Instituto bom pastor (ibp) deixa o brasil

HOMILIA PRONUNCIADA NA MISSA DE DOMINGO, 03 DE AGOSTO DE 2008

 

Meus caros irmãos,

Este domingo é muito particular porque é hoje que celebro a última Missa pública do Instituto Bom Pastor no Brasil. A meu pedido, o Reverendo Padre Laguérie tomou a decisão de fechar a casa de formação do IBP. O diácono Vincent e eu partiremos esta semana para a França. Muitas razões motivaram nossa partida definitiva, mas para evitar toda polêmica e para não ferir ninguém em particular, darei uma só razão que concerne a muitos. Não se trata de um acerto de contas, pois aqui não é nem o lugar nem o momento. Até porque também devo agradecer pela ajuda financeira. A generosidade dos senhores não faltou jamais. A questão que coloco e deixo para a meditação dos senhores é: que lugar deve ser dado ao sacerdote numa vida cristã[?].

Durante esses seis meses no Brasil, tive o sentimento de que para muitos o sacerdote é somente um distribuidor de sacramentos. Sem dúvida, o sacerdote é o homem da Missa e da liturgia e foi para isso que ele foi chamado por Jesus Cristo Sumo Sacerdote. E apesar de suas fraquezas, o padre continua a obra salvífica de Jesus Cristo.

Ele infunde a vida da graça nas almas pelo sacramento do Batismo; ele perdoa os pecados em nome de Cristo no sacramento da penitência e ele renova, de maneira não sangrenta, o sacrifício do calvário a cada Missa. Tantas coisas maravilhosas que somente a sabedoria de Deus podia instituir. Somente Deus podia arriscar-se a confiar um tal tesouro a vasos de argila. E a salvação das almas que Nosso Senhor confiou aos seus sacerdotes é um fardo terrível e uma missão exaltante. Mas o sacerdote não é somente isso.

Será que alguns já se perguntaram porque o sacerdote é chamado “Padre”? Porque é preciso admitir que as palavras que empregamos têm uma significação, correspondendo à realidade que designam. É de se admirar, todavia, que o termo “Padre” não evoca diretamente a dimensão sacrificial de sua obra. Ele evoca, porém, a paternidade espiritual do sacerdote. O sacerdote é um pai porque pelos sacramentos, começando pelo batismo, mas não somente por eles, ele infunde a vida divina nas almas. E esta é uma das razões do celibato eclesiástico na Igreja Romana. O Padre renuncia à paternidade natural em vista de uma mais perfeita: a paternidade espiritual. “Ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim ou por causa do Evangelho, que não receba, já neste mundo, cem vezes mais casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições, e no mundo vindouro a vida eterna.” (Mc 10, 29-30).

Esta promessa de Jesus Cristo se realiza eminentemente no sacerdócio e na vida religiosa, mas é preciso que seus filhos aceitem essa paternidade, consintam a ver no Padre um verdadeiro pai para a sua alma e, sobretudo, que tal paternidade não se exerce unicamente na capela. É neste ponto que a atitude de alguns está errada pois limitaram o Padre à capela, impedindo-o de ir mais além na sua paternidade espiritual. Não quero dizer que o Padre deva dirigir tudo nas famílias, mas muitos praticamente nunca me permitiram entrar no seio das famílias. É para mim uma tristeza sacerdotal enorme de ver que praticamente não os conheço. Minha alma está triste nesse dia. Essa decisão de cessar o apostolado brasileiro não foi tomado com alegria no coração. Não se trata nem de rancor nem de ódio, mas da tristeza de ter batido em portas que permaneceram fechadas.

Padre Roch Perrel
Instituto do Bom Pastor

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