teófilo as referências ao dogma da Trindade, afirma: “Estes textos interessam à história da teologia; aqui aparece pela primeira vez a palavra trías, pela primeira vez também os dois termos técnicos de Verbo interior (Lógos endiáthetos) e proferido (Lógos profhorikós). Estas expressões vêm da psicologia estóica. Ao aplicá-las ao Verbo divino, Teófilo dá-lhes um valor novo. Não se pode dizer, contudo, que tenha feito avançar por isso a teologia; criou-lhe antes um tropeço. Por esta mesma data, S. Ireneu já repudiava estas explicações psicológicas, e mais tarde, na época das lutas antiarinas, esta distinção do Verbo interior e do Verbo proferido, será definitivamente proscrita. É curioso ressaltar esta influência estóica num escritor tão hostil a toda filosofia. Esta passagem nos mostra, uma vez mais que, contra as seduções da opinião pagã, a hostilidade e o desdém não constituem a melhor salvaguarda”(3).

(1) A. PUECH, Les apologistes grecs (séc.ll), p. 210.

(2) G. BARDY, Théophile D’Antioche. Trois Livres A Autolycus, p. 10-12.

(3) Histoire du dogme de la Trinité, v. II, p. 510.

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