Realmente, não se pode afirmar que o nome divino era pronunciado Jeová nos tempos da escrita das Escrituras Hebraicas. No entanto, a verdade é que não se pode afirmar também que a pronúncia correta seja Javé, como o seu Site quer fazer as pessoas entenderem.
Fico muito contente por ter recebido um e-mail tão extenso quanto ao problema do verdadeiro nome de Deus! Aliás, o seu artigo é tão longo e detalhado que certamente deveria (se é que isso ainda não ocorreu) ser publicado junto à revista “Sentinela” ou “Despertai!”, editadas pela Sociedade Torre da Vigia! De fato, jamais imaginaria que um artigo tão pequeno e simples, publicado na minha home-page pudesse gerar tamanho questionamento… Mesmo assim, percebo que começamos muito bem o nosso diálogo, pois você admite, logo de início, que “realmente, não se pode afirmar que o nome divino era pronunciado Jeová” – como de fato nunca foi. Contudo, ao dizer que não é possível também afirmar “que a pronúncia correta seja Javé”, como está escrito no meu site, mantenho a minha posição inicial – que é a mesma da grande maioria dos teólogos católicos, ortodoxos, protestantes e até mesmo judeus – ou seja, de que o nome sagrado de Deus é Javé e vou explicar o motivo desta minha certeza no decorrer da resposta, ao analisar cada um dos parágrafos do seu e-mail original…
Seja qual for a pronúncia do nome de Deus, o importante é que o nome deve ser usado, pois o próprio Jeová (ou Javé) disse que seu nome deveria ser “declarado em toda a terra” (Êxodo 9:16; Romanos 9:17).
Também, que Jesus usava extensamente o nome divino, fica claro nas suas palavras em oração a Jeová, registradas em João 17:6: “Eu manifestei o teu nome aos homens.” – Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, da Sociedade Bíblia Católica Internacional e Edições Paulinas, S. Paulo, Brasil, 1990.
Que Jesus conhecia a verdadeira pronúncia do nome de Deus, isso é incontestável, afinal ele era o Filho Unigênito de Deus (aliás, o próprio Deus – embora talvez você não o admita, se for Testemunha de Jeová, o que não vem ao caso neste momento); podemos deduzir isso por causa de sua íntima relação com o Pai, já que era um com Ele (cf. Jo 10,30), tendo certa vez declarado: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9)… Não haveria então como negar que Jesus certamente conhecia o verdadeiro nome de Deus. Porém, querer afirmar que Jesus pregou aos quatro ventos o nome de “Jeová” é antibíblico porque o nome “Jeová” e até mesmo o sacro tetragrama “YHWH” não aparece em ponto algum do Novo Testamento e as 237 vezes em que ocorre no Novo Testamento segundo a “Tradução do Novo Mundo das Escrituras” (feita pela Sociedade Torre da Vigia, de propriedade dos Testemunhas de Jeová) são acréscimos que não se encontram no original grego. Tais acréscimos arbitrários – assim como quaisquer outros – são severamente condenados pela Bíblia (cf. Dt 4,2.32; Ap 22,18). E ainda que Jesus tenha lido na sinagoga (cf. Lc 4,18) o trecho de Is 61,1-2, onde o tetragrama aparece mais de uma vez no original hebraico, não se pode concluir que tenha pronunciado como “Jeová” ou até mesmo como “Javé”, uma vez que naquela época já era costume substituir o sacro tetragrama pela expressão “Adonay”, que significa “meu Senhor”; com efeito, não há nenhum indício que nos leve a crer que Jesus tenha agido de forma diferente, pois Lucas, ao transcrever em grego a passagem de Is 61,1-2, utiliza o termo “kyrios” (=Senhor) e não o sagrado nome “YHWH”. Logo, a probabilidade de Jesus ter se referido a Deus como “Senhor” é infinitamente maior que “Jeová” (ou até mesmo “Javé”).
