Ressurreição ao domingo

De todos os sites católicos que eu já visitei, sem sombra de dúvidas, (não desmerecendo os outros) para mim, este e o melhor. Por isso estou enviando um artigo publicado num Jornal de minha cidade, de certo pastor Manoel Malta, artigo este, muito tendencioso. Gostaria que o mesmo fosse refutado por vcs, que têm respaldo, capacidade, conhecimento e sabedoria para fazê-lo. Desde já agradeço e gostaria também que pelo menos vcs me respondessem. Muito obrigada. Laura

 

 

Artigo publicado no Jornal do Commercio – Recife-PE

Caderno Cidades /Religiões

O equívoco da Semana Santa

Publicado em 26.03.2006

MANOEL MALTA

 

De acordo com as narrativas de Mateus, Marcos, Lucas e João, Jesus Cristo não morreu numa sexta-feira e sim numa quarta-feira. Não sei, nem posso imaginar como os dirigentes da Igreja Cristã que sucederam os seus pais, de Policarpo a Eusébio, criaram esta tradicional Semana Santa, incluindo a sexta-feira como o dia da morte de Jesus. Analisemos os dogmas dos nossos amados irmãos cristãos católicos romanos. A Semana Santa começa com o Domingo de Ramos, naturalmente baseado em Mateus 21, versículo 8b – “… e outros cortavam ramos de árvores, espalhando-os pela estrada”, Marcos 11:8 “… e outros, ramos que haviam cortado dos campos.”

 

Depois vem a antiqüíssima e tradicional Quarta-feira de Trevas, naturalmente baseados em Mateus 27, versículo 45 – “Desde a hora sexta, até a hora nona, houve trevas sobre toda a terra”, Marcos 15, versículo 33 – “chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até a hora nona”, Lucas 23, versículo 44 – “Já era quase a hora sexta e escurecendo-se o sol houve trevas sobre toda a terra até a hora nona”. Neste ponto, nossos amados irmãos daquele ramo do cristianismo não quiseram continuar os relatos imediatos que dizem em Mateus 27:50 que “Jesus, clamando entregou o espírito”, em Marcos 15:37 – “Mas Jesus dando um grande brado, expirou”, em Lucas 23:46 – “Então Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito. E dito isto, expirou”.

 

O sábado a que se referem Marcos 15:42 e 16:1, Lucas 23:54 e 56 e João 19:31, era o sábado religioso dos judeus, por ser o primeiro dia da festa dos Pães Asmos, Santa Assembléia, conforme Êxodo 12:16, Levítico 23, versículos 7, 21, 27, 32, 35, 36, 37, 38 e 39, também chamado de Santa Convocação, Levítico 25, versículo 4 – Sábado de descanso solene. Está claro que os judeus têm dois tipos de sábado, ou seja, um sábado religioso, também chamado de Santa Assembléia, Santa Convocação ou Descanso solene e o Sábado da lei, o sétimo dia da semana. Além disso, o próprio Jesus disse claramente, conforme Mateus 12:40, que “… o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra” e não há no mundo quem me convença de que das 3 horas da tarde de sexta-feira às primeiras horas de domingo, tenham se passado três dias e três noites.

 

Mas se aceitarmos que Jesus morreu na quarta-feira, estaremos obedecendo ao nosso Mestre. E eu prefiro ficar com o que Jesus afirmou. Quem mostra que Jesus morreu numa quarta-feira às 3 horas da tarde, não sou eu, e sim Mateus, Marcos, Lucas e João. Quem discordar, modifique os Evangelhos!

 

Pr. Manoel Malta é da Igreja Cristã Missionária Betel em Candeias.

 

 

Cara Laura,

 

Primeiramente, agradeço suas palavras elogiosas para com o nosso site. Ajude a difundi-lo e ore para que possamos cumprir nossa missão de servir à Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

 

Ao ler a opinião do pastor acima, lembrei-me de algo que escrevi em um outro caso que, mutatis mutandis, aplica-se perfeitamente à sensacional tese de que Jesus teria morrido numa quarta-feira. Vou citar o que eu escrevi naquela ocasião:

 

“Um dia (quando eu ainda tinha paciência para isto) eu assistia a um programa protestante na televisão, capitaneado pela Sra. Valnice Milhomens (razoavelmente conhecida). Ela afirmava (sabe-se lá com que embasamento) que, no paraíso, Deus visitava Adão durante a “viração do dia”, isto é, no exato momento em que terminava o dia antigo e começava o novo. É por isto que (sempre segundo ela) o homem, ao pôr-do-sol, sente uma nostalgia, resultante da saudade que sentimos das visitas do Criador.

