Os Sete Sacramentos

Etimologia: A palavra sacramento tem origem no termo latino sacramentum que corresponde ao termo grego mystêrion. Mystêrion não tem a conotação de mistério, no sentido de misterioso ou segredo. Seu sentido é oculto, inefável, grandioso, incompreensível. O plural de mystêrion é mystêria. Por isso, a Santa Igreja Católica também chama os sacramentos de Santos Mistérios.

O termo sacramentum é formado por dois outros termos: a) sacra: significa sagrado ou santo; b) mentum: de memorale, memória não no sentido de lembrança, mas de tornar novamente presente, repetido.

Significados:

1. Sentido profano (cf. Cat Rom II,I,II-1): Diga-se, pois, aos fiéis que os escritores profanos empregavam o termo “sacramento” noutro sentido que os escritores eclesiásticos. Aqueles o tomavam para designar a obrigação de quem jura prestar algum serviço. Por isso, chamava-se “compromisso militar” o juramento, pelo qual os soldados se comprometiam a servir fielmente ao Estado. Esta parece ter sido entre os profanos, a significação mais comum da palavra.

“O plural mystêria designou, desde cerca do século VII, para os gregos e no Oriente helenizado, cultos secretos ao lado da religião geralmente seguida. Praticados em pequenos grupos de iniciados, oferecem, mediante participação existencial ritual no destino dos deuses, comunhão na sua vida, fecundidade, felicidade e salvação”. (verb Sacramento; O termo grego. Dicionário de Conceitos Fundamentais de Teologia. São Paulo: Editora Paulus, 2005. 2ª edição. Pg 801).

2. Sentido religioso genérico (cf. Cat Rom II,I,II-2): “Mas os Padres Latinos usavam em seus escritos a noção ‘sacramento’, para designar coisa sagrada, que se oculta ao olhar; corresponde este sentido ao que os Padres Gregos exprimiam com o termo ‘mistério’. Julgamos, pois, que no mesmo sentido, se deve entender a expressão ‘sacramento’ na epístola aos Efésios: ‘A fim de nos revelar o mistério de Sua vontade’ (cf. Ef 1,9); na epístola a Timóteo: ‘Sublime é o mistério da piedade’ (cf. 1Tm 3,16); no livro da Sabedoria: “Eles ignoram os secretos desígnios de Deus [sacramenta Dei]” (cf. Sb 2,22). Nestes lugares, e em muito outros, cumpre notar que o termo ‘sacramentum’ designa apenas uma coisa sagrada, inteiramente oculta;

3. Sentido religioso específico (cf. Cat Rom II,I,II-3): os Doutores Latinos definiram que havia de chamar-se “Sacramentos” certos sinais sensíveis, que produzem a graça, ao mesmo tempo que a designam exteriormente, e a tornam quase visível aos olhos. Podem também chamar-se “Sacramentos”, conforme S. Gregório Magno (in 1Sm 6,3), porque a Onipotência divina neles opera ocultamente a salvação, sob o véu de coisas corpóreas.

Definição

Meios pelos quais se logra a salvação e a justificação. Segundo Santo Agostinho “Sacramento é o sinal de uma coisa sagrada” (cf. Cidade de Deus X,5). A definição clássica: “Sacramento é um sinal visível de uma graça invisível, instituído para nossa justificação” (Concílio de Trento XIII cap 3). Segundo Santo Agostinho (cf. A doutrina cristã 2,1), um sinal é tudo aquilo que, além de atuar por si em nossos sentidos, nos leva também ao conhecimento de outra coisa concomitante. Por exemplo, pelos vestígios impressos na terra, facilmente conhecemos que ali passou alguém, cujas pegadas aparecem. Logo, os Sacramentos pertencem à categoria dos sinais, porque nos mostram exteriormente, por certa imagem e semelhança, o que Deus opera interiormente, em nossa alma, pelo Seu poder invisível.

Quantos e quais são os sacramentos

Os sacramentos são sete: batismo, confirmação, eucaristia, penitência, extrema-unção, ordem e matrimônio. Razão de ser seu número não ser maior e nem menor pode-se demonstrar por uma analogia entre a vida natural e a sobrenatural. Para viver, conserva-se, levar uma vida útil a si mesmo e a sociedade, precisa de sete coisas: nascer (batismo), crescer (confirmação), nutrir-se (eucaristia), curar-se quando adoece (penitência), recuperar forças perdidas (extrema-unção), ser guiado na vida social por chefes revestidos de poder e autoridade (ordem); e conservar-se a si mesmo e ao gênero humano, pela legítima propagação da espécie (matrimônio).

Eficácia dos Sacramentos

Na Antiga Aliança, Deus instituiu aos homens alguns sinais só para lhes significarem ou recordarem alguma coisa. Tal era o simbolismo das purificações legais e as demais cerimônias que constituíam o culto mosaico ou os Sacramentos da Antiga Aliança (cf. Lv 4,5; Ex 12,15; 18,23). Porém, outros sinais Deus os instituiu com a virtude, não só de simbolizar, mas também de produzir alguma coisa. Este é o caso dos Sacramentos da Nova Aliança, pois possuem a virtude de produzir os santos efeitos que simbolizam.

Se alguém disser que os sacramentos da Nova Lei não contêm a graça que significam, ou que, mesmo aos que não põe obstáculos, não confere essa graça, como se fossem somente sinais externos da graça ou da justiça recebida pela fé e distintivos da profissão cristã, pelos quais os homens distinguem os fiéis dos infiéis: seja anátema. (Concílio de Trento VII, 6. Denzinger 1606).

Para chegarmos a uma definição mais explícita, devemos dizer que Sacramento é uma coisa sensível que, por instituição divina, tem em si a virtude não só de significar, mas também de produzir a santidade e a justiça. (Cat Rom II,I,8).

Cada um dos Sacramentos exprime não só a nossa santificação e justificação, mas também dois fatos intimamente ligados à própria santificação: a Paixão de Nosso Senhor Redentor, que é causa eficiente de toda a santidade, bem como a vida eterna e a bem-aventurança do céu, que são finalidades de nossa santificação. Por isso, a Igreja ensina que em cada Sacramento existe uma tríplice virtude a significar: a) um fato passado a recordar; b) assinala mostra um fato presente; c) anuncia um fato vindouro.

Razão da Instituição dos Sacramentos
(cf. Cat Rom II, I, X).

1. Fraqueza do espírito humano: Após a queda no pecado original, todo gênero humano tornou-se criatura limitada que não consegue chegar ao conhecimento de coisas puramente espirituais, senão por intermédio de percepções sensíveis. Desta forma, com o intuito de nos facilitar a compreensão das operações invisíveis de Sua onipotência, quis o Supremo Criador manifestar suas virtudes ocultas por meio de sinais sensíveis, que fossem também prova de Seu amor para conosco.

Se o homem não tivera corpo, os bens espirituais lhe seriam propostos a descoberto, sem nenhum véu que os ocultasse. Mas, desde que a alma se acha unida ao corpo, era de todo necessário que, para a compreensão daqueles bens, ela se valesse de objetos adaptáveis aos sentidos (São João Crisóstomo, homilia 82,4 sobre Mateus).

2. Maior confiança nas promessas divinas: Nosso espírito dificilmente põe fé nas promessas que nos são feitas. Por isso é que, desde o início do mundo, Deus sempre tornava a anunciar Seus desígnios, e em alguns casos acrescentava às palavras outros sinais, como os milagres, para que assim os fiéis pudessem crer em Suas promessas. Quando anunciou Suas promessas aos hebreus através de Moisés, Ele as confirmava com uma série de milagres. Também Nosso Senhor Jesus Cristo, quando prometeu na Nova Lei a remissão dos pecados, a graça santificante, a comunicação do Espírito Santo, instituiu também certos sinais sensíveis, para que neles víssemos empenhada a Sua palavra e confiássemos em nela.

3. Medicação da alma pela Paixão de Cristo: por causa da queda no pecado original, todo gênero humano precisa dos auxílios da Graça para recobrar a saúde da alma. A virtude que dimana na Paixão de Cristo, isto é, a graça que nos mereceu no altar da Cruz, deve chegar-nos dos Sacramentos. Sem esta ajuda do Alto, sozinhos somos incapazes caminhar “até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo.” (Ef 4,13).

4. União e distinção dos fiéis: Segundo Santo Agostinho (cf. Contra Fausto 19,11), nenhum grupo de homens pode constituir um corpo jurídico, a título de verdadeira ou falsa religião, se os membros componentes não se ligarem entre si, pela convenção de alguns sinais distintivos da sociedade. Ora, os Sacramentos da Nova Lei satisfazem essa dupla exigência, porque distinguem os infiéis dos fiéis, e unem estes entre si, mediante um vínculo sagrado.

5. Profissão pública de fé: Ensinou S. Paulo: “Crê-se de coração para ser justificado. Mas, para ser salvo, se faz confissão de boca” (cf. Rm 10,10). Pelos sacramentos fazemos pública profissão de nossa fé, e damo-la a conhecer aos homens.

6. Repressão do orgulho: Os sacramentos domam e reprimem o orgulho do espírito humano, pois são para nós uma escolha de humildade, onde somos obrigados a submeter-nos a elementos sensíveis, em obediência a Deus, de quem nos havíamos impiamente separado, para fazermo-nos escravos das coisas do mundo.

Elementos constitutivos dos sacramentos (cf. Cat Rom II, I, X)

Os elementos que constituem os sacramentos são: ministro, matéria, forma e intenção. Se qualquer um destes elementos não for o correto, o sacramento torna-se inválido, isto é, inexistente.

O ministro é a pessoa que pode ministrar o sacramento. Alguns sacramentos possuem ministros ordinários, que são aqueles a quem normalmente é permitido ministrar o sacramento; como também ministros extraordinários por quem os sacramentos podem ser ministrados em situações especiais. Por exemplo, os ministros ordinários do batismo são o presbítero (padre), o bispo e o diácono, porém em situações especiais qualquer fiel pode batizar.

Se alguém disser que todos os cristãos têm poder sobre a Palavra [forma] e sobre a administração de todos os sacramentos: seja anátema. (Concílio de Trento VII, X. Denzinger 1610).

O ministro quando vai administrar um sacramento se utiliza de fórmulas ou expressões dadas pela Igreja para conferir ao fiel o sacramento. Por isso, a forma do sacramento leva a designação comum de “palavra”. Porém utiliza também da matéria. Matéria é o elemento usado no sacramento. No batismo, a matéria é a água; na eucaristia é o pão sem fermento e o vinho; na Confirmação é o óleo do crisma etc. Quando o sacramento é ministrado, forma e matéria (palavra e elemento) devem estar corretos.

Unindo-se a palavra ao elemento, daí nasce o Sacramento (Santo Agostinho. Tratado sobre Joh 80,3).

Era necessário juntar palavras à matéria, para que mais claro e evidente se tornasse o processo sacramental. De todos os sinais, as palavras têm a maior eficiência. Se faltassem, não seria óbvio averiguar o que designa e demonstra matéria.

Senão, vejamos por exemplo o Batismo. De per si, serve a água tanto para refrigerar, como para lavar. Pode, pois, simbolizar estes dois efeitos. Não se lhes juntassem as palavras, alguém poderia conjecturar, mas nunca afirmar com certeza, qual dos dois efeitos a água significa no Sacramento do Batismo. Todavia, como se juntam as palavras correspondentes, logo sabemos que a água produz e assinala aqui a virtude de purificar (Cat Rom II,I,XI).

Aos ministros além de utilizarem a forma e matéria própria para a validade de cada sacramento, também lhes é necessário realizar o sacramento com a intenção correta.

Se alguém disser que não se requer nos ministros, quando realizam e conferem os sacramentos, a intenção de, ao menos, fazer o que a Igreja faz: seja anátema. (Concílio de Trento VII, XI. Denzinger 1611).

A eficácia do sacramento não depende da santidade do ministro. S. Paulo certa vez ensinou aos coríntios: “Eu plantei, Apolo regou: mas quem fez crescer foi Deus. Por isso, o que vale não é quem planta, nem quem rega, mas Deus que dá o crescimento” (cf. 1Cor 3,6). Desta passagem se infere, com bastante fundamento, que, assim como às árvores não se maculam pela maldade daqueles que as plantaram: assim também não contraem nenhum dano próprio os que foram incorporados em Cristo, pelo ministério dos homens indignos e pecadores.

Por esse motivo, como os Santos Padres deduziram do Evangelho de São João (Jo 4,2), Judas Iscariotes também batizou muitas pessoas, e não lemos que alguma delas fosse novamente batizada.

Judas batizou, e depois de Judas não se fez novo Batismo. João [o batista] batizou, e depois de João novo batismo foi feito (cf. At 19,1-5), porque o Batismo ministrado por Judas era o Batismo de Cristo, e o Batismo de João [o batista] era simplesmente Batismo de João. Isto não é preferir Judas a João. Com razão preferimos o Batismo de Cristo – ainda que dado por mãos de um Judas – ao Batismo de João, embora seja conferido pelas mãos de um João. (Santo Agostinho. Tratado sobre o Evangelho de S. João 5,18).

