Pergunta: Obrigado por responder. Agora eu pergunto: você é da opinião que qualquer, QUALQUER evidência empírica o persuadiria a acreditar que o Livro de Mórmon é verdadeiro?
Resposta: Esta é uma pergunta interessante, que eu não estou completamente seguro se sei a resposta. Li o Livro de Mórmon do começo ao fim várias vezes, fazendo notas à medida que lia. Também me familiarizei com um pouco de história mesoamericana pelas obras de Linda Schele e Michael Coe. Também levei em conta o cenário cultural onde viveu Joseph Smith.
Tudo isto me deixou convencido que o Livro de Mórmon é um produto do séc. XIX e que não há nada sobre isto que isso não pode ser explicado em termos de uma origem puramente humana.
Assim, acredito que a resposta para sua pergunta teria que ser que eu não acredito, neste sentido que não há qualquer tal evidência empírica e a questão é assim discutível.
Por outro lado, se eu fosse descontar o que aprendi, eu teria que dar o seguinte criteria antes de considerar o Livro de Mórmon ser autêntico:
– Uma explicação de por que o Livro de Mórmon repetidamente cita o Novo Testamento antes que fosse escrito, e por que cita os erros da tradução da KJV (em português, a Almeida CF) com seus arcaísmos e vários anacronismos. A teoria que o mesmo Espírito que inspirou os hebreus inspirou os profetas nefitas é muito especiosa, até onde eu sei. Como é a teoria que Smith copiou a KJV porque era muito próxima à passagem que ele estava ‘traduzindo’. Tudo isto me parece ser pouco mais que puras cópias, e podem ser demonstradas falhas. Por exemplo, o Novo Testamento passou pelo idioma grego antes que fosse traduzido a King James Version. O mesmo Espírito que inspirou os hebreus, inspirou os nefitas numa linguagem que eles não poderiam entender como o grego? Essa é a única explicação, embora incrível, sobre a influência da língua grega nas partes do Livro de Mórmon que são citadas do NT da KJV.
– Uma explicação de por que os mesmos aspectos que enfrentaram a cultura de Smith enfrentaram os nefitas. Assuntos como o batismo infantil, batismo por imersão/aspersão, maçonaria (ligações secretas), índios americanos como hebreus perdidos, sacerdotes contratados, etc.
– Alguma confirmação da existência dos nefitas/lamanitas/mulequitas/jareditas fora do Livro de Mórmon. Não é bastante mostrar os paralelos entre as culturas – pode-se provar qualquer coisa usando este tipo de ‘evidência’. Precisaríamos de evidência arqueológica verificável para estas culturas.
– Uma explicação de por que a cultura nefita (e outras) não se ajusta ao que conhecemos pela história. Por que o Livro de Mórmon fala do uso de cavalos, aço, espadas, carruagens, etc para os americanos antigos, quando nâo vemos nenhuma evidência disto? Por outro lado, por que não há registros que os americanos antigos usaram jade e obsidiana para armas, adoravam jaguares e serpentes, tinham um calendário de dezoito meses, jogavam um estranho jogo com vida e morte na estaca, etc, etc.
Deixe-me parar por aqui antes que vire uma novela. Só vou dizer que eu exijo o mesmo nível de prova para o Livro de Mórmon como eu faço para qualquer outro documento que afirme ser de origem antiga. Um excelente exemplo é o chamado ‘Evangelho de Barnabé’, uma vida de Cristo encontrado na Espanha cerca de 400 anos atrás. A maioria dos estudiosos imparciais rejeitou o documento como espúrio, por razões não muito diferentes das que vi para o Livro de Mórmon. Uma razão que posso me lembrar é que o Evangelho usou a palavra ‘barril’ muito antes que estes recipientes fossem inventados. É interessante notar que as pessoas que defenderam o Evangelho eram aquelas que tinham um grande interesse nele. O Evangelho de Barnabé apresentava uma vida de Cristo mais profunda do que a que lemos no Alcorão e foi (e, de fato, ainda é) defendida por alguns muçulmanos que a vêem como uma confirmação independente de seu livro sagrado. As implicações disto para o Livro de Mórmon permanecem como um exercício para o leitor.