– Estou confuso. Um sacerdote jesuíta me disse que a existência de Deus pode ser demonstrada. Por outro lado, a Igreja diz que precisamos da fé para crer. Quem está certo? (Anônimo)
Não há conflito necessário entre essas duas declarações. A Igreja Católica ensina que a existência de Deus pode, “pela luz natural da razão humana, ser conhecida com certeza pelas coisas criadas” (Vaticano I). Ao mesmo tempo, a Igreja insiste que a fé é necessária para abraçar as verdades sobrenaturais do Catolicismo. Embora pareça haver um conflito aqui, na verdade não há.
Segundo Tomás de Aquino, as verdades teológicas podem ser divididas em dois grupos: aquelas que são conhecidas apenas pela razão e aquelas que exigem revelação (da parte de Deus) e fé (de nossa parte). A existência de Deus é uma verdade que se enquadra na primeira categoria. Outras verdades, como a Santíssima Trindade e a Presença Real de Cristo na Eucaristia, se enquadram na segunda.
Dizer que apenas a razão pode conhecer a existência de Deus não significa que esta verdade não possa também ser conhecida de outros modos. Para muitos, a existência de Deus é uma matéria de fé. Ademais, nem todos têm o tempo, a energia ou a habilidade necessários para resolver a questão da existência de Deus através, apenas, da razão.
Para outros, a existência de Deus é algo já assumido, talvez porque crer em Deus já faça parte da sua ascendência [familiar] ou da sua herança cultural. É algo pré-adquirido.
Contudo, há mais coisas para o Cristianismo do que meramente afirmar a existência de Deus, da mesma forma como há mais coisas para se saber de um amigo além de saber que ele existe. A razão da existência de Deus é apenas o princípio.
Até mesmo a virtude teologal da fé, que nos abre para as verdades sobre Deus que a razão apenas não oferece, é meramente o ponto de partida para o conhecimento de Deus. As outras virtudes teologais – esperança e caridade – que envolvem confiança e amor a Deus, também são importantes. Somente quando cremos, acreditamos e amamos a Deus, podemos dizer que O conhecemos, ao contrário de apenas conhecer sobre Ele.