Com a manifestação pública da Igreja ao mundo, pela efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes (cf. At 2,1s), inicia-se um novo tempo para a humanidade, o tempo da Igreja.
Neste novo tempo, a Igreja por meio de sua liturgia é encarregada de manifestar, tornar presente e comunicar a obra de salvação do Cristo, que vive e age na Igreja, que é o seu corpo.
No dia de Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo, a Igreja é manifestada ao mundo. O dom do Espírito inaugura um tempo novo na dispensação do mistério: o tempo da Igreja, durante o qual Cristo manifesta, toma presente e comunica sua obra de salvação pela liturgia de sua Igreja, até que ele venha (1 Cor 11,26). Durante este tempo da Igreja, Cristo vive e age em sua Igreja e com ela de forma nova, própria deste tempo novo. Age pelos sacramentos (CIC §1076).
É por meio dos Sacramentos que a Igreja dispensa as graças de Cristo aos fiéis. A Igreja como que o sacramento age como sinal e instrumento, é por meio dela que o Espírito Santo dispensa o mistério salvífico de Cristo. A Igreja com suas ações litúrgicas, embora peregrina nesta terra, já participa antecipadamente da liturgia celeste
Sentado à direita do Pai e derramando o Espírito Santo em seu Corpo que é a Igreja, Cristo age agora pelos sacramentos, instituídos por Ele para comunicar sua graça. Os sacramentos são sinais sensíveis (palavras e ações), acessíveis à nossa humanidade atual. Realizam eficazmente a graça que significam em virtude da ação de Cristo e pelo poder do Espírito Santo (CIC § 1084)
Toda a liturgia da Igreja gira em torno do sacrifício eucarístico e dos sacramentos (1), que são sete, a saber: Batismo, Confirmação ou Crisma, Eucaristia, Penitência ou Confissão, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio. Cristo enquanto caminhou no mundo antes de sua morte e ressurreição, realizava a obra salvífica de Deus através de todas as suas palavras e ações (cf. Lc 5,17; 6,19; 8,46), atencipando dessa forma o poder do seu mistério pascal. Diz-nos S. Leão Magno, aquilo que era visível em nosso Salvador passou para os mistérios (Sermão 74,2 apud CIC § 1116)
Assim como a Igreja iluminada pelo Espírito Santo distinguiu o cânon das Sagradas Escrituras, de forma análoga distinguiu também o tesouro dos sacramentos, os quais são da Igreja num duplo sentido, existindo por meio dela e para ela (Igreja).
Os sacramentos são da Igreja no duplo sentido de que existem por meio dela e para ela. São por meio da Igreja, pois esta é o sacramento da ação de Cristo operando em seu seio graças à missão do Espírito Santo E são para a Igreja, pois são esses sacramentos que fazem a Igreja; com efeito, manifestam e comunicam aos homens, sobretudo na Eucaristia, o mistério da comunhão do Deus amor, uno em três pessoas. (cf. CIC § 1118)
Quando se diz que os Sacramentos são sinais eficazes da graça de Deus (cf. CIC § 1131), este fato verdadeiramente ocorre, visto agir neles (Sacramentos) o próprio Cristo, por meio de sua obra salvífica. Assim sendo, os Sacramentos atuam ex opere operato (pelo próprio fato de ação ser realizada), independente da justiça ou santidade de quem o confere ou de quem o recebe. Entretanto, a frutuosidade do Sacramento validamente recebido, dependerá das disposições de quem o recebe.(2)
A partir de momento em que um sacramento é celebrado em conformidade com a intenção da Igreja, o poder de Cristo e de seu Espírito agem nele e por ele, independentemente da santidade pessoal do ministro. Contudo, os frutos dos sacramentos dependem também das disposições de quem os recebe. (cf. CIC § 1128)
É importante frisar que os sacramentos são necessários à salvação, visto serem os canais da graça de Cristo a atingir o homem, curando-o, transformando-o, conformando-o à Jesus, unindo-o de forma vital ao Salvador. (cf. CIC 1129)
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NOTAS:
(1) 6. Portanto, como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também ele enviou os apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só porque, pregando o Evangelho a todos os homens anunciassem que o Filho de Deus com a sua morte e ressurreição nos livrou do poder de satanás e da morte e nos transferiu para o reino do Pai, mas também para que levassem a efeito, por meio do sacrifício e dos sacramentos, sobre os quais gira toda a vida litúrgica, a obra de salvação que anunciavam. Assim pelo batismo os homens são inseridos no mistério pascal de Cristo: com ele mortos, sepultados, e ressuscitados; recebem o espírito de adoção de filhos, no qual clamam: Abba, Pai (Rm 8,15), e se tornam assim verdadeiros adoradores que o Pai procura. Do mesmo modo, toda vez que come a ceia do Senhor, anunciam a sua morte até que venha. Por esse motivo, no próprio dia de Pentecostes, no qual a Igreja se manifestou ao mundo, os que receberam a palavra de Pedro foram batizados. E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comum fração do pão e na oração
louvando a Deus e sendo bem vistos por todo o povo (At 2,41-47). Desde então, a Igreja jamais deixou de reunir-se para celebrar o mistério pascal: lendo tudo quanto nas Escrituras a ele se referia (Lc 24,27), celebrando a eucaristia na qual se representa a vitória e o triunfo de sua morte e, ao mesmo tempo, dando graças a Deus pelo seu dom inefável (2Cor 9,15) em Cristo Jesus, para louvor de sua glória (Ef 1,12) por virtude do Espírito Santo. (cf. Sacrosanctum Concilium n. 6)
(2) É claro, porém, que a frutuosidade dos sacramentos depende das disposições pessoais de quem os recebe: ninguém é santificado sem que se abra ao dom de Deus, removendo os obstáculos à graça (o apego aos pecados e as más inclinações…) (D. Estêvão T. Bettencourt, OSB in: Curso de Iniciação Teológica por correspondência, Módulo 30, p.119).
- Fonte: Veritatis Splendor