Foi com grande alegria que nós, católicos de todo o mundo, recebemos a notícia da canonização de dez Beatos. Sempre é motivo de festa na Igreja a constatação da santidade de homens e mulheres que viveram de forma piedosa e integral, com uma sadia radicalidade, a mensagem cristã. O Magistério, com o poder dado pelo próprio Cristo, confirma a santidade quando se comprova, por meio da ciência, que os milagres obtidos pela intercessão desses Beatos não tem qualquer explicação racional.
A data da canonização será marcada no próximo Sábado, dia 21 de Faveiro, quando ocorrerá o consistório público dos cardeais. Os dez Beatos, e futuros Santos, são:
Zygmunt Szcesny Felinski, Prelado polaco, foi Arcebispo de Varsóvia e Conselheiro do Estado. Lutou vigorosamente para que o governo russo livrasse os poloneses mandados para a Sibéria. Foi preso na fortaleza de Yaroslavl. Fundou a Congregação das Irmãs Franciscanas da Família de Maria.
Arcangelo Tadini, Sacerdote italiano. Sempre buscou aprofundar seu amor à Eucaristia e a Maria Santíssima, do mesmo modo valorizava a constante fidelidade à Igreja e aos seus ensinamentos. Foi um homem de extrema caridade; fundou a Associação operária de mútuo socorro, com seu patrimônio construiu uma fábrica de tecidos para proporcionar às mulheres melhores condições de vida e, para fechar com chave de ouro, fundou a Congregação das Irmãs Operárias da Santa Casa de Nazaré.
Francisco Coll y Guitart, Sacerdote Dominicano espanhol. Homem de grande entusiasmo, ficou conhecido por suas pregações espirituais e missões populares. Seu fervor evangélico era muito requisitado em meio a uma época de guerras e descrenças. Também se destacou na difusão da devoção ao Rosário. Ademais, ao comprovar a ignorância religiosa e o enfraquecimento da fé cristã em meio ao povo, pediu a Deus a graça necessária para enxergar uma solução para essa triste realidade. Desse modo, através da intercessão da Virgem do Rosário e de São Domingos, percebeu que os principais serviços que devia prestar ao povo de Deus e a sociedade era fundar uma Congregação dominicana com o claro objetivo de formar e estruturar a fé, do mesmo modo que se colocaria a disposição para formar jovens sem recursos econômicos, para que não ficassem na ignorância da doutrina, o que Francisco considerava um dos principais males do seu tempo. Assim nasceu a Congregação das Irmãs Dominicanas da Anunciação da Beata Virgem Maria.
Damião de Molocai, Sacerdote holandês da Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria e da Adoração Perpétua do Santíssimo Sacramento do Altar. Ao concluir seus estudos teológicos em Paris ouviu os discursos proferidos pelo Bispo do Havaí que clamava a necessidade de trabalhos missionários no arquipélago, especialmente na ilha de Molokai, onde viviam os leprosos totalmente renegados pelo mundo. Escreveu uma carta ao Superior da Congregação e partiu rumo as ilhas havaianas. Chegando na ilha dos leprosos fez um cemitério, uma igreja, um hospital e o aqueduto. Passou dez anos com os doentes sem qualquer sintoma, até o dia em que pisou numa bacia com água quente e não sentiu dor alguma. Morreu em 1889.
Bernardo Tolomei, monge italiano, adotou o nome Bernardo em honra ao Abade de Claraval. Queria seguir a vida religiosa mas foi impedido pelo seu pai. Estudou matemática, filosofia, direito civil e canônico e teologia. Foi feito pelos cidadãos de Siena um dos principais nomes da política municipal. Depois de ter uma cegueira curada graças a intercessão da Virgem Maria resolveu se isolar do mundo, vivendo com grande austeridade, penitência e mortificação. Sua fama de homem virtuoso e santo fez de sua ermida local de grande peregrinação, o que logo foi acompanhado pela acusação de heresia. Foi para Avignon e se submeteu ao Papa, para que não houvesse dúvida quanto a sua fidelidade e ortodoxia. Posteriormente fundou a congregação da Santíssima Virgem do Monte Oliveto sob a Regra de São Bento. Era um carisma essencialmente beneditino e essencialmente mariano. Com a propagação da praga em Arezzo D. Bernardo e seus filhos rapidamente se prontificaram a ajudar o povo doente, sua caridade o marcou com a morte; sucumbiu com a doença aos 76 anos.
