Os manuscritos bíblicos possuem milhares de variações

Percebeu-se que, existindo milhares de manuscritos da Bíblia, estes manuscritos continham milhares de variações textuais; um autor estima que devam existir mais de 200.000 variações [25]. Apesar de muitas destas variações referirem-se a temas menores – tais como escrita, ordem das palavras e etc. – também existem variações das mais importantes naturezas: a) os manuscritos demonstram que algumas vezes os escribas modificavam o texto para harmonizar passagens, acomodá-las a fatos históricos, e para estabelecer uma correta conduta doutrinária [26]; b) existem partes de versículos (isto é, mais que simples palavras) que possuem leitura diferente em diferentes manuscritos, como Jo 7,39, At 6,8, Cl 2,2 e 1 Ts 3,2 [27]. Estes fatos levam o protestante a não saber se a Bíblia que possui é a mesma Bíblia que foi escrita pelo autor inspirado. E se este é o caso, então como o protestante pode professar a base de sua crença somente na Bíblia quando ele não consegue determinar com certeza a autenticidade textual desta mesma Bíblia? [28].

Mais importante, existem muito mais variações entre os manuscritos do Novo Testamento. Os dois exemplos seguintes ilustrarão este ponto:

Primeiro, de acordo com os manuscritos que possuímos, existem quatro possíveis finais para o Evangelho de Marcos: o menor, que inclui os vv.1-8 do capítulo 16, o longo, que inclui os vv.1-8 mais os vv.9-20; o intermediário, que inclui duas ou três linhas entre o v.8 e o final longo, e o final longo expandido, que inclui vários versículos após o v.14 do final longo [29]. O melhor que podemos concluir sobre estas diferenças é que não podemos saber, apenas pela Bíblia, onde termina o Evangelho de Marcos, e, dependendo de qual final está (ou estão) incluído(s) na Bíblia protestante, o publicador corre o risco de estar distribuindo Bíblias acrescentando ou omitindo versículos do texto original – portanto violando a doutrina da Sola Scriptura, que requer que somente a Bíblia, e a Bíblia inteira seja a única regra de fé. Mesmo se uma Bíblia protestante incluir todos os quatro finais com notas de rodapé e comentários, mesmo assim não terão a certeza de qual final é o genuíno.

Segundo, há algumas evidências para leituras alternadas de alguns textos centrais da Bíblia, tal como Jo 1,18, onde ocorrem dois possíveis significados [30]. Algumas Bíblias (como a King James Version) trazem este versículo como está na Douay-Rheims: Nenhum homem viu a Deus em qualquer tempo, o filho único que está no seio do Pai o revelou. Outras acompanham a New Internacional Version: Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está à direita do Pai, foi quem o revelou. Ambas as formas estão sustentadas por manuscritos, e você encontrará exegetas bíblicos debruçarem seus mais preciosos julgamentos à que crêem seja a “correta”. Uma situação similar ocorre em At 20,28, onde os manuscritos mostram que Paulo poderia estar se referindo tanto à Igreja do Senhor (gr. Kurion) ou à Igreja de Deus (gr. Theou) [31].

Este assunto pode parecer simplório à primeira vista, mas suponha que você esteja tentando evangelizar um membro de uma seita que nega a divindade de Jesus Cristo. Ainda que Jo 1,18 e At 20,28 não sejam as únicas passagens que possam defender a divindade de Nosso Senhor, você ficará incapacitado de utilizá-los com esta pessoa, dependendo de qual manuscrito sua Bíblia foi reproduzida. Isto levaria-o a uma possibilidade reduzida de defender uma doutrina bíblica fundamental, e este fato tornaria problemática a perspectiva da doutrina da Sola Scriptura.

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