Por Everton Jobim
Necessidade do homem se voltar para Deus pois o pecado os afastou (Rm 5;12) (…) Nós somos Salvos pela fé que temos em Jesus Cristo (Rm 5;1). O homem não é salvo por obras, por achar que ele está fazendo o bem, é salvo pela fé que deposita em Jesus (Ef 2:8;9) ;(Gl 2:16 ; 3:11 ; 3:26)
Resposta Católica:
A dificuldade dos luteranos em relação ao dogma católico da salvação pela fé e pelas obras radica na separação que o pensamento protestante produz na afirmação dogmática da Igreja Católica como confirmada pelo Concílio de Trento.
Quando a doutrina católica diz que a salvação é alcançada pela” fé e pelas obras”, ela não quer dizer que a salvação pode ser alcançada pelas obras separadamente da fé e da graça. Posto não ser concebível para os católicos a separação entre a realização das obras pias e a fé mais profunda na palavra de Deus.
A graça que recebemos no batismo e as graças especiais sacramentais e não-sacramentais, que recebemos ao longo de nossas vidas, convidam-nos permanentemente à realização das boas obras, das obras caridosas, das obras de Deus enfim.
E essas obras contam como méritos para o nosso julgamento; do mesmo modo que as obras de reparação, as penas que cumprimos, agradam a Deus, no modo da satisfação vicária do Cristo – após a confissão frutuosa dos nossos pecados.
Somos salvos porque recebermos a “graça justificadora” – no batismo – ofertada por Deus aos homens, que não têm méritos nesse recebimento.
Não obstante, uma vez apagado o pecado original, com o ato batismal, com o recebimento da vida trinitária em nós, nossa alma e o nosso ser em totalidade, tornam-se agradáveis a Deus.
Por isso – assim como é absolutamente estranho para o católico a realização das boas obras, verdadeiramente boas, sem a fé; também é inconcebível a existência em qualquer cristão, de uma fé profunda e ardente, viva-enfim- que não logre materializar-se, tornar-se visível, exteriorizar-se em boas obras como diz São Tiago (Tg 2,17).
Assim sendo, a fé necessariamente conduz à realização de boas obras. E as obras verdadeiramente pias só podem ocorrer com a presença interna de uma profunda fé na mensagem de Deus aos homens.
Pois – do contrário – ou seja , caso façamos boas obras por razões humanitárias, motivações do homem natural ou injunções da nossa vida particular, destituídas de uma crença na transcendência da alma humana, estaremos realizando uma obra parcial ao nosso próximo, a nós mesmos, e aos olhos de Deus – considerando que, para o cristão, evangelizar é parte imprescindível das obras espirituais, inclusive, recomendadas pela Igreja.
Quando o apóstolo Paulo diz que o “justo vive pela fé” e que “apenas a fé redime o crente ” (Romanos 1.17, Rm 5;1) – ele queria dizer que nada no mundo fora da fé no Cristo tem o poder de nos conduzir neste mundo , na direção certa ,e ,assim , de nos redimir.
A fé é fundamental! Ela é uma necessidade básica e inalienável para a vida litúrgica e para a vida espiritual, constitui todo o edifício doutrinário da Igreja.
Devemos ter a fé mais profunda na bondade divina, no seu poder misericordioso, nas suas graças e glorificá-lo através da pregação da palavra, da santificação dos homens e da realização das obras misericordiosas em termos espirituais e corporais.
Diz o apóstolo Paulo:
“18 A ira de Deus se manifesta do céu sobre toda a impiedade e injustiça dos homens que aprisionam a verdade na injustiça. 19 Com efeito, o que se pode conhecer de Deus está claro neles mesmos, pois Deus o revelou a eles. 20 De fato, desde a criação do mundo, o invisível de Deus – o eterno poder e a divindade – se torna visível à inteligência de suas obras. Assim eles se fazem indesculpáveis. 21 É que, conhecendo a Deus, não o glorificaram como Deus nem lhe deram graças, mas perverteram os pensamentos em vaidades, vindo a obscurecer-se o coração insensato deles. 22 Alardeando sabedoria, fizeram-se tolos, 23 trocando a glória do Deus incorruptível pela semelhança de imagens do homem corruptível, de aves, de quadrúpedes e répteis.” (Rom1)
São Paulo, portanto, criticava a idolatria dos pagãos que atribuíam aos seres naturais poderes divinos e não ao Deus todo poderoso. Eles adoravam ídolos e praticavam iniqüidades.