Seguindo nesta linha de raciocínio, ela afirmou, categoricamente, que Jesus Cristo ressuscitou, igualmente na “viração” do dia. A idéia aceita pela maioria de que a ressurreição ocorreu de madrugada, segundo ela, é fruto de uma interpretação “romanística” da Bíblia. Este ?erro? foi criado pela Igreja Católica (claro, por quem mais seria?), que, sempre segundo a Sra. Milhomens, “gosta de trevas”.

A idéia subjacente a este discurso é a seguinte: o demônio, por meio de Roma, deturpou a verdadeira mensagem bíblica (no caso: Jesus ressuscitou durante a viração do dia) e a substituiu por um erro (no caso: Jesus ressuscitou de madrugada); a imensa maioria dos protestantes aceitou este engodo, mas a “unção” do Espírito Santo é tão potente na Sra. Milhomens que o demônio não a conseguiu enganar.

E, no entanto, diz o Evangelho de São Marcos: “tendo Jesus ressuscitado de madrugada no primeiro dia da semana, apareceu primeiramente à Maria Madalena (…).” (Mc 16, 9)

Simples. Direto. Devastador. Basta este pequeno versículo para derrubar a tese da pastora. E, no entanto, ela seguirá dizendo que Jesus ressuscitou na “viração” do dia, e que tudo o mais é engodo vindo de Roma.”

 

Como você vê, minha cara Laura, os protestantes são, basicamente, iguais. A cada momento um ?pastor? genial lança alguma idéia genial que afirma ser a mais pura verdade bíblica e que aqueles que a ela não aderem estão, todos, num terrível engano.

 

No caso, a idéia genial da vez é a de que Jesus Cristo morreu numa quarta-feira. E, para defender esta idéia, o pastor lança mão de dois argumentos, que veremos separadamente.

 

O primeiro argumento visa driblar uma dificuldade óbvia da tese por ele desposada: todos os Evangelhos afirmam que Jesus morreu na véspera de um sábado. Como qualquer pessoa normal poderia concluir, a véspera de um sábado é sempre uma sexta-feira. Portanto, a conclusão de que Jesus Cristo morreu numa sexta-feira, se não conta com a genialidade típica das teses protestantes, é, pelo menos, aquela que mais se adequa à inteligência mediana das pessoas.

 

Para driblar esta dificuldade, ele se saiu com uma armadilha tipicamente protestante. Afirma que, apesar dos textos bíblicos se utilizarem da palavra “sábado”, na verdade tais textos queriam dizer coisa muito diversa. Onde estiver escrito sábado, devemos ler “grande assembléia” ou “solene convocação”. Baseado em que diz ele tal disparate? Baseado em textos do Antigo Testamento que, simplesmente, afirmam que o Primeiro Dia dos Ázimos era um dia de uma santa assembléia.

 

Como se vê, às escâncaras, a conclusão por ele tirada nem de longe resulta das premissas. Os Evangelhos são unânimes em afirmar que Jesus morreu na véspera de um sábado, no dia da Preparação. São João é absolutamente taxativo a este respeito quando afirma: “Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque já era a Preparação e esse sábado era particularmente solene.” (Jo 19, 31).

 

Simples e devastador!

 

São João está afirmando, com todas as letras, que o dia que se seguiria à Morte de Jesus era, de fato, um sábado, que, por ser o primeiro dia dos Ázimos, era particularmente solene. Este versículo simplesmente não deixa qualquer espaço para a tese do pastor, pois, se por “sábado” devêssemos entender “santa assembléia” aquela “santa assembléia” seria tão solene como qualquer outra e não “particularmente solene”.

 

Era particularmente solene porque se tratava de um sábado (dia santo para os judeus) que, ainda por cima, coincidia com o Primeiro Dia dos Ázimos (que já seria santo se caísse em qualquer outro dia da semana).

 

Não bastasse isto, a narrativa dos Evangelhos não deixa dúvidas quanto à seqüência dos acontecimentos:

 

1) Jesus Cristo morreu;

 

2) O dia seguinte era um sábado;

 

3) No dia que se seguiu ao sábado, Cristo ressuscitou.

 

Veja os textos:

 

“Depois do sábado, quando amanhecia o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo.” Mt 08, 1

 

“Quando já era tarde – era a Preparação, isto é? é a véspera do sábado -, veio José de Arimatéia, ilustre membro do conselho, que também esperava o Reino de Deus; ele foi resoluto à presença de Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Pilatos admirou-se de que ele tivesse morrido tão depressa. E, chamando o centurião, perguntou se já havia muito tempo que Jesus tinha morrido. Obtida a resposta afirmativa do centurião, mandou dar-lhe o corpo. Depois de ter comprado um pano de linho, José tirou-o da cruz, envolveu-o no pano e depositou-o num sepulcro escavado na rocha, rolando uma pedra para fechar a entrada. Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde o depositavam. Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ungir Jesus. E no primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, mal o sol havia despontado.” (Mc 15 42 – 16, 2)

 

