Leitor contesta posição da igreja sobre contraceptivos e métodos naturais

Lí a matéria: “Casais casados que usam contraceptivos podem comungar?”, e achei muito estranha a posição da Igreja que, segundo o disposto na matéria, aqueles que fazem uso de contraceptivos estão em pecado mortal e correm perigo de perder a salvação.
Primeiro o artigo coloca o meio cientìfico (o contraceptivo) como algo imoral e pecaminoso, mas o meio natural não o é.  Mas como católico sempre ouví a Igreja se referir à medicina como algo de Deus, usam até o livro do eclesiástico para louvar os médicos, dizendo que é Deus quem inspira e dá inteligência a estes para nosso próprio bem.
Depois volta atrás dizendo que algo que foi feito para ajudar o ser humano já não é mais inspiração divina mas do mal sendo que os dois métiodos tem a mesma finalidade.
Não entendi o porque de taxar o método científico de imoral e do mal pois então o que se deveria condenar seria o não ter filho a cada relação sexual, isto sim então deveria ser condenado. Sinceramente não consigo assimilar a posição da Igreja, gostaria de uma melhor esplicação do assunto.

Olá caríssimo sr. José Marcelo, a Paz de Jesus Cristo esteja convosco e com a vossa família. Agradecemos o vosso contato e a vossa confiança em nosso trabalho, que é expor e defender a santa doutrina de nossa estimada Igreja. Ficamos felizes por saber que temos leitores na linda cidade imperial de Petrópolis. Contamos sempre com vossa presença em nosso apostolado e com vossas piedosas orações.

Muitos são os que, sabendo como pensa a Igreja, se colocam em atitude de arrogância e preferem questionar e ridicularizar a moral sexual cristã, dispensando um verdadeiro aprofundamento sobre um assunto que requer um mínimo de esforço e de boa vontade. Por isso felicitamos ainda mais vossa humilde atitude de pedir instrução e reconhecemos vossa boa disposição em caminhar junto com a esposa do Senhor, a Santa Madre Igreja, que só faz iluminar e elevar a razão.

Vossa estranheza não é surpresa. Vivemos num mundo hedonista e erotizado, que busca incansávelmente o prazer sem jamais se satisfazer, que encontra na satisfação a justa medida para se relacionar com o próximo e que transformou o amor numa palavra sem significado. É preciso saber tirar esses óculos que a sociedade, a mídia, o Estado nos impõem, e se esforçar por enxergar as coisas como realmente são.

De fato, caro sr. José, é uma tradição judaico-cristão louvar ao Senhor da Vida pelos bens da medicina, esta capacidade humana de restaurar o corpo, de restabelecer a saúde, de fazer a vida se extender prevenindo e diminuindo o sofrimento da humanidade, entre tantas outros dons. O profissional da medicina é certamente um grande bem feitor pois cuida da maior das criações do Senhor, que é o homem; é sem dúvida um cooperador vital na obra do Criador.

Diz-nos a sagrada Escritura que “toda a medicina provém de Deus“ (Eclo. 38 – 2). Ora, se toda a medicina provém de Deus, ainda mais a sexualidade humana provém de Deus, já que o Senhor criou o homem e a mulher dotados de faculdade sexuais diversamente complementares; não podem pois estar em contradição, como o sr. mesmo percebeu. E de fato, não estão.

Com efeito a capacidade reprodutiva do ser humano não é uma doença que precisa ser combatida e curada. O homem é um ser com uma capacidade natural ensiminadora, e a mulher um ser com uma capacidade natural ovulatória que chega ao seu ápice em alguns dias do mês. Somos assim. Aliás, será anormal e até patológico o ser humano que não tiver presente essa capacidade reprodutiva em sua fisiologia natural. É por isso que não é próprio da medicina verdadeira, atos que anulem a ordem e os ritmos naturais do corpo humano sem ter em vista uma razão de saúde médica.

Quanto temos em conta contraceptivos como o preservativo, a pílula anticoncepcional, o DIU etc. tratamos de dispositivos que tornam atos sexuais infecundos, mas a fertilidade humana natural não é um mal a ser tratado. Homens não perecem porque ejaculam, nem mulheres padecem porque ovulam. Mas homens podem ter problemas sérios de saúde graças a vasectomia, e mulheres podem sofrer incrivelmente por se sujeitarem a ligar suas trompas (com hemorragias constantes), por se envenenarem com o uso de pílulas (podendo levar a trombose e diminuição da fertilidade), por uso de emplastos anticoncepcionais (que já levou muitas a morte nos EUA) etc.

A medicina segue portanto sendo uma obra inspirada por Deus, mas quando ajuda e eleva o homem, não quando anula, revoga e rebaixa o homem na verdade de seu ser.

Percebestes que as finalidades dos contraceptivos e dos métodos naturais são similares mas não compreendestes como um pode ser ilícito e outro lícito. Certamente já deves ter ouvido a história de Hobin-Hood. E também a história de São Vicente de Paulo. Ambos tinham em mente o clamor dos pobres, ambos distribuiam bens materiais aos menos afortunados, agiam portanto com finalidades parecidas. Mas o que faz São Vicente de Paulo um santo e Hobin-Hood um criminoso não foram os fins, mas os meios. Um ato para ser lícito moralmente precisa ter início, meio e fim bom, porque não se chega a um bem através da compactuação com o mal. Essa é a principal explicação para vossa dúvida, a diferença e a gravidade dos meios.

As diferenças reais e objetivas entre o método natural e os contraceptivos são:

“1º. Nos métodos naturais:
– os cônjuges seguem uma lei fisiológica natural, criada por Deus, que marca os ritmos da fecundidade periódica da mulher;
– o ato conjugal se realiza de forma normal;
– os esposos renunciam, responsavelmente e de comum acordo, ao uso do ato matrimonial nos períodos fecundos, respeitando as leis de Deus.

2º. Nos métodos antinaturais:
– bloqueia-se o processo generativo natural, utilizando fármacos ou dispositivos mecânicos que tornam anti-natural a união conjugal;
– por essa mesma razão, o ato sexual é em sí mesmo anormal, pois não se respeita a sua natureza, tornando-o artificialmente infencundo;
– os cônjuges desvirtuam assim a lei de Deus, atribuindo a sí próprios o direito de serem árbitros do nascimento ou da suspensão da vida humana“ (Sexo e Amor, Rafael Llano Cifuentes – Ed. Quadrante, São Paulo, 1995; pág. 136, 137).

Como pode ver caro sr. José, não se trata de rotular ou taxar este ou aquele meio de ilícito, mas de constatar. Meios que facilitam a infidelidade conjugal, que ajudam o descontrole do domínio sexual, que pode tornar a relação conjugal num ato quase masturbatório, que periga instrumentalizar a mulher face ao egoísmo masculino, que tornam o ato sexual isento de responsabilidades, que enxerga na possível vida humana futura de um filho uma ameaça ou um mal não podem nunca ser considerados bons, dignos do homem.

Veja, quando Deus criou o homem e a mulher e os dotou de faculdades sexuais, o fez para os tornar cooperadores de sua criação, através da união e da procriação. O uso de contraceptivos faz do homem um cooperador de sí mesmo e de seu prazer egoísta, alterando gravemente a ordem natural presente no ser humano, desrespeitando os processos originais biológicos da geração. É por isso que é pecado, e é por isso que é grave.

Esperamos ter ajudado a sanar todas as vossas dúvidas e fazê-lo compreender plenamente a posição da Igreja, que atualmente, é uma das únicas verdadeiramente humanas e em consonância com a nossa real natureza e nossas necessidades. Exortamos para o equívoco de chamar os métodos contraceptivos de científicos em detrimento dos métodos naturais. Para um método ser científico basta ele ser embasado científicamente. E como já dito, o método Billings, por exemplo, possui uma enorme fundamentação científica comprovada com eficácia de 99% pela OMS. Mais científico impossível. Salientamos também que a respeito de vosso comentário sobre “se ter filho a cada relação sexual“, que a possibilidade de gravidez para uma mulher é de apenas 16% e no dia de sua ovulação. Como visto, engravidar não é tão fácil assim.

Cordialmente em Cristo Senhor.

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