Rafael Arnáiz Barón, monge cisterciense espanhol, nasceu numa família com grande poder aquisitivo e extremamente católica. Seu pai era engenheiro e sua mãe escrevia sobre a sociedade em periódicos. Sua paixão pela ciência e pela arte o levou ao estudo da Arquitetura, mas tudo mudou quando visitou o Mosteiro de São Isidoro de Dueñas. Ali acendeu nele a semente monástica, o que se concretizou em 1934, quando finalmente entrou em La Trapa. No mesmo Mosteiro, em 1938, com apenas 27 anos, morreu Rafael Arturo Alvaro José de la Inmaculada Concepción y San Luis Gonzaga Arnáiz Barón
Nuno de Santa Maria Álvares Pereira, monge carmelita português. Foi um grande general, lutou bravamente pela autonomia do seu país frente a Castela. D. Nuno Pereira, Condestável de Portugal era o 2.º conde de Arraiolos, 7.º conde de Barcelos e 3.º conde de Ourém e tinha uma das maiores fortunas de toda a Península Ibérica. Seu gênio militar fez com que 6.000 portugueses vencessem o exército castelhano com 30.000 homens. Sua filha, Beatriz Pereira de Alvim, que teve no seu casamento com D. Leonor Alvim, se casou com Afonso I de Bragança. Esse casamento deu origem à Casa de Bragança que reinará em Portugal três séculos depois e cinco séculos depois no Brasil . Depois da morte de sua esposa entrou na Ordem do Carmo, construindo o Convento de Lisboa, adotou o nome de Nuno de Santa Maria e deixou todos os prazeres do mundo. O seu epitáfio dizia: “Aqui jaz o famoso Nuno, o Condestável, fundador da Casa de Bragança, excelente general, beato monge, que durante a sua vida na terra tão ardentemente desejou o Reino dos Céus depois da morte, e mereceu a eterna companhia dos Santos. As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande Príncipe, mas fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde descansa o seu corpo.”
Gertrude Comensoli, religiosa italiana, ingressou na Companhia de Santa Ângela Merici, depois foi trabalhar como doméstica e acabou se tornando dama de companhia de senhoras da nobreza italiana. Sua preocupação a respeito da formação da juventude feminina católica a levou a pensar na fundação de uma família religiosa que se focasse na instrução de moças. Sua forte devoção eucarística, o amor a Jesus-Hóstia, se concretizou no Instituto das Irmãs do Santíssimo Sacramento.
Joana Maria da Cruz, religiosa francesa, recusou pedidos de casamento para viver unicamente com Cristo. Trabalhou como enfermeira no Hospital de Sano Estevão. Posteriormente, junto com seu amiga Francisca Aubert, alugou um apartamento onde acolhia idosos, pobres e doentes. Com o crescimento da força espiritual daquele pequeno cômodo mais moças se uniram a Joana Maria. Com isso surgiu uma simples Associação para os pobres. Com o crescimento dessa Associação, e com a ajuda de um rico comerciante, Joana transferiu os trabalhos para um pequeno convento que, no futuro, se tornou a casa mãe da Congregação das Irmãzinhas dos Pobres.
Catarina Volpicelli, religiosa italiana, nasceu numa família com grande poder econômico, teve uma educação clássica, uma formação humana exemplar, indo além ao dominar línguas e até mesmo a música. Inspirada por Deus se distanciou de todos esses prazeres mundanos que a cercavam. Com o apoio espiritual do Bem Aventurado Ludovico da Casoria caminhou na sua estrada rumo a fundação do Instituto das Servas do Sagrado Coração, de imediato aprovado pelo então Arcebispo de Nápolis, o Servo de Deus Sisto Riario Cardeal Sforza. Posteriormente S.S Leão XIII elevou o Instituto a Congregação.