Essa fé no Deus invisível , não implica – muito pelo contrário – em retirar as obras pias desse conceito de fé.
A fé exige uma conduta cristã plena, composta; ou seja, uma vida na qual o pensamento está unido à ação e a crença inseparável das obras caridosas.
Pregar a palavra de Deus já é a realização de boas obras.
Os luteranos, contudo, ao afirmarem que a redenção conquistada por Nosso Senhor Jesus Cristo é incompleta visto que somos salvos ainda como pecadores – sendo nossa salvação enquanto pecadores, um mistério – não podem nunca identificar nas obras pias um sinal da graça que toca um determinado irmão em Cristo.
Eles afirmam que a concupiscência que subsiste ao batismo é ela mesma culposa ou pecadora.
Ao homem é negado qualquer poder sobre a sua salvação pensava Lutero.
Nada podemos fazer pela nossa salvação, a não ser crer na salvação. As obras não podem contribuir para ela – que já foi conquistada por Cristo na cruz, nem podem reparar os pecados cometidos.
O próprio Paulo fala da nossa redenção plena no mesmo trecho usado pelos luteranos para contrariar a salvação pelas obras. Vejamos esse trecho de Romanos capitulo 5:
“1 Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo. 2 Por ele é que em virtude da fé chegamos à graça em que nos mantemos e gloriamos na esperança da glória de Deus. 3 E não só isso. Até nas tribulações nos gloriamos. Pois sabemos que a tribulação produz paciência, 4 a paciência prova a fidelidade e a fidelidade comprovada produz a esperança. 5 E a esperança não engana, pois o amor de Deus se derramou em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado. 6 Com efeito, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu no momento oportuno pelos ímpios. 7 Com dificuldade alguém aceitaria morrer por um justo; por um homem de bem talvez haveria quem se animasse a morrer. 8 Mas Deus prova o seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, quando éramos ainda pecadores. 9 Com maior razão, pois, agora, justificados por seu sangue, seremos salvos da ira. 10 Se, ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais agora, já reconciliados, seremos salvos por sua vida. 11 Ainda mais: nós nos gloriamos em Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem agora recebemos a reconciliação.”(Romanos capitulo 5)
Quando éramos pecadores, e não mais somos, é a conclusão lógica do texto paulino.
Nossa vontade, para eles, os protestantes está sempre sujeita ao mal , o que contraria flagramente a própria palavra do Cristo quando nos ordenou a busca da perfeição tal qual a do Pai Celeste:”Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial”(S. MATEUS, V, vv. 44, 46 a 48.) O próprio Jesus Cristo diz que seremos julgados por nossas obras. E também disse aos judeus que eles deveriam ser reconhecidos como filho de Deus por suas obras Visto que aqueles que não são do Cristo não conseguiam reconhecê-lo nas obras que realizava; nem tampouco realizavam obras dignas de Abrãao.
Diz o Cristo em Jo 8 :
“Bem sei que sois descendentes de Abraão, mas quereis matar-me porque minha palavra não é acolhida por vós. 38 Eu falo do que vi junto do Pai, e vós fazeis o que aprendestes de vosso pai”. 39 “Nosso pai é Abraão”–responderam eles. Jesus lhes disse: “Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. 40 No entanto, agora quereis tirar-me a vida, a um homem que vos tem falado a verdade que ouviu de Deus. Isso Abraão não fez. 41”
As “boas obras” feitas por adultos, antes do batismo, ou feitas antes da vinda do Cristo, são consideradas em nosso julgamento, o mesmo valendo para os atos de “contrição perfeita” feitos pelos homens justos do Antigo Testamento.
Segundo o catolicismo podemos perder a graça santificante cometendo o chamado pecado mortal, e podemos recuperar o estado de graça com o arrependimento, a confissão e a realização de boas obras. O sacramento da confissão é uma segunda tábua da salvação para quem perde a graça batismal ou a macula com os pecados veniais.