Inquietudes e esperanças políticas

Grandes forças, veículos de interesses opostos ou de opostas ambições vêm à tona de uma maneira vigorosa, sobretudo, em época eleitoral.
No torvelinho de fatos que se sucedem e por entre a turbulência que se instala, se perde um instante precioso para que o objeto mesmo da política esteja na crista das preocupações de cada cidadão. Este é um tempo favorável para uma interpretação e reinterpretação do Estado, que é a realidade em que cada um vive, estando como que submergido no mesmo. Uma reflexão profunda sobre este organismo formaria um espírito cívico que levaria o indivíduo, no gozo dos direitos civis e políticos, a se tornar profundamente cônscio de suas responsabilidades políticas.

Trata-se, em última análise, de perceber ao vivo os efeitos da ação irresistível e inevitável da Nação politicamente organizada, a qual é constituída por seres humanos racionais, mas tantas vezes transformados numa massa informe.
Ser intérprete do Estado, ideal sublime que fica obnubilado por entre as lutas partidárias, impedindo uma visão clara da missão social do indivíduo. Entretanto, não se pode falar de realidade política, dando a este termo a plenitude de seu valor, a não ser em um contexto no qual na periferia e no centro das preocupações populares se ofereçam elementos consistentes que entusiasmem a todos para a busca do desenvolvimento e de uma partilha justa do bem comum.

Diante daqueles que vão exercer o dever do voto a realidade política se apresenta agitada e confusa, trabalhada por internas e visíveis correntes de interesses e aspirações de prepotência.

Autênticos líderes deveriam suscitar novas forças sociais, regular novas palpitações de intenso interesse por transformações viáveis, satisfazendo as aspirações, por vezes tão indefinidas, de um povo sofredor, mas indômito, que ostenta tantas virtualidades que ficam reféns da dominação de alguns. Não se trata, é claro, de se formar uma geração entusiástica, mas ingênua em seus arroubos românticos, mas, geração que tenha certeza absoluta que é possível “uma terra sem males”.

Aterroriza, porém, a população o fluir de desconcertantes e descompostas atitudes de certos políticos que vivem em função de slogans inconsistentes. As classes sociais desfavorecidas, deserdadas, clamam por justiça social por entre a opressão exercida pelos donos do poder. As classes ricas, detentoras de recursos, filhas mimadas do neoliberalismo, herdeiras diretas da burguesia utilitária têm pavor do triunfo de qualquer movimento que apresente vestígio de povo.

Incapacitados para o culto sereno e desinteressado da verdade muitos têm uma verdadeira alergia para as mudanças, denominando aventureiros os que almejam uma pátria diferente. Esta é a hora do homem brasileiro demonstrar sabedoria, não se deixando enganar.

Existe de fato uma elite, cujos membros são incapazes de sentir as nobres angústias daqueles que estão aquém da linha da pobreza. Lançam, então, promessas que nunca são cumpridas num discurso dogmático e tranqüilizador, cômodo, que lhes permite transmitir meias verdades, relativas, instrumentais, mas com a argúcia própria dos sofistas, alcançando vitórias que só servem para martirizar ainda mais os que se acham nas trevas do sofrimento. O verdadeiro político deve ser, sito sim, um educador, um guia, se colocando nas regiões serenas onde se estime, mais que o bem estar, a liberdade, condição essencial para que o bem estar não seja se contentar com um injusto salário mínimo, por entre as dores de se contemplar milhões que nem esta minguada remuneração de seu trabalho possuem, mesmo porque, além do mais, muitos nem trabalho têm.

Ao cientista político cabe dar mais profundidade às questões que emergem das inquietudes esperanças do povo que vai chegando no limite de sua capacidade de tolerância diante de tantos paradoxos que marcam a história do Brasil de hoje.

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