Padre fábio de melo e os “sites conservadores”

Publicado em: Blog En Garde!

(Com adaptações do autor)

O Padre Fábio de Melo se incomodou com a cobrança que vários apostolados católicos na internet estão lhe fazendo. Não se trata somente da histórica cobrança de que use a veste talar, mas, principalmente, a cobrança de que pregue conforme a verdadeira fé e não fique iludindo pobres almas com discursos românticos e sentimentalistas, porém relativistas e heréticos – “humanos demais”.

Entre os Apostolados que mais exigiram decoro do Padre Fábio à sua função sacerdotal e à Doutrina da verdadeira e única Igreja – sob e pela qual foi ordenado – está o Apostolado Veritatis Splendor. O Veritatis publicou uma série de textos em seu Blog denunciando erros doutrinários concernentes à pregação do Padre Fábio de Melo.

E Sua Reverendíssima parece ter conferido o nosso Blog. Em recente programa exibido na TV Canção Nova – o seu Direção Espiritual – Sua Revma. manda um recado aos “conservadores”:

“Quantas vezes em sites do cristianismo tradicionalista você tem verdadeiras agressões a padres. Conteúdos extremamente agressivos. Porque o padre é moderno, porque o padre é isso e aquilo… Aí eu pergunto: ‘tudo bem, você tem todo o direito de não gostar deste ou daquele padre, mas em nome da caridade que você deveria professar, você não tem o direito de escrever o que você escreve, de fazer o julgamento que você faz'”, dizia, e isso tudo com o dedo em riste.

Sua Revma. talvez esteja se referindo ao apelido que lhe foi dado em vários meios católicos – o qual também foi adotado pelo Veritatis Splendor em alguns de seus textos – e que resume sua postura enquanto sacerdote: Padre “Fashion de Melo”. Outros apelidos resumem seu discurso sentimental, romântico e relativista demais: Padre “Fala de Mel” ou “Favo de Mel”.

A despeito da ironia que estes apelidos comportam, eles não são ofensivos nem faltam com a caridade. Isso se se entende a caridade como a Igreja entende, e não como os relativistas entendem. Porque para os relativistas é preciso ser caridoso com tudo – tudo mesmo! -, fechar os olhos, os ouvidos e a boca diante do erro, eximir-se de pregar o Evangelho e dizer para quem está errado: “tudo bem, tudo bem, você tem direito…” Mas se a caridade é entendida como a Igreja de Deus entende – e é assim que todos deveriam entender se quiserem caminhar nas vias da retidão – a caridade comporta também a correção do erro, a denúncia do erro, até uma denúncia vigorosa, proporcional à gravidade do erro. Por que, como se pode ter amor por alguém e deixá-lo no erro? Como se pode dizer que se ama ao próximo e consentir que permaneça na lama que poderá levá-lo a perder a vida eterna – e simplesmente para não desagradar seu ego importante nesta vida?

Sempre atuais as palavras de São Josemaría Escrivá, Santo Fundador do Opus Dei:

“Se a tua amizade se rebaixa até converter-te em cúmplice das misérias alheias, reduz-se a triste compadrio, que não merece o mínimo apreço” (Sulco, n.761)

Não! A caridade não consente ao erro. A caridade repugna o erro, denuncia-o, exige correção. A caridade não prescinde da verdade.

Para a exigência de caridade feita pelo Sua Revma., o Padre Fábio de Melo, relevamos apenas um trecho da Encíclica Caritas in Veritate, do Santo Padre, o Papa Bento XVI:

“Um cristianismo de caridade sem verdade pode ser facilmente confundido com uma reserva de bons sentimentos, úteis para a convivência social mas marginais. Deste modo, deixaria de haver verdadeira e propriamente lugar para Deus no mundo. Sem a verdade, a caridade acaba confinada num âmbito restrito e carecido de relações…” (n.4).

E o Cristianismo verdadeiro não é uma “reserva de bons sentimentos”, uma reserva de romantismo e sentimentalismo, como parece querer – e demonstra – o Padre Fábio de Melo. Se a caridade prescindisse da verdade, como ensina o Papa, “acabaria confinada num âmbito restrito e carecido de relações”. Ora, se fechássemos os olhos aos terríveis erros doutrinários do Padre Fábio de Melo em nome da caridade, poderíamos ter com ele uma ótima relação – e que caridade é essa que fica “confinada num âmbito restrito e carecido de relações”? É qualquer uma, menos a caridade cristã. Porque essa, especificamente falando, não prescinde da verdade e não se confina no âmbito das relações humana, mas visa a atingir o profundo da alma humana em sua resposta a Deus.

Não é possível, pois, que em nome da caridade prescindamos da Verdade, fechando os olhos ao erro, como parece exigir o Padre Fábio de Melo. Non possumus!