O título “Deus” não é nem pessoal, nem distintivo (alguém pode até mesmo fazer de seu “ventre” um deus; Filipenses 3:19, Edição Pastoral). No Antigo Testamento, a mesma palavra, Elo.hím, é aplicada a Jeová, o verdadeiro Deus, e também a deuses falsos, tais como Dagom, o deus filisteu (Juízes 16:23, 24; 1 Samuel 5:7) e Nisroque, deus assírio. (2 Reis 19:37). Por isso, apenas o nome divino YHWH designa o único Deus verdadeiro.
Concordo com o que você diz aqui: YHWH é o santo nome revelado por Deus; é a identidade de Deus. Entretanto, como veremos mais adiante, tal tetragrama, se quisermos pronunciá-lo corretamente, isto é, suprindo-o com as vogais necessárias para a pronúncia, soará como Javé e nunca como Jeová.
A verdade é que ninguém sabe com certeza como o nome de Deus era pronunciado originalmente. Por que não? Bem, a primeira língua usada na escrita da Bíblia foi o hebraico, e ao escrever a língua hebraica os escritores escreviam apenas consoantes – não vogais. Portanto, quando os escritores inspirados escreveram o nome de Deus, eles naturalmente seguiram o mesmo proceder e escreveram apenas as consoantes.
Aqui, concordo em parte: de fato, ninguém sabia, depois de tanto tempo, como pronunciar corretamente o sacro tetragrama. Porém, tal problema não ocorre mais hoje, como veremos mais adiante…
Enquanto o antigo hebraico era uma língua do cotidiano, isso não apresentava nenhum problema. Os israelitas conheciam a pronúncia do Nome, e, quando o viam por escrito, supriam as vogais automaticamente.
Isso é um fato! Portanto, não tenho nada a opor.
Aconteceram duas coisas que mudaram essa situação. [1] Primeiro, surgiu entre os judeus a idéia supersticiosa de que era errado pronunciar o nome divino em voz alta; assim, ao se depararem com ele na sua leitura da Bíblia eles pronunciavam a palavra hebraica “Adhonái” (“Soberano Senhor”). [2] Ademais, com o passar do tempo, a própria antiga língua hebraica deixou de ser usada na conversação diária, de modo que por fim se perdeu a pronúncia hebraica original do nome de Deus.
Concordo com a segunda parte – que na realidade é mais um fato que se acrescenta ao parágrafo anterior e que pode ser comprovado historicamente. Discordo, porém, da sua primeira parte: não se trata de superstição, mas de uma prática piedosa, de profundo respeito e reverência, pois queriam observar escrupulosamente ao disposto em Ex 20,4, evitando de pronunciar o Santo Nome em vão. Tal atitude também não poderia ser classificada como “mera tradição humana”, pois tinha como ponto central aumentar e aprofundar o respeito a Deus. Além do mais, se fosse realmente uma superstição, certamente Cristo teria se expressado sobre tal erro, principalmente quando ensinou seus discípulos a orar o Pai-Nosso: quando ele diz “santificado seja o teu Nome”, não complementa nem com Kyrios (Adonay) e muito menos com YWHW; prefere simplesmente omitir o Nome… Por que ele perderia momento tão precioso para desfazer a superstição se esta realmente existisse?
A fim de assegurar que a pronúncia da língua hebraica como um todo não fosse perdida, eruditos judaicos da Segunda metade do primeiro milênio AD inventaram um sistema de pontos para representar as vogais ausentes, e os colocavam em volta das consoantes na Bíblia hebraica. Por conseguinte, eram escritas tanto as vogais como as consoantes, e a pronúncia, como era naquela época, foi preservada.
Perfeito! Estes eruditos judeus a que você se refere chamam-se “Massoretas” e as Escrituras Sagradas do Antigo Testamento que compilaram chamam-se “Texto Massorético”. Porém é importante observar que o texto massorético data do séc. X, mais precisamente do ano 916 dC, quase 1100 anos depois do último livro do Antigo Testamento (o livro da Sabedoria) ter sido escrito, por volta do ano 150 aC. Em 1100 anos a pronúncia pode variar e muito! Veja-se, por exemplo, a língua latina: existem 3 formas de pronúncias: a romana, a tradicional e a restaurada. Quer ter uma idéia da diferença da pronúncia em cada uma delas? Na tradicional o C tem som de Q; na romana o C soa como TCH; e na restaurada o C soa como K. Quem pode, então, garantir que a pronúncia dos Massoretas era a mesma dos tempos bíblicos? Fora isso, é bom observar o objetivo original dos massoretas ao acrescentar as vogais de Adonay ao sacro tetragrama: eles queriam que os leitores se lembrassem que, ao encontrar o tetragrama, deveriam pronunciar Adonay; jamais tiveram a intenção de inventar um novo nome para Deus, chamando-o erroneamente de Jeová.
