O Papa João Paulo II disse que, muitas vezes, falsas doutrinas conseguem se infiltrar até mesmo na própria catequese.
Existe, por exemplo, uma falsa interpretação da Bíblia no relato da Multiplicação dos Pães, que nega o milagre de Jesus, chamado de “passe de mágica”, e afirma, contra a intenção dos autores do Evangelho, que Jesus organizou o povo para uma “partilha comunitária” do alimento que eles mesmos teriam trazido em quantidade suficiente para todos.
Essa interpretação naturalista e racionalista, como sabemos, é radicalmente oposta à da Igreja Católica, que nos ensina a verdade através de seu Magistério. O catequista deve saber que não podemos interpretar a Bíblia livremente:
- “Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal” (2Pe 1,20).
O Catecismo, em comentário oficial sobre a Multiplicação dos Pães, ensina, no capítulo “Os sinais do Reino de Deus” (547-549):
- “Jesus acompanha as palavras com numerosos `milagres, prodígios e sinais’ (At 2,22) que manifestam que o Reino está presente nele. Atestam que Jesus é o Messias anunciado.
Os sinais operados por Jesus testemunham que o Pai o enviou. Convidam a crer nele. Aos que a Ele se dirigem com fé, concede o que pedem. Assim os milagres fortificam a fé naquele que realiza as obras de seu Pai: testemunham que ele é o Filho de Deus. (…)
Ao libertar certas pessoas dos males terrestres da fome, da injustiça, da doença e da morte, Jesus operou sinais messiânicos: não veio, no entanto, para abolir todos os males da terra, mas para libertar os homens da mais grave das escravidões, a do pecado, que os entrava na sua vocação de filhos de Deus e causa todas as suas escravidões humanas.”
E o Catecismo complementa, no parágrafo 1335:
- “O milagre da multiplicação dos pães, quando o Senhor proferiu a bênção, partiu e distribuiu os pães através dos seus discípulos para alimentar a multidão, prefigura a superabundância deste único pão da sua Eucaristia.”
Este milagre é tão importante e mesmo central para o Evangelho, que os quatro evangelistas escreveram sobre ele, deixando bem claro que de modo algum havia comida suficiente para todos:
- “Despede essa gente para que vá comprar víveres na aldeia.” (Mt 14,15)
- “Nós não temos aqui mais que cinco pães e dois peixes.” (Mt 15,17)
- “Partindo em seguida os pães, deu-os aos seus discípulos, que os distribuíram ao povo.” (Mt 15,19)
- “Jesus disse aos discípulos: `Tenho piedade desta multidão: eis que há três dias estão perto de mim e não têm nada para comer. Não quero despedi-los em jejum, para que não desfaleçam no caminho.'” (Mt 15,32)
- “Abençoou-os, partiu-os e os deu a seus discípulos, para que lhos distribuíssem, e repartiu entre todos os dois peixes.” (Mc 6,41)
- “Tomando os sete pães, deu graças, partiu-os e entregou-os a seus discípulos para que os distribuíssem e eles os distribuíram ao povo.” (Mc 8,6)
- “Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes… mas que é isto para tanta gente?” (Jo 6,9)
- “Jesus tomou os pães e rendeu graças. Em seguida, distribuiu-os às pessoas que estavam sentadas, e igualmente dos peixes lhes deu quanto queriam.” (Jo 6,11)
- “À vista deste milagre de Jesus, aquela gente dizia: `Este é verdadeiramente o Profeta que há de vir ao mundo.'” (Jo 6,14)
- “Disse Jesus: `Em verdade, em verdade vos digo, buscais-me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos.'” (Jo 6,26)
- “Estou admirado de que tão depressa passeis daquele que vos chamou à graça de Cristo para um evangelho diferente. De fato, não há dois evangelhos: há apenas pessoas que semeiam a confusão entre vós e querem perturbar o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que alguém – nós ou um anjo baixado do céu, – vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema. Repito aqui o que acabamos de dizer: Se alguém pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele excomungado!” (Gl 1,6-9)