A importância dos símbolos na igreja

Em todas as esferas da sociedade, podemos observar a existência dos símbolos: a bandeira nacional é o emblema mais representativo de uma nação; o semáforo verde indica passagem livre para os automóveis; uma coroa, logo à primeira vista, já remete nosso pensamento à figura de um rei ou rainha.

Os símbolos são representações, alegorias que têm por objetivo exprimir um conceito de maneira clara e fácil. Por exemplo, basta observarmos na rua uma placa onde se vê uma seta vertical, e imediatamente sabemos que ela indica a possibilidade de se continuar o trajeto; nos tempos antigos, em alto mar, era só avistar o desenho de um crânio ao fundo de uma flâmula negra, para estremecerem os tripulantes de qualquer navio.

Tudo isso nos mostra que o ser humano necessita de símbolos para expressar e entender mais facilmente uma mensagem ou idéia. Estes símbolos estão presentes em nossa vida de uma maneira tão acentuada, que muitas vezes sequer nos damos conta: mostramos afeto a alguém que queremos bem por meio de um abraço; acenamos quando queremos saudar uma pessoa do outro lado da rua; a própria língua que falamos não é senão um meio de abstrairmos com palavras os fatos concretos que desejamos exprimir. A simbologia é, portanto, própria da natureza humana.

A Sagrada Escritura é repleta de símbolos: no Antigo Testamento, havia uma série de rituais utilizados para estabelecer aliança entre Deus e os homens, compostos de vários atos a serem praticados pelos judeus, com a finalidade de lembrar sua condição pecadora e servil e de recordar continuamente a misericórdia benigna do Senhor.

O mais importante dos símbolos no Antigo Testamento era o sacrifício, no qual um animal era imolado pelo sacerdote para a remissão dos pecados do povo (Lv I, 2-9). Por meio da simbologia do holocausto, podia-se entender melhor a idéia de que toda injúria necessita de uma reparação, após a qual o perdão é concedido, expresso pela aspersão do sangue da vítima sacrificada, símbolo de purificação. Os sacrifícios antigos, por sua vez, são uma prefiguração do Sacrifício Redentor de Cristo pela salvação do gênero humano. No lugar de animais, o próprio Cordeiro de Deus se imola em penhor da vida eterna.

No Novo Testamento, também estão presentes inúmeras figuras simbólicas: o Lava-pés (Jo XIII, 4-17), por meio do qual Nosso Senhor ensina sobre a humildade e o serviço; o Batismo (Mt III, 13-17), cujas águas límpidas fazem lembrar a purificação da mancha do pecado original. O próprio Jesus se definiu como “a Videira verdadeira” (Jo XV, 1) e “a Porta” (Jo X, 9).

A Liturgia, conjunto dos elementos que compõem o mais precioso ato de louvor a Deus, é formada em grande parte de símbolos que nos ajudam a compreender melhor a realidade ensinada pela Igreja. Poderíamos dizer que os símbolos na Liturgia são a linguagem mais simples e direta que usamos para nos remetermos a Deus. Eles concretizam nosso ato de louvor e súplica.

Assim se explica a grandiosa diversidade de ritos, breviários, paramentos, objetos litúrgicos e recursos artísticos existentes na Igreja. Cada um deles possui um significado e nos leva a entender com mais facilidade os mistérios divinos.

O sacerdote celebra de frente para o sacrário porque é o líder dos fiéis que lhe foram confiados, e juntos, na mesma direção, pastor e rebanho caminham ao encontro da salvação; quando o vemos celebrar vestido em sua bela casula, imaginamos que ele se revestiu inteiramente de Cristo, inclusive agindo em sua pessoa enquanto a Hóstia santa e imaculada pende sobre o altar.

As melodias gregorianas, cantadas em tom uníssono, nos recordam a unidade da Igreja e de sua doutrina ímpar; a polifonia sacra, com suas complexas construções harmônicas, contrapontos e cânones, simboliza a grande majestade e onipotência de Deus.

Observando as abóbadas de uma catedral, seus belos vitrais, adornos e imagens sacras em plena sintonia de formas e conjuntos, podemos ter uma idéia da perfeição incomparável do Criador e do equilíbrio com o qual ele arquitetou o Universo.

Existe uma forte tendência a ficarmos apenas com o lado mais superficial dos símbolos ou atribuirmos a eles estereótipos que não correspondem a seu verdadeiro significado. É muito comum encontrarmos pessoas que vêem em um terço ou escapulário um mero amuleto capaz de lhes trazer sorte, em vez de enxergar neles sacramentais da Igreja, cuja função é elevar-nos espiritualmente e lembrar-nos da necessidade de continuamente permanecer na graça divina.

Há quem veja o uso do véu pelas mulheres na missa como um ato de submissão ou inferioridade, esquecendo que ele acima de tudo significa recolhimento, temor a Deus e mais devoção à celebração do Santo Sacrifício; há quem ache que o latim é um fator que exclui os pobres e ignorantes da participação na missa, e não o vêem como um reforço à unidade da Igreja e à sacralidade exigida para a celebração.

Se entendidos em seu significado mais elementar, os símbolos podem facilmente ser interpretados como desnecessários ou supersticiosos. Esvazia-se todo o seu sentido mais profundo e daí surge o menosprezo por seu uso. Seus entusiastas, então, passam a ser chamados de saudosistas ou retrógrados.

Para concluir, os símbolos não existem para prejudicar nossa visão de Deus, da Liturgia e da Doutrina cristã, mas tão somente para esclarecer e aproximar conceitos que, se expostos de maneira essencialmente abstrata, poderiam resultar em grande dificuldade de serem compreendidos adequadamente.

Deixemos de lado o preconceito e a mentalidade simplista, e abracemos este grande tesouro que a Santa Igreja nos oferece ao longo dos séculos, ao mesmo tempo tão simples e sublime, cujo único intento sempre foi a santificação do povo cristão.

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