No caso do nome de Deus, em vez de colocar em volta dele os corretos sinais de vogal, na maioria dos casos eles colocavam outros sinais de vogal para lembrar ao leitor que ele devia pronunciar “Adhonái”. Disso se originou a forma “Iehouah”, e, finalmente, “Jehovah” (Jeová) se tornou a pronúncia aceitável do nome divino, em português. Este retém do hebraico original os elementos essenciais do nome de Deus.
O que você falou acima eu já havia falado no artigo que você tenta contestar. Só está, aliás, reforçando o que eu já havia dito. Por outro lado você diz que Jeová se tornou a pronúncia aceitável… Poderia ser verdade entre os séc. XVI e XIX quando, por influência do texto massorético e do costume citado acima, as pessoas adotaram o costume de chamar a Deus de Jeová; porém, tais pessoas tinham um bom motivo: desconheciam os conhecimentos linguísticos que hoje temos. Aliás a própria comissão de tradutores dos Testemunhas de Jeová, em 1950, declaram: “Se bem que favoráveis à opiniões de que a pronúncia ‘Yahweh’ (em português ‘Javé’) seja A MAIS CORRETA, nós preferimos adotar a forma ‘Jehovah’ (em português ‘Jeová’) pelo fato de já ser bem conhecida pelo povo desde o fim do século XVI” (Introdução da ‘The Kingdom Interlinear Translation of the Greek Scriptures’, pág. 23). Veja que interessante: descobre-se o verdadeiro Nome de Deus só que este é deixado de lado pelo simples fato de que o nome anterior é mais conhecido… Que lógica existe nisto? Na verdade, acabaram trocando o Nome pelo apelido… Logo torna-se inaceitável chamar Deus de Jeová pois sabe-se que seu verdadeiro nome é Javé! Se for para continuar a chamar Deus de Jeová, que não é o seu Nome, é muito melhor continuar com a forma primitiva de Adonay ou Kyrios, que significa Senhor.
De onde, no entanto, se originaram pronúncias tais como Iavé? Essas são formas que têm sido sugeridas por eruditos modernos que procuram deduzir a pronúncia original do nome de Deus. Alguns “embora não todos” acham que os israelitas antes da época de Jesus provavelmente davam ao nome de Deus a pronúncia de Iavé. Mas, ninguém pode ter certeza. Talvez o pronunciassem assim, talvez não.
Já vimos que os eruditos modernos se baseiam em estudos linguísticos – logo, numa base científica – e não como fizeram os antigos massoretas que – embora não possamos deixar de exaltar o trabalho que fizeram – não tinham fundamento nem conhecimento científico para isso.
Não obstante, muitos preferem a pronúncia Jeová. Por quê? Porque tem um uso corrente e uma familiaridade que Iavé não tem. Não seria melhor, porém, usar a forma que talvez se aproxime mais da pronúncia original? Realmente não, pois este não é o costume relacionado com nomes bíblicos.
Essa é boa! Quer dizer que você encontra uma pessoa que faz tempo que não e, por isso, não lembra do bem do nome. Como ela possui uma memória melhor que a sua, esta pessoa te trata pelo nome, e você, para não ficar mal, resolve chamá-la de Maria ao invés de Marina. É lógico que, da primeira vez, muito provavelmente ela não levará isso pois, afinal, faz muito tempo que vocês não se vêem. Mas, se você continuar a chamá-la de Maria, certamente uma hora ela virá a te corrigir, não é mesmo? E se, no próximo encontro você a chamar novamente de Maria? Não ficará chato? Afinal ela te disse qual era o seu verdadeiro nome… E se em todo encontro você a chamar de Maria – já sabendo muito bem que o nome dela é Marina – você realmente crê que uma hora ela não ficará ofendida? Veja que, agora há pouco, você afirmou que os judeus adotaram o péssimo costume (superstição) de chamar a Deus de Adonay. O que dizer então daqueles que insistem em chamar a Deus pelo nome errado e – pior ainda – fazem questão de propagar o nome errado ao invés do nome correto?