“Ele o desceu da cruz, envolveu-o num pano de linho e colocou-o num sepulcro, escavado na rocha, onde ainda ninguém havia sido depositado. Era o dia da Preparação e já ia principiar o sábado. As mulheres, que tinham vindo com Jesus da Galiléia, acompanharam José. Elas viram o túmulo e o modo como o corpo de Jesus ali fora depositado. Elas voltaram e prepararam aromas e bálsamos. No dia de sábado, observaram o preceito do repouso. No primeiro dia da semana, muito cedo, dirigiram-se ao sepulcro com os aromas que haviam preparado. Acharam a pedra removida longe da abertura do sepulcro. “Lc 23, 53 – 24, 2)

 

Ora, ficou demonstrado que o dia que se seguiu ao sábado era o primeiro dia da semana, dia em que até o pastor acima reconhece ter ocorrido a Ressurreição. Portanto, o sábado em questão era, de fato, um sábado (véspera do Domingo), o último dia da semana (véspera do primeiro dia da semana seguinte), e não uma quarta-feira, véspera de quinta-feira.

 

Percebe-se, portanto, o absurdo da afirmação do pastor.

 

O segundo argumento não é mais consistente do que o primeiro. Ele afirma que Jesus Cristo não poderia ter morrido numa sexta-feira, visto que, em Mt 12, 40, o próprio Mestre afirmou que passaria três dias e três noites no seio da terra. Afirma o pastor que entre a tarde de sexta-feira e a madrugada de domingo, não se passaram três dias e três noites, razão pela qual a sexta-feira não foi o dia em que Jesus morreu.

 

Veja, minha cara Laura, como é infantil a visão deste pastor. Será que, em dois mil anos de cristianismo, ninguém, se apercebeu de detalhe tão evidente? Ou o pastor se acha genial, ou então, nos acha todos um bando de idiotas que não conseguem enxergar um palmo à frente do nariz.

 

Particularmente, evito usar argumentos tão óbvios em qualquer discussão em que me aventuro entrar. O meu pressuposto básico é que algo tão óbvio já terá sido analisado pelos meus interlocutores, que terão um argumento afiadíssimo para rebater esta obviedade.

 

Vamos, então, rebatê-la.

 

Se for verdade que entre a tarde de sexta-feira e a madrugada de domingo não cabem três dias e três noites, é verdade, também, que, entre a tarde de uma quarta-feira e a madrugada de domingo cabem mais do que três dias e três noites. Basta contar:

 

         a) Primeira noite: quarta-feira para quinta-feira;

 

         b) segunda noite: quinta feira para sexta-feira;

 

         c) terceira noite: sexta-feira para sábado;

 

         d) QUARTA NOITE: sábado para domingo.

 

Portanto, se Jesus tivesse morrido numa quarta-feira, então Ele teria passado três dias e quatro noites no seio da terra. Se Mt 12, 40 desautorizasse a visão tradicional que Jesus morreu numa sexta-feira, então, e pelas mesmas razões, desautorizaria a visão revolucionária do pastor segundo a qual Jesus morreu na quarta-feira.

 

Na verdade, Mt 12, 40 é o único trecho bíblico que fala, expressamente, de três dias e três noites. Todos os outros trechos falam de uma Ressurreição ao terceiro dia. Confira: Mt 16, 21; Mt 17, 22; Mt 20, 19; Mt 27, 64; Mc 10, 34; Lc 9, 22; Lc 18, 33; Lc 24, 7; Lc 24, 46; At 10, 40 e 1º Cor 15,4.

 

Como qualquer pessoa pode notar, o domingo não é o terceiro dia contado a partir da quarta-feira. Se a contagem incluir a quarta-feira, o domingo é o quinto dia. Se a excluir, é o quarto dia. Jamais, contudo, será o terceiro.

 

Em outras palavras: o pastor se apega a um único texto e despreza onze outros textos que o desmentem. É um comportamento tipicamente protestante…

 

Contudo, se aceitarmos que Jesus morreu numa sexta-feira, então, o domingo é o terceiro dia, desde que a contagem inclua o próprio dia da Morte do Senhor. E esta é a única possibilidade para harmonizar a expressão “terceiro dia” com as diversas passagens que falam que Jesus morreu, passou-se um dia de descanso e, no dia seguinte ressuscitou.

 

Como entender, então, Mt 12, 40? Jesus, naquele trecho, não quis se referir, exatamente, a três dias e três noites. Ele apenas se utilizou da passagem de Jonas para dizer que ela prefigurava Sua própria Morte e Sua Ressurreição. Assim, os três dias e três noites que Jonas passou no ventre da baleia são meras figuras dos dias em que Cristo passaria no seio da terra.

 

Acho que isto já basta para colocar a tese do pastor protestante em seu devido lugar.

 

Que Deus te abençoe,

 

Alexandre.

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