Isto se deve principalmente porque é o Cristo o Sumo Sacerdote da Sua Igreja (cf. Hb 4,14; 5,1- 10; 8,1; 9,11). Porém quis que na Igreja os Sacramentos fossem dispensados não por anjos, mas por homens.

No ato sacramental, os ministros não representam sua própria pessoa, mas a Pessoa de Cristo. Desta forma, sejam eles bons ou sejam maus, produzem e administram validamente os Sacramentos, se aplicarem a forma e matéria que a Igreja sempre observou por instituição de Cristo, e se tiverem a intenção de fazer o que faz a Igreja na administração dos Sacramentos. (Cat Rom II,I,XIX).

As cerimônias sacramentais

São os ritos aprovados pela Igreja para ministrar os sacramentos. Não fazem parte dos elementos constitutivos dos sacramentos. Desde os primórdios da Igreja, sempre se observou o costume de administrar-se os Sacramentos com certas cerimônias solenes, para que se desse prova que se tratavam de coisas santas.

Depois as cerimônias tornam mais claros e quase visíveis os efeitos dos Sacramentos, e incutem mais ao vivo, na alma dos fiéis, a noção de sua santidade. Afinal, quando são religiosamente observadas, as cerimônias despertam nos corações sentimentos sobrenaturais, e afervoram os participantes na prática da fé e da caridade. (Cat Rom II,I,13).

Se alguém disser que os ritos recebidos e aprovados pela Igreja Católica, que se costumam empregar na administração solene dos sacramentos podem, sem pecado, ser desdenhados ou omitidos pelos ministros, segundo seu arbítrio, ou mudados em outros novos por qualquer pastor da Igreja: seja anátema. (Concílio de Tentro VII, XIII. Denzinger 1613).

A diferença entre os sacramentos

Embora todos os sacramentos comportem em si uma virtude admirável e divina, mas nem todos são igualmente necessários e nem possuem a mesma graduação e finalidade.

Se alguém disser que esses sete sacramentos da Nova Lei são de tal forma iguais entre si que, de nenhum modo, um seja mais digno que outro: seja anátema. (Concílio de Trento VII, II. Denzinger 1603).

Entre eles, existem três que a Igreja considera mais necessários, embora não o sejam por razões idênticas. São eles: batismo, penitência e ordem. A eucaristia é considerado o sacramento mais excelente, seja pela sua santidade, número e grandeza de mistérios.

Didaticamente são separados entre sacramentos da iniciação cristã (batismo, confirmação e eucaristia), os sacramentos de cura (penitência e unção dos enfermos) e aqueles referentes ao serviço e missão dos fiéis (matrimonio e ordem).

Dos efeitos dos sacramentos

Outra diferença entre os sacramentos é quanto ao efeito. Todos os sacramentos produzem o efeito santificador ou graça santificante, porém apenas três deles conferem à alma um caráter indelével: batismo, confirmação e ordem.

Diz o Apóstolo: “Foi Deus quem nos ungiu, quem nos marcou com o Seu selo, e pôs em nossos corações o penhor do Espírito” (2Cor 1,21). Ora, com as palavras “marcou com o Seu Selo” designou bem claramente esse “caráter”, cuja propriedade natural é por selo ou fazer marca.

O caráter tem por finalidade capacitar-nos para a recepção ou exercício dos sacramentos.

O caráter batismal encerra ambos os efeitos. Dá-nos aptidão para receber os demais Sacramentos, e faz com que o povo fiel se distinga dos pagãos, que não professam a fé. O mesmo se verifica no caráter da Confirmação e da Ordem. O caráter da Confirmação nos arma soldados de Cristo; prepara-nos para anunciar e defender o Seu nome, para lutar contra o inimigo em nosso interior, e contra os espíritos malignos nas alturas; distingue-nos, ao mesmo tempo, dos neo-batizados que são ainda, por assim dizer, criancinhas recém-nascidas. O caráter da Ordem confere o poder de fazer e administrar os Sacramentos, e distingue dos outros fiéis detendores de tal poder.

Por conseguinte, devemos aceitar o dogma da Igreja Católica, pelo qual estes três Sacramentos imprimem caráter, e não podem jamais ser reiterados. (Cat Rom II,I,25).

Se alguém disser que nos três sacramentos a saber: batismo, confirmação e ordem, não se imprime um caráter na alma, isto é, um certo sinal espiritual e indelével, razão por que não podem ser reiterados: seja anátema. (Concílio de Trento VII,IX. Denzinger 1609).

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