Para tomar o exemplo mais proeminente, considere o nome de Jesus. Sabe você como a família e os amigos de Jesus se dirigiam a ele na conversação diária enquanto se criava em Nazaré? A verdade é que nenhum humano sabe com certeza, embora possa ter sido algo parecido com Ieshua (ou talvez Iehoshua). Certamente não era Jesus.
Contudo, quando os relatos de sua vida foram escritos na língua grega, os escritores inspirados não tentaram preservar aquela pronúncia hebraica original (Ye·shú·a`). Em vez disso, traduziram o nome em grego, ‘Ihsoun’ (Iesoún). Hoje, é traduzido de maneiras diferentes, de acordo com o idioma do leitor da Bíblia. Os leitores da Bíblia em inglês encontram Jesus (pronunciado Djísus). Os italianos escrevem Gesù (pronunciado Djesu). E os alemães escrevem Jesus (pronunciado Iêsus).
Deixe-me fazer uma pergunta: ao escrever este tratado você está se baseando no livreto dos Testemunhas de Jeová chamado “O Nome Divino…”? Parece-me que sim, pois o que você está falando se encontra nas páginas 9 e 10 do citado livro. Muito bem… vamos falar sobre o nome de Jesus… Você está me fazendo um grande favor ao colocar o nome de Jesus (Ieshua ou Iehoshua) na questão. Toda Bíblia – seja qual for a tradução – tem o costume de conservar a pronúncia mais próxima do original: ainda que os israelitas pronunciassem ‘Ieshua’, o FATO é que os gregos pronunciavam ‘Jesous’. Esta última pronúncia, entranto, reproduz um excelente conhecimento do hebraico, pois conserva suas consoantes e vogais. Por isso temos ‘Iesus’ em latim, ‘Jesus’ em português, ‘Jesùs’ em espanhol, ‘Jesus’ em inglês e alemão, e ‘Gesù’ em italiano; portanto, ainda que seja pronunciado de forma diferente em cada uma destas línguas, a verdade é que a forma do nome não foi alterado.
Devemos parar de usar o nome de Jesus porque a maioria de nós, ou mesmo todos nós, não conhecemos realmente a sua pronúncia original? Até agora, nenhum tradutor sugeriu isso. Gostamos de usar o nome, pois ele identifica o amado Filho de Deus, Jesus Cristo, que deu sua vida por nós. Seria dar honra a Jesus remover toda menção de seu nome na Bíblia e substituí-lo por um mero título como “Instrutor”, ou “Mediador”? Naturalmente que não! Podemos relacionar-nos a Jesus quando usamos seu nome da maneira geralmente pronunciada em nosso idioma.
Como já expliquei acima, o nome de Jesus – seja a língua que for – está correta pelo simples fato de que continua fiel ao nome original em hebraico, mantendo inclusive as vogais e consoantes. Ocorre que o mesmo não se dá com o nome de Deus, aliás com o nome “Jeová”, pois as vogais A e E – que os tradutores mais competentes têm a certeza de que existem – simplesmente desapareceram sem deixar vestígios neste caso…
O mesmo se pode dizer de todos os nomes que lemos na Bíblia. Nós os pronunciamos na nossa própria língua e não tentamos imitar a pronúncia original. Assim, falamos “Jeremias”, não Yir”me”yá”hu. Similarmente, dizemos Isaías, embora nos seus dias este profeta provavelmente fosse conhecido por Yesha`”yá”hu. Mesmo os eruditos cientes da pronúncia original desses nomes usam a pronúncia moderna, não a antiga, ao falar deles.
