Impressiona-me deveras como, de tempos em tempos, a exemplo de agora, por ocasião da visita do Santo Padre, Bento XVI, a imprensa passa a ter uma súbita preocupação com a Igreja Católica, notadamente no que respeita ao dito declínio do número de seus fiéis. Declínio, aliás, que não mais corresponde com a realidade, segundo última pesquisa do IBGE, que verificou ter-se estabilizado o números de fiéis católicos no Brasil.
Tal preocupação, porém, logo mostra o quão tendenciosa é. Os questionamentos que se dirigem à Igreja, através de seus sacerdotes e outras lideranças, é basicamente esse: “Se a Igreja tem perdido fiéis, a relativização de tais e tais pontos da doutrina não seria uma maneira de atraí-los de volta ou atrair novos?”. A despeito da não-condizência com a realidade do declínio de fiéis e de uma avaliação maior acerca da eficácia da proposição, é de se refletir, antes de tudo, sobre a própria Santa Igreja Católica Apostólica, sua natureza e suas finalidades.
Ocorre que a Igreja não é o fim último de si mesma. A razão de ser da Igreja não é seu crescimento a qualquer custo. Sua missão, dada por Cristo, é a propagação do Evangelho, interpretando-o de acordo com o desejo de Seu Fundador. Obviamente, preocupa-se a Igreja com eventual evasão de fiéis, bem como com esses fiéis que evadem, mas não como uma preocupação meramente matemática. A Igreja quer, sim, crescer e desenvolver-se porque assim cumprirá sua missão. Também se preocupa com os fiéis que se afastam porque sabe que sua felicidade está em Cristo. A Igreja, preocupada com a felicidade dos fiéis, deseja-os em seu seio.
A Igreja, porém, só realiza sua natureza, sua essência e missão, quando transmite o Evangelho do Senhor, quando colabora na realização do Reino de Deus já neste mundo e rumo à Eternidade. Ela não pode, portanto, trair a mensagem de Seu Fundador, não pode reinventá-la, modificá-la, sob pretexto algum, ainda que seja para agradar fiéis ou infiéis. Se ela contrariasse sua doutrina, traindo a Palavra do Mestre, não mais portaria a Salvação, não mais levaria o Reino de Deus, a felicidade.
Se não mais está portando a verdade, a Salvação, o Reino, a felicidade, Deus, de nada mais adianta que os fiéis continuem fiéis. Vazia de sua essência, nada teria a dar ou fazer por aqueles que lhe fossem fiéis. Fiéis sem uma doutrina da verdade já não são mais fiéis. A Igreja mesmo, se não é para guardar e transmitir a Palavra do Senhor e, assim, realizar sua missão e implementar o Reino de Deus, perderia sua serventia. Tratar-se-ia de uma organização meramente humana, sem sentido e fadada à morte. Aí sim evadiriam os fiéis, pois nada teria a nau de Pedro que os pudesse atrair, mas tal fato já não seria um problema em si, porque não seria mais a Igreja de Cristo, portadora da Salvação.
Desse modo, se há fiéis que abandonam a Igreja, isso se dá em muito pelo afastamento do mundo de Cristo e da verdade. Não cabe à Igreja acompanhar o mundo nesse trajeto infeliz, cabe-lhe manter-se fiel e fazer brilhar o “esplendor da verdade”, que nunca deixa de atrair aos que de coração aberto se deixam iluminar por ela.
A Igreja, dessa feita, não irá falsear a doutrina que sempre defendeu na busca de fiéis até porque de nada lhe adiantaria ter fiéis se já não fosse mais a Igreja de Cristo, aquela que, sob a liderança de Pedro, é capaz de ligar e desligar no Céu a partir do que ligar e desligar na terra e em relação a qual as portas do inferno não prevalecerão.