Leitora pergunta sobre Missa sincretista em Paris

[Leitor autorizou a publicação de seu nome no site] Nome do leitor: Juliana Farias
Religião: Católica

Mensagem
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Olá,

Queria saber qual a posição da Igreja Católica em relação a Missa que houve  há nao sei quanto tempo na França, onde católicos e seguidores do candomblé, participam da Santa Missa (com direito a tambor e tudo).

http://jornalhoje.globo.com/JHoje/0,19125,VJS0-3076-20070915-301605,00.html

Sou Católica e, antes de discordar queria saber qual a posição da Igreja em relação a esse fato.

A paz.

Caríssima Juliana,

A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo e as bênçãos de Maria!

Antes de tudo precisamos entender até que nível é possível adaptar a Liturgia aos moldes culturais de um povo. A Constituição Litúrgica Sacrosanctum Concilium, do Concílio Vaticano II, afirma com relação à música na Liturgia: “Em certas regiões, sobretudo nas Missões, há povos com tradição musical própria, a qual tem excepcional importância na sua vida religiosa e social. Estime-se como se deve e dê-se-lhe o lugar que lhe compete, tanto na educação do sentido religioso desses povos como na adaptação do culto à sua índole, segundo os art. 39 e 40. Por isso, procure-se cuidadosamente que, na sua formação musical, os missionários fiquem aptos, na medida do possível, a promover a música tradicional desses povos nas escolas e nas acções sagradas” (n.119). Podemos aplicar o que o Concílio Vaticano II diz a respeito da música litúrgica à cultura como um todo, isto é, o processo de adaptação da liturgia às características culturais deve se transcorrer em respeito às normas litúrgicas estabelecidas pela autoridade competente, conforme determinado nos artigos 39 e 40 da mesma Constituição, e sob a depedência dos quais está o artigo 119 citado. Estas normas litúrgicas são claríssima e não permitem que a celebração da Eucaristia seja conspurcada pela influência de religiões falsas como candomblé, ainda que em nome da atividade missionária. Poderia-se até admitir instrumentos musicais da cultura afro na Liturgia, dentro dos justos limites, mas nunca um sincretismo religioso banal e grosseiro, que quer bater no liquidificador todos os cultos e crenças religiosas como se fossem uma coisa só. Isso não é permitido e inadmissível.

Sobre o mesmo assunto, isto é, a influência da cultura nas manifestações externas da Liturgia, falou o Papa Pio XII na sua Encíclica Mediator Dei, a qual lhe aconselho que leia lado a lado com a Constituição Sacrosanctum Concilium, ao falar das artes: “Nós vos exortamos ainda, veneráveis irmãos, a que tomeis cuidado em promover o canto religioso popular e a sua acurada execução feita com a dignidade conveniente, podendo isso estimular e aumentar a fé e a piedade das populações cristãs. Suba ao céu o canto uníssono e possante de nosso povo como o fragor das ondas do mar, expressão canora e vibrante de um só coração e uma só alma,  como convém a irmãos e filhos de um mesmo Pai. O que dissemos da música, se aplica às outras artes e especialmente à arquitetura, à escultura e à pintura. Não se devem desprezar e repudiar genericamente e por preconceitos as formas e imagens recentes, mais adaptadas aos novos materiais com os quais são hoje confeccionados; mas, evitando com sábio equilíbrio o excessivo realismo de uma parte e o exagerado simbolismo de outra, e tendo em conta as exigências da comunidade cristã, mais do que o juízo e o gosto pessoal dos artistas, é absolutamente necessário dar livre campo também à arte moderna, se esta serve com a devida reverência e a devida honra aos sagrados edifícios e ritos; de modo que ela possa unir a sua voz ao admirável cântico de glória que os gênios cantaram nos séculos passados a fé católica” (n.180). O Santo Padre Pio XII aconselha a promoção do canto religioso popular, o que pode ser aplicado às culturas e tradições populares com um todo (e o próprio Pio XII diz isso: “o que dissemos da música, se aplica às outras artes e especialmente à arquitetura, à escultura e à pintura”), mas deixa claro que isto deve ser feito com a “dignidade conveniente”. O que se entende por essa expressão? Nada mais que o devido respeito às normas litúrgicas emanadas da autoridade superior, a observação estrita das rubricas do Missal. Tanto é que logo após ensinar que não se deve desprezae por preconceitos “as formas e imagens recentes, mais adaptadas aos novos materiais com os quais são hoje confeccionados”, o Papa esclarece que “evitando com sábio equilíbrio o excessivo realismo de uma parte e o exagerado simbolismo de outra, e tendo em conta as exigências da comunidade cristã, mais do que o juízo e o gosto pessoal dos artistas, é absolutamente necessário dar livre campo também à arte moderna, se esta serve com a devida reverência e a devida honra aos sagrados edifícios e ritos”. Portanto, deve e pode ser aproveitado das culturas e tradições populares aquilo que elas possuem de bom e que não ofenda às normas litúrgicas, mas deve ser repudiado aquilo que ofende estas mesma normas e a Fé da Igreja, conforme estabelece o Papa no mesmo número da Encíclica, logo depois: “Não podemos deixar, porém, por dever de consciência, de deplorar e reprovar aquelas imagens e formas por alguns recentemente introduzidas, que parecem ser depravação e deformação da verdadeira arte e que, muitas vezes, repugnam abertamente ao decoro, à modéstia e à piedade cristã e ofendem, lamentavelmente, o genuíno sentimento religioso; elas devem ser mantidas absolutamente afastadas e postas fora das nossas igrejas como ’em geral tudo que não está em harmonia com a santidade do lugar'”. Deve-se portanto deplorar aquilo que, nas culturas, ofenda às normas litúrgicas e à Fé da Igreja, e que por isso mesmo prejudica o que é objetivo máximo da Liturgia: o culto a Deus e a santidade dos fiéis.
No caso que você nos cita, pelo que lemos na notícia, houve um abuso grave de sincretismo religioso. Isso não é permitido sob nenhuma circunstância, nem mesmo sob a desculpa de atividade missionária, ainda mais com a desculpa de estimular o interesse na Bahia! Misturar os cultos, misturar a Missa com o candomblé, é um desrespeito gravíssimo a Jesus Eucarístico. O sincretismo religioso é sempre banal e grosseiro, é sempre inaceitável, caríssima Juliana. Logo, uma Missa nos moldes desta que foi celebrada em Paris, é absurda, desrespeitosa e inadmissível. Espero que lá sejam tomadas medidas sérias para evitar que isto aconteça novamente.
Esperamos ter lhe ajudado, caríssima. Confiamo-nos às vossas orações, para que nosso Apostolado continue seu trabalho em defesa de Cristo e da Igreja!

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