Não! Você está confundindo as coisas! A Bíblia está repleta dos chamados “nomes teóforos”, nomes compostos com o nome de Deus. Isaías realmente provém de “Iesha-Iahu”, que significa “Javé Salva”. Ocorre que, quando “Iahu” se encontra no início da palavra, adquire a pronúncia “Ieh”, segundo a regra fonética da gramática hebraica, segundo a qual a vogal A no início da palavra adquire o som de E. É o que ocorre, por exemplo, com o nome de Jesus: “Ieh-shua”, ou seja, a primeira parte “Ieh” nada mais é do que a abreviação de Javé, isto é, “Iah”.
E o mesmo se dá com o nome Jeová. Embora a moderna pronúncia Jeová talvez não seja exatamente igual à pronúncia original, isto de modo algum detrai da importância do nome. Este identifica o Criador, o Deus vivente, o Altíssimo, a quem Jesus falou: “Nosso Pai nos céus, santificado seja o teu nome.” (Mateus 6:9).
Negativo!! Observe-se o que acontece em alguns fragmentos da Septuaginta (tradução grega do AT) encontrados em Qumran e datados do séc. I aC: o tetragrama YHWH ao invés de ser convertido para “Kyrios” (Senhor), como é o usual, é simplesmente transcrito para IAO – a forma hebraica abreviada de Javé, ou seja, “Iah”. Este termo também é usado por Diodoro Sículo (que viveu antes de Cristo). Já Santo Irineu (+ 202 dC), Orígenes (+ 253 dC) e São Jerônimo usaram “Jaho”. São Clemente de Alexandria (+ 214 dC) usou “Iaové”. Epifânio (+ 403) e Teodorerto de Ciro (+ 438) usaram a forma “Iabé”, de acordo com a pronúncia dos samaritanos. Por essas e outras, os competentes estudiosos garantem que o nome próprio de Deus é “Javé” e jamais “Jeová”.
Embora muitos tradutores prefiram a pronúncia Iavé, a Tradução do Novo Mundo, e também várias outras traduções, continuam o uso da forma Jeová (Jehovah) por causa da familiaridade do povo com ela, por séculos. Ademais, ela preserva, como outras formas, as quatro letras do Tetragrama, YHWH ou JHVH.
Tal apêgo à tradição não justifica o erro de chamarmos Deus pelo nome incorreto. Enquanto você não tem a certeza do que é certo, até passa; mas, depois de descobrir o erro, continuar nele e propagá-lo é coisa injustificável ao extremo. No caso da Tradução do Novo Mundo é muito pior, pois insiste, nas novas edições, em manter o nome errado, inclusive nos lugares onde ele simplesmente não aparece no original (com destaque especial para o Novo Testamento). Outras sociedades bíblicas protestantes vêm alterando Jeová para Javé (ou Iahweh) ou mantêm o termo “Senhor”. É como diz o ditado: “errar é humano; mas persistir no erro…”.
Antes disso, o professor alemão Gustav Friedrich Oehler tomou uma decisão similar, basicamente pelo mesmo motivo. Ele analisou várias pronúncias e concluiu: “Deste ponto em diante eu uso a palavra Jeová, porque, na verdade, este nome agora se tornou mais comum no nosso vocabulário, e não pode ser suplantado.” – Theologie des Alten Testaments, segunda edição, publicada em 1882, página 143.
Estou me convencendo, cada vez mais que você andou lendo muito o livro “O Nome Divino”. A afirmação do prof. Oehler não procede pelo simples fato de se apegar a uma tradição errônea – aliás, errônea ao máximo – baseada no ideal e não no real. Lembra-se da história de chamar a pessoa pelo nome errado mesmo depois de descobrir o nome certo??
Similarmente, em sua Grammaire de l’hébreu biblique, edição de 1923, numa nota ao pé da página 49, o erudito jesuíta Paul Joüon diz: “Nas nossas traduções, em vez da (hipotética) forma Yahweh, temos usado a forma Jéhovah . . . que é a forma literária convencional usada em francês.” Tradutores bíblicos em muitos outros idiomas usam uma forma similar.
