Por Vanderlei de Lima
No encontro do Foro de São Paulo, em Brasília (29/06-02/07 último), o presidente Lula, segundo órgãos da imprensa, declarou o seguinte: “Eles nos acusam de comunistas, achando que nós ficamos ofendidos. Ficaríamos ofendidos se nos chamassem de nazista, de neofascista, de terrorista. Mas de comunista, de socialista, nunca. Isso não nos ofende. Isso nos orgulha muitas vezes”. Que dizer? De início, devemos dizer, com toda segurança doutrinária, que o verdadeiro fiel católico rejeita a cada uma dessas ideologias nefastas e sanguinárias. Com efeito, o Papa Pio XI, na encíclica Non abbiamo bisogno, de 29/06/1931, censura o fascismo e, por outra encíclica, a Mit Brennender Sorge, de 14/03/1937, desaprova o nazismo. Já o
terrorismo – fenômeno um pouco mais recente – mereceu oposição, desde o Concílio Vaticano II (1962-1965), por meio da constituição pastoral Gaudium et Spes n. 79, até as declarações de Papas posteriores, especialmente de São João Paulo II, conforme se lê no Compêndio da Doutrina Social da Igreja (São Paulo: Paulinas, 2011), n. 513-514, por exemplo.
O verdadeiro católico também não se orgulha de ser comunista, socialista ou algo que equivalha a esse sistema mau em si mesmo, apresente ele o nome que apresentar. Para dar uma prova genérica do que afirmamos, bastaria recordar que, de Pio IX († 1878) a Francisco – tendo, por exceção, devido ao seu curtíssimo pontificado, João Paulo I –, todos os Papas, de algum modo, se pronunciaram contra o comunismo ou o socialismo. Francisco, o atual pontífice, por exemplo, declarou: “Nunca compartilhei a ideologia marxista, porque ela é falsa” (ACI/EWTN Notícias, 05/04/2014). Portanto, ninguém pode ser, ao mesmo tempo, verdadeiro católico e autêntico socialista.
Com o passar dos anos, no entanto, o socialismo se ramificou e apareceu com nomes distintos: socialismo moderado, socialismo cristão e até socialismo católico. O Papa Pio XI alertou, então, os católicos frente a essa confusão no conceito de socialismo demonstrando que nenhum deles se concilia com a fé católica. Todos trazem, em sua essência, “o princípio fundamental do socialismo primitivo, contrário à Fé cristã” (Quadragesimo Anno, 15/05/1931, n. 43). O mesmo Pio XI declarou: “O socialismo, quer se considere como doutrina, quer como fato histórico, ou como ‘ação’, se é verdadeiro socialismo, mesmo depois de se aproximar da verdade e da justiça, não pode conciliar-se com a doutrina católica, pois concebe a sociedade de modo completamente avesso à verdade cristã” (idem, n. 46). Deste modo: “Socialismo religioso, socialismo
católico são termos contraditórios: ninguém pode ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro socialista” (ibidem, n. 47).
A essa declaração do Papa Pio XI, Dom Estevão Tavares Bettencourt, OSB, acrescenta: “Houve – e ainda há – católicos que pretendem conciliar entre si marxismo e Cristianismo. Na verdade, a conciliação é impossível, como tem proclamado a Igreja desde 1846” (Pergunte e Responderemos n. 555, setembro de 2008, p. 403).
E mais: em outra fonte, o afamado teólogo beneditino carioca acrescenta o que segue: “O Não dito por Pio XI, em 1931, é válido até hoje na medida em que o Socialismo conserva até nossos dias a identidade que ele tinha naquela época. Sabemos que nos tempos atuais o vocábulo ‘socialismo’ é polivalente e matizado. Não raro,
debaixo de aparência mais moderada do que outrora, ainda esconde (e manifesta) teses e realizações incompatíveis com os princípios cristãos. A Ética socialista é, muitas vezes, materialista e pragmática – o que obriga o fiel católico a estar alerta às propostas socialistas, não se deixando facilmente iludir por discursos pacíficos e belas promessas” (Curso de Doutrina Social da Igreja. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1992, p. 168).
Façamos, pois, estimulados pela recente afirmação do presidente Lula, o seguinte pedido orante: “Senhor Jesus, por intercessão de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, livrai-nos do comunismo ‘intrinsecamente perverso’ (Pio XI. Divinis Redemptoris, 1937, n. 58)”. Amém!
Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld