EXPANSÃO DO CRISTIANISMO NO SÉCULO III – “A TERCEIRA RAÇA”

Enquanto o Império começava sua lenta agonia a Igreja crescia cada vez mais. Havia cristãos na Britânia e na Espanha, no Egito e no Danúbio, na Ásia Menor, nas costas gregas, na Trácia, na Macedônia. Há também alguns em Aelia Capitolina, construída sobre as ruínas de Jerusalém. As cidades costeiras da Síria possuem grande quantidade de cristãos.

Em torno do ano 200, Abgar IX, rei de Osreone, converte-se ao cristianismo. Na Gália, Santo Ireneu havia dado início a uma grande obra de evangelização. Fora das fronteiras do Império, na Mesopotâmia, na Pérsia, na Etiópia e até na Índia chegam pregadores do Evangelho. Povos bárbaros, como germanos e godos, receberam a semente da Boa-Nova. O desabrochar destas sementes, no entanto, só acontecerá a longo prazo.

A maioria dos cristãos continua a ser de classe baixa, o que é motivo de zombaria para os detratores da nova fé. Mas cada vez mais gente de nível econômico e social “respeitável” começa a entrar em suas fileiras.

Em Alexandria, fundada por Panteno, filósofo estóico convertido ao cristianismo, ainda no segundo século, uma escola teológica e catequética começava a se desenvolver. Clemente, Orígenes, Atanásio e Cirilo serão seus representantes mais significativos.

Opondo-se às tendências alegóricas e especulativo-filosóficas da escola de Alexandria, surgirá, no séc. III, a escola de Antioquia, intensamente dedicada à exegese bíblica. Seu fundador, acredita-se, é o presbítero Luciano de Samósata (+ c. de 312).

A hinologia dos primeiros séculos não deixou muitos vestígios. Temos o canto vespertino Phos hilarón e o matutino Dócsa en upsístois theo, nosso Gloria in excelsis Deo. Alguns papiros que foram descobertos traziam cânticos cristãos, um deles com notas musicais. As Odes de Salomão são uma coleção de cantos gnósticos do século II.

Com o crescimento numérico, começou a haver um certo relaxamento entre os cristãos. À medida que recrudescia a perseguição, surgiam mais e mais casos de apostasia.

Tertuliano afirma no Apologeticum que existem cristãos exercendo funções militares. Mais tarde, porém, quando se tornar montanista, ensinará que um seguidor de Jesus não pode servir no exército. Hipólito, em sua Tradição Apostólica, apresenta uma lista de profissões proibidas para os cristãos: soldado, sacerdote de ídolos e magistrado. O militar que deseja se converter não pode mais matar nem fazer juramentos.

No momento em que o cristianismo se tornar a religião oficial do Império, essas restrições vão desaparecer. Haverá, no entanto, um rito de purificação para o soldado que tiver derramado sangue.

Começam a ser construídas as primeiras igrejas a partir da metade do século III. A casa-igreja de Dura Europos, às margens do Eufrates, é o mais antigo edifício de culto cristão que se conhece (c. de 250). Em suas paredes existem vários afrescos com temas bíblicos. Nas catacumbas de Priscila, em Roma, temos um afresco com a Virgem e o menino Jesus nos braços (começo do séc. III). A iconografia cristã se desenvolve rapidamente.

Os sínodos, ou concílios locais, que já se realizavam no século anterior, se consolidam e se tornam um meio eficaz para garantir a unidade da Igreja.

Diante dos pagãos e dos judeus, os cristãos formavam o que Santo Agostinho chamava de “tertium genus”, a “terceira raça”.

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