1923?? Reafirmo o que disse imediatamente acima…
É, então, errado usar uma forma como Yahweh (Iavé)? De modo algum. Dá-se apenas que a forma Jeová provavelmente encontrará uma reação mais rápida por parte do leitor porque é a forma que se tornou “comum” na maioria dos idiomas. Além disso, o objetivo das palavras é transmitir idéias; em português, o nome “Jeová” identifica o verdadeiro Deus, transmitindo esta idéia mais satisfatoriamente, hoje em dia, do que qualquer dos substitutos. De acordo com isso, o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa diz: “A forma Jeová, porém, está tão usual, que seria pedantismo empregar Iavé ou Iaué, a não ser em livros de pura filologia semítica ou de exegese bíblica.” Até mesmo Castro Alves, escritor brasileiro do século 19, usou o nome divino em seus escritos. Um exemplo é o seu poema O Livro e a América, da sua obra Espumas Flutuantes: “Cansado doutros esboços/ Disse um dia Jeová:/ “Vai, Colombo, abre a cortina/ “Da minha eterna oficina…/ “Tira a América de lá.””
Castro Alves? Séc. XIX? Idem ao anterior… 🙂
A coisa importante não é qual forma do nome usamos para identificar o único Deus verdadeiro, antes é que usemos o nome e o declaremos a outros. “Agradeçam a Javé, invoquem o seu nome, contem aos povos as façanhas que ele fez, proclamem que seu nome é sublime.” (Isaías 12:4, Edição Pastoral, o grifo é meu).
Faço, então duas observações: se não importa a forma como chamamos ao único Deus verdadeiro isso significa que eu posso chamá-lo de Alá? Afinal os muçulmanos também são monoteístas… Ora, se você insiste em dizer que devemos “usar o nome de Deus e declará-lo aos outros”, como posso fazer isso espalhando um nome que hoje todos (com exceção quase que exclusiva dos Testemunhas de Jeová) consideram como errado??? É mil vezes melhor espalhar o título de Senhor, que demonstra a eterna e inalcançável soberania de Deus, do que propagar injustificadamente o nome incorreto, para incorrer na ira divina! Você acha importante e necessário usar e declarar o nome do Senhor? Pois muito bem: use o nome correto! Ah! E comece a propagá-lo aos Testemunhas de Jeová até que mudem para “Testemunhas de Javé”.
Com respeito ao uso do nome Jeová, em traduções da Bíblia, veja o que diz o livro Jeová dentro do Judaísmo e do Cristianismo, de Assis Brasil: “Depois de muitos anos e talvez séculos de omissão nas Bíblias do nome Jeová, as suas testemunhas modernas formam a única religião cristã a tomar essa postura de restabelecimento do tetragrama.” Porque outras religiões o omitiram das suas Bíblias? “O nome de Deus foi subtraído”, diz Assis Brasil, “ou por superstição . . . ou mesmo por má-fé, ou ainda por uma exaltação concentradora do nome de Jesus e de sua mãe, Maria”. No entanto o Sr. Brasil salienta: “Na língua portuguesa, a omissão do nome de Deus foi reparada integralmente na Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas.”
Desculpa a franqueza: mas essas afirmações são absurdas, tomadas sem qualquer base… Será que o sr. Brasil também concorda com as adulterações ao texto original do Novo Testamento, incluindo arbitrariamente a palavra “Jeová” em centenas de passagens? Ao que parece, sim… Logo, não há como levar à sério tal invectiva…
Que o nome divino, na forma Jeová, tem sido a forma mais popularmente aceita em português, se mostra no uso que se faz dela em jornais e periódicos seculares. A revista Veja usa o nome, por exemplo, na edição 1489 (2/4/97): “Na travessia do deserto, conduzida por Moisés, o povo de Israel tem diante de si uma nuvem a apontar-lhe o caminho, alimenta-se de maná, um milagroso alimento que cai do céu, e bebe água que jorra das pedras. São milagres sobre milagres, a atestar a presença permanente de Jeová. Não teria cabimento perguntar se aquele povo acreditava em Deus. E, no entanto, dá-se um fenômeno espantoso, ressaltado por Friedman: a geração do deserto está sempre a reclamar, ou a trair Jeová adorando falsos deuses.” Outro exemplo, um jornalista, escrevendo no jornal Diário do Nordeste, se sentiu induzido a perguntar: “Deus tem um nome, sabia? Sim. O nome divino é Jeová.” Exemplos não faltam para mostrar que a forma Jeová do nome divino é bem aceita. Veja partes de um grande jornal do país, a Folha de São Paulo: “A grafia correta do nome de Deus é Javé ou Jeová, e não Iavé.” (18/04/98); “Aleluia quer dizer “louvai jubilosamente a Jeová” (29/09/97); “A sociedade está pasma diante da corrupção que diariamente explode em todos os lugares, em todos os níveis. Se houvesse um Jeová necessitado de promover um dilúvio, parece que não encontraria um justo entre nós.”- 14/06/98, os grifos são meus.
