A proibição bíblica de comer sangue: como se explica?

A proibição de comer sangue que encontramos no Antigo Testamento era uma disciplina da Antiga Aliança entre Deus e Noé, incorporada à aliança com Moisés. Quando Jesus estabeleceu a Nova Aliança, como sua morte e sua ressurreição, tais disciplinas do Antigo Testamento se tornaram desnecessárias. Esta disciplina foi ainda mantida por um curto intervalo de tempo na Igreja Primitiva para proteger os recém-convertidos de algum escândalo, mas não era associada ao conhecimento teológico da graça. Tomadas dentro do contexto, percebemos que o consumo do sangue não é proibido, e além disso, é necessário para a Eucaristia.

Quando Adão pecou, ele sobrepujou os seus desejos aos de Deus. Quis o conhecimento e não a fé, e confiar em si próprio que em Deus. Do contrário, Deus nos pede que façamos a opção por algo muito maior que nós mesmos. Ele nos chama a conhecê-lo, a nos unirmos com Ele (Jo 17,11; 20-21). Tal união é alcançada pela fé em Jesus Cristo, a perfeita e plena revelação de Deus (Jo 1,14-18). Esta união pe infinitamente melhor que um mero conhecimento humano. É um mistério que somente pode ser desvendado pela fé.

A proibição de comer o sangue foi uma disciplina que refletia os mistérios da revelação de Deus ao povo judeu em uma determinada época. Esta proibição prefigurava a completa revelação de Deus, Jesus Cristo, e preparou Israel para a completa adesão à Nova Aliança em Seu sangue.

Antigo Testamento

Quando Deus criou Adão e Eva, deu-lhes toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente para que comessem, com exceção da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn. 1,29; 2,16-17). Mesmo dominando os animais, Deus não lhes permitiu que comessem animais.

Após o pecado original, o pecado se espalhou tanto pela terra que Deus viu a necessidade de acabar com toda a humanidade enviando uma grande tempestade. Apenas Noé, seus familiares e os animais na Arca sobreviveram (Gn 6-9). Quando acabou o dilúvio, Noé sacrificou a Deus: ele tomou de todos os animais puros e de todas as aves puras, e ofereceu-os em holocausto ao Senhor sobre o altar (Gn 8,20). Tal sacrifício agradou a Deus e foi prometido que jamais enviaria outro dilúvio (Gn 8,21-22). Foi neste momento em que Deus colocou nos animais um temor pelos homens e deu-lhes aos homens para que comessem (Gn 9,2-3). A única restrição era para que não comesse junto o sangue dos animais, porque no sangue estava sua vida: somente não comereis carne com a sua alma, com seu sangue (Gn 9,4).

A mesma proibição aparece três vezes em Levíticos 17,10-14 e deveria ser praticada ao povo de Israel e aos que vivam entre os filhos de Israel. Vejamos o contexto mais amplo sobre porque Deus quis esta disciplina na Antiga Lei:

A todo israelita ou a todo estrangeiro, que habita no meio deles, e que comer qualquer espécie de sangue, voltarei minha face contra ele, e exterminá-lo-ei do meio de seu povo. Pois a alma da carne está no sangue, e dei-vos esse sangue para o altar, a fim de que ele sirva de expiação por vossas almas, porque é pela alma que o sangue expia. Eis por que eu disse aos israelitas: ninguém dentre vós comerá sangue, nem o estrangeiro que habita no meio de vós. Se um israelita ou um estrangeiro que habita no meio deles capturar na caça um animal ou pássaro que se possa comer, derramará o seu sangue, e o cobrirá com terra, porque a alma de toda carne é o seu sangue, que é sua alma. Eis por que eu disse aos israelitas: não comereis sangue de animal algum, porque a alma de toda carne é o seu sangue; quem o comer será eliminado.

Pelo fato do homem ter o domínio sobre os animais, e no sangue dos animais está a sua vida, o sangue dos animais está reservado apenas ao sacrifício a Deus, que é o autor da Vida. Originalmente, os animais não foram destinados à alimentação do homem. Eles deveriam servir de companhia e distração ao homem. Após o pecado, quando o sacrifício era necessário para a salvação do homem, a vida dos animais era dada pela vida dos homens. Esta vida significava a de quem a oferecia. Caso um homem criasse ou caçasse animais, poderia se alimentar deles, mas não poderia comer junto o sangue, que deveria ser jogado no chão e coberto com terra. Este procedimento era um tipo de sacrifício e alertava o homem de que a vida do animal estava sendo oferecida no seu lugar. Se ele oferecesse um animal em sacrifício, partes do animal seriam comidas pelos sacerdotes, ou todo o animal queimado sobre o altar, dependendo do tipo de sacrifício (Lv. 7). De todo modo, o sangue era derramado no altar e oferecido a Deus. Desta forma, a oferenda da vida de um animal significava a sua própria volta a Deus, e a misericórdia e providência de Deus para os homens.

 

Referências: Gn. 9:3-4, Lv. 17:10-14, e At 15:28-29.

Referências: Gn. 9:3-4, Lv. 17:10-14, e At 15:28-29.

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