Os manuscritos do Novo Testamento

Os mais antigos manuscritos dos textos do Novo Testamento eram escritos em papiro, um material frágil que se estragava com o manuseio e que somente se conservava em condições excepcionais de um clima seco como o do Egito.

Existem pedaços dos Evangelhos e Epístolas em papiro, encontrados na grande quantidade de manuscritos do Egito. Foram encontrados fragmentos do Evangelho de São Mateus (Mateus 1,1-9.12.14-20) e do Evangelho de São João (João 1,23-31.33-41; 20,11-17.19-25) pelos exploradores Grenfell e Hunt em Oxyrhynehus, a 120 milhas ao sul do Cairo, no Egito. O fragmento de Mateus está na Biblioteca da Universidade da Pensilvânia; o de João, está no Museu Britânico. Pelos mesmos exploradores também foram encontrados a “Logia” ou “Palavras de Nosso Senhor”, que muito provavelmente foi copiada no ano 200 d.C.

No século IV d.C., os papiros foram substituídos pelos pergaminhos, dando aos manuscritos uma maior durabilidade e permanência. A conversão de Constantino ao Cristianismo, fez com que houvesse uma cuidadosa e brilhante produção de escritos cristãos. Os códices (“codex”, palavra derivada de “caudex”, é uma tabuinha geralmente coberta de cera, na qual se escrevia com um ponteiro de ferro chamado “stylus”) foram adotados no lugar dos rolos e assim, pela primeira vez, as Escrituras do Novo Testamento puderam ser convenientemente ajuntadas num único volume. Os códices eram reunidos por um cordel, que passava por orifícios feitos no alto dos exemplares à esquerda, ficando desse modo com forma de livro, ao contrário das “volumina” ou “rolos”. Todos os manuscritos que tivessem esta forma eram chamados de “códice”. Como as tabuinhas eram muito usadas para fins jurídicos, chama-se “Código” a um sistema de leis.

Eusébio (†339) afirma, em seu livro “Vida de Constantino”, que o Imperador mandou fazer 50 exemplares das Escrituras em pergaminho, para as Igrejas da sua nova capital, Constantinopla. Dois desses exemplares talvez subsistam no Códice Vaticano B e no manuscrito Sinaítico.

Quando o pergaminho se tornou muito caro para o copista, muitas vezes a escrita era lavada e raspada, para se escrever outra coisa; esse tipo de manuscrito era chamado de “codex rescriptus” ou “palimpsesto,” do grego, “raspado de novo”. Algumas vezes acontecia que a raspadura não era completa, ou que a tinta do original se tornava tão instável que o escrito anterior reaparecia. Temos como exemplo o Códice Ephraemi C, sobre o qual falaremos a seguir.

Os manuscritos do Novo Testamento acham-se divididos em duas classes, as “Unciais” (provém de “uncia”, “polegada” em latim), escritas em letras maiúsculas, e as “Cursivas”, escritas em letras minúsculas.

Nos primeiros séculos, o Novo Testamento estava dividido em três partes: os Evangelhos; as Epístolas; e os Atos dos Apóstolos + o Apocalipse. No século III, os Evangelhos foram divididos em duas espécies de “capítulos”: os maiores eram os “resumos”; e os menores, “capítulos”. Estas divisões foram primitivamente introduzidas por Amônio e, por isso, chamadas de “divisões amonianas”. No século IV, essas divisões já eram usadas nos Evangelhos, sendo adaptadas por Eusébio em suas “tábuas de referência”, conhecidas por “cânones de Eusébio”.

No ano de 459, Eutálio, diácono de Alexandria, publicou uma edição das Cartas de São Paulo divididas em “capítulos”, segundo as divisões amonianas; do mesmo modo, ele também dividiu, em 490, as Epístolas Católicas e os Atos dos Apóstolos. Ele próprio afirma que pôs acentos nos manuscritos, copiados por ele, costume que não se generalizou até o século VIII.

A moderna divisão em capítulos é atribuída aos católicos cardeal Estevão Langton (†1228), no início do século XIII, na Universidade de Paris; mais tarde, no século XVI, os mesmos capítulos foram divididos em versículos numerados por Sante Pagnine, para o Antigo Testamento (1528) e por Roberto Estevão, para o Novo Testamento (1551).

São conhecidos hoje cerca de 5.236 manuscritos[1] do texto original em grego do Novo Testamento, sendo 266 códices unciais, 2.754 códices cursivos, 81 papiros e 2.135 lecionários, comprovadamente autênticos pelos mais renomados pesquisadores e especialistas do mundo.

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NOTA

[1] Todos esses manuscritos são fruto de copistas católicos.

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BIBLIOGRAFIA

– Parte integrante do opúsculo “A Formação da Bíblia ao longo dos Séculos e a importante participação da Igreja Católica neste processo”, de autoria de Leandro Martins de Jesus, 2005.
– ANGUS, Joseph; GREEN Samuel G. “História Doutrina e Interpretação da Bíblia”. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1951.
– AQUINO, Felipe. “Escola da Fé I – A Sagrada Tradição”. Lorena: Cléofas, 2000.
– AQUINO, Felipe. “Escola da Fé II – A Sagrada Escritura”. Lorena: Cléofas, 2000.
– AQUINO, Felipe. “Escola da Fé III – O Sagrado Magistério”. Lorena: Cléofas, 2001.
– BATTISTINI, Francisco. “A Igreja do Deus Vivo: Curso Popular sobre a Verdadeira Igreja”. 29ª ed., Petrópolis: Vozes, 1998.
– “Bíblia Sagrada”. 47ª ed., São Paulo: Ave Maria, 1985.
– “Bíblia Sagrada”. 38ª ed., São Paulo: Paulinas, 1982.
– SARMENTO, Francisco de Jesus Maria. “Minidicionário Compacto Bíblico”. 3ª ed., São Paulo: Rideel, 2001.
– SILVA, Rogério Amaral. “A Fundação da Igreja Católica por Nosso Senhor Jesus Cristo”. ACI Digital, disponível em: www.acidigital.com.br. Acesso em 16/06/2004.
– SILVA, Severino Celestino. “Pequena História das Traduções Bíblicas”, disponível em: www.nossosaopaulo.com.br. Acesso em 01/07/2004.
– (Autor Desconhecido). “Como a Bíblia foi escrita”. ACI Digital, disponível em: www.acidigital.com.br. Acesso em 16/06/2004.

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