E desde quando tais periódicos são exemplos de fidelidade bíblica? Muito pelo contrário, em suas matérias costumam muito mais deturpar a fé do que a promovê-la… Poderia citar uma “pá” de publicações que grafam o nome divino como Javé ou, como é mais comum, Senhor, mas isso faz-se desnecessário, afinal papel aceita tudo, não é mesmo. Mas qual a diferença afinal? 1. Fidelidade; 2. Conhecimento.
A pronúncia Jeová é também corroborada por outros nomes próprios em hebraico. Na língua hebraica, o nome divino é escrito YHWH. Estas quatro letras, lidas da direita para a esquerda, são comumente chamadas de Tetragrama. Muitos nomes de pessoas e de lugares na Bíblia contêm uma forma abreviada do nome divino. Será que é possível que esses nomes próprios nos possam fornecer alguma indicação de como se pronunciava o nome de Deus?
Já falei sobre isto um pouco mais acima e vimos que favorece a Javé e não a Jeová… Releia o texto, por favor…
De acordo com George Buchanan, professor emérito no Seminário Teológico de Wesley, Washington, DC, EUA, a resposta é sim. O Professor Buchanan explica: “Na antiguidade, os pais muitas vezes davam aos filhos o nome de suas deidades. Isto significa que pronunciavam os nomes dos filhos assim como se pronunciava o nome da deidade. O Tetragrama foi incluído em nomes de pessoas, e eles sempre usavam a vogal do meio.”
Perfeito! Já vimos isso também…
Considere alguns exemplos de nomes próprios encontrados na Bíblia, que incluem uma forma abreviada do nome de Deus. Jonatã (Jônatas, Edição Pastoral), que aparece como Yoh.na.thán ou Yehoh.na.thán na Bíblia hebraica significa “Yaho ou Yahowah deu”, diz o Professor Buchanan. O nome do profeta Elias é “E.li.yáh ou “E.li.yá.hu no hebraico. Segundo o Professor Buchanan, o nome significa: “Meu Deus é Yahoo ou Yahoo-wah.” De modo similar, o nome hebraico para Jeosafá é Yehoh-sha.phát, significando “Yaho julgou”.
Observe o “Iaho” acima (que você escreveu como “Yaho”) e observe como concorda com o que eu disse alguns parágrafos acima, quando falei sobre Iah, Ieh, IAO, Iaho, Iaové e Iabé. Portanto, não podemos jamais admitir a forma Jeová, mas apenas Javé.
A pronúncia do Tetragrama com duas sílabas, como “Javé” (ou “Yah.weh”), não permitiria a existência do som da vogal o como parte do nome de Deus. Mas, nas dezenas de nomes bíblicos que incorporam o nome divino, o som desta vogal do meio aparece tanto nas formas originais como nas abreviadas, como em Jeonatã e em Jonatã. De modo que o Professor Buchanan diz a respeito do nome divino: “Em nenhum caso se omite a vogal oo ou oh. A palavra era às vezes abreviada como “;Ya”, mas nunca como “Ya-weh”. . . . Quando o Tetragrama era pronunciado com uma só sílaba, era “Yah”; ou “Yo”. Quando era pronunciado com três sílabas, era “Yahowah” ou “Yahoowah”. Se fosse alguma vez abreviado a duas sílabas, teria sido como “Yaho” – Biblical Archaeology Review.
