Leitor pergunta sobre conciliação entre conhecimento de deus e amor ao próximo

Nome do leitor: Albert
Cidade/UF: Porto Alegre/RS
Religião: Cristã
Confissão: Católica

Mensagem
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Amados irmãos e irmãs do apostolado Veritatis Splendor, a Paz do Senhor esteja convosco.

Amados,

escrevo-lhes para no desejo de que possa ser ajudado, para responder a algumas questões básicas, creio eu de cunho relativista.

Tenho uma amiga que me argumentou que não vê qualquer necessidade em conhecer a Deus, em um sentido mais profundo, mas que basta entender que Ele deseja que se ame.

Para ela o amar está acima do conhecer, de maneira que qualquer empenho em estudos teológicos ou doutrinais não passa de uma “perda de tempo”, pois o tempo em que gastamos para ter esses conhecimentos, deveríamos estar ajudando a todas as pessoas que precisam. Basta apenas acreditar pela fé e pronto.

Quando argumentei que na Bíblia há na 1ª Carta de Pedro o pedido que estivéssemos preparados para dar a todos quanto pedirem os motivos de nossa fé, então ela argumentou que mesmo a Bíblia é fruto de uma interpretação pessoal.

Neste sentido, pergunto a vocês, pedindo antes de tudo desculpas por poder estar lhes ocupando com uma dúvida que aos seus olhos pode ser prosaica, porém eu não consegui argumentar suficientemente com ela sobre isso.

Gostaria que me ajudassem a responder de uma forma clara e objetiva: por que  é importante conhecer a Deus? Não seria mais importante estar ajudando as pessoas que precisam de nós (amando) do que empenhar nosso tempo em uma busca que nunca alcançaremos completamente que é conhecer a Deus? A mensagem de Deus não se resume em amar aos outros?

Desde já agradeço a atenção e a ajuda.

Um abraço.

Prezado Albert,

Sua amiga lhe disse que “basta entender que Deus deseje que se ame”. Ora, parece importar-se com aquilo que Deus deseja, de modo que então deveria atender a tudo o que Deus quer, e que se resume em “amá-lo sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo”. Mas como irei amar a Deus sobre todas as coisas sem conhecê-lo “em um sentido mais profundo”, uma vez que ninguém ama o que não conhece?

Por outro lado, o amor ao próximo não é algo que paira sobre si mesmo, mas que está fundado no amor a Deus; aquele não pode ser reduzido à mera solidariedade ou filantropia, mas deve ser verdadeira caridade, que comunique o amor divino aos demais. Mas como comunicar o amor divino sem vivê-lo? E como vivê-lo sem conhecer a Deus?

E como irei conhecer a Deus sem conhecer Sua Revelação (Sagrada Escritura e Sagrada Tradição)? E como irei conhecer Sua Revelação sem ouvir o Magistério da Igreja, sustentáculo da Verdade, para assim evitar as “interpretações pessoais”, o subjetivismo, o relativismo, e estar preparado a “dar razão de minha esperança”? E como ouvir o Magistério da Igreja sem “empenhar” meu tempo?

Todo o tempo que “gastamos” nos formando na doutrina católica na realidade é investimento de tempo, que nos possibilita amar mais intensamente a Deus, para assim podermos viver a maior das caridades: a de proporcionar às outras pessoas, como instrumentos de Deus, que estas possam também entrar em comunhão com Seu Criador, conhecendo-o e amando-o.

A mera noção de que “Deus quer que ame” não inflama o coração de ninguém a amar. O conhecimento dos mistérios da Fé, pelo contrário, deixa a alma transbordante de caridade para com Deus e o próximo. Se eu estudo sobre a Encarnação do Verbo, por exemplo, eu posso compreender em alguma medida quão grande é o amor de Deus por mim e pela humanidade, a ponto de Ele se fazer homem, e posso compreender que Deus quis precisar da natureza humana para reconciliar os homens consigo. Deste modo, eu amo mais a Deus, me alimento de Seu amor na oração (oração que se enriquece com o que passei a conhecer sobre Ele) e sei em primeira pessoa que Deus também solicita o auxílio de minha humanidade para fazer chegar Seu amor a outras pessoas. Mesmo que eu nunca chegue a compreender plenamente o alcance da Encarnação, quanto mais eu medito sobre ela, mais capaz de amar eu me torno.

Se levo em consideração, ademais, que Jesus nos deu um novo mandamento, de amar-nos uns aos outros como Ele nos amou, fica mais clara a necessidade de conhecê-lo, de saber como amava os apóstolos e todos aqueles de quem se aproximava. E como poderei fazê-lo sem a leitura do Evangelho, inserindo-me em cada cena como um personagem mais, a receber o amor de Jesus para saber transmiti-lo? E como lerei corretamente o Evangelho sem ouvir a pregação da Igreja, pois quem ouve os apóstolos (a Igreja) ouve a Jesus, e quem os rejeita, O rejeita, rejeitando assim a possibilidade de amar com retidão, com plenitude?

É falsa a dicotomia entre conhecimento de Deus e amor ao próximo, como é falsa a dicotomia entre amor a Deus e amor ao próximo. O conhecimento de Deus –obtido através do conhecimento do Magistério da Igreja, que nos atualiza o Evangelho– nada mais é do que o princípio do amor a Deus e ao próximo. Da mesma forma que ninguém pode pretender amar a Deus se não ama o próximo –isso porque havendo amor a Deus, há necessariamente amor ao próximo–, também ninguém pode pretender não conhecer a Deus, sob o pretexto de amar ao próximo; seu amor ao próximo não seria verdadeira caridade, pois sem conhecimento de Deus não há amor a Deus, e sem amor a Deus não há caridade com o próximo.

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