Aliás, se o Padre Fábio de Melo tivesse lido com atenção os textos do Blog VS – e parece que os leu, mas sem atenção – teria visto o artigo do Rafael Vitola, onde esclarece, em resposta às fãs do Padre que se insurgiam contra nós num furor realmente fanático e sectário:

“A dureza nos artigos sobre o padre Fábio de Melo, e mesmo as ironias, se devem ao fato de que o referido sacerdote extrapolou, há muito, o limite da tolerância. Suas heresias e sua postura (e o mal que ele faz, com sua legião de fanáticas) são bem piores do que um Mons. Jonas Abib da vida. A cada mal o seu remédio. Nunca o VS foi tão duro pois não se tinha apresentado um monstro tão nefasto quanto o referido sacerdote. […] Ordinariamente, a caridade se manifesta pela doçura. Mas, em situações extraordinárias, é preciso firmeza e até certo sarcasmo que sirva para chamar a atenção das pessoas envolvidas. Julgamos ser este o caso. Claro que a forma importa. Claro que não é só o conteúdo o importante. Mas no caso do padre Fábio, usamos uma forma mais incisiva de modo proposital. A regra é a docilidade, mas, por vezes, a caridade pede mais dureza nas palavras. Julgamos que as ações do padre Fábio são gravíssimas, pelo mal que fazem e pelo fanatismo que despertam. Daí que, se as admoestações mais doces de antes não adiantaram, pensamos ser a hora de ‘trançar o chicote'”.

Ora, em poquíssimas palavras o Vitola esclareceu perfeitamente a questão. Não podemos esquecer que, cheio de caridade, mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo chamou a São Pedro de Satanás quando este lhe tentou (Mateus 16,23); e que São Paulo, pela caridade, anatematizou quem pregasse outros evangelhos, que não de Cristo (Gálatas 1,8-9). Vale lembrar que o próprio São Paulo ordenou a Timóteo que censurasse e probisse a pregação de “doutrinas extravagantes”, e dizia que “esta recomendação só visa a estabelecer a caridade, nascida de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera” (I Timóteo 1,5). A caridade nasce de uma fé sincera, ensina São Paulo! Não adianta prescindir da verdade em nome da caridade, pois, como afirma o Papa Bento XVI, esta caridade só seria uma “reserva de bons sentimentos”, uma caridade falsa. A caridade não tolera o erro, ela não fecha os olhos ao erro. É isso que Sua Revma. o Padre Fábio de Melo deveria compreender – ou aprender, se ler com seriedade as cartas de São Paulo e a Encíclica Caritas in Veritate.

O Padre Fábio de Melo ainda acusa os “sites conservadores”, “tradicionalistas”, de serem cristãos irresponsáveis, por estarem “julgando o outro”:

“Cristão que se coloca para julgar o outro publicamente sem ao menos ter tido a oportunidade de se sentar com ele, isso é no mínimo cristianismo irresponsável”.

Acusação infundada do começo ao fim, mas sedutora, admitimos, pela beleza e ordenação de suas palavras. Infundada, em primeiro lugar, por afirmar que tal “julgamento” foi feito sem um prévio “sentar para conversar”. Ora, há muito o Prof. Alessandro Lima, Diretor do Apostolado Veritatis Splendor, enviou uma carta à TV Canção Nova e ao Padre Fábio de Melo questionando-lhe sobre o seu desuso da veste talar, sua falta de decoro na escolha de vestimentas e também sobre suas pregações duvidosas. Não recebeu resposta. Há mais de um mês, a contar da data que escrevemos este artigo, um membro do Movimento Regnum Christi de Recife, o Gustavo Souza, escreveu uma carta aberta ao Padre Fábio de Melo, pedindo-lhe esclarecimentos sobre sua lastimável entrevista; no dia 15 de Julho, passado mais de um mês, o Gustavo relatava a este autor que até agora não tinha recebido resposta do Padre, e já até escrevera uma outra cobrando novamente os esclarecimentos.

Ou seja, se alguém não quer “sentar para conversar”, com certeza não são os representantes dos “sites conservadores”.

Acusação infundada, em segundo lugar, pela sua noção de “julgamento”. O Padre Fábio crê que denunciar o erro do outro é “julgá-lo” e que ninguém tem o direito de julgar o outro; provavelmente porque Cristo disse: “Não julgueis e não sereis julgados” (Mateus 7,1). Ora, a interpretação errônea que o Padre dá a este mandamento de Nosso Senhor advém da sua errônea compreensão do que seja caridade. Já falamos da compreensão de caridade segundo o Evangelho e sabemos que esta não prescinde da verdade; portanto, denunciar o erro para corrigir o outro não ofende a caridade e, pelo contrário, é um dever da caridade, uma obra de misericórdia espiritual, segundo ensina a Santa Madre Igreja. Não é, pois, um pecado de “julgamento”, como aduz Sua Reverendíssima.

O Padre Fábio de Melo lembra demais daquele trecho em que Jesus nos manda não julgar para não sermos julgados e esquece deste outro, em que o mesmo Senhor ordena: “Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a reta justiça” (João 7,24). É mandamento de Cristo, pois, “julgar conforme a reta justiça”. Não é todo julgamento que é pecado; o julgamento conforme a reta justiça não é pecado, e foi ordenado por Cristo.