Número de sílabas?? Estará o prof. Buchanan defendendo a tese de que palavras de alfabetos distintos devem manter as mesmas sílabas para expressar o mesmo nome? Espero que não porque senão gostaria de saber por que Carlos possui 2 sílabas e Karl (alemão) possui apenas 1… E por que Lutero tem 3 e Luther (inglês) tem 2? Sem comentários…
Esses comentários nos ajudam a entender a declaração feita pelo hebraísta Gesenius, no seu Dicionário Hebraico e Caldaico das Escrituras do Velho Testamento (em alemão): “Os que acham que YHWH [Ye-ho-wah] era a pronúncia real [do nome de Deus] não estão totalmente sem base para defender sua opinião. Assim se podem explicar mais satisfatoriamente as sílabas abreviadas [Ye-ho] e [Yo], com que começam muitos nomes próprios.”
Gesenius? Em que ano ele declarou isso? Sob quais condições?
No entanto, na introdução da sua recente tradução de The Five Books of Moses, Everett Fox salienta: “Tanto as tentativas antigas como as novas, para recuperar a pronúncia “correta” do nome hebraico [de Deus], não foram bem-sucedidas; não se pode provar conclusivamente o “Jeová” que se ouve às vezes, nem o padrão erudito “Javé” [“Iahweh”].”
Parece-me que você está retirando citações do “arco da velha”, um tanto quanto defasadas, talvez anteriores a 1950… Deixe-me, novamente, repetir o que disse a comissão de tradutores dos Testemunhas de Jeová, em 1950: “Se bem que FAVORÁVEIS às opiniões de que a pronúncia ‘Yahweh’ (em português ‘Javé’) seja A MAIS CORRETA, nós preferimos adotar a forma ‘Jehovah’ (em português ‘Jeová’) pelo fato de já ser bem conhecida pelo povo desde o fim do século XVI” (Introdução da ‘The Kingdom Interlinear Translation of the Greek Scriptures’, pág. 23). – grifos e parenteses meus. É realmente uma pena que a Tradução do Novo Mundo das Escrituras tenha eliminado esse comentário… Deve ter suscitado algumas discussões internas…
Por tudo isso que já foi colocado, fica claro que está escrito no Site é preconceito, semelhante à declaração publicada no Katholische Bilderpost (periódico católico da Alemanha): “O nome de Deus, porém, que eles [as Testemunhas de Jeová] mudaram para “Jeová” é simples invenção desta seita.” (24 de agosto de 1969) Esta declaração do periódico católico alemão, além de cheirar a preconceito religioso, revela também péssima pesquisa, visto que, conforme o próprio Site menciona, o primeiro escritor a usar o termo “Jehova” foi Raimundo Martini, no seu livro Pugeo Fidei, em 1270, um frade católico da ordem dos dominicanos, obviamente não era Testemunha de Jeová! – (Antonio Carlos)
Não tive acesso ao artigo do referido jornal. Mas seja como for, se por um lado não se pode afirmar que os Testemunhas de Jeová foram os inventores do nome “Jeová”, por outro é impossível negar que são os Testemunhas de Jeová as pessoas que mais insistem em propagar o nome errado de Deus, ainda que saibam e reconheçam que Javé é a forma correta do Novo Divino… No fundo no fundo, o que houve foi uma mudança de tática: se antes “Jeová É a versão portuguesa do tetragrama hebraico JHVH” (Raciocinamos Fazendo Uso das Escrituras, pág. 155), agora – diante das provas inconstestáveis de que o verdadeiro nome de Deus é Javé – preferem dizer “a pronúncia original do nome de Deus não e mais conhecida […] isto não é importante” (O Nome Divino que Durará para Sempre, pág. 47). Finalmente, o fato do nome Jeová ter sido usado por algum escritor católico da Idade Média não dá autoridade para nós usarmos tal nome atualmente, justamente porque hoje – graças aos avanços da ciência – sabemos que o nome está incorreto; quanto ao antigo escritor, ele não incorreu em erro ou culpa simplesmente porque não possuía o mesmo nível de conhecimento que temos hoje…
- Fonte: Veritatis Splendor