E quando um julgamento cai na proibição de Cristo e quando ele não cai? Não podemos, “não temos direito”, para usar a expressão do Padre Fábio, de julgar o que se passa no coração, na mente, no espírito de cada pessoa, pois não temos conhecimento do que ocorre no íntimo de cada um. Somente Deus, Nosso Senhor, “perscruta os corações” (Romanos 8,27):

“Perscrutai-me, Senhor, para conhecer meu coração; provai-me e conhecei meus pensamentos” (Salmo 138,23).

Os corações, pois, não podemos julgar, pois neles não sabemos o que se passa. Este é o julgamento que Nosso Senhor Jesus Cristo proibe, pois realizá-lo seria pretender ter uma onisciência divina sobre as almas humanas que nenhum de nós possui; seria querer ser como Deus (Gênese 3,5). Por isso: “Não julgueis e não sereis julgados”. Não pretendamos ser como deuses julgando os corações, e assim não seremos julgados pela nossa pretensão e soberba.

Mas a partir do momento em que o que está no coração é externalizado, i.e., se transforma em um ato externo, público, visível a todos, é possível realizar um julgamento conforme a reta justiça, denunciar o erro e corrigi-lo.

“Aquilo que sai da boca provém do coração, e é isso que mancha o homem. Porque é do coração que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias. Eis o que mancha o homem”, ensina Nosso Senhor (Mateus 15,18-20).

Justamente porque o ato é externo, público, visível ao mundo, justamente porque “saiu da boca”, mostrando externamente o que antes só estava no íntimo do coração, o julgamento não será errôneo ou baseado em meras aparências ou achismos: “Não julgueis pela aparência”, ordena o Senhor.

Mas, por ser ato externo, público e visível a todos, um julgamento baseado em critérios cristãos – como a ortodoxia, p. ex. – não só será correto como também será justo; será um julgamento não repugnado, mas exigido pela caridade. É o julgamento conforme a reta justiça que ordena Nosso Senhor: “Julgai conforme a reta justiça”.

Desta maneira, pois, a condenação do Padre Fábio de Melo aos “sites conservadores e tradicionalistas”, de estarem “julgando” os sacerdotes e assim vivendo um “cristianismo irreponsável”, não procede simplesmente porque é falsa.

Denunciar o erro de um sacerdote, corrigi-lo, é uma exigência da verdadeira caridade cristã – mas não, obviamente, da caridade sentimental e relativista, aquela “reserva de bons sentimentos”, que o Papa Bento XVI repugna e que o Padre Fábio de Melo parece exigir para si.

E Sua Reverendíssima, o Padre Fábio de Melo, ainda diz:

“No meu site você nunca vai encontrar uma palavra para agredir alguém…”

Acontece que o único agredido pelo Padre Fábio de Melo, por suas pregações e textos, é justamente Nosso Senhor Jesus Cristo, que não tem seu Evangelho e a Doutrina que ele ensinou respeitados pelo Padre. Ele é o único agredido pelo Padre – e isto é muito pior do que “agressões” a qualquer sacerdotes, relevado o modo como o Padre Fábio entende o que seja uma “agressão”.

Sua Reverendíssima, pois, precisa tomar cuidado com suas afirmações a respeito dos “sites tradicionalistas”. Mas antes de tomar cuidado com estas afirmações, é preciso que tome cuidado com o que prega, que tenha mais decoro pelo Evangelho e pelo seu estado de sacerdote, e que interrompa sua abordagem relativista e sentimental, para pregar a verdadeira Doutrina da Igreja, não heresias.

Quase ao fim de seu discurso, Sua Reverendíssima, o Padre Fábio de Melo, ainda ordena aos seus espectadores:

“Corra! Corra destes sites que utilizam de conteúdo aparentemente cristão para destruir a imagem de muitas pessoas”.

O apelo parece um tanto desesperado para salvar a própria imagem. Porque os sites que o Padre Fábio condena são justamente aqueles que mais estão conscientizando os católicos sobre os erros, incoerências e inexatidões do próprio Padre Fábio, como o Blog Veritatis Splendor. Pareceria que o simples fato de denunciar o erro de Sua Revma. e exigir sua correção – e isso pela caridade, como já demonstramos – tornaria um site somente “aparentemente cristão”. Padre Fábio é intocável? Somos falsos cristãos ou “aparentemente cristãos” por denunciar seus erros? Cremos que não. Ademais, cremos que o que torna um site “aparentemente cristão” não é ele denunciar o erro e corrigi-lo – pois isto também Cristo e os Santos fizeram; o que torna algo “aparentemente cristão” é, isto sim, pregar heresias e os maiores absurdos afirmando que estas heresias e absurdos foram ditas por Cristo – e isso, com todo respeito que Sua Reverendíssima merece, quem faz é justamente o Padre Fábio.

Do exposto acima, cremos que a exortação do Padre Fábio de Melo a “correr” dos “sites conservadores e tradicionalistas” deveria ser julgada conforme a reta justiça, e não pelas aparências – pois a aparência de suas palavras é bem bonita e sedutora, mas